Filosofia ou Cristo?
O homem tem duas opções: ou se torna uma presa da sabedoria humana, da razão humana e da lógica humana, ou ele se torna completo em Cristo. É uma escolha entre a sabedoria do homem ou a de Deus. A filosofia humana é como um anzol, em que o peixe pensa que será maravilhoso, mas termina em um desastre fatal.
Em Colossenses 2.8-10 Paulo está lidando com uma questão crucial: Filosofia ou Cristo? Ele começa dizendo:
Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo (Cl 2.8 – Versão NVI).
A palavra traduzida como “filosofia” vem de um termo grego composto por duas palavras, que significa “amor à sabedoria”. Ao longo de toda a história, o homem tem perseguido esse fascínio pela sabedoria, buscando explicar humanamente as razões da existência e o propósito da vida.
Todos os fenômenos do universo são realmente um grande mistério que o homem tentou resolver. Houve muitas soluções propostas, cada um com sua própria explicação do universo.
Uma das matérias mais frustrantes que cursei na faculdade foi “filosofia europeia”. O destaque da sala era um aluno confuso e com respostas incoerentes. E eu costumava pensar comigo mesmo: “Essa é a imagem definitiva da filosofia: confusão e incoerência”. Nada daquilo fazia sentido algum.
Foi muito frustrante estudar filosfia, que não passa de um exercício de frustração de mentes degeneradas tentando determinar a verdade definitiva sem ajuda de Deus. Algumas das soluções que as pessoas apresentavam eram absolutamente inacreditáveis.
A maioria dos filósofos nega a existência de Deus. E os que admitem a existência de Deus, rejeitam o Deus das Escrituras. Em geral, são “deístas”, uma posição filosófica que acredita na existência de um criador supremo, mas que não interfere no universo. Pensam em Deus como um grande “relojoeiro” que criou o “relógio”, deu corda nele e o abandonou.
O deísta acredita que Deus existe e criou o mundo, mas não interfere em sua criação. Eles negam a Trindade, a inspiração da Bíblia, a divindade de Cristo, milagres e qualquer ato sobrenatural de redenção ou salvação. Retratam Deus como um ser indiferente e não envolvido com a criação, inclusive em relação ao homem.
Mas a maioria dos filósofos nega completamena existência de Deus e tenta explicar tudo no universo em termos de seus próprios padrões de pensamento racional. Pensamentos vazios e sem esperança. Paulo escreveu:
Mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus (1Co 2.9-10).
Jamais a ciência (empirismo) e a filosofia (racionalismo) descobrirão a verdade suprema.
Bertrand Russell, no fim de sua vida, aos 90 anos de idade, com pelo menos 70 desses anos gasto como filósofo, em uma de suas últimas palavras disse: “A filosofia provou ser um fracasso para mim”.
Thomas Hobbs, o famoso filósofo ateu inglês que fomentou a psicologia materialista e o que é chamado de moralidade utilitária, quando estava se aproximando de sua morte, disse isso: “Estou prestes a dar um salto na escuridão. Ficarei feliz em encontrar um buraco para sair deste mundo”.
David Hume, o filósofo escocês deísta, era um homem imoral em todos os sentidos da palavra, totalmente indecente, completamente desonesto. Seus biógrafos dizem que ele era um professor de imoralidade, um negador de Deus. E sua morte foi tão trágica que seus assistentes disseram que ele agonizou a ponto de sacudir a cama inteira e exigir que as velas ficassem acesas a noite toda, que ele nunca fosse deixado sozinho por um momento, e seus lábios ficaram cheios de xingamentos e remorso até sua morte.
O filósofo alemão do século XIX Friedrich Nietzsche desprezava o cristianismo, dizia que era a religião dos fracos. Ele foi um dos primeiros a proclamar que “Deus está morto”. Em função das implicações de seus pensamentos, ele escreveu: “Ai de mim, dá-me a loucura”. Certa vez, já em estado de desequilíbrio mental, ele disse: “o mundo ficará de ponta a cabeça pelos próximos anos, uma vez que o velho Deus abdicou, e eu estarei governando o mundo a partir de agora”. Ele passou os últimos onze anos de sua vida em estado de loucura.
Esse é o fim dos filósofos e de todo aquele que quer, pelo seu próprio esforço humano, tentar descobrir a verdade, rejeitando a Deus, a única fonte da verdade.
A situação da cidade de Colossos e da igreja dos colossenses
A cidade de Colossos tinha seus filósofos, e a pequena assembleia de crentes ali existente estava em perigo de ser capturada, corrompida, infiltrada e enganada por eles.
Colossos era uma pequena cidade do Vale do Lico, na Ásia Menor (hoje Turquia), a cerca de 160 km de Éfeso. E naquele pequeno vale havia três cidades: Colossos, Hierápolis e Laodiceia. Sabemos que Paulo ficou cerca de 3 anos em Éfeso, fato fundamental para fundação de igrejas na Ásia Menor, entre elas, a igreja em Colossos.
Enquanto Paulo ministrava em Éfeso, Epafras converteu-se a Cristo e se tornou fundador da igreja com Colossos (Cl 4:12). Quando Paulo escreveu a Carta aos colossenses, havia passado seis anos do início da igreja naquela cidade.
Depois de seu tempo em Éfeso, Paulo passou um inverno na Grécia, de onde escreveu talvez Romanos e Coríntios. Então ele retornou a Jerusalém. A partir de Atos 21, versículo 17 em diante, quando ele chegou em Jerusalém, foi preso e depois levado para Cesareia, depois foi levado a Roma para aguardar seu julgamento.
Foi o que aconteceu durante aqueles seis anos, e retomamos a história agora que ele já está em Roma. Epafras visitou Paulo em Roma e falou sobre a situação em Colossos. Paulo enviou Epafras de volta com esta carta para tentar ajudar a resolver a situação.
A carta aos colossenses teve como principal objetivo alertar a igreja sobre os perigos de infiltração de falsos ensinos e falsas filosofias. Como qualquer lugar, em Colossos também havia falsos mestres e também filósofos cheios de sabedoria humana rondando a igreja para exercer domínio sobre ela.
É sempre esperado que a igreja em cada cidade, em cada cultura, em cada país, em cada século, tenha que lutar para manter sua pureza doutrinária. Terá que lutar para manter seu equilíbrio espiritual. Terá que se defender contra os terroristas espirituais para manter a verdade.
Satanás sempre se esforça em derrubar a igreja, tentando destrui-la através de falsas doutrinas. E essa era a grande preocupação de Paulo e se tornou o cerne da carta aos Colossenses.
A estrutura da Epístola aos Colossenses
• Seção introdutória da carta (Cl 1.1-14);
• Seção doutrinária (Cl 1.15-29 até 2.1-7), onde é apresentada a grande doutrina de Jesus Cristo e da salvação;
• Seção de exortações sobre a falsa filosofia (Cl 2.8-23). É o coração da epístola, a mensagem principal. Foi onde Paulo lidou diretamente com o falso ensino que ameaçava a igreja;
• Seção prática (Cl 3.1-25 até 4.1-6), com ensinos e exortações práticas;
• Seção de encerramento (Cl 4.7-18); com palavras pessoais.
No meio da Epístola, após falar de Cristo e da salvação, ele alertou sobre os falsos mestres e suas filosofias. E é nesse ponto que estamos agora.
A heresia que ameaçava a igreja em Colossos
A heresia específica ameaçando a Colossenses é desconhecida, Paulo não especifica. Podemos, no entanto, reconstruir alguns dos seus princípios em Colossenses 2. 8-23. Essa ameaça continha:
• Elementos da filosofia (2: 8-15);
• O legalismo (2.16-17);
• O misticismo (2:18-19);
• O ascetismo (2.20-23).
Nota do site: O ascetismo é uma filosofia de vida que consiste em práticas de autodisciplina espiritual, como a abstenção de prazeres físicos e o controle do corpo, com o objetivo de aperfeiçoar a moral e o espírito. Um asceta é alguém que vive uma vida de rigorosa abnegação, como meio de obter favores de Deus e buscar uma santidade de vida.
Porque essas crenças foram compartilhadas pela seita judaica do primeiro século, conhecida como os essênios, é possível que eles (ou um grupo sustentando crenças similares) foram os que ameaçavam os crentes de Colossos.
Essa heresia também tinha componentes que foram as primeiras formas de gnosticismo.
Nota do site: O Gnosticismo foi uma perigosa heresia que ameaçava a igreja nos primeiros três séculos. Influenciado por filósofos como Platão, é baseado em duas premissas falsas: 1) sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria, que a matéria seja essencialmente perversa e que o espírito seja bom. Assim, os gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas; 2) Os gnósticos acreditavam que possuíam um conhecimento elevado, uma “verdade superior”, conhecida apenas por poucos. Esse suposto conhecimento mais elevado não vinha da Escritura, mas de um conhecimento adquirido por algum plano místico e superior de existência. Eles se viam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras devido ao seu conhecimento superior e mais profundo de Deus.
Em Colossenses 2.1-7, Paulo exorta os colossenses a manter sua fé em Cristo. Ele escreveu que em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3) e que “nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9). São profundas e abrangentes declarações da suficiência e divindade do Senhor Jesus.
Mas em Colossenses 2.8-23 Paulo exorta a igreja a refutar totalmente as reivindicações dos terroristas espirituais de Colossos, que traziam vãs filosofias e elementos doutrinários contrários a fé cristã.
E Paulo deu um modelo para lidar com heresias: em vez de especificar em detalhes os falsos ensinos dos hereges, ele enfatizou a verdade sobre Cristo e a Ecsritura, que têm o poder de refutar os ensinos heréticos. Qualquer sistema falso de ensino entra em colapso quando confrontado com a verdade.
A falsa filosofia
Em Colossenses 2. 8-10, Paulo começa a atacar o primeiro elemento da heresia de Colossos: A falsa filosofia. Por meio de um aviso, ele contrasta a deficiência da filosofia com a suficiência de Cristo.
O homem tem duas opções: ou se torna uma vítima da sabedoria humana, da razão humana e da lógica humana, ou ele se torna completo em Cristo. Essa é a escolha de cada ser humano. Você escolherá a sabedoria do homem ou a de Deus.
Colossenses 2
8 Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo. (Versão NVI)
Em outras palavras, ele diz: “Cuidado, para que aqueles dentre vocês que foram resgatados do poder das trevas e já foram trasladados para o reino do Filho do amor de Deus, não sejam levados como cativos e escravizados novamente”. É um alerta para que ninguém volte para o antigo sistema humano, filosofia ou sabedoria humana.
É semelhante ao que ele escreveu aos gálatas: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1). Ou seja, “não voltem para um antigo sistema humano do legalismo”.
Precisamos estar continuamente alertas, em vigilância constante, para que não sejamos enganados. A igreja está sempre sob cerco de falsos mestres. Nosso Senhor nos alertou sobre isso:
Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores (Mt 7.15); Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mt 16:6)
Paulo também havia alertado os irmãos em Éfeso:
Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um (At 20:29-31)
Você diz: “Bem, do que eu deveria estar ciente?” Veja Colossenses 2.8 novamente: “Tenham cuidado para que ninguém os escravize…”. No original a ideia é: “não deixe ninguém sequestrar você”; “não deixe ninguém saquear seu tesouro de verdade”; “não deixe ninguém o estuprar com falsidades”.
É a mesma ideia expressa quando Paulo disse a Timóteo:
Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé (2Tm 3.6-8).
Há um perigo real de que alguém vá levá-lo embora, torná-lo uma presa, um cativo, e o levar como um prisioneiro de guerra. E é sobre isso que Paulo os está alertando, dizendo: “Cuidado”.
Como é que esses falsos mestres capturam pessoas?
Eles escravizam pessoas por meio de “filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo” (Cl 2.8 – NVI).
Eles elaboram sofisticadas filosofias, mas é tudo humano, baseada na depravada sabedoria humana, no engano. Mas o homem jamais poderá conhecer a Deus por meio da sabedoria humana (1Co 1.21). Paulo escreveu:
Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo. Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios (1Co 1.20-23).
• Segundo historiadores, qualquer um que surgisse com qualquer nova teoria sobre Deus ou nova teoria sobre o mundo, suas origens, seus significados e seu destino, constituía um filósofo com uma filosofia.
• Outros incluem como filosofia qualquer padrão de pensamento moral ou disciplinar.
• No meio dos judeus havia três formas de filosofias: dos fariseus, dos saduceus e dos essênios.
A palavra “filosofia” se refere a mais do que uma simples disciplina acadêmica, mas descrevia qualquer teoria a respeito de Deus, do mundo ou do sentido da vida. Aqueles que haviam aderido à heresia em Colossos a usavam para descrever um suposto conhecimento superior que eles afirmavam ter alcançado.
Os falsos mestres, quando bem-sucedidos em fazer as pessoas acreditarem em suas mentiras, roubam a verdade. Paulo chamou de “filosofias vãs e enganosas” (Cl 2.8 – NVI), o escritor Lightfoot traduziu como “por meio de sua filosofia, que é um engano vazio “.
Em Colossenses 2.8 Paulo usa a palavra grega “ἀπάτης” (apatēs), que significa “engano, fraude ou truque”. Ou seja, a filosofia dos falsos mestres em Colossos não era o que parecia ser, mas poderia seduzir mortalmente as mentes que ela corrompia.
Uma das palavras que é usada em 2 Pedro 2 é astúcia, ou engano, e seu significado original é “anzol”. E o que é interessante sobre um anzol é que não é o que um peixe espera. A filosofia é a mesma coisa, é um anzol com uma isca. Você acha que vai ser maravilhoso, mas termina em um desastre.
Apesar de todas as suas alegações, a filosofia é uma ilusão vazia. Parece algo bom, seduz a mente através do orgulho, mas é a apenas um engano. A verdade está na revelação de Deus. Não há valor algum na filosofia humana especulativa.
Herbert Carson tem um bom aviso neste ponto, ele escreveu:
Isso não significa uma fé cega e irracional. Mas significa que, em vez de trazer pressupostos filosóficos que irão colorir seu estudo das Escrituras e, assim, prejudicar sua interpretação, um homem vem como uma consciência da finitude de seu intelecto e ciente de que sua mente também é afetada por sua natureza pecaminosa. Assim, ele está disposto a ser ensinado pelo Espírito Santo e reconhece que é a Palavra de Deus, e não sua própria razão, que é o árbitro final da verdade
Então Paulo diz: “Cuidado com a filosofia. Cuidado com algum modo humano, alguma teoria humana sobre Deus, sobre o mundo, seja o que for.” Fique com a Bíblia.
De onde vêm a filosofia humana?
Paulo cita duas fontes: “conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8 – ARA). Duas fontes inadequadas.
1) Primeira fonte da filosofia humana: A tradição
A tradição é “paradosis”, “aquilo que é dado a partir de um para outro”. Só porque as pessoas acreditaram em algo e o transmitiram para frente, não significa que seja verdade. Tradição geralmente serve apenas para perpetuar o erro.
A tradição faz com que se perpetue padrões de pensamento humano inadequados e depravados. A tradição em si não significa nada, sua perpetuação ao longo dos anos não significa que seja verdade. O tempo não valida um erro concebido e transmitido. Paulo diz que a filosofia vem segundo a tradição dos homens.
A maioria dos filósofos têm construído sobre a obra de filósofos anteriores, seja para aperfeiçoar o seu sistema, ou refutá-la. É tudo apenas uma mudança e uma variação no fluxo da tradição do homem, mas os erros são perpetuados.
Na época em que Jesus chegou à Terra, os judeus tinham construído uma monstruosidade tão grande, uma confusão tão grande de sabedoria humana, que eles não conseguiam mais diferenciar as tradições do homem da Palavra de Deus.
Os fariseus e escribas arguiram Jesus: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos?” (Mt 15.2). E Jesus lhes respondeu: “ Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mt 15.7-9).
Não há nada de sagrado na tradição, ela pode ser apenas ignorância humana perpetuada. Os judeus e gentios tinham suas tradições, e passaram suas mesmas velhas filosofias adiante. Refutando as tradições perversas, Pedro escreveu:
Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo (1Pe 1.18-19).
Todos nós somos vítimas da transmissão de erros. Nossos filhos, desde cedo, vão à escola para serem expostos às filosofias nefastas construídas por homens ímpios. Essas filosofias procedem de filosofias anteriores, perpetuando o erro.
b) Segunda fonte da filosofia humana: os rudimentos do mundo
É difícil definir o significado exato de “os rudimentos do mundo”. É traduzido do grego “stoicheia”, que significa “princípios elementares”. Ou seja, o que parece ser um pensamento sofisticado é apenas algo infantil.
O pensamento então é que retornar à filosofia seria rejeitar o ensino maduro da Bíblia e buscar opiniões infantis e pobres do pensamento humano, uma religião imatura que extrai seu ser não de Deus, mas deste mundo.
Na carta aos Gálatas, Paulo chamou de rudimentos do mundo a estrutura de ensino do judaísmo apóstata (Gl 4). Na carta aos colossenses ele adicionou a religião gentia. Mas ele basicamente está falando da religião humana, que é distante de Deus e alicerçada nos rudimentos do mundo, ou seja, na perpetuação do erro. Quer saber quem são as pessoas realmente avançadas? São aquelas que conhecem a Palavra de Deus.
Embora pouco provável nesta carta, há um segundo significado possível para “stoicheia” (rudimentos do mundo), e podemos resumir em “astrologia”. Muitos dos grandes homens do mundo antigo, tais como Alexandre, o Grande e Júlio César, acreditavam nisso.
Os falsos mestres reivindicavam possuir o conhecimento secreto para se escapar de um suposto controle no destino exercido pela influência das estrelas e dos planetas. Ou seja, sem o suposto conhecimento deles, as pessoas seriam prisioneiras dos astros. Eles alegavam possuir informações secretas para isso.
O ensino dos falsos mestres é parte do sistema religioso de Satanás que é propagado ao longo dos anos. Esse ensino letal está em oposição a Cristo e ao que as Escrituras revelam sobre Ele.
Filosofia ou Cristo?
Paulo diz que a filosofia tem como base a tradição humana e os rudimentos do mundo, mas ele muda de assunto, dizendo:
… e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade (Cl 2.8-10)
A palavra grega traduzida como “habita” está no tempo presente contínuo, ou seja, em Jesus Cristo habita continuamente o “plērōma” da divindade, ou seja, a “plenitude da divindade”.
Toda a plenitude de Deus habita corporalmente nele. Aquele que em Belém assumiu a natureza humana está corporalmente no céu e manterá sua humanidade por toda a eternidade. Há um Homem-Deus sentado à direita do Pai.
E qual o resultado dessa realidade para nós? Não precisamos de filosofia. Por quê? Porque em Cristo estamos aperfeiçoados, nele estamos completos, pois ele é a cabeça de todos os outros seres espirituais chamados principados e potestades. Sua plenitude é transmitida a nós.
Deus literalmente passa a si mesmo para os redimidos através de Cristo. Os redimidos por Cristo são completos nele. Nós fomos completados nele com resultados eternos.
Quando o homem caiu, ele desceu a um triste estado de incompletude. O ímpio está em três condições trágicas:
• É espiritualmente incompleto, porque está totalmente fora da comunhão com Deus.
• É moralmente incompleto porque não tem um padrão de conduta, mesmo porque, se tivesse, não poderia viver de acordo com ele.
• É mentalmente incompleto porque é incapaz de conhecer a verdade.
Mas aquele que foi salvo por Jesus Cristo:
• É espiritualmente completo em Cristo. O verdadeiro crente é “coparticipante da natureza divina” (2Pe 1:4), ou seja, tem comunhão com Deus e a vida de Deus está nele.
• É moralmente completo, não porque ele é perfeito, mas porque ele reconhece a autoridade da vontade de Deus. Ele tem um padrão e o Espírito Santo lhe capacita a obediência.
• É mentalmente completo, não no sentido de saber tudo, mas no sentido de ter a verdade e o Espírito da verdade residente.
Pedro declara que aos crentes “têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2Pe 1.3). Não precisamos das tradições dos homens e nem de suas filosofias. Estamos completos em Cristo.
Não sei sobre você, mas como cristão tenho uma sensação dessa completude, você não tem? Minha busca pela verdade acabou, eu a encontrei. A sua acabou? Não consigo nem imaginar precisar de algo fora de Jesus Cristo. Você consegue? O que seria?
Todo homem tem uma escolha:
• Você pode escolher a filosofia humana, que o capturará e o levará na incompletude para uma sentença espiritual, moral e mental de condenação. Você pode seguir a sabedoria humana que parece ser tão alta e sublime, mas que não passa de uma cilada vinda dos rudimentos do mundo e da tradição dos homens.
• Ou você pode vir a Jesus Cristo e ser elevado deste mundo para uma completude espiritual, moral e mental. Em Jesus temos tudo o que precisamos. Vamos orar.
Pai, obrigado pelo nosso tempo reunidos aqui, quando podemos contemplar uma pequena parte da riqueza da Tua Palavra. Queremos prosseguir em contemplar mais, ajude-nos nessa direção.
É tão glorioso saber que somos completos em Cristo. Nada nos falta, pois temos a vida de Deus, o Espírito de Deus e o poder de Deus em nós. Todo o fruto do Espírito se manifesta, amor, alegria, paz, gentileza, bondade, fé, mansidão, autocontrole. Todas essas graças que o Senhor deu, fé, esperança e amor. E pelo Espírito Santo, sabedoria e verdade. Tudo o que poderia ser concebível para tornar a vida e a eternidade significativas.
Obrigado pelas palavras de Pedro, dizendo que nos foi doada todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade e que somos participantes da natureza divina. Obrigado, Pai, por nos livrar de amar a sabedoria deste mundo e por esconder a Tua verdade dos sábios e revelá-las aos pequeninos.
Pai, oramos por aqueles que estão em luta entre tomar uma decisão por Cristo ou de ser capturado pela filosofia, pelo que Teu Espírito Santo ministre a eles, os motive, os convença. Que sejam libertos da armadilha de confiar na sabedoria humana, mas que saibam que somente na Palavra de Deus há verdade e somente no Cristo de Deus há completude.
Faça Tua obra, Pai, em seus corações e em todos os nossos corações. Se já somos completos em Ti, faça-nos gratos e nos ajude a viver nossas vidas no nível daquela perfeição que lhe agrada. Em nome de Jesus, Amém.
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Este texto é uma síntese do sermão “Philosophy or Christ?”, de John MacArthur, em 11/07/1976.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/2141/philosophy-or-christ
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.