O Escândalo da Graça
Iremos agora continuar nosso estudo do maravilhoso relato da vida de nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho de Marcos. Veremos os versículos 13 a 17 do capítulo 2, Mas antes de lermos o texto, quero definir algo em suas mentes.
Uma das coisas que sempre gosto de fazer é pensar biblicamente, olhar o contexto das Escrituras, porque algumas vezes, a maneira como o mundo atual ver as coisas podem ser muito diferentes do mundo antigo. E às vezes temos que examinar o contexto da realidade do passado, fazer o contraste com a realidade atual, para nos ajudar a voltar à mentalidade bíblica. Deixe-me abordar dessa forma.
Vamos imaginar, para fins de ilustração, que o Senhor Jesus, o Filho de Deus, o Salvador, o Messias tenha vindo ao mundo em nosso tempo. Ele veio para ser um sacrifício pelo pecado. Ele teria sido morto pela razão oposta da que Ele foi morto há 2.000 anos atrás.
No primeiro século, em Israel, Ele foi rejeitado, Ele foi desprezado, odiado e assassinado. E o motivo? Ele não foi considerado religioso o suficiente. Esse foi o motivo. Pelos padrões dos líderes religiosos judeus, predominantemente os fariseus, Ele não era santo o suficiente, se é que eles O consideravam santo em alguma medida.
Ele não era justo o suficiente, se é que eles O consideravam justo. Ele não era exigente o suficiente, não era legalista o suficiente, não estava condenando o suficiente. Ele não era intolerante o suficiente. Ele não era crítico o suficiente. Ele não era separatista o suficiente. Enfim, Ele era inferior a uma visão de mundo predominantemente religiosa.
Se Jesus viesse hoje, Ele seria considerado muito exigente, legalista, condenador, intolerante, crítico e separatista. E nossa geração iria matá-Lo por isso. Exatamente o oposto. Duas perspectivas diferentes, duas sociedades diferentes em dois tempos diferentes. Nossa cultura é altamente secular e extremamente imoral. A cultura da época em que Jesus veio ao mundo era altamente religiosa e extremamente moral.
A cultura atual rejeita Jesus por entender que Ele condena pessoas “boas”. Mas, no contexto do primeiro século, eles O odiaram por perdoar as pessoas más. Os líderes judeus, logo no início do ministério de nosso Senhor, começaram a desenvolver um ódio mortal por Ele. O motivo foi exatamente o que acabei de dizer: Ele não era santo o suficiente. Na verdade, Ele era tão profano aos olhos daqueles líderes religiosos, que eles concluíram que Ele fazia o que fez movido pelo poder de Satanás.
Eles condensaram esse ponto de vista em um mantra. Eles O chamavam, com desprezo, de “amigo dos pecadores”. Isso era o pior que podiam dizer sobre Ele. Esse foi o título mais desdenhoso que eles poderiam inventar. Amigo, na verdade, de cobradores de impostos e pecadores. Vamos ler isso em Mateus 11:19 e Lucas 7:34.
Por que eles concluíram isso? Porque Ele parecia muito acolhedor com as pessoas que eram pecadoras. Ele parecia muito confortável com as pessoas que os líderes judeus consideravam ser o povo de Satanás. E assim, em sua hipocrisia, aqueles religiosos criaram um título para Jesus, a fim de evidenciar o total desprezo que tinham por Ele: “amigo dos pecadores”. Para eles, Jesus não poderia ser o Messias, já que em sua avaliação Ele tinha um padrão de justiça inferior ao deles.
Esse era o problema. Eles julgavam que Jesus nem mesmo era tão leal a Deus, à lei de Deus, como eles. E assim, como Ele poderia ser o Salvador deles? Em Lucas, capítulo 7 e versículo 36, um dos fariseus convidou Jesus para jantar com ele. Jesus entrou na casa do fariseu, e reclinou-se à mesa.
Havia uma mulher na cidade, uma pecadora, uma prostituta, sem dúvida, uma mulher imoral, e quando soube que Ele estava reclinado à mesa na casa do fariseu, ela trouxe um frasco de alabastro com perfume, e ficou aos pés Dele, chorando, molhando Seus pés com suas lágrimas e os enxugando com seus cabelos, beijando Seus pés e os ungindo com o perfume.
Agora, quando o fariseu viu isso, ele disse a si mesmo: “Se este homem fosse um profeta, Ele saberia quem e que tipo de pessoa é essa mulher que está tocando nele, que ela é uma pecadora”. Para aquele fariseu, era absolutamente impensável que Jesus se aproximasse de um pecador ou permitisse que um pecador se aproximasse Dele.
No capítulo 15 de Lucas, todos os cobradores de impostos e pecadores aproximavam-se Dele para ouvi-Lo. Tanto os fariseus quanto os escribas começaram a resmungar, dizendo: “Este homem recebe pecadores e come com eles”.
Essa foi a questão que levou à rejeição de Jesus. Era ofensivo para aquela cultura ver que Aquele que afirmou ser o mais santo e o mais justo, o Filho de Deus, que afirmou ser o Senhor do céu e o Messias se sentia confortável com os pecadores. A separação definia os fariseus. Nunca ficavam na companhia de pecadores. Na verdade, os rabinos costumavam dizer: “Você não deve chegar perto de um pecador, nem mesmo para ensinar a lei a esse pecador.”
Na parábola de Lucas 18, onde o fariseu e o publicano vão ao templo orar, o fariseu se levanta e ora assim, para si mesmo, aliás, e diz: “Deus, agradeço por não ser como as outras pessoas, vigaristas, injustas, adúlteras, nem mesmo como esse coletor de impostos.” Para um religioso da época, não havia nada, além de desprezo, que pudesse ser demonstrado pelos pecadores. E eles se escandalizavam ao ver Jesus tão confortável na presença de pecadores.
Este foi o escândalo da vida de Jesus, o escândalo do Seu ministério: Ele era amigo dos pecadores. Você pode chamá-lo de “escândalo da amizade com pecadores” ou, simplesmente, “escândalo da graça”. Jesus deu as boas-vindas aos pecadores penitentes e rejeitou os fariseus hipócritas e impenitentes.
Essa é a glória do evangelho: Deus recebe pecadores. Paulo coloca isso no coração da carta aos Romanos. No capítulo 3, por exemplo, versículo 25, ele nos diz: “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus“. O versículo 26 adiciona, então, que Deus se torna o justificador daquele que tem fé em Jesus. A justificação, ou salvação, vem para aquele que tem fé em Jesus.
No capítulo 4 de Romanos, versículo 5, lemos que para aquele “que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” Portanto, Deus justifica aquele que tem fé, que reconhece que ele mesmo é ímpio. Deus justifica o ímpio que tem fé.
No Capítulo 5 de Romanos, versículo 6, lemos: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” Ele não morreu pelos piedosos, Ele morreu pelos ímpios. Ele justifica o ímpio. Este é o evangelho.
A glória do evangelho não é que Deus dá a salvação às pessoas que a merecem, ou que Ele dá a salvação às pessoas que a alcançam, ou às pessoas que são boas ou justas o suficiente, ou santas o suficiente, mas Ele dá a salvação aos ímpios, aos injustos que creem em Cristo e se arrependem. Esse é o escândalo da graça que escandaliza todos os sistemas de salvação pelas obras existentes. É a diferença entre o verdadeiro evangelho e todas as outras religiões.
Agora, a passagem que temos diante de nós enfoca o escândalo da amizade com pecadores. Isso realmente nos leva ao âmago, à essência do evangelho. Vamos começar no versículo 13, onde Marcos está falando sobre Jesus:
Marcos 2
13 E tornou a sair para o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava.
14 E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega, e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu.
15 E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido.
16 E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?
17 E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.
Aí está, queridos amigos, o escândalo do evangelho, o escândalo da graça, o escândalo da amizade com os pecadores. Tudo está resumido na declaração final no final do versículo 17: “Eu não vim chamar justos, mas pecadores.”
As únicas pessoas que podem entrar no céu, ser recebidas por Deus em Seu glorioso Reino e que recebem a salvação, não são as pessoas com merecimentos, mas as pessoas que são pecadoras, porque Deus as define como pecadoras e elas reconhecem que são pecadoras dignas de condenação. Ele justifica o ímpio. Essa é a mensagem do evangelho.
Ele veio buscar e salvar o que estava perdido. Em Lucas 5:32, onde a mesma história é registrada, Jesus diz: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.” Deus pode salvar apenas pecadores que se arrependem e creem em Jesus. A propósito, essa história também está incluída em Mateus 9: 9 a 13. É um relato importante o suficiente para que Mateus, Marcos e Lucas o registrem, porque nos dá a essência da glória do evangelho.
Agora, lembre-se, os últimos versículos que vimos, versículos 1 a 12, nos deram o relato do homem que foi curado de paralisia. Você se lembra que seus amigos o baixaram pelo telhado. Eles desmontaram o telhado e o jogaram dentro de uma casa, provavelmente a casa de Pedro e André, onde Jesus estava ensinando, e Jesus o curou e, mais importante, Jesus perdoou seus pecados, dizendo: “Seus pecados estão perdoados”, o que levou os líderes judeus ao ultraje, porque só Deus pode perdoar pecados, e visto que Jesus perdoou pecados e provou que era Deus ao curar o homem, eles deveriam ter afirmado que Ele, de fato, era Deus e fez o que tinha o direito de fazer.
Mas, essa história, versículos 1 a 12 de Marcos 2, relata a autoridade de Jesus para perdoar pecados. Agora, a próxima história (13-17), a que acabei de ler, relata quais os pecados que Ele perdoa. E Ele perdoa os pecados daqueles que são pecadores confessos. Ele não veio chamar justos, mas pecadores. Portanto, a essência de crer em Cristo é crer, antes de tudo, que você é um pecador, sem esperança, e não pode ser salvo por nenhuma de suas próprias obras.
Isso é difícil de ser aceito para pessoas que acreditam na religião das obras. É por isso que quando Jesus pregou a mesma mensagem, um pouco antes disso, e Lucas 4 registra o relato na cidade de Nazaré, eles tentaram matá-Lo. No primeiro sermão que Ele pregou em Sua cidade natal, eles tentaram jogá-Lo de um penhasco. Eles não se viam como pecadores, e Jesus estava falando na sinagoga.
Ora, para aqueles religiosos, as pessoas na sinagoga não eram pecadoras, eram justas, elas eram santas em suas próprias mentes. Eles haviam sido contaminados com a forma apóstata do judaísmo dos fariseus: a religião das obras e da justiça pelo esforço humano.
Esta sempre foi a mensagem do evangelho, e estamos muito familiarizados com ela: a fé cristã não é para pessoas boas, é para pessoas que sabem que são más. A salvação não é para pessoas que pensam que são justas, é para pessoas que sabem que não são justas. É para pessoas que têm fome e sede de justiça, não pessoas que pensam que podem alcançar a justiça por seu esforço próprio.
Portanto, o ministério evangélico de nosso Senhor, como qualquer ministério evangélico desde então, está concentrado naqueles que sabem que são pecadores, admitem que são pecadores, desejam perdão e se voltam para Cristo, a única fonte de perdão, o único que tem o direito de perdoar.
No judaísmo apóstata no primeiro século, a crença era que a salvação era alcançada por mérito. Assim, esse tipo de graça oferecida pelo evangelho, essa amizade com os pecadores era um ultraje e ameaçava, realmente, derrubar todo o sistema da religião judaica. E assim, aqueles líderes judeus odiavam Jesus e, desde o início de Seu ministério, já estavam formulando uma maneira de se livrar Dele, antes que Ele derrubasse seu sistema.
Aprendemos, então, nos versículos 1 a 12, que Jesus tem autoridade para perdoar pecados, e agora aprenderemos a quem Ele perdoa. Vamos, portanto, entrar na história.
O CHAMADO DE LEVI
Em primeiro lugar, temos o chamado de Levi. Vejamos um pouco do contexto, no versículo 13: “E tornou a sair.” Jesus saiu de onde? Bem, Ele saiu da casa em que estava quando curou o paralítico. Ele estava em Cafarnaum, sua cidade sede, a cidade onde Pedro e André viviam e tinham uma casa. Muito provavelmente, Ele tinha estado naquela casa ensinando, fazendo milagres de cura, e foi lá que Ele curou o paralítico que desceu pelo telhado.
“E tornou a sair para o mar…“. Ele saiu novamente à beira-mar, pois fazia isso muito frequentemente. Muito de Seu ensino era ao ar livre, inclusive porque não havia como confinar a multidão em uma casa. E essa foi a razão pela qual Ele saiu de casa nessa ocasião. Lembre-se que a casa estava tão congestionada, que o paralítico teve que ser baixado pelo teto para ter acesso a Jesus. Assim, Jesus saiu de casa não para evitar as pessoas, mas para que a multidão pudesse aumentar.
Ele saiu de casa com o propósito de ir à beira-mar, literalmente às margens do Lago da Galileia. As pessoas iam ter com Ele, que as estava ensinando. Ele saiu daquela casa, foi às margens do lago, um lugar aberto, onde todos os que quisessem vir poderiam fazê-lo. Lembre-se que Jesus tinha deixado claro, no capítulo 1, verso 38, que era isso o que Ele queria fazer: “Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue; porque para isso vim.“
E o que Ele pregava? No capítulo 1, versículos 14 e 15, está escrito: “E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho.”
Ele pregava o evangelho da salvação e perdão dos pecados, o evangelho da esperança do céu, o evangelho que envolve entrar no Reino da salvação, o Reino de Deus. Ali às margens do lago, Jesus fez o que sempre fazia: pregou a salvação por meio do arrependimento e da fé no evangelho – da fé Nele.
Porém, Ele tinha algo em mente. À medida que a multidão diminui, parece que Ele voltou para Cafarnaum. Diz-nos no versículo 14: “E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega…”. O texto mostra que Ele saiu da cena à beira do lago, onde ministrou e, sem dúvida, também curou, pois no capítulo 1, versículo 39, é dito que Ele foi às sinagogas por toda a Galiléia, pregando e expulsando demônios.
Então, talvez até aquele mesmo evento, na margem do lago, envolveu curas e expulsão de demônios, bem como ensino, porque Ele referendava a Sua mensagem pelo poder de Seus milagres sobre o mundo físico e sobrenatural, doenças e demônios. Então, Ele fez naquele lago o que fazia o tempo todo e, quando terminou, Ele se afastou.
E então, a história fica muito interessante, verso 14: “E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega, e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu.” Agora, isso é chocante. Isso é realmente chocante, porque esse era um cobrador de impostos. Isso é escandaloso além da compreensão.
Nenhum rabi que se prezasse, de qualquer tipo, gostaria de ter algo a ver com um coletor de impostos. Seria, literalmente, a maior mancha na carreira de alguém ter um seguidor ou ser íntimo de um cobrador de impostos, pois esses eram os piores dos piores, a escória da sociedade humana em Israel.
Agora, a proximidade dessas duas histórias me leva a acreditar que elas aconteceram em sequência. Lucas 5:27 diz: “depois disto…”. Mateus 9:9 diz: “E Jesus, passando adiante dali…”. Então, imediatamente após a cura do paralítico, Jesus desceu para a praia, pregou e, imediatamente, ao voltar para Cafarnaum, passou pela barraca de cobrança de impostos e fez o impensável.
Se por acaso algum cobrador de impostos se tornasse seguidor de um rabi, com certeza o rabi faria tudo o que pudesse para se livrar dele. Nenhum rabi que se prezasse, ou mesmo nenhuma pessoa que se prezasse gostaria de chamar um coletor de impostos para seu círculo de convivência íntima. Nenhuma pessoa que se prezasse gostaria de ter um coletor de impostos como amigo.
Mas, Jesus era diferente. Jesus quebrou todos os estereótipos. Ao voltar para Cafarnaum, passou pelo primeiro posto de cobrança de impostos. Muito possivelmente, tratava-se de um grande posto de pedágio na estrada da tetrarquia de Filipe, que era uma pequena tetrarquia, ou a região de Decápolis, um pouco mais ao sul e leste, na tetrarquia de Herodes Antipas.
No cruzamento da fronteira para aquela tetrarquia, governada por Herodes Antipas, havia um posto de cobranças de impostos, como uma estação de impostos de fronteira. Essa seria a estrada principal de Damasco, uma grande cidade no leste, passando por Cafarnaum, indo em direção ao Mediterrâneo e, bem ao longo dessa estrada, havia um posto de cobrança de impostos.
Os romanos dominaram aquela parte do mundo. Eles, literalmente, governaram distribuindo força e poder na terra de Israel, nomeando governadores que eram submissos ao governo de Roma. Esses governantes eram chamados de reis, como o caso de Herodes Antipas e Filipe, mas eram apenas fantoches de Roma, não tinham poder e autoridade próprios. Esses reis-fantoches se submetiam a Roma, a fim de sustentar sua posição. Eram aliados do Império Romano e recolhiam impostos em nome do Império.
O sistema romano de cobrança de impostos era terceirizado. Roma oferecia franquias fiscais e elas eram vendidas pelo lance mais alto. Portanto, para se tornar um cobrador de impostos, a pessoa precisava de algum dinheiro para conseguir comprar o direito de ocupar essa função. E, uma vez que conseguisse, a função de cobrador de impostos se tornava um meio de enriquecimento pessoal.
Agora, sentado naquela barraca de cobrança de impostos estava um homem chamado Levi. Ele recebeu esse nome, obviamente, em homenagem a um dos filhos de Jacó, nascido de Lia. Então, ele era judeu, obviamente, o que significa que havia vendido sua alma aos romanos por dinheiro.
Os romanos eram idólatras, eram odiados pelos judeus. Eram gentios, impuros. Os judeus os desprezavam. Havia, ainda, um ódio generalizado por Herodes Antipas, porque ele também não era judeu. E ali estava Levi, alguém que vendeu sua alma para aqueles gentios impuros, para extorquir dinheiro dos judeus. Se você fosse um cobrador de impostos naquela cultura, você seria considerado o pior dos piores.
O nome do pai de Levi era Alfeu. Não sabemos nada sobre ele. Esse era um nome comum na época. Dois dos discípulos tiveram um pai chamado Alfeu, e como era um nome tão comum, não seria necessariamente o mesmo Alfeu. Você conhece Levi como Mateus, porque no relato no Evangelho de Mateus, ele chama a si mesmo de Mateus.
Como seu nome passou de Levi para Mateus? Eu não sei, não temos nenhum registro nas Escrituras. Meu palpite é que ele, simplesmente, mudou de nome. Quero dizer, se você fosse um cobrador de impostos, talvez fosse bom para o seu futuro alterar sua identidade. Poderia salvar sua pele. E, se ele escolheu seu próprio nome, ele escolheu bem, pois Mateus significa “um dom do Senhor”. E ele recebeu um dom do Senhor no dom da salvação.
Então, Levi, mencionado no verso 14, é Mateus. Em todos os relatos que listam os doze apóstolos, não há menção de Levi, mas apenas Mateus. Assim, Jesus passa, vê um sujeito chamado Levi sentado na barraca de impostos, e eu só quero que você veja como isso é enigmático.
Ele disse a Mateus: “Siga-me.” É isso aí. Foi só isso. Quer dizer, não houve qualquer explicação. Foi o mesmo que vimos no capítulo 1, versículos 16 a 20, quando Jesus disse: “Sigam-me, eu farei de vocês pescadores de homens, e eles deixaram suas redes, O seguiram.” Depois, Jesus veio a Tiago e João e fez a mesma coisa. Apenas este “siga-me”, e eles largaram tudo, eles O seguiram.
Agora, esse foi um comando explícito, e foi obedecido imediatamente. O comando pressupõe algo: que Jesus conhecia seu coração, certo? João 2:25, “E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.” Isso é onisciência. Ele sabia o que estava no coração de Mateus.
Agora, lembre-se de que Cafarnaum era a base do ministério de Jesus. Mateus era um residente bem conhecido em Cafarnaum. Ele ouviu Jesus pregar. Ele estava bem ciente de Seu poder, de Sua mensagem. Ele encontrou um lugar em Seu coração. Ele foi um arrependido pela obra de Deus. Ele foi um crente pela obra de Deus. Ele tinha um coração que o Senhor mudou. Jesus sabia disso. Essa é uma ilustração de onisciência. E Jesus diz: “Siga-me”.
Agora, posso te dizer uma coisa: Mateus deve ter ficado chocado, ele deve ter ficado absolutamente chocado que esse Jesus soubesse o que ele desejava. E a resposta? Mateus O seguiu. Lucas 5:28 diz: “Ele abandonou tudo”.
Bem, se ele fosse um pescador, sempre haveria a possibilidade de voltar à sua atividade de pesca, caso a história com Jesus não desse certo. Os peixes não iriam desaparecer, certo? Mas, uma vez que Mateus se afastasse de sua franquia fiscal, seus concorrentes tomariam o seu lugar, e não haveria como ele voltar para o seu posto de cobrador de impostos.
Então, quando Lucas acrescenta: “Ele abandonou tudo”, ele quis dizer exatamente isso. Não haveria retorno. Isso é dramático. Sem explicação, o homem abandonou tudo, que para ele sempre foi tudo. Ele era um homem do mundo. Ele era um homem que não ligava para religião, não ligava para seu lugar na sociedade, não ligava para amizades, para prestígio, honra, ele não se importava com respeito. Tudo o que lhe importava era dinheiro. Ele era o mais grosseiro e ganancioso que você pode imaginar.
Ele não se importava com o que Deus pensava, com o que os fariseus pensavam, com o que as pessoas de sua cidade pensavam, o que os líderes da sinagoga pensavam. Ele não se importava com nada além de dinheiro. Ele vivia da maneira que queria, e estava satisfeito com a escória e a ralé que circulava em torno dos cobradores de impostos.
E, a propósito, apenas a escória da sociedade fazia parte do círculo de convivência dos cobradores de impostos, porque todos eram rejeitados naquela cultura. Não havia qualquer estigma quanto aos pescadores. Mas, quanto aos coletores de impostos, era diferente.
Chamar um publicano para ser Seu seguidor foi um ato escandaloso por parte de Jesus, que mostra Seu total desprezo pelas sensibilidades religiosas e sociais. Que rabi que se autodenomina Filho de Deus, Messias, Salvador do mundo, que é santo e justo chamaria para Seu círculo íntimo um cobrador de impostos?
Um historiador diz que a Mishná e o Talmude, embora escritos mais tarde, registram juízos contundentes sobre cobradores de impostos, colocando-os junto com ladrões e assassinos. Se um coletor de impostos tocasse qualquer coisa numa casa, tornava a mesma impura. O desprezo pelos coletores de impostos por parte dos judeus pode ser sintetizado na regra de que os judeus podiam mentir aos coletores de impostos impunemente.
Vamos nos aprofundar um pouco mais no tipo de homem que Mateus era. Ele estava sentado na cabine de impostos. E o que isso nos diz? Bem, havia uma espécie de sistema complexo de impostos, como hoje. Muitos tipos de impostos. Mas o ponto principal era que Roma havia estabelecido, talvez junto com Herodes Antipas, uma certa quantia de dinheiro todos os anos que precisava vir para eles. O que quer que o cobrador de impostos ganhasse além dessa quantia, poderia ficar para si. Literalmente, esse tipo de sistema era uma licença para a prática de todo tipo de desonestidade na Galileia.
Havia, assim, uma máfia na Galileia composta por cobradores de impostos. Envolvia crime, furto, arbitrariedade, extorsão, usura, exploração. Com isso, os cobradores de impostos, e todas as pessoas que trabalhavam com eles, foram proibidos de entrar nas sinagogas. Eles eram impuros. Eles não podiam testemunhar em um tribunal. Eles eram tratados como estando na mesma categoria de assassinos e ladrões, mas eles eram considerados piores por causa de sua traição à nação.
Havia dois tipos de impostos. Havia um imposto geral, que se resumiria ao imposto sobre a terra, sobre a propriedade, a renda, imóveis, esses tipos de coisas que conhecemos hoje. Mas, havia outros impostos. Esses seriam deveres. Também estamos familiarizados com isso, certo? Pagamos um imposto de transmissão de propriedade quando morremos.
Pagamos um imposto de renda todos os anos. Pagamos um imposto sobre a propriedade, que são impostos gerais fixos. Os coletores de impostos, no judaísmo do primeiro século, eram chamados “gabbai”, que significa “a parte de trás”, ou “costas”, pois era para o próprio bolso do coletor que boa parte dos impostos pagos iria parar.
Mas, então, havia outro tipo de coletor de impostos chamado “mokhe”. Os “mokhes” criavam impostos sobre tudo – imposto de importação, de exportação, de transporte. Eles estabeleciam a cobrança de pedágios em estradas, pontes, portos. Cobravam pedágios calculados quanto ao número de rodas, quantas pernas o burro tinha, bichos, pacotes, cartas etc. Não muito diferente do que acontece hoje, não é? Bem, isso não é nada novo, pessoal.
Mas, a situação naquela época era pior, porque não eram impostos fixos, mas flexíveis, e o elemento criminoso encontrou seu caminho para o grupo dos “mokhes”. Havia os grandes “mokhes”, os quais empregavam todos os pequenos “mokhes”. Os grandes “mokhes” moravam em casas grandes no alto da colina, o mais distante possível das pessoas. E os pequenos “mokhes” eram os que ficavam no contato com as pessoas, nos postos de cobrança, recebendo o ódio, as críticas pesadas e o desprezo das pessoas cujo dinheiro eles extorquiam em favor do grandalhão na colina. Bem, Mateus era um pequeno “mokhes”.
Se um publicano fosse um bom “mokhes”, eficiente, poderia ganhar muito dinheiro. E se tivesse os bandidos certos ao seu redor, poderia tirar dinheiro das pessoas, mesmo que pela dor. Ninguém em sã consciência gostaria de ser associado a um pequeno “mokhes”.
Porém, Jesus chamou um deles para ser Seu discípulo. Jesus sabia que Levi Mateus tinha reconhecido seu pecado, não apenas o estigma de seu trabalho, sua carreira, não apenas a corrupção de seus atos abusivos, mas sua miséria diante de Deus, como um infrator – condenado e desesperado – da lei de Deus.
Mateus sabia que era um pecador, sabia que não havia nada em si mesmo que o recomendasse a Deus. Ele estava desesperado, condenado, cria em Jesus e queria o perdão. E Jesus sabia disso. Assim, tudo o que Jesus teve a dizer foi: “Siga-me”, e Mateus saiu do seu posto de cobrança de impostos muito rápido, deixando tudo para trás.
Naquele momento, tudo que controlava sua vida não tinha sentido para ele. O dinheiro não tinha sentido, o poder, o mundo perderam o controle sobre ele. Os velhos hábitos perderam o encanto. Sob convicção, tudo o que ele queria era perdão, e ele sabia que Jesus era Aquele que poderia provê-lo. Ele tinha um novo coração, uma nova mente, novos anseios, novos desejos, e nunca mais olhou para trás.
Então, Levi Mateus, o traidor, Levi Mateus, o extorquidor, o ladrão, o proscrito, o pecador ganancioso e abusivo se tornou um discípulo, um apóstolo e um escritor da história de Jesus. Perdeu uma carreira, ganhou a glória eterna. Perdeu posses materiais, ganhou o céu. Perdeu a segurança terrena, ganhou a herança celestial. Ele sabia o que os líderes judeus não sabiam. Sabia que era para homens e mulheres como ele que Jesus tinha vindo para trazer a salvação.
COMUNIDADE DOS PECADORES
Bem, o chamado de Mateus conduz a história para a comunidade de pecadores. Vamos continuar a história, no versículo 15: “E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste…” – que era a casa de Mateus – “… também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido.”
Mateus agora estava cheio de gratidão. Estava emocionado com o que o Senhor fez em sua vida, e deu um banquete. Essa foi uma festa pródiga, longa, prolongada e importante para honrar Jesus Cristo.
Ele tinha uma casa grande, então mesmo sendo um pequeno “mokhes”, um publicano poderia ganhar muito dinheiro. Lucas 5:29 diz que o local se tratava de sua casa, e eles estavam reclinados. Essa era a postura típica para se fazer uma refeição longa e relaxada. Nós não conhecemos isso. Comemos rápido, em pé, em movimento. Mas aquele era outro mundo, outra época.
Assim, todos se reclinavam, literalmente, sobre um cotovelo, comendo com a outra mão, e com os pés distantes da mesa. Aquele foi um banquete pródigo para honrar Jesus e ouvi-Lo pregar a história do perdão, e para que Mateus desse seu testemunho a todos os seus amigos. E, é claro, publicanos e pecadores seriam as únicas pessoas que compareceriam a essa festa, porque essas eram as únicas pessoas com quem Mateus poderia se relacionar, por ser um pária. Ele convidou todos eles.
Então, o que temos nessa cena são todos os rejeitados desonrosos e desprezados da Galileia, todos os que faziam parte do mundo dos impostos. E você sabe o que estava acontecendo? Estava acontecendo um reavivamento, porque o texto diz que havia coletores de impostos e pecadores – a categoria geral que incluía todos os bandidos, todas as profissões secundárias de crime e prostituição – e todos estavam lá, e havia muitos deles, e eles O estavam seguindo.
Estava começando um avivamento que destruiria a máfia da Galileia. A “Mishná” [primeira grande redação na forma escrita da tradição oral judaica] diz que nunca irão para o céu: jogadores, agiotas, violadores do sábado, pastores de ovelhas violentos – os pastores, outra classe de profissão, também eram considerados imundos – coletores de impostos, ladrões, bandidos, executores, bêbados, prostitutas, toda a escória da sociedade, os “am ha’aretz”, os imundos. Mas, através Jesus, pessoas assim foram salvas, enquanto que os hipócritas não.
A propósito, esse era o tipo de gente que estava na casa de Mateus, comendo com Jesus e Seus discípulos. Esse foi o primeiro uso da palavra “discípulo” em Marcos. O discípulo – “mathētēs”, no grego – é um aprendiz, alguém que está seguindo Jesus para aprender Dele.
Então, lá estava Jesus junto com Seus discípulos, que nessa época eram seis mais Mateus, que tinha sido adicionado ao grupo, e talvez outros seguidores, e muitas dessas outras pessoas – os considerados imundos e pecadores. E a descrição comum é que todos eles O estavam seguindo, porque Ele era amigo dos pecadores. Eles nunca tinham conhecido ninguém assim, não havia ninguém naquela cultura assim. Não havia amigo para os pecadores, exceto outro pecador miserável, que não podia ajudar.
O DESPREZO DOS “JUSTOS”
Bem, o chamado de Mateus na comunidade de pecadores levou, em terceiro lugar, ao desprezo dos que acreditavam na justiça própria. Os fariseus não poderiam deixar isso passar, eles estavam sempre por perto, sempre marcando os passos de Jesus. Você se lembra, é claro, que eles nunca O deixavam sozinho, eles eram absolutamente implacáveis. E quando os escribas dos fariseus viram que Ele estava comendo com os pecadores e coletores de impostos, eles disseram aos Seus discípulos: “Por que Ele está comendo e bebendo com coletores de impostos e pecadores?”
E repito, pessoal, esse foi o escândalo. Aqueles eram escribas que faziam parte do grupo dos fariseus. Os escribas eram estudiosos, acadêmicos, advogados, e todas as seitas judaicas os possuíam. Os escribas que pertenciam à seita dos fariseus ficaram chocados além das palavras, atordoados. Eles não podiam acreditar. Comer simboliza aceitação, boas-vindas e, mais ainda, amizade. Eles não comeriam com ninguém que fosse pecador.
E eles ainda se orgulhavam de agir assim, por causa do Salmo 1:1, que eles repetiam: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.“
Eles pensavam: “Como Jesus poderia se reunir com pecadores? Como poderia ser Ele o Messias, o Filho de Deus, o Senhor do céu, o Salvador, quando Ele nem mesmo segue o padrão que estabelecemos?” Isso estava totalmente abaixo do padrão aceitável de Deus em suas mentes.
Lucas diz que eles começaram a resmungar, usando uma palavra grega que tem o sentido de balbuciar sons, resmungar, “gogguzō”. E eles disseram – e esta é uma pergunta retórica – “Por que Ele está comendo e bebendo com coletores de impostos e pecadores?”
Lembre-se, eles tinham moralidade sem santidade, eles podiam ter uma boa aparência, mas não podiam ser bons, eles podiam agir corretamente, mas não podiam ser justos. A pergunta deles pretendeu ser uma repreensão mordaz, uma acusação vingativa e ultrajante a Jesus. Esse era o povo de Satanás, e eles estavam tendo que encarar a distinção entre todas as religiões falsas e o verdadeiro evangelho.
O evangelho é um conflito entre a graça e todas as outras religiões, que são formas de lei; fé e todas as outras religiões, que são formas de obras; realização divina e todas as outras religiões, que são formas de realização humana como meio de salvação. E eu lembro a você que Paulo resumiu assim: Jesus veio para justificar os ímpios, não as pessoas que mereciam (Rm 4:5).
Então, fiéis à sua religião, aqueles líderes judeus registraram sua indignação vingativa: “Ele está comendo e bebendo com coletores de impostos e pecadores.” Pecadores é um termo genérico para os ímpios. Os cobradores de impostos eram considerados uma categoria ainda pior do que a dos pecadores.
A CONDENAÇÃO FEITA POR JESUS
Assim, o chamado de Mateus, o encontro com pecadores, o desprezo dos líderes religiosos levam, finalmente, a Jesus manifestar uma condenação sobre eles, a qual eles ouviram bem, no versículo 17, quando disse: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.“
Sua resposta à pergunta retórica dos escribas e fariseus (v. 16) é dupla. Primeiro, Jesus faz uma analogia: não são os saudáveis que precisam de médico, mas os enfermos. É uma analogia muito simples. Os médicos procuram os doentes. Quão simples é isso? Jesus é o médico espiritual, Ele é o “iatros” [médico, no grego] espiritual, o curador, e Ele precisa ir até as pessoas que precisam ser curadas.
Se os fariseus pudessem ver como aquelas pessoas estavam doentes pelo pecado – sendo que elas mesmas se viam como pecadoras, sabiam que eram, tinham um reconhecimento completo de sua pecaminosidade – não fazia sentido que o Salvador fosse buscar justamente esses pecadores?
Aquela acusação proferida pelos escribas e fariseus (v. 16) era algo muito forte e que partiu de seus corações frios. É por isso que Jesus disse: “Vinde a mim, todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes aliviarei.”
Mas, em contraste com isso, em Mateus 23, Ele disse que os escribas e fariseus atavam fardos pesados nas costas das pessoas, que elas nem mesmo podiam carregar, e eles não lhes davam nenhuma ajuda. Mas, o apelo de Jesus é: “Venha até Mim, se você é um pecador, e Eu perdoarei seu pecado.” Ele é o Senhor que cura você, conforme identificado em Êxodo 15:26. Ele é o curador da alma, o curador espiritual.
A analogia é óbvia, é como se Jesus estivesse dizendo àqueles escribas e fariseus: “Vocês dizem que essas pessoas são pecadoras. Ora, se elas são pecadoras, se estão doentes com o pecado, precisam de um curador espiritual, precisam de um médico espiritual para perdoar seus pecados.”
A segunda parte da resposta de Jesus àqueles escribas e fariseus é de autoridade, no final do versículo 17: “não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” Chamar aí significa chamar para o Reino, chamar para o perdão, chamar à salvação. Jesus estava também dizendo àqueles líderes judeus: “Eu não vim por vocês, não posso fazer nada sobre vocês.”
Não é que Jesus não considerasse aqueles escribas e fariseus como pecadores. Apenas Ele aceitou superficialmente, pelo bem do momento, a própria avaliação que eles faziam de si mesmos. E sua própria avaliação de si mesmos era de que eles eram justos. Jesus lhes estava dizendo, em outras palavras:
Ok, vocês são justos, logo, Eu não vim por vocês. E enquanto vocês continuarem pensando que são justos, morrerão em seus pecados, e para onde Eu for, vocês nunca irão. Aceito seu diagnóstico de autojustiça, aceito sua ilusão. Vocês são justos, não precisam de Mim e não posso lhes oferecer nada. Não vim pelos justos, não vim chamar os justos, não posso oferecer nada a eles. Vim chamar pecadores ao arrependimento.
Oh, como eles O odiavam por isso! Eles estavam tão longe de Deus, que podiam identificar as outras pessoas como pecadoras e, em vez de querer ser a fonte de sua cura e trazer-lhes bem-estar espiritual, não tinham misericórdia delas. E quando Jesus veio e teve misericórdia, eles se enfureceram com ódio contra o médico misericordioso que, em compaixão, deu as boas-vindas aos pecadores perdoados e crentes em Seu Reino de salvação. Com Jesus, onde o pecado abunda, a graça abunda muito mais.
Assim é hoje. A igreja de Jesus Cristo não é feita de pessoas boas, é feita de pessoas más. Não é composta por pessoas que pensam que são justas, mas por pessoas que sabem que não são. Não é composta por pessoas que atingiram um certo grau aceitável para Deus, mas por pessoas que sabem que nunca poderiam chegar a um lugar aceitável diante de Deus.
A igreja não é composta por pessoas que pensam que são boas, mas por pessoas que sabem que são más. Não é formada por pessoas que alcançaram a justiça por conta própria, mas por pessoas que receberam a justiça de Deus como um presente. Este é o evangelho.
Sim, Jesus tem autoridade para perdoar pecados, mas o único pecado que Ele pode perdoar é o pecado daqueles que conhecem sua miséria, que a reconhecem, e colocam sua confiança Nele. Vamos orar:
Pai, fomos tão abençoados esta manhã por ouvirmos a gloriosa mensagem do evangelho novamente. No cerne de tudo o que fazemos está este maravilhoso escândalo da graça de que onde o pecado abunda, a graça abunda muito mais. Agradecemos porque, por mais pecaminoso que seja o pecado, a graça triunfa. Como Tiago 4:6 diz: “Ele dá uma graça maior”. Deus se opõe aos orgulhosos, mas dá Sua graça aos humildes.
Oh, Senhor, agradecemos por nos ter levado ao ponto de sermos convictos de nosso pecado e de nossa incapacidade de nos salvar, e por ter revelado Teu glorioso evangelho da graça para nós. Eu oro pelos pecadores aqui hoje, que estão dispostos a reconhecer sua pecaminosidade. Que eles sejam como Mateus, apenas sentados, esperando pela oferta, esperando pelo chamado. Que esse chamado chegue ao coração deles hoje. Que o Senhor os chame do pecado para a glória da salvação, chame-os da culpa para a plenitude do perdão, não porque eles merecem, mas porque pediram. Senhor, agradecemos-Te por este presente, por nossa salvação. Em nome de Cristo. Amém.
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.
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Este texto é uma síntese do sermão “The Scandal of Grace″, de John MacArthur em 24/05/2009.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/41-9/the-scandal-of-grace
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno