Juízo Sobre a Falsa Adoração

Jesus estava ciente de todos os problemas deste mundo. Toda injustiça o perturbava. Mas Ele apenas se ocupou de falar sobre o real problema: ausência de relacionamento com Deus. Nada mudará o destino eterno do homem a não ser que ele se torne um verdadeiro adorador. Esse é o real problema da sociedade.

Marcos 11 relata um dia monumental na história da redenção e do mundo. É um dia sério e profundo porque é neste dia que o nosso Senhor Jesus pronuncia maldição sobre o templo em Jerusalém. Essa maldição se estendia para a liderança religiosa de Israel, a religião de Israel e todos os que faziam parte dela.

É, com efeito, uma maldição sobre a nação, o povo escolhido e abençoado pelo Deus da Aliança é aqui amaldiçoado. É terça-feira da última semana do ministério de Jesus Cristo. Na sexta ele seria crucificado.

Três dias atrás (um sábado), Jesus havia chegado às proximidades de Jerusalém, na cidade de Betânia, cerca de 3 km a leste, sobre o Monte das Oliveiras. Ele ficou lá no sábado com seus amigos, Maria, Marta e Lázaro, a quem Ele havia ressuscitado dos mortos.

No domingo Jesus havia permanecido em Betânia e multidões de judeus haviam saído da cidade de Jerusalém, onde estavam reunidos para a Páscoa, em direção à Betânia, para vê-lo, bem como para ver o homem que ressuscitou dos mortos, Lázaro.

Na segunda-feira, Jesus entrou na cidade de Jerusalém para a semana da Páscoa, onde uma multidão superficial o recebeu como rei [clique aqui e leia o sermão sobre o “falso entusiasmo da Multidão]. Ele de fato era um rei, mas o coração da multidão era falso.

No final daquele dia, de acordo com Marcos 11:11, Jesus entrou no templo e olhou em volta. E Ele não gostou do que viu. Mas, como já era tarde, Ele foi para Betânia com os discípulos.

Jesus esteve em Jerusalém outras vezes em Sua vida. 3 anos antes, no início de seu ministério, também na Páscoa, ele esteve lá, e João assim relatou sua reação ao entrar no templo:

E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. (João 2: 15-16)

Agora estamos na terça-feira pela manhã (na sexta Ele seria crucificado). Jesus está voltando com seus discípulos de Betânia para Jerusalém e para o templo.

Jesus não chegou em Jerusalém como o Rei de Israel para atacar Roma, Ele veio como o Rei da justiça para atacar o templo e a estrutura religiosa hipócrita de Israel.  E assim Marcos relata:

Marcos 11
12 No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome.
13 E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos.
14 Então, lhe disse Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti! E seus discípulos ouviram isto.
15 E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.
16 Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo;
17 também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores.
18 E os principais sacerdotes e escribas ouviam estas coisas e procuravam um modo de lhe tirar a vida; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava de sua doutrina.
19 Em vindo a tarde, saíram da cidade.
20 E, passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz.
21 Então, Pedro, lembrando-se, falou: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste secou.

A morte da figueira é o único milagre destrutivo registrado nos evangelhos. Foi uma ilustração da futura destruição do templo de Jerusalém. Foi uma previsão e prévia do julgamento que viria.

Toda essa passagem tem dois componentes: a figueira e o templo. Mas ambos são prévias da mesma coisa.

  • A figueira seca é uma analogia que fala da destruição do templo.
  • O ato de Jesus no templo é uma prévia da destruição do templo.

O templo era o coração do judaísmo. E a maldição que cai sobre a figueira e, portanto, sobre o templo, demonstra para nós que Deus não estava satisfeito com o templo, com seus líderes e com as pessoas que iam ao templo.

Em suma: Deus não estava satisfeito com Israel. O templo era o coração de Israel. Se a corrupção dominava o templo, ela também dominava a nação.

Breve histórico do templo de Jerusalém

O templo que existia na época de Jesus ficou em construção por mais de 80 anos. A história do templo de Jerusalém é longa. Vamos ver um breve resumo.

1) O Monte Moriá

Em Gênesis 22 Abraão foi instruído por Deus a ir a um lugar muito específico, o Monte Moriá, e ali oferecer Isaque, seu filho, como sacrifício.

Quando ele chegou lá, tanto o pai quanto o filho cumprem obedientemente o que Deus havia ordenado, mas Deus poupa Isaque e fornece um cordeiro (uma figura de Cristo) para ser sacrificado no Monte Moriá.

Cerca de 900 anos depois, por volta do ano 988 antes de Cristo, Davi comprou o Monte Moriá de Ornã, conforme registrado em 1 Crônicas 21: 21-26. Aquele pedaço de terra é o pico no lado leste da cidade de Jerusalém. Seis anos depois, seu filho, Salomão, começou a construir ali o templo. 

2) O primeiro templo: O templo de Salomão

A construção no Monte Moriá era o local onde seriam feitos sacrifícios como aquele que Deus providenciou em Gênesis 22. Salomão construiu um grande e incomparável edifício chamado de Templo (2 Crônicas 3 a 7 e 1 Reis 6 a 9).

Foi um feito monumental de construção, coberto com ouro e todos os tipos de coisas preciosas em homenagem a Deus. Após a dedicação do templo, a glória do Senhor encheu aquele lugar:

Tendo Salomão acabado de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do Senhor encheu a casa. Os sacerdotes não podiam entrar na Casa do Senhor , porque a glória do Senhor tinha enchido a Casa do Senhor (2 Crônicas 7:1,2)

O Senhor fez uma tremenda promessa a Salomão:

Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. Estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração que se fizer neste lugar. (2 Crônicas 7:14,15)

Mas também fez um grave alerta:

Porém, se vós vos desviardes, e deixardes os meus estatutos e os meus mandamentos, que vos prescrevi, e fordes, e servirdes a outros deuses, e os adorardes, então, vos arrancarei da minha terra que vos dei, e esta casa, que santifiquei ao meu nome, lançarei longe da minha presença, e a tornarei em provérbio e motejo entre todos os povos. (2 Crônicas 7:19,20)

3) A destruição do primeiro templo, contruído por Salomão, pela Babilônia

Israel se rebelou contra Deus e caiu em grave corrupção. E, então, após 350 anos da consagração do templo, no reinado de Zedequias em Judá, a Babilônia destrói aquele templo e saqueia tudo o que havia de valioso lá (2 Crônicas 36: 17 a 21 e 2 Reis 25)

Deus usou a Babilônia para trazer julgamento sobre a religião falsa. Israel se tornou apóstata, o judaísmo se corrompeu. O povo, seus líderes e sacerdotes eram corruptos. A nação estava ouvindo os falsos profetas e descambou para a idolatria, pecado e incredulidade.

4) O segundo templo: O templo de Zorobabel

Durante o reinado de Belsazar, a Babilônia sucumbiu diante do Império Persa, liderado pelo rei Dario (Daniel 5). E, setenta anos depois do cativeiro na Babilônia, Ciro, rei da Pérsia, autoriza o regresso dos judeus para Jerusalém e promete ajudar na reconstrução do templo (2º Crônicas 36: 22-23; Esdras 1).

Os profetas Ageu e Zacarias profetizavam em nome de Deus, então Zorobabel liderou a construção do segundo templo de Jerusalém (Esdras 5:1-2).

Os inimigos de Israel se levantaram contra a reconstrução do templo e dos muros de Jerusalém (Esdras 5: 1-9). Mas, Dario, Rei da Pérsia, após consultar os arquivos com os decretos de Ciro, autorizou a continuidade das obras (Esdras 5:17 e 6: 1-12).

Um templo muito modesto, nada parecido com o templo construído por Salomão, foi erguido sob a liderança de Zorobabel. E no ano 515 antes de Cristo, o segundo templo foi concluído e dedicado, de acordo com Esdras 6:13-18.

Naqueles dias houve um profundo quebrantamento do povo diante da exposição da lei por Esdras e muitos que o ajudaram (Neemias 8 a 10). O povo declarou que seria fiel ao Senhor.

De fato, Israel abandonou a idolatria, mas o judaísmo se tornou apenas uma religião de autojustiça e hipocrisia, totalmente afastada de Deus. 

5) A profanação do segundo templo por Antíoco Epifânio

Algumas centenas de anos depois, Antíoco Epifânio, rei da Síria, ocupou Jerusalém, profanou o templo e colocou lá uma estátua do deus Júpiter (ano de 167 antes de Cristo). Ele matou porcos no altar do templo.

Houve um modesto renascimento da adoração no templo três anos depois sob a liderança de Judas Macabeus, mas a religião continuou apostatando. Israel havia abandonado a idolatria depois da destruição do primeiro templo, mas a apostasia, a falsa religião, a hipocrisia, a superficialidade e a falsa adoração continuaram a prevalecer no segundo templo.

6) O terceiro templo (ou a reforma do segundo templo): O templo de Herodes 

No ano 20 antes de Cristo, Herodes, o Grande, um idumeu nomeado por Roma para governar a Judeia, decidiu fazer amplas obras no segundo templo, que passou a se chamar o templo de Herodes. Foram obras tão grandiosas que o edifício pode ser considerado como o terceiro templo.

Herodes, o grande, governou a Judeia do ano 37 antes de Cristo ao ano 4 depois de Cristo. Foi o mesmo que mandou matar as crianças menores de 2 anos de idade de Belém e vizinhança, numa tentativo de matar o Messias (Mateus 2: 16-18).

O terceiro templo era um espécie de expansão do segundo templo. A construção começou no ano 20 antes de Cristo e só foi concluída no ano 64 depois de Cristo.

7) A destruição do terceiro templo

Seis anos depois de terminado, no ano 70 depois de Cristo, o general romano Tito Vesparsiano liderou a destruição do templo de Herodes, não deixando pedra sobre pedra, conforme predito por Jesus (Marcos 13: 1-2)

A história dos templos de Jerusalém é a história dos repetidos ciclos de apostasias. Israel construiu o templo para adorar a Deus, dedicou o templo ao Senhor, mas caiu na falsa religião, na hipocrisia, na superficialidade e no fingimento.

E Deus trouxe julgamento, e o julgamento chegou ao templo, o coração de Israel. A nação caiu e seu templo foi destruído pelos babilônios, profanado por Antíoco Epifânio e novamente destruído pelos romanos.

8) Os futuros templos

Desde o ano 70 depois de Cristo não há um templo em Jerusalém. Sob os escombros dos templos construídos, no Monte Moriá, estão hoje a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, que são considerados lugares sagrados pelos muçulmanos. 

Haverá um quarto templo no período da grande tribulação (Daniel 9:27), que será profanado pelo Anticristo, que cometerá o que é chamado de abominação da desolação (Mat. 24:15; Mc. 13:14 etc.). Então haverá outra tentativa de adoração que será julgada.

E, finalmente, haverá um quinto templo e esse templo será um templo cheio de glória. Esse é o templo descrito em Ezequiel 43, como o templo do Messias no Reino Milenar. Você pode rastrear a história de Israel pela história do templo.

O significado da maldição sobre a figueira

O que Jesus fez em Marcos 9: 12-21 é uma prévia da destruição do terceiro templo. A analogia é a figueira.

Marcos 11
12 No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome.
13 E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos.

Ele havia deixado a casa de Maria, Marta e Lázaro, aonde ele ia todas as noites para descansar e dormir. Ele provavelmente havia acordado muito cedo para orar, aquela era a semana de sua morte na cruz. Ele estava com fome, uma consequência de sua humanidade. Ele sabia que haveria uma longa e dura jornada naquele dia.

A figueira estava cheia de folhas, mas não tinha figos. As primeiras frutas que aparecem em uma figueira vem em março e abril, e seria naquela época do ano, no período da Páscoa.

Deveria ter frutos pequenos, muito imaturos mas comestíveis. Eles podiam ser comidos quando alguém estava com muita fome (Isaias 28:4). A estação dos figos é de meados de agosto a outubro, quando os frutos estariam plenos e totalmente maduros.

Mas se havia folhas, deveria haver alguma fruta comestível porque os figos vem antes das folhas. E assim Ele vê a árvore com folhas, então havia possibilidade de se achar frutos pequenos nela.

As figueiras estavam em todo lugar em Israel. Números 13 diz que quando os espias foram à terra de Canaã para verificar, eles relataram foi que a terra está cheia de tesouros, e entre os tesouros estavam as figueiras.

De acordo com Deuteronômio 8:8, as figueiras estavam em toda a terra de Israel e podiam crescer até cerca de 6 metros ou mais. Em João 1:48, o futuro apóstolo Natanael (ou Bartolomeu) estava sentado à sombra de uma figueira.

Marcos 11
14 Então, lhe disse Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti! E seus discípulos ouviram isto.

Jesus não encontrou  naquela figueira fruto. Não havia nada além de folhas. E Ele diz: “Nunca jamais coma alguém fruto de ti”. Mateus 21:19 registra: “Nunca mais nasça fruto de ti”.

Ele basicamente pronunciou uma maldição que matou a árvore. É por isso que digo, é o único milagre destrutivo nos evangelhos. Como você sabe que é uma maldição? Marcos 11:21 diz: “Então, Pedro, lembrando-se, falou: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste secou.”

A árvore tinha aparência de possuir frutos, mas não tinha nada. Sua aparência não demonstrava sua realidade, era uma falsa profissão. E esta é uma ilustração gráfica da pretensão de adoração no templo, folhas religiosas, mas sem frutos, apenas hipocrisia.

Em Mateus 23 Jesus chama repetidas vezes os líderes religiosos de hipócritas. Ele abordou a hipocrisia da religião de Israel. Toda a operação do templo não passava de folhas. O templo é, portanto, amaldiçoado, o que significa que a destruição é pronunciada sobre ele. E isso ocorreu quarenta anos depois.

Esse cenário de Jesus amaldiçoando a figueira faz paralelo com a parábola da figueira, registrada por Lucas:

Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la. (Lucas 13:6-9)

Israel é comparado como uma figueira infrutífera que seria cortada por não dar frutos. O que Jesus diz em Marcos 11 é um continuação da parábola de Lucas 13. O judaísmo estava espiritualmente falido. Todo o sistema e a nação envolvida nesse sistema são amaldiçoados por Deus.

Marcos 11: 14 diz que os discípulos ouviram Jesus amaldiçoando a figueira. O que eles estavam pensando?

  • Poderiam ter pensado na prometida maldição que viria sobre Israel por sua desobediência (Deuteronômio 28: 15 e diante).
  • Ou talvez no Sermão do Montem quando Jesus disse: “Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mateus 7:19).
  • Ou ao que Jesus disse sobre os fariseus: “Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada” (Mateus 15:13).

A aplicação direta da maldição é ao templo, mas ela se expande para a liderança do templo e os participantes do templo e, portanto, para a nação. Sobre eles, Paulo escreveu:

Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus (Romanos 10:2,3)

Eles cometeram uma falha fatal. A adoração de ídolos causou a destruição do primeiro templo, mas a destruição do terceiro templo foi causa pela justiça própria substituindo a justiça de Deus.

A maldição retratada na figueira é visualizada na ação de Jesus no templo de Jerusalém.

Marcos 11
15 E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.

Então eles chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no templo. Ele não iria atacar Roma e nem elevar Israel, como a população gostaria que Ele fizesse para cumprir suas expectativas messiânicas. Em vez disso, Jesus começou a atacar Israel. E o ataque a Israel foi bem no seu coração.

Jesus já havia feito isso no início de seu ministério (João 2:13-17). E agora está Ele fazendo de novo, no final de seu ministério. Jesus exortou Israel à verdadeira adoração. Ele fez isso em todo seu ministério. Ele disse a mulher samaritana:

Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. (João 4:23-24).

Todo o seu ministério, tudo o que diz respeito a Cristo e tudo o que diz respeito a Deus está focado em uma questão essencial: A adoração. O Filho do Homem veio buscar para o Pai os verdadeiros adoradores. A igreja é composta por aqueles que adoram a Deus em espírito e em verdade, e se regozijam em Cristo.

Jesus caminhou neste mundo ciente de tudo. Até que ponto Ele exerceu Sua onisciência, não sabemos. Ele restringiu alguns de seus atributos em sua humanidade. Mas ficou claro que Ele sabia coisas que não poderiam ser conhecidas se Ele não fosse Deus. Ele podia fazer avaliações além da capacidade humana.

Nada escapou Dele. Ele viu muitas realidades perturbadoras. Ele viu injustiças sociais, abusos de autoridade, desonestidade dos cobradores de impostos, crimes diversos etc. Havia muitas coisas que exigiam reforma social e ações políticas.

Mas Jesus nunca abordou essas coisas. Ele ficou perturbado com isso? Claro, tudo que não era justo o perturbava. Mas Ele nunca se desviou de uma questão verdadeira e dominante que ocupou toda a Sua vida e que era a adoração.

Ele sabia que o problema real que está por trás de todos os problemas da sociedade é o relacionamento rompido do homem com Deus. Nenhuma solução haverá para a sociedade sem que o homem se reconcilie com Deus.

Por isso ele confrontou a corrupção e a hipocrisia da religião de Israel em todo seu ministério. Ele sabia que este era o verdadeiro problema de Israel.

O templo estava corrompido porque os líderes estavam corrompidos. Quando os líderes são corruptos, o povo é corrupto. Quando o povo é corrupto, a nação é corrupta. O templo era o coração de Israel. Se o templo estava tomado pela corrupção e hipocrisia, tudo em Israel estava na mesma situação.

A medida de qualquer sociedade é sua adoração. Não meça um povo por seu status econômico, políticas sociais e ambientais etc. Isso é superficial. A real medida de um povo é a sua adoração ao Deus verdadeiro. É assim que Deus julga.

É a verdadeira adoração que determina o destino eterno, não qualquer outra coisa. Nada mudará o destino dos homens a não ser que ele se torne um verdadeiro adorador.

O Senhor condenou a falsa adoração, proferindo juízo contra o templo e toda a estrutura religiosa de Israel. Pedro escreveu:

Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? (1 Pedro 4:17)

O julgamento sempre começa  pela casa de Deus. Por que temos que ficar preocupados com o que há de errado na igreja? Porque é aí que o julgamento tem que começar.

Um verdadeiro representante de Cristo tem que representar Cristo em nome da pureza de sua casa, a igreja, pela qual Deus comprou com o precioso sangue do Cordeiro Santo.

Jesus verificou que o templo era um lugar de hipocrisia e blasfêmia. Ele sempre vai ao coração da adoração de um povo. Nada nos protegerá do julgamento de Deus, exceto um relacionamento correto com Deus. Qualquer coisa menos que isso, todo o resto não importa.

Então, segundo Marcos 11:15, Jesus entrou no templo, por um dos portões. Havia vários pátios: do Sacerdote onde ofereciam o sacrifício, dos Israelitas, das mulheres e dos gentios. Isso acomodava centenas de milhares de pessoas, era um lugar enorme.

O pátio dos gentios era o único lugar do templo em que era permitida a oração e a adoração de não judeus. Mas os líderes do templo transformaram o local em bancas para gananciosos ganharem dinheiro, tudo sob a liderança dos saduceus corruptos Anás e Caifás, que controlavam o templo.

E Jesus começou a expulsar os que compravam e vendiam no templo, derrubou as mesas dos cambistas, espalhando dinheiro pelo chão, e as cadeiras dos que vendiam animais para aqueles que vinham oferecer sacrifício.

O esquema dos sacerdotes era reprovar o animal trazido para sacrifício. Como vinha gente de todo lugar, as pessoas tinham que ir aos cambistas para trocar moedas gregas e romanas por moedas judaicas, que ganhavam altas taxas de comissão por isso.

Após serem extorquidos pelos cambistas, as pessoas ainda tinham que comprar animais dos mercadores, a custo muito elevado. Os pobres ofereciam pombos como sacrifício (Levítico 5:7), devido ao seu pequeno custo, porém, os mercadores vendiam a preços exorbitantes.

Esses mercadores pertenciam à hierarquia do sumo-sacerdote ou pagavam altas taxas para fazer do templo um lugar de comércio

O tempo deixou de ser um lugar de adoração, uma casa de oração, para se tornar um covil de ladrões. Jesus reagiu a tudo isso. Os trapaceiros, exploradores dos pobres, saduceus e sacerdotes corruptos não resistiram à autoridade de Jesus.

Como um homem faria tudo isso diante daqueles líderes poderosos? Ali ocorreu mais uma poderosa demonstração de poder e autoridade de Jesus.

Marcos 11
16 Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo;

Ou seja, Jesus impedia que as pessoas continuassem a usar o pátio de templo como atalho para transportar utensílios e vasilhas com mercadorias para outras partes de Jerusalém, pois essa prática revelava irreverência pelo tempo e por Deus.

Jesus os deteve imediatamente, interrompeu toda essa operação. Chutou banquinhos, caixotes, mesas, parou gente, parou tudo, basicamente evacuou o lugar de todas essas pessoas. O resultado foram detritos por toda parte.

Os principais sacerdotes, escribas e anciãos questionaram Jesus, perguntando: “Com que autoridade fazes estas coisas? Ou quem te deu tal autoridade para as fazeres?” (Marcos 11:27-28).

Jesus não era reconhecido pela estrutura religiosa e era alvo do ódio da liderança judaica. Ele era como Daniel na cova dos leões, eles não podiam machucá-lo até que chegasse sua hora, determinada pelo Pai, quando sua obra 

Após a ressurreição, os discípulos lembraram do salmo profético que diz: “O zelo pela tua Casa me consumirá” (Salmo 69:9 e João 2:17).

O Senhor odeia aqueles que pervertem a adoração e ama aqueles que procuram ser verdadeiros adoradores. Poderíamos clamar ao Senhor hoje e dizer: Você faria o mesmo em sua igreja? “Senhor, a ti clamo, venha e expulse os mercadores da fé do meio de tua igreja”.

Marcos 11
17 Também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores.

“Casa de oração para todas as nações” era o verdadeiro propósito do templo de Deus. Somente Marcos inclui a expressão “para todas as nações”, do texto de Isaías 56:7. Provavelmente porque se dirigia principalmente a gentios.

O pátio dos gentios era a única parte do tempo que era permitido aos gentios para oração e adoração a Deus. Mas a liderança religiosa de Israel havia frustrado essa adoração ao transformá-lo em um lugar de negócios gananciosos. Davi escreveu:

Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo (Salmo 27:4).

Davi queria ir ao tempo para contemplar a beleza do Senhor e meditar em seu templo. Ali era um lugar para meditar e contemplar a Deus, Sua majestade e glória. Isso exige um lugar tranquilo, livre de comércio de ladrões. Ele escreveu:

Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa — o teu santo templo (Salmo 65:4)

Mas os líderes religiosos corromperam tudo isso. O templo deixou de ser um lugar para contemplar Deus e passou a ser um local de negócios imundos para se ganhar dinheiro.

Desde o início, quando o templo foi concluído, ele deveria ser também uma casa de oração para todas as nações, mas os judeus passaram a odiar os gentios e recusaram ser testemunhas do Senhor para todos os povos. Eles não queriam os gentios adorando a Deus com eles.

Uma das razões pelas quais a igreja, formado por judeus e gentios, veio a existir, foi para testemunhar o nome do Senhor para todos os povos. É a sua grande comissão, fazer o que Israel se recusou a fazer.

Na dedicação do templo, após sua conclusão, Salomão disse:

Também ao estrangeiro, que não for do teu povo de Israel, porém vier de terras remotas, por amor do teu nome (porque ouvirão do teu grande nome, e da tua mão poderosa), e do teu braço estendido, e orar, voltado para esta casa, ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, e faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo de Israel e para saberem que esta casa, que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome (1 Reis 8:41-43)

Essa era a época em que Israel estava dizendo que havia entendido sua responsabilidade de dizer às nações a verdade sobre o verdadeiro e único Deus. O templo seria uma casa de oração para todas as nações, para onde mais as nações iriam? Não havia outro lugar no planeta. Mas, em vez disse, Israel fez do templo um covil de ladrões.

Jesus usou as palavras de Jeremias, quando proferiu juízo contra Israel por sua idolatria, pelo qual seria cativo na Babilônia:

Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações! Será esta casa que se chama pelo meu nome um covil de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o Senhor. (Jeremias 7:9-11)

E o templo estava exatamente assim nos dias de Jesus. Em vez de um lugar de silêncio e oração, era um lugar de ladrões.

Marcos 11
18 E os principais sacerdotes e escribas ouviam estas coisas e procuravam um modo de lhe tirar a vida; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava de sua doutrina.

O ódio da liderança religiosa contra Jesus chegou ao máximo. A multidão estava interessada em ouvi-lo. Provavelmente muitos aplaudiram silenciosamente a ação de Jesus no templo, porque eles estavam sendo abusados lá.

Os líderes ficaram em pânico por causa da popularidade de Jesus. As coisas estavam ficando fora de controle para eles. Eles não tinham como desafiar o poder, autoridade e sabedoria de Jesus. Eles temiam a rejeição e perda de suas posições privilegiadas.

Eles decidiram matá-lo, mas nada podiam fazer naquele momento por causa da multidão. Mas tudo estava no controle de Deus. Jesus tinha que morrer como o cordeiro pascal no da Páscoa, na sexta-feira. Sua hora estava muito próxima, faltavam apenas 3 dias.

Jesus continuou ensinando e curando nesses poucos dias (Lucas 19:147 e Mateus 21:14), muitos buscaram a Jesus. E o ódio da liderança religiosa só aumentava.

Mateus 11
19 Em vindo à tarde, saíram da cidade.
20 E, passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz.
21 Então, Pedro, lembrando-se, falou: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste secou.

A figueira que Jesus amaldiçoou secou desde a raiz, isso chamou a atenção de Pedro. Era uma figura do que iria acontecer com o templo e, por consequência, com o judaísmo.

O juízo sobre o templo, profetizado por Jesus, começou na cruz, quando “o véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto a baixo” (Mateus 27:51). E, 40 anos depois, foi concluída pela destruição promovida pelos romanos.

E a adoração? A verdadeira adoração é possível, não no templo, mas somente na cruz. Não há outro lugar para ir.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série


Este texto é uma síntese do sermão “Nothing-but-leaves”, de John MacArthur em 16/01/2011

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-57/nothing-but-leaves

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

 

 

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