O preço de seguir Jesus – 1
Temos estudado o Evangelho de Lucas, e hoje chegamos à parte final do capítulo 14, precisamente os versos de 25 a 35, que dizem:
Lucas 14
25 Grandes multidões o acompanhavam, e Jesus, voltando-se, lhes disse:
26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?
29 Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele,
30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?
32 Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz.
33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
34 O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?
35 Nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Agora, a chave para esta passagem é notar três vezes a designação simples: “Meu discípulo” (versos 26,27 e 33). Jesus não está falando sobre ser um discípulo periférico ou um potencial discípulo, mas em ser alguém que verdadeiramente pertence a Ele. Essa é a intenção do pronome possessivo “Meu”.
A ideia aqui é tornar-se um discípulo de Jesus, resultado de ir a Ele e permanecer Nele. Este é um texto evangelístico, onde Jesus está chamando as pessoas a virem a Ele e a segui-Lo, tornando-se, assim, Seus discípulos. É um convite para que as pessoas venham para a salvação.
Francamente, é muito fácil ver isso. Não há outra maneira de interpretar o texto, especialmente quando você percebe que o público a ser abordado é uma grande multidão.
Ele está dizendo isso às massas que O estão seguindo, ouvindo-O, vendo Seus milagres, sendo atraídos por Ele e em processo de decidir o que fazer com Ele. Este é um convite para se tornarem verdadeiros discípulos de Jesus.
Sabemos, a partir dos estudos anteriores dos Evangelhos, que a palavra “discípulo” pode ter um significado amplo. Na verdade, tipicamente, os rabinos em geral tinham “discípulos”. A palavra grega é “mathetes”, que significa um aluno ou um aprendiz.
Os rabinos, na cultura judaica, se moviam com um pequeno grupo de seguidores, alunos ou discípulos. Talvez tenha sido este o motivo de Jesus ter sido chamado de rabino ou rabi (João 1: 38,49).
Dentre aqueles que seguiam a Jesus, havia alguns que eram verdadeiramente comprometidos e outros que apenas eram nominalmente comprometidos.
E à medida que Jesus desenvolve Seu ministério terreno, as demandas, os absolutos e os padrões tornam-se insuportáveis para os “discípulos” superficiais, que então começam a abandoná-Lo.
Jesus aqui não fala de “discípulos”, mas de “meus discípulos”. E quando Ele chega ao fim de Seu ministério, torna-se mais definitivo quanto ao que realmente significa pertencer a Ele.
A palavra “discípulo” agora está assumindo um significado mais verdadeiro e mais puro, de modo que quando você entra no livro de Atos, também escrito por Lucas, toda vez que você vê a palavra “discípulo”, é um sinônimo de “cristão”.
Assim, a palavra “discípulo” passou por algum tipo de metamorfose, passando a designar um verdadeiro crente em Jesus Cristo, que pode ser chamado de “cristão”.
Então, este é um chamado de Cristo para o verdadeiro discipulado. Este é um chamado para realmente segui-Lo. Não apenas começar, mas no sentido de sustentar o compromisso inicial, sendo um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. Esta é, então, uma mensagem evangelística. Ele tinha tido muitos que eram seguidores superficiais que não permaneceram por muito tempo.
Eles eram como o solo rochoso, tinham um pouco de vida aparente, mas, sob a perseguição e tribulação, desapareceram. Não podiam deixar o mundo, o engano das riquezas e as preocupações deste século. Eles eram como aqueles em João 6:66, que se escandalizaram com as exigências das palavras de Cristo e já não andavam mais com Ele.
Em Lucas 14, estamos próximos do final do ministério de Jesus. A atitude da nação é de rejeição. Jesus disse: “Eis que a vossa casa se vos deixará deserta” (Lucas 13:35). Este é um tipo de julgamento sobre eles, que fala de sua desolação e punição futura. A cruz estava cada vez mais próxima, mas Jesus está convidando. É ainda o dia da graça.
E assim, realmente, Jesus está falando aqui sobre como alguém se torna um verdadeiro discípulo, como alguém se achega a Ele, O segue e pode ser reconhecido como Seu discípulo. Em certo sentido, é como se deve ser salvo.
Vendo os versículos 1 a 24 de Lucas 14, nota-se que isto foi colocado em um ponto estratégico, pois os líderes religiosos de Israel pensavam que estariam naturalmente no reino, mas estavam enganados. Eles eram muito orgulhosos, confiantes em suas tradições, rituais e justiça. Eles eram incapazes de se humilhar.
Jesus havia falado com eles sobre “um certo homem que fez uma grande ceia, e convidou a muitos” (v.16), e encerrou dizendo: “Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia”.
Esses convidados são basicamente Israel e seus líderes. Eles foram pré-convidados pelo Velho Testamento para virem ao banquete de Deus, ao reino, e à salvação, mas quando o Messias veio e disse que tudo estava pronto, eles O recusaram.
E, assim, eles não sabiam como poderiam ser salvos, eles se perderam em suas durezas. Mas, mesmo assim, eram guias do povo, ou seja, cegos guiando outros cegos.
As pessoas não sabiam como ser salvas porque os líderes não sabiam nada sobre este assunto. Por isso Jesus disse: “Venham após mim, sejam Meus discípulos”. Isto foi um convite à salvação.
Esta era a pergunta de muitos: “Que hei de fazer para herdar a vida eterna?” (Lucas 18:18). Jesus disse: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus” (Lucas 14:15). São apenas maneiras diferentes de falar da salvação. Todas elas se referem ao dom da vida eterna, o dom do perdão e da justiça que vem a alguém que deposita sua confiança em Cristo.
Diferentemente da mensagem falsificada, o Evangelho diz que não há como alguém tomar parte da herança eterna sem a experiência do arrependimento, de seguir verdadeiramente a Jesus e de tê-lo como Senhor.
Jesus não estava chamando “crentes carnais” a se tornarem “crentes espirituais”. Ele não era um mero professor de vida mais profunda, não veio acrescentar algo para embelezar a vida das pessoas, não veio fazer uma reforma.
Não. Foi um chamado à Salvação, à mudança de curso de vida, ao arrependimento, a abandonar tudo e segui-Lo. Foi um chamado para o discipulado. Isto não é subir um degrau, mas um resgate do inferno para o céu.
Na mensagem da salvação, não há nada intermediário, não há algo suave ou uma vida cheia de comodidades. O que Jesus pede aqui é surpreendentemente muito extremo: odiar a sua família, carregar a sua cruz, odiar a sua própria vida, desistir de todas as suas posses.
Não é um chamando para se acrescentar algo, ou algum embelezamento, ou algum enriquecimento, ou alguma mudança emocional ou apenas oferecendo seguro contra incêndio.
Jesus não está pedindo uma reforma, Ele está pedindo uma aquisição. Ele está chamando para tornar-se o soberano Senhor, ditador divino, governante, controlador e rei de sua vida.
Jesus nunca pediu uma oração curta e fácil com a qual a pessoa para receber a vida eterna. Ele Nunca chamou as pessoas a fazerem uma decisão emocional, induzida por apelos embalados em meio a músicas e ambientes que despertam emoções.
Jesus nunca ofereceu um perdão fácil e um caminho fácil para o céu. A porta foi sempre estreita, difícil de encontrar, e sempre havia distrações para levar as pessoas embora.
E há aquelas pessoas do capítulo 13 que tentam entrar e não podem. Na verdade, se você olhar para o evangelismo de Jesus é incrivelmente contrário ao que estamos acostumados.
Diferentemente dos modernos evangelistas e pastores, o Senhor fez tudo o que pôde, disse tudo o que podia para impedir superficiais seguidores. Ele sempre procurou os afugentar.
Os modernos pregadores buscam facilitar a vida de supostos pretensos seguidores de Cristo, Jesus fez absolutamente o oposto disso. Ele fez tudo o que pôde para colocar barreiras constantemente, fazendo declarações que eram absolutas, exclusivas e extremas.
Jesus não buscava nenhum seguidor superficial. Ele entendeu que o inimigo ia semear o joio entre o trigo e Ele não queria fazer nada para contribuir com isso.
Ele fez tudo o que podia para manter o joio fora, peneirar a palha do trigo. Nunca Ele daria a ninguém uma maneira fácil de obter um falso senso de salvação. Suas exigências extremas não eram ambíguas, mas cristalinas, para dissuadir o superficial e impedir o inconstante.
Nem tudo o necessário para a salvação está nesta passagem. Não diz quem Cristo é, quem Deus é, não fala sobre arrependimento, não fala sobre colocar confiança em Jesus Cristo.
Esta passagem trata da atitude que Deus está procurando no coração, uma atitude de compromisso extremo, nada superficial.
O Evangelho diz respeito ao que Cristo é, Sua vida, obra, morte, ressurreição, glorificação e volta. É algo que deve ser crido.
Mas, existe uma fé que não é a fé salvadora, que não possui a natureza divina, que não gera as atitudes corretas de entrega total ao senhorio de Cristo.
Jesus disse:
Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á (Mateus 10:34-39).
Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a (Mateus 13:44-46).
Jesus tratou sempre de falar do custo de segui-Lo. E este custo é tudo. Ele nos chama a um discipulado extremo. Ele chama o homem a desistir de si próprio e de tudo o que lhe cerca. Ele mostra a preciosidade incomparável e imensurável do reino.
Jesus diz que você vai ter que abrir mão de tudo, de todas as suas posses, de todos os seus relacionamentos e de si mesmo. Os olhos transformados estão fixados no que é eterno. Este é o evangelismo da porta estreita. Muitas pessoas não entendem. Sobre elas Jesus disse:
Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós sois; Então começareis a dizer: Temos comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas ruas. E ele vos responderá: Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniquidade, Ali haverá choro e ranger de dentes… (Lucas 13:24-28).
Esta é a mensagem consistente. Em João 6, quando a multidão que seguia Jesus o abandonou, Ele disse aos doze: “Vocês não querem ir também?” (v.67). Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (v.68).
Esta é a mensagem que Jesus pregou. Não é uma chamada que pode ter uma resposta superficial. É abandonar tudo, inclusive a própria vida.
É contemplar os tesouros celestiais valiosos, e diante deles perceber sua própria falência espiritual. Foi isso que fez os judeus reagirem tão violentamente contra Jesus. Eles não queriam desistir de seus estrumes. Eles confiavam em seus rituais, cerimônias, tradições e justiça própria.
Há uma vida eterna, uma alegria nas glórias do céu, que Deus preparou para aqueles que pertencem a Ele. Sua santa presença nas glórias do céu aguarda aqueles que desistiram de tudo, que não se atrevem a nada, que vêm desesperados e desejosos de salvação. A salvação é um presente que só pode ser recebido por mãos vazias.
Em Lucas 9:23, Jesus diz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”.
É a mesma afirmação que Ele faz em Lucas 14:26, ao se dirigir à multidão que O seguia: “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.
Vir a Cristo é uma atitude radical. Não é uma reforma superficial, é uma aquisição total. Não é apenas uma mudança de status diante de Deus. É uma transformação real.
Eu quero que você veja três verdades em Lucas 9:25-35. Ser discípulo de Cristo exige o abandono de prioridades passadas, exige a apreciação dos poderes atuais e exige lealdade ao potencial futuro.
Você toma uma cosmovisão completamente diferente que envolve passado, presente e futuro. E tudo começa com o abandono de prioridades passadas.
Ouça, o Evangelho diz que tudo na sua vida está prestes a mudar. Suas prioridade têm sido você mesmo, depois a sua família (ou relacionamentos) e depois suas posses.
Ele chama a um rompimento com esta estrutura de vida típica de uma pessoa não regenerada. Você pode dizer: ‘minha prioridade diz respeito a mim, meus relacionamentos mais próximos e meus bens.’ Mas, Jesus diz: “Se você quer ser meu discípulo, você tem que abandonar tudo”.
Vamos ver o texto de Lucas 14:25 a 35. O verso 25 diz que “Grandes multidões o acompanhavam, e Ele, voltando-se, lhes disse:…”.
Enormes multidões seguiam a Jesus, talvez dezenas de milhares. E Jesus está em Sua jornada, se movendo para Jerusalém. Não em uma linha direta, mas uma parada em Jericó e depois rumo a Jerusalém, onde seria crucificado.
Este não foi o único ensinamento que Jesus ministrou. Essas multidões o teriam ouvido dia após dia, nós temos um trecho muito pequeno do que Jesus disse.
Se você voltar ao capítulo 12, você tem uma espécie de mensagem coletiva de Jesus. É um grande discurso interrompido por um par de perguntas feitas, mas realmente flui do capítulo 12 até o capítulo 13:9.
O verso 1 de Lucas 12, diz:
Posto que muitos milhares de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
Aqui Jesus diz: “Saia da falsa religião. Afaste-se o máximo que puder”. Fermento é a influência, algo que pode corromper. Então, Ele diz: “Fique longe da religião falsa!”. Nos versos 2 e 3, Jesus diz:
Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. Porque tudo o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados.
Ou seja, Deus sabe o que está dentro de você. Ele conhece cada pensamento, cada palavra e cada ação. Entenda que você está sob os olhos onipresentes divinos. Nos versos 4 e 5:
Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer.
Ou seja, primeiro Ele nos diz para fugir da religião falsa, depois nos alerta sobre ser a nossa vida totalmente visível a Deus e, então, nos diz que Deus é santo e julgará o nosso pecado. E nada escapa a Deus. Ele conhece tudo. No verso 8 a 10:
Digo-vos ainda: todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus; mas o que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus. Todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão.
Ele acrescenta a necessidade de confessarmos Seu nome diante dos homens. Se O negarmos perante o mundo, também Ele nos negará. Jesus continuou nos alertando sobre não blasfemar do Espírito Santo, ou seja, não ter uma deliberada rejeição e hostilidade contra Deus.
Nos versos 13 a 21, Ele nos alerta contra o materialismo. Ao que depositou sua confiança na matéria, Ele diz: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (v.20). E nos versículos 22 a 34, Ele nos diz para procurar o reino, esquecendo de tudo o mais. “Buscai, antes de tudo, o seu reino [de Deus]” (v.31).
No verso 40, Ele nos alerta para não sermos surpreendidos na Sua volta. Segue tratando sobre isto até o verso 48. No versículo 53, Ele fala sobre abnegação novamente, sobre negar seus relacionamentos por causa do Reino dos Céus. E assim por diante. São componentes da pregação evangelística rotineira de Jesus.
E, então, no capítulo 14, a primeira coisa que Jesus tem a dizer é: “Olha, se você vai entrar no Meu reino, se você vai ser salvo, você deve abandonar suas prioridades pessoais do passado”. Veja os versículos 26 e 33:
Lucas 14
26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
Ou seja, seguir a Jesus vai lhe custar a sua família, a si mesmo e a tudo o que você tem. Ele diz: “Quem quiser”. Ou seja, é generalizado, é uma condição para todos.
Este é um ato inicial de fé. Este é o começo da verdadeira fé salvadora. Você deve entender, estamos falando de discipulado extremo aqui. Ele diz: “ser meu discípulo”. Ouça bem: “meu”.
Ele está falando de uma prioridade absoluta, de uma afeição por Ele acima de qualquer outra. Isso é muito forte. Isso é muito extremo.
É muito diferente do evangelismo típico de hoje, quando os homens são chamados a algo sem qualquer impacto profundo em suas vidas. É como uma mensagem que tenta conciliar o Evangelho com o mundo.
Você diz: “Espere um minuto. Isso parece contrário ao que a Bíblia ensina. Ela nos ensina a amar nossos familiares e não a odiá-los. Somos chamados a amar até os inimigos. Como poderemos pregar o Evangelho se não os amarmos?”.
Sim, certamente isto é verdade. Mas, Jesus estava usando um hebraísmo. Uma maneira bem particular em que o povo judeu usava os termos amor e ódio.
Deus expressa preferência, em Malaquias 1 e 2, e é repetido em Romanos 9:13: “Amei Jacó, odiei Esaú”.
Deus não tinha algum ódio emocional por Esaú. Significa simplesmente que Deus deu Sua promessa através de Jacó e não através de Esaú. É simplesmente uma maneira de definir preferência. Também pode ser uma expressão semítica para amar alguém menos.
Por exemplo, talvez a melhor ilustração disso está no capítulo 29 de Gênesis. Você sabe, poligamia foi sempre um pecado, sempre foi imprudente e sempre trouxe dor. Você vê isso com Jacó e suas duas esposas, Lia e Raquel.
No versículo 31, é dito que o Senhor viu que Lia não era amada. A palavra é “ódio”, ou seja, ela era “odiada” por Jacó, que amava a Raquel.
O verso 32 diz: “E concebeu Lia, e deu à luz um filho, e chamou-o Ruben; pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição, por isso agora me amará o meu marido”.
No verso 33 diz: “E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Porquanto o Senhor ouviu que eu era odiada, e deu-me também este. E chamou-o Simeão”.
Isto não quer dizer que seu marido a desprezasse e a odiasse. Seu marido tinha um relacionamento com ela, até mesmo um relacionamento físico com ela. Ele deu filhos a ela. É uma maneira de expressar o fato de que ela era menos amada e Raquel era mais amada.
Deuteronômio 21:15, a propósito, fala sobre isso. Se um homem tem duas mulheres, ele vai amar uma mais que a outra. E Jesus falou sobre isso. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mateus 6:24).
Isso não significa que ele tenha um ódio contra o outro, é uma questão de amor em conflito insolúvel, em oposição àquilo que Deus quer.
Então, Jesus não está falando em rejeitar e repugnar os familiares. Temos em Mateus 10:37 uma explicação simples do que Jesus quis dizer:
Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.
Ele nos chama a um amor acima de qualquer outro. É um tipo de amor exclusivo a Ele, que O coloca sempre em primeiro lugar.
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento (Lucas 10:27).
É um passo de lealdade a Ele que se sobrepõe a qualquer outra lealdade que temos neste mundo, com relação às pessoas, familiares, posses e a nossa própria vida.
Não temos escolha. No contexto do primeiro século isto era muito claro. Um judeu que seguia a Cristo enfrentava o repúdio de sua própria família.
Isto aconteceu ao longo da história, quando cristãos foram repugnados por seus familiares, em vários lugares e por causa de diferentes religiões. Isto acontece abundantemente em nossos dias.
Seguir a Cristo, em muitos lugares, é recebido como uma declaração de afronta pelos próprios familiares. Isto tem custado a vida de muitos cristãos.
Jesus disse: “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 10:27). A cruz é simplesmente um símbolo de morte, martírio.
Isto é algo absoluto. Se você não quer perder seus próprios desejos, ambições, posses e relacionamentos por amor a Cristo, você não pode segui-Lo.
Seguir a Cristo é estar disposto a suportar uma carga de dor e sofrimento, mesmo que seja a morte. Por que desejaríamos este preço? Por causa da preciosidade da pérola e do tesouro escondido, que conduzem a nos desfazermos de tudo para adquiri-los (Mateus 13:44-46).
E qualquer um, por sinal, que era crucificado, levava sua cruz para execução, como alguém que estava sendo considerado um pária (um desprezível). Alguém que estava carregando uma cruz era alguém que realmente não tinha direito à vida.
Eles eram os mais desprezíveis dos desprezados. Apenas a escória poderia ser crucificada. Um seguidor de Cristo é alguém que não se agarra a mais nada. Foi sobre isto que o apostolo Paulo falou:
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo (Filipenses 3:8)
O discipulado tem o custo mais alto. Nosso Senhor deixou isto muito claro. Ele nunca omitiu este detalhe importante do Evangelho.
Quando levamos o Evangelho às pessoas, não podemos omitir a necessidade que elas têm de deixar de lado as velhas prioridades de suas vidas, renunciar a tudo e seguir a Jesus.
Lembro-me de debates que tive com teólogos acerca do senhorio de Cristo e este tipo de compromisso, quando eu escrevia o livro “O Evangelho Segundo Jesus”.
Fizeram-me uma pergunta: se você tem um casal e eles não são casados, mas estão vivendo juntos, e você vai pregar-lhes o Evangelho, você diz a eles que devem parar de pecar e depois vir A Cristo? Ou você não diz nada sobre isso, apenas diz para virem a Cristo e se preocupar com isso mais tarde?
Bem, a resposta a esta pergunta seria: O que Jesus diria? “Se você não está disposto a colocar uma espada nessa relação ou qualquer outro relacionamento, e negar qualquer coisa que seu coração anseia, então você não é digno de ser meu discípulo”.
Você diz: “Bem, você está pedindo que as pessoas façam algo sozinhas antes de serem salvas”. Absolutamente não. A Bíblia diz que só Deus pode conceder-lhes o arrependimento para fazer isso. Mas, no entanto, não é algo aparte de suas vontades.
Você tem que dizer ao pecador: ‘olha, você tem que renunciar à sua família e a todos os seus próprios desejos e vontades que são contrários à vontade de Deus. Estes desejos devem estar no topo da sua lista de renúncia. Não venha a Cristo dizendo que quer ser salvo, mas não quer renunciar a sua perversão sexual ou qualquer outra prática contrária a Deus. Tais renúncias são o seu ponto de partida.
O Senhor pode não tirar tudo de você. Ele não vai tirar, necessariamente, aquilo que for bom e virtuoso. Ele quer tirar aquilo que é ímpio e mau. Mas, Ele exige que você pegue tudo, seja o que for, e renuncie. Você deposita tudo aos pés Dele. Algumas coisas Ele irá tirar de você, outras Ele pode permitir que fique.
Ele pode tirar suas posses ou não. Mas, o ponto central é que, seja lá o que for, não importa mais para você, porque você entendeu o valor de recebê-Lo e confessá-Lo como o Senhor de sua vida. Qualquer coisa menos que isso, disse Jesus, não te capacita a ser ‘Meu discípulo’.
Agora, isto se refere apenas a você e a seus relacionamentos. Na próxima vez veremos o que diz respeito a sua relação com aquilo que você possui. E, então, chegaremos na melhor parte, que são aquelas duas fascinantes estórias sobre construir uma torre e ir para guerra.
Vamos orar.
Pai nosso, viemos a Ti esta manhã com corações agradecidos porque Tua Palavra é tão clara. Entendemos que não podemos perfeitamente renunciar a tudo. Entendemos que ainda sentimos natural atração pela família, que até mesmo às vezes podem ser famílias cristãs que querem nos puxar para longe do que Tu queres.
E nós compreendemos que batalhamos com nossos próprios desejos, nossas falhas e nossos tropeços. Nós sabemos que Tu nos cobre com Tua graça.
Temos um Advogado, Jesus Cristo, o Justo, que intercede por nós. Sabemos que não abandonamos perfeitamente nossas prioridades passadas. É uma batalha. É uma luta.
A carne anseia por manter essas coisas. Mas nós afirmamos, ao chegar a Ti, o desejo de fazer isso e buscamos o poder para fazer isso. Esse é o nosso coração a chorar.
Obediência a Ti é tudo o que pedimos e estamos dispostos a desistir de tudo pela pérola e tesouro. Que isso seja verdade em nossas vidas.
Que o Teu Espírito trabalhe essa poderosa obra que nos faz desprender de tudo e ver em Cristo o valor supremo. Oramos em Teu nome. Amém.
Esta é uma série de 2 sermões. conforme links abaixo.
01. O preço de seguir Jesus (Parte 1)
02. O preço de seguir Jesus (Parte 2)
Este texto é uma síntese do sermão “The Extreme Nature of True Discipleship, Part 1″, de John MacArthur em 16/10/2005.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
http://www.gty.org/resources/sermons/42-195/the-extreme-na ture-of-true-discipleship-part-1
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno