Triunfando Sobre o Desânimo
Este sermão de John MacArthur foi ministrado em 1995 para um auditório de pastores, mas seu conteúdo é de inestimável valor espiritual para qualquer crente desanimado com o serviço cristão por motivo de desapontamentos e sem entender perfeitamente porque a Palavra afirma que o Senhor sempre nos conduz em triunfo (2 Cor. 2:14; Rom. 8:37 etc.).
Meditando e pregando em 2 Coríntios, o Senhor tem usado tanto do que o apóstolo Paulo diz nesta carta para encorajar meu coração, que quero compartilhar com vocês hoje outra porção muito profunda dessa carta, maravilhosamente útil e encorajadora.
O chamado para o ministério é um convite a privilégios inigualáveis. É um convite a uma bênção insuperável. Mas, isso não é tudo. É também um convite ao desânimo. Há momentos em que ficamos desanimados e abatidos, talvez com vontade de desistir.
Deixe-me ler uma carta de um pastor a seu mentor. Esta é uma carta verdadeira.
Meu caro Jim, estou farto. Ontem, apresentei a minha demissão. Esta manhã comecei a trabalhar em uma empresa. Eu não vou voltar para o ministério pastoral. Imagino sua decepção e repulsa ao ler essas palavras. Eu não culpo você de forma alguma, pois eu mesmo estou um pouco enojado de mim mesmo. Lembra do que falávamos sobre o futuro e o desejo de fazer muito pelo reino de Deus? Vimos a necessidade ilimitada de obreiros e tínhamos o desejo de fazer nossa parte.
Ao olhar para trás, ao longo de 25 anos, posso ver algumas vidas que ajudei e algumas coisas que tive a permissão de fazer e que valem a pena. Mas sentado aqui esta noite, estou mais da metade convencido de que Deus nunca pretendeu que eu fosse um ministro. Se Ele o fez, não sou grande e corajoso o suficiente para pagar o preço. E mesmo que isso leve você a me considerar covarde, vou te contar porque desisti.
Nesses anos, encontrei poucos cristãos fervorosos, altruístas e consagrados. Não acredito que seja especialmente mórbido ou injusto em minha estimativa. Portanto, pelo que conheço meu próprio coração, não estou amargo. Mas, ao longo de todos esses anos, uma convicção cresceu dentro de mim de que o membro médio da igreja se preocupa muito pouco com o reino de Deus e seu avanço ou o bem-estar de seus semelhantes.
Ele é cristão para que possa salvar sua alma do inferno, e por nenhum outro motivo. Ele faz o mínimo que pode, vive com toda a indiferença que pode. Se ele pensasse que poderia ganhar o céu sem sequer levantar o dedo pelos outros, ele aproveitaria a chance.
Nunca conheci mais do que uma pequena minoria de qualquer igreja em que servi para estar realmente interessada e abnegadamente devotada à obra de Deus. Levei todo o meu tempo tentando persuadir pessoas relutantes a empreender algo pelo reino. Eles dizem ter compromisso, mas fazem pouco caso do serviço e da oração. Uma grande porcentagem raramente frequenta os cultos do domingo pela manhã e um número lamentavelmente pequeno vai à noite. Tudo isso não parecia significar nada para eles.
Estou cansado. Cansado de ser o único na igreja de quem se espera um verdadeiro sacrifício, cansado de tentar forçar que cristãos vivam como cristãos, cansado de planejar o trabalho para meu povo e depois ser compelido a fazê-lo sozinho ou vê-lo deixado por fazer, cansado de me esquivar dos meus credores quando não precisaria, se tivesse recebido o que me é devido, cansado da visão assustadora de uma velhice sem um tostão. Eu não estou deixando Cristo. Eu O amo. Eu ainda tentarei servi-Lo. Julgue-me com brandura, velho amigo. Não suporto perder sua amizade. Seu desde a antiguidade, William.
Triste, não é? Quando um homem é chamado e deixa o ministério, não por causa do pecado ou por indiferença, mas por causa do desânimo. Todos nós enfrentamos esse tipo de tentação, mesmo os mais talentosos e frutíferos de nós. Até o apóstolo Paulo a enfrentou. Isso mesmo.
Paulo conheceu um desapontamento profundo, penetrante e desanimador com a igreja de Corinto. A superficialidade, o pecado e a rebelião deles foram uma triste retribuição pelo grande amor que ele sentia por aquela igreja e pelo grande sacrifício que havia feito por eles. Corinto era mais aberta ao evangelho do que outras cidades, e o apóstolo teve grande sucesso em fundar a igreja ali.
Nos quase 20 meses ou mais em que trabalhou naquela cidade maligna, ele construiu um profundo afeto pelos crentes de lá. A igreja estava florescendo e aparentemente era forte. Mas, porque Paulo os amava profundamente, eles tinham grande potencial de machucá-lo, e eles o machucaram muito, ao deixarem um pecado após outro residir naquela comunhão de crentes.
A pressão de cuidar daquela igreja foi mais difícil do que todas as outras dores físicas que Paulo sofreu durante suas múltiplas perseguições. A preocupação com a igreja o magoou mais do que qualquer coisa que lhe foi feita fisicamente. A ansiedade em relação aos coríntios consumia sua nobre alma. Eles possuíam todos os dons, mas estavam divididos, desordenados, mundanos, e o caos reinou em sua adoração. O pecado manchou a mesa do Senhor. Eles lutavam entre si, processavam um ao outro, pecavam sexualmente um com o outro e eram orgulhosos o tempo todo.
As condições na igreja de Corinto haviam se tornado tão ruins que Apolo não quis ficar ou retornar a Corinto, embora Paulo o exortasse a fazê-lo. Além disso, falsos mestres entraram na igreja de Corinto e conseguiram enganar os membros da igreja para que se unissem a um motim aberto contra Paulo. A respeitabilidade de Paulo estava sendo minada por calúnias, questões doutrinárias e questões sobre uso de dons espirituais.
Muitos ali passaram a flertar com o incesto, abusavam de seus casamentos, comiam em festas de demônios, falhavam em dar como deveriam e ainda questionavam a ressurreição. Que igreja! Uma congregação para trazer tristeza ao coração de um pastor. E tanto, que Paulo não tinha certeza se poderia voltar lá por temor de não ser bem-vindo e temia dizer mais coisas que exacerbassem sua animosidade em relação a ele.
Além disso, em Éfeso, onde Paulo estava, começou uma rebelião que poderia ter tirado sua vida. E alguns dizem que ele pode ter contraído uma doença séria, potencialmente fatal, à qual se refere no capítulo 1 e no capítulo 6 de II Coríntios.
Ele estava realmente no ponto mais baixo de seu ministério quando escreveu esta carta aos Coríntios. E não é difícil de entender. Ele estava à beira da morte todos os dias, como disse. Todo dia ele sabia que poderia ser o último. Uma revolta começou ao seu redor, e a igreja que ele amava estava no caos total.
A questão principal que a igreja debatia era se Paulo era verdadeiro ou falso. Sua integridade estava sendo questionada. E, é claro, o que aumentava a ansiedade que isso produzia era o amor profundo que ele nutria por aquela igreja.
Ele já havia escrito uma carta para eles com muita angústia de coração, muita aflição, com lágrimas. Ele se refere a isso no capítulo 2, versículo 4 de II Coríntios. Ele, então, enviou Tito a Corinto com uma segunda carta severa, que se perdeu e não está incluída no Novo Testamento. Ele agora estava esperando a volta de Tito e queria saber como os coríntios responderam à carta.
Essa é a cena diante de nós. Paulo não podia ficar onde estava, ele não podia ir aonde queria. As pessoas que ele amava profundamente se voltaram contra ele. Tito não voltou com um relatório. Ele não sabia qual era a situação. É nesse cenário que o encontramos escrevendo essas palavras.
II Coríntios 2
12 Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e uma porta se me abriu no Senhor,
13 não tive, contudo, tranquilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito; por isso, despedindo-me deles, parti para a Macedônia.
14 Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.
15 Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem.
16 Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?
17 Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.
Os versículos 12 e 13 mostram para nós o problema na alma de Paulo. Ele saiu de onde estava e veio para Trôade, uma cidade portuária no Mar Egeu. Sua partida foi causada pelo tumulto que pôs sua vida em risco em Éfeso. Ele já havia planejado ir para a Macedônia, e Trôade estava no caminho, por terra ou por mar.
Paulo já havia estado em Trôade antes, de acordo com Atos 16. Mas, aparentemente, em sua primeira visita, ele não encontrou uma igreja. Uma igreja é mencionada em Trôade em Atos 20, então é mais provável que ele tenha fundado uma igreja nesta breve visita.
Ele diz, no versículo 12, que foi a Trôade por causa do evangelho de Cristo. Ele deixou Éfeso e foi para Trôade com o propósito de evangelizar. Não sabemos quanto tempo ele ficou, mas foi uma visita muito breve. Ele teve uma tremenda oportunidade espiritual ali, disse que “uma porta se abriu para mim no Senhor”. E é por isso que uma igreja nasceu ali, mesmo nesta visita muito breve e difícil.
Aparentemente, ele tinha total liberdade para pregar a Palavra, e as pessoas responderam com o coração aberto e entusiasmo. Porém, no verso 13, ele diz: “não tive, contudo, tranquilidade no meu espírito”. Sem descanso, literalmente, no homem interior. Em II Cor. 7:5 ele diz: “chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro”.
E por que ele estava tão inquieto? Preocupação com a igreja de Corinto. Isso, literalmente, o paralisou e debilitou. Quais seriam as respostas à carta que ele enviou por meio de Tito? Haveria arrependimento? Eles abandonariam a rebelião liderada por falsos mestres? Eles abandonariam o pecado? Eles disciplinariam o homem que vergonhosamente o acusou e criou uma rebelião terrível? Eles reconheceriam a integridade do apóstolo? Ele não sabia a resposta para essas perguntas dolorosas. E ele amava a igreja o suficiente para sofrer com essas questões.
Ele não teve descanso em seu espírito, porque não encontrou Tito. Aparentemente, eles deveriam se encontrar em Trôade, e Paulo foi lá para pregar o evangelho. Paulo estava imaginando o pior. Esta é uma hora perigosa para o pregador. Seu coração neste ponto está em perigo de severo desânimo. Não havia felicidade para Paulo em Trôade. Ele havia perdido o ardor pela obra naquele momento.
Ele havia perdido o ânimo. Tudo parecia estar dando errado. Não havia mais alegria em seu espírito inquieto. Ele estava em perigo de se tornar amargo, descontente e começar a abandonar a obra do ministério.
Alguém escreveu que “o tempo gasto em nutrir os sentimentos de um coração partido é tempo perdido para a eternidade”. Quantas congregações infiéis debilitaram tanto seus pastores? Ele estava realmente deprimido. Em II Cor 7:6, ele diz: “Porém Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito”.
Mesmo com a porta que Deus havia aberto em Trôade, ele estava ali abatido, e em II Cor. 2:13 ele relata: “despedindo-me deles, parti para a Macedônia”. Ele não podia ficar ali. Uma igreja nascia ali, mas ele deixou os irmãos e foi para a Macedônia.
Os coríntios haviam respondido positivamente ao apóstolo, e ele se sentiu encorajado e consolado quando, finalmente, encontrou Tito mais adiante (II Cor. 7:2). Mesmo assim, ele sabia que os falsos mestres ainda estavam lá, parte da rebelião ainda estava lá e não morreria facilmente, tanto que escreveu 13 capítulos nesta carta que estamos estudando. Ele sabia que lá ainda havia problemas profundos.
Paulo entendeu que o Senhor nos conduz em triunfo
A questão é: como ele vai lidar com seu desânimo? E é isso que vamos ver agora. Ele diz em II Cor. 2:14: “Mas graças a Deus…”. E ele sai desse desespero e depressão e diz: “Mas graças a Deus”. Essa é a maneira de lidar com sua ansiedade, ou seja, recorrer ao que você pode ser grato. E é exatamente isso que Paulo fez.
Ele se afastou da circunstância tão desanimadora que lhe trouxe muita tristeza, angústia e lágrimas, e buscou aquilo que despertou gratidão. E ao fazer isso, nos versículos 14 ao 17 de II Cor. 2, ele nos dá uma visão surpreendente do ministério. Ele diz: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo…” (2 Coríntios 2:14).
A palavra triunfo tinha significado muito importante no mundo romano. Expressava a maior honra que poderia ser concedida a um general romano vitorioso. E os requisitos para tal celebrada honraria eram muito fortes e não aconteciam com muita frequência. Por exemplo, quando Tito conquistou Jerusalém, em 70 d.C., o exército, usando todas as suas condecorações, marchou em Roma gritando: “Triunfo! Triunfo! Triunfo!”. E naquele desfile sinistro, os despojos foram exibidos e prisioneiros desfilavam como cativos rumo à morte cruel.
Essa é a imagem na mente de Paulo. Ele vê o Cristo conquistador que triunfou em todo o mundo, e Paulo está nesse desfile triunfal. Em meio ao desespero, desânimo, depressão, ele é conduzido para um nível completamente diferente. E ele começa a perceber o privilégio de fazer parte do exército conquistador do Cristo triunfante. Isso muda tudo em sua perspectiva.
É isso que o faz dizer: “Graças a Deus”. Não importava o que estava dando errado em seu ministério, decepcionando, deprimindo e desencorajando, ele tinha certeza de que estava na parada triunfal. Ele dá graças pelo privilégio do triunfo. Ele exultou em gratidão a Deus por sempre o conduzir em triunfo através de Cristo. Aqui está a certeza na liderança soberana do Senhor. Este é realmente o fundamento da alegria no ministério e na vida cristã.
Não importa o que possa estar errado em seu ministério, irmão, não importa quão pequeno possa ser, quão decepcionante, desanimador, deprimente, quão difícil possa ser, como seu coração se parte e sofre, você tem o privilégio de estar marchando entre as fileiras daqueles que servem ao Senhor soberano. Ele está no controle de cada detalhe e triunfará. Jesus disse: “Eu edificarei Minha igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela” (Mt. 16:18).
Para nós, basta pertencermos às tropas do Comandante de todos os comandantes, termos sido escolhidos por Deus para sermos soldados de Jesus Cristo, para vestirmos o Seu uniforme, para portar a Sua arma, a Palavra, para levar o Seu nome, para servir à Sua causa, isso deve ser suficiente. Apenas a contemplação do privilégio de estar associado a Jesus Cristo deve trazer de volta a alegria. Obrigado, Deus, por triunfar porque Cristo sempre triunfa.
Não importa o quão decepcionante seu ministério possa ser, quão desanimador, quão difícil possa ser, você está seguindo o herói conquistador na parada da vitória, não como um cativo, não como um prisioneiro a caminho do julgamento, mas como co-conquistador. Não é incrível? Ele escreveu: “em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8:37).
E quando chegarmos ao final deste desfile, o Senhor diz: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono” (Apocalipse. 3:21). Jesus é sempre vitorioso e nós vencemos com Ele.
É maravilhoso o que Jesus disse: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37). Antes que o tempo começasse, de acordo com Tito 1:2, o Pai fez uma promessa ao Filho, que Ele daria a Ele uma humanidade redimida que para todo o sempre O louvaria e glorificaria. Essa é a aliança eterna. E todas aquelas pessoas que o Pai determinou, antes dos tempos dos séculos, conheceriam o Senhor Jesus Cristo e cumpririam o plano do Pai. E Jesus disse:
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. (João 10:27-29)
Não temos que vencer todas as pequenas lutas ao longo do caminho. Basta saber que, no final, estaremos no desfile triunfante. E todos os que foram ordenados à vida eterna antes do início dos tempos estarão no desfile do triunfo. Basta saber que no final seremos triunfantes. Basta saber que Cristo vencerá e Deus nos concedeu a graça de sermos participantes do triunfo do Senhor.
Por isso Paulo diz: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo” (2 Coríntios 2:14). Ele é grato, em primeiro lugar, pelo privilégio de ser conduzido por Deus ao triunfo em Cristo.
Paulo entendeu que o Senhor manifesta através de nós a fragrância de seu conhecimento
E então, ele diz, em segundo lugar, “e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento”. (2 Coríntios 2:14).
O pensamento aqui é que Deus, em graça e bondade maravilhosas, notáveis e condescendentes, escolheu manifestar o doce aroma do conhecimento de Jesus Cristo, em todos os lugares, por meio de nós. O doce aroma é o evangelho, a mensagem salvadora da salvação. E sobe, por assim dizer, às narinas espirituais do mundo por meio dos pregadores, por meio daqueles que proclamam a verdade. Em Romanos 10: 14-15, Paulo questiona:
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?
O Senhor, em Sua maravilhosa misericórdia nos escolheu. Que privilégio incrível! Nós merecemos esse chamado? Não. Nós merecemos essa honra? Não. Fizemos algo para merecer? Não. Por outro lado, iremos menosprezar, se não tivermos o tipo de sucesso que pensamos que merecemos? Espero que não. Afinal, “nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (I Cor. 3:7).
Isso deveria ser o suficiente para você dizer: “Deus me escolheu e me colocou em um desfile triunfal”. Ou então: “Deus me escolheu para que o doce aroma do conhecimento Dele fosse a todos os lugares em que eu estiver”.
Você diz, bem, sim, mas eu não tenho certeza se estou tendo muito resultado. Bem, deixe-me levá-lo à terceira coisa pela qual Paulo é grato.
Paulo entendeu que nosso serviço sobe como aroma agradável a Deus
Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. (2 Coríntios 2:15)
Que declaração! Ouça, onde quer que você pregue a verdade, você agrada a Deus. Obrigado, Deus, por me colocar na marcha triunfal, por me deixar ser um de Teus soldados, usar Teu uniforme e levar Teu nome! Obrigado, Deus, por deixar o aroma do evangelho se espalhar através de mim, e obrigado pelo privilégio de agradar a Ti.
Somos uma fragrância de Cristo para Deus. Enquanto os generais romanos ofereciam sacrifício ao falso deus Júpiter, onde quer que a missão do pregador do evangelho avance, o doce cheiro da vitória sobe ao trono de Deus e O agrada.
Você não precisa se afastar de sua posição. Quando você derramou seu coração, pregou a verdade e se sentiu desanimado, a fragrância foi direto ao trono. Nosso ministério não atinge apenas os homens, ele alcança Deus e Lhe dá prazer. À medida que pregamos o conhecimento de Cristo, isso sobe como aroma agradável a Deus. Por isso Paulo declara:
É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis (2 Coríntios 5:9)
A questão não são os números. Não é o tamanho da sua igreja, sua popularidade, sua fama, seus resultados. Deus se agrada de pregadores fiéis, cuja pregação sobe como fragrância a Seu trono. É um pensamento maravilhoso!
Aprendi há muito tempo a não ficar preocupado com o julgamento humano. Paulo diz: “Pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal humano; de fato, nem eu julgo a mim mesmo… o Senhor é quem me julga” (I Cor. 4:3-4). O que penso de mim mesmo não importa, e também o pensamento de quem não conhece meu coração.
Portanto, não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de Deus a sua aprovação. (1 Coríntios 4:5)
Portanto, no versículo 15 ele diz: “Somos uma fragrância de Cristo para Deus”. Agora, ouça isto: “entre os que estão sendo salvos e entre os que estão perecendo”. Essa é uma das declarações mais chocantes do Novo Testamento. A primeira parte não é tão difícil de entender. Deus é honrado e exaltado quando as pessoas são salvas. Mas e a segunda parte? Entre aqueles que estão perecendo?!
Você diz, espere um minuto! O que você está dizendo? Deus obtém tanto glória de Sua ira quanto de Sua graça. Em Romanos 9:22, Paulo diz: “Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”. Calvino disse: “A força do evangelho é tal que nunca é pregado em vão, mas é eficaz, levando tanto à vida quanto à morte”.
Pensamos corretamente no céu como o lugar onde Deus é glorificado. Mas o inferno é também um lugar onde Deus é glorificado, não por quem está lá, mas pelo fato de que eles estão lá e isso evidencia a Sua santidade absoluta, sendo isso para o Seu louvor. A mesma mensagem é um aroma de morte para alguns e um aroma de vida para outros.
Os judeus, nos tempos antigos, escreveram sobre a Lei ou a Torá. Eles disseram: “Assim como a abelha reserva seu mel para seu dono e seu ferrão para outros, as palavras da Torá são um elixir de vida para Israel e um veneno mortal para as nações da Terra.”
Cada vez que pregamos, duas coisas acontecem: é um aroma de vida para aqueles que creem e um aroma de morte para aqueles que não creem. Em ambos os casos, o aroma sobe às narinas de Deus, que é glorificado em Sua graça e glorificado em Seu julgamento.
Que privilégio! Nunca subestime sua vida. Cada vez que você prega, isso sobe a Deus como um aroma, uma fragrância de cheiro adocicado. Quer seja para ser Sua glória em Sua graça ou Sua glória em Seu julgamento. Se todos respondem ou ninguém responde, Deus é glorificado. Que privilégio viver uma vida em que seu serviço rende a Deus, toda vez que é devidamente exercido, uma fragrância de cheiro suave! Não meça o seu ministério por quantas pessoas creem. Preocupe-se apenas que a verdade seja pregada como doce fragrância diante de Deus.
Paulo entendeu de onde procede toda capacidade para o serviço
Um último ponto: no final do versículo 16, ele faz uma pergunta: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Coríntios 2:16?). Paulo está dando graças a Deus pelo privilégio do poder divino, capacitação divina, por ser um soldado no desfile triunfal, por ter alguma influência para Cristo, por poder agradar a Deus e pelo privilégio de capacitação ou poder.
E ele faz a pergunta: “Quem é suficiente para isso?” ou “Quem tem em si mesmo o que é preciso para tanto? Ou “Quem tem capacidade para tal?”. A resposta? Eu não. Ninguém. É por isso que Paulo diz:
É por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança (II Cor. 3: 4-6)
Querendo mostrar que sua única capacitação era divina, ele faz um contraste notável:
Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus. (2 Coríntios 2:17).
Paulo faz referência aos falsos mestres em Corinto e a outros mestre e filósofos. Os falsos mestres eram trapaceiros e possuíam uma retórica inteligente e enganosa, para oferecer uma mensagem degradada e adulterada, que misturava paganismo com a tradição judaica. Eram desonestos, que buscavam lucro pessoal e prestígio à custa da verdade do evangelho e da alma das pessoas. Esses falsos mestres em Corinto atacavam o ministério e a reputação de Paulo.
E ele diz: “nós não somos como eles”. Operamos, diz ele: “em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” (2 Coríntios 2:17). Não de inteligência humana, oratória e estratégia de marketing, mas com um coração puro, devotado à verdade pura e dependente somente de Deus.
Qualquer um pode pregar um evangelho reduzido no qual a verdade humana está mesclada com a verdade divina, produzindo uma mensagem falsa e destruidora. Qualquer um pode pregar a inteligência humana. Qualquer homem é adequado para isso. Mas o homem que prega a verdade divina sem mistura – pura e limpa – não pode fazer isso sem o poder divino.
Que privilégio! O que quer que possa dar errado em seu ministério, você tem um privilégio temendo. Você tem o privilégio de estar associado ao Rei dos reis, você tem o privilégio do triunfo prometido, você tem o privilégio de influenciar os homens para a eternidade, seja de vida para vida ou de juízo de morte para morte. Você tem o tremendo privilégio de agradar a Deus e o grande privilégio de poder proclamar a verdade. E isso deve ser o suficiente para acabar com qualquer desânimo.
Assim, Paulo encontrou o caminho para sair da escuridão de um coração partido, encontrando o caminho de volta ao agradecimento e concentrando-se em seus privilégios. E precisamos fazer o mesmo. Nada ou ninguém deve roubar nossa alegria, exceto o pecado em nossas próprias vidas.
Além disso, qualquer sucesso que possamos medir humanamente não é representativo de como nosso ministério agrada a Deus. Deve ser suficiente para nós considerarmos apenas o privilégio que nos foi concedido. E nisso encontramos força. Paulo disse aos anciãos de Éfeso:
Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram, jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus (Atos 20:18-21)
Vamos nos curvar em oração.
Pai, obrigado por esta tremenda visão do coração deste amado apóstolo. Sentimos seu coração batendo nesta passagem, porque podemos nos identificar com ela. E Senhor, por todas aquelas horas, dias, semanas e meses que trabalhamos no ministério com desânimo, quando nos sentimos com o coração partido e sentimos que o ministério não está cumprindo o que pensamos que deveria, possamos saber que onde quer que preguemos a verdade com o Teu poder, ela sobe até o Senhor como uma fragrância de cheiro suave.
Isso é o suficiente para nós, pois pecadores maus e inúteis como nós jamais poderiam ser colocados em uma posição onde poderíamos trazer a Ti um sacrifício de cheiro suave. Que privilégio influenciar as pessoas para Ti e Teu Filho, para vestir o uniforme do exército e marchar em triunfo! E algum dia, por toda a eternidade, louvar e glorificar a Ti. Agradecemos por isso. E como o apóstolo Paulo, vivemos em constante espanto por Tu teres escolhido fazer isso conosco, que somos tão indignos.
Dê-nos corações cheios de ação de graças e mantenha-nos, Senhor, com uma atitude de louvor todos os dias, sabendo que não merecemos nada, mas Tu nos deste tudo. Nós nos comprometemos com o Senhor novamente e pedimos Tua bênção sobre as coisas que aprendemos hoje. Sele as coisas que são verdadeiras para nossos corações e nos torne os homens e mulheres que o Senhor deseja que sejamos, em nome de Cristo, amém.
Leia também:
Este texto é uma síntese do sermão “Triumphing over Discouragement in the Ministry”, de John MacArthur em 24/03/1995.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
http://www.gty.org/resources/sermons/80-310
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno