As Marcas do Discipulado (2)

O verdadeiro cristão confessa Cristo com sua boca, em afirmação pública de sua fé diante dos homens, não importa quão hostis eles possam ser. Essa confissão deve corresponder a seu viver, manifestando os frutos da verdadeira fé. Essas são marcas de um verdadeiro cristão. Ele não pertence a este mundo, mas é cidadão da pátria celestial.

Vamos continuar agora o sermão anterior, quando começamos a falar sobre as marcas do discipulado, com base em Mateus 10:24-42. Vimos anteriormente os versículos 24 a 31, agora vamos prosseguir para os versículos 32 e 33.

Alguns pontos do sermão anterior – A primeira do verdadeiro discipulado: Não temer o mundo

No décimo capítulo de Mateus temos a preparação e o envio dos doze discípulos por nosso Senhor. E então, é no contexto do treinamento dos doze que ele dá um ensinamento geral sobre o discipulado. O capítulo começa com Jesus chamando aqueles doze homens e os comissionando.

Em Mateus 10:24-42 Jesus ensina que há cinco marcas do verdadeiro discipulado. Conforme vimos no sermão anterior, o Senhor disse que a primeira marca de um verdadeiro discípulo é não temer o mundo.

Aos longo dos séculos os cristãos verdadeiros têm sofrido perseguições e terríveis violências por causa da fé verdadeira. Sabemos de histórias reais e cruéis, e que continuam sendo uma realidade no mundo atual.

Vivemos um tempo perigoso, onde a fé cristã tem sido difamada e criminalizada no ocidente. Estamos vivendo a realidade da construção de uma sociedade pós-cristã no ocidente. E nesse processo, estamos sendo provados pelo fogo, e somente os verdadeiros discípulos manterão sua fidelidade à Palavra de Deus.

Conforme vimos no sermão anterior, Jesus disse:

Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos? Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido. O que vos digo às escuras, dizei-o a plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o dos eirados. Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo (Mt 10:25-28).

Ele completou nos dando uma promessa valiosa:

Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais. (Mt 10:29-31).

Deus providencialmente controla o tempo e as circunstâncias dos acontecimentos, mesmo aqueles insignificantes, tais como a morte de um pardal ou a queda de um fio de cabelo. São declarações poderosas da soberania e onisciência de Deus.

Se Deus está preocupado com passarinhos e em numerar e conhecer os cabelos da sua cabeça, “não tenham medo, vocês são muito mais valiosos do que os passarinhos e fios cabelos”.

Jesus disse que há uma recompensa para seus discípulos. Então, se olharmos de uma perspectiva eterna, viveremos como verdadeiros discípulos, superando o medo, pois sabemos o quanto ele está comprometido com os seus.

E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras (Ap 22:12).

Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. (2Tm 4:7-8)

E o ensino que Jesus deu para os doze é exatamente o mesmo para todos seus discípulos ao longo do séculos. Ele disse que devemos cumprir sua ordem “até que venha o Filho do Homem” (Mt 10:23), referindo a sua segunda vinda.

Não tememos o mundo por causa da promessa do Senhor, de seu poder e de sua proteção. Deus se importa com os seus. Devemos nos levantar e falar com ousadia, confrontando o sistema maligno e confessando Cristo com fidelidade.

Em Mateus 10 Jesus diz várias vezes: “Não temais”. Um dia tudo que está oculto será manifestado, Deus vai destruir todas as iniquidades, julgar os ímpios e recompensar os justos. Não podemos temer um mundo condenado.

Os discípulos do Senhor serão glorificados e honrados por Deus. Temos que ter essa perspectiva eterna. Não pertencemos a este mundo, somos da pátria celestial, nossa cidadania está lá. Perto de seu martírio, no final de seu ministério, Paulo escreveu:

Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. (2Tm 4:6-8).

A segunda marca de um verdadeiro discípulo: confessa o Senhor publicamente perante o mundo

Mateus 10
32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus;
33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.

Se estamos certos da promessa do Senhor, de seu poder e de sua proteção, estaremos dispostos a confessar Jesus diante dos homens sem medo. Essa é uma marca de um verdadeiro cristão. Se você realmente conhece a Deus, você estará pronto para confessar Jesus como seu Senhor perante o mundo.

O Senhor disse: “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com os santos anjos” (Mc 8:38).

Paulo escreveu: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16). E por causa do evangelho, ele foi martirizado por sua fé.

Sabendo que isso lhe aconteceria, Paulo disse: “nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho” (At 20:24).

O verdadeiro coração do discipulado é estar comprometido em ser como Jesus Cristo, isso também significa ser tratado como ele foi tratado, ter que enfrentar um mundo hostil e enfrentá-lo sem medo, confessando Jesus como Senhor diante dos homens, tendo a plena confiança de que o Senhor fará o mesmo conosco diante do Pai.

O que significa confessar o Senhor? Afirmar, reconhecer, concordar. A ideia é uma declaração verbal de identificação, plena fé e confiança em Jesus como Senhor e um viver que corresponda a essa confissão. A Escritura diz:

Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação […] Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados. (Rm 10:9-10 e Ef 4:1).

Não vivemos sob incertezas, temos a Palavra de Deus que revela quem Deus é, e que ele é o juiz supremo, o Deus que recompensará os seus filhos e cuidará deles. Isso deve estar em nossas mentes nos tempos bons e nos tempos maus.

Não fomos chamados a viver uma fé secreta, covarde e omissa. O Senhor nos chamou a confessá-lo diante dos homens. Ele enfatizou o caráter público da confissão. Não podemos ignorar o mandamento do Senhor por temer os homens.

Paulo escreveu que com “o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Rm 10:10). A pessoa que confessa Jesus como Senhor e que Deus o ressuscitou dos mortos (Rm 10:9), concorda com a declaração do Pai de que Jesus é Salvador e Senhor. Deve haver essa verificação. Isso não é obra do homem, mas de Deus.

A Bíblia diz que tudo é de Deus, e a Bíblia diz que você deve confessar com sua boca a obra de Deus. Ser um cristão nos custa algo. A confissão deve ser pública e genuína, marcada por nossa disposição de confessar, de afirmar e de reconhecer perante o mundo que pertencemos a Cristo, não importa quão hostil seja o mundo ao nosso redor.

O apóstolo João escreveu: “Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus” (1Jo 4:15). Como um cristão confessa que Jesus é o Filho de Deus? Com sua boca e com sua vida. Essa é a marca de um verdadeiro discípulo.

Se a vida de alguém não tem evidências claras da sua condição de discípulo de Jesus, há algo terrivelmente grave em sua realidade espiritual.

Paulo escreveu: “estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4:6-7). Porém ele disse: “Demas, tendo amado o presente século, me abandonou” (2Tm 4:10).

Demas foi uma pessoa que se identificou como discípulo de Jesus e andou com Paulo, mas quando a pressão da perseguição aumentou, ele se foi. Os verdadeiros discípulos confessam o Senhor diante de qualquer hostilidade.

Vivemos hoje um momento ideal para nos examinarmos, a verdadeira fé está sob forte pressão do mundo. Talvez seja melhor cada um examinar seu coração e ter certeza se é realmente um genuíno cristão.

Não estou falando de perfeição. Podemos falhar, mas, se somos genuínos cristãos, quando falhamos somos tomados de profundo arrependimento.

O apóstolo Pedro falhou miseravelmente para preservar sua vida e negou ao Senhor. Mas qual foi sua reação? Ele chorou amargamente (Lc 22:62). Diferente de Judas, seu coração ficou partido de arrependimento. O Senhor o restaurou e o transformou em um homem que deu literalmente sua vida pelo evangelho.

Paulo alertou Timóteo para que não tivesse vergonha de mencionar o nome de Cristo por temer uma possível perseguição (2Tm 1:8). O fato de estar associado a Paulo, que estava preso por causa da pregação do evangelho, poderia colocar em risco a vida e a liberdade de Timóteo.

Ele disse ao jovem Timóteo: “Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação […] participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2Tm 1:7-8).

Tal como Pedro, Timóteo também teve seu momento de fraqueza diante da pressão do mundo, mas ele também foi restaurado.

Examine seu coração e responda a si mesmo se está disposto a pagar o preço de seguir a Cristo. Faça um inventário de seu coração. Você está disposto a se levantar e confessar Jesus Cristo incondicionalmente? Jesus disse:

Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus (Mt 10:32-33).

O que isso significa? Isso significa que Jessu dirá ao Pai, no dia do julgamento: “este pertence a mim.” Jesus afirmará diante do Pai que você foi leal a ele e também afirmará a lealdade dele a você. Esta é a maneira como nosso Senhor vê o verdadeiro discipulado.

Um verdadeiro cristão está disposto a confessar a Cristo. Ele pode enfrentar momentos de falhas, mas o padrão de sua vida será uma disposição e um desejo de ser mais como Cristo, e, se necessário, ser tratado assim como Ele foi tratado. E esse tipo de pessoa o Senhor confessará diante do Pai.

Imagine a maravilha de um dia estar diante de Deus e ter o Senhor Jesus Cristo dizendo: “Este aqui pertence a Mim.” Que pensamento incrível. Que promessa maravilhosa! É uma espécie de dupla lealdade. Quando somos leais o suficiente a Jesus Cristo para falar Seu nome no meio de qualquer situação, ele falará nosso nome na presença do Pai.

Arqueólogos encontraram muitas coisas sobre o Império Romano, entre outras coisas temos o registro de Plínio, como governador da Bitínia, durante o império de Trajano. Plínio escreveu para Trajano sobre a presença de cristãos em sal província.

O imperador exigiu que todos os cristãos negassem a Cristo e adorassem os ídolos romanos, especialmente o próprio imperador. Para adorar o imperador, a pessoa bebia vinho e oferecia incenso para mostrar publicamente sua veneração.

E na carta, Plínio relatou que tinha tentado fazer isso e outras coisas, mas que os verdadeiros cristãos se recusaram a obedecê-lo. Ele disse: “Os cristãos de verdade não negam a Cristo”. E, claro, aqueles irmãos foram brutalmente torturados.

E você diz: “Mas eu não consigo imaginar isso. Eu me calo diante de um ímpio em certos ambientes”. Você precisa de graça dada por Deus para todos os momentos. Mas nosso silêncio é uma forma de negar a Cristo e se envergonhar da sua Palavra.

Podemos negar a Cristo por ação, vivendo como o mundo vive. Podemos negar a Cristo por omissão, quando negamos nossa fé. E podemos negar a fé  de forma silenciosa, ocultando-se diante do mundo.  O Senhor disse:

Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com os santos anjos (Mc 8:38).

Um genuíno pastor de ovelhas tem seu coração corroído ao ver pessoas nos meio do rebanho que são falsos discípulos de Jesus. Ele vê aquelas pessoas marchando para a rejeição eterna, é algo que dói muito.

No capítulo 13 Jesus dá as parábolas do semeador, do trigo e do joio, e da rede, todas elas ilustram a distinção entre a verdadeira fé e a falsa fé. Imagine o julgamento das nações no final da Tribulação, com a separação das ovelhas e dos cabritos:

Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo […] Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.. (Mt 25:34,41).

As ovelhas são aqueles que não apenas se identificam com Jesus, mas que, pela sua confissão pública e obediência diária a sua vontade, reflete o seu próprio amor e compaixão, servindo aos outros em seu nome (Mt 25: 35-36,40).

O verdadeiro discípulo  confessa a Cristo com suas palavras e ações, amando como Ele amou, estendendo a mão como Ele estendeu, cuidando como ele se importava. A marca essencial de ser um verdadeiro discípulo de Cristo é confessar Cristo e ser como Cristo, nosso Mestre (Mt 10:25).

O verdadeiro cristão confessa Cristo com sua boca, essa é a afirmação pública de sua fé. Ele confessa Cristo diante dos homens, não importa quão hostis eles possam ser, e isso mostra sua genuinidade. Ele confessa Cristo por suas ações, vivendo no mundo de modo que ele manifesta os frutos da verdadeira fé.

Você confessa Cristo com sua boca? Você confessa Cristo diante dos homens, não importa quão hostis eles sejam? E então você confessa Cristo em seu estilo de vida, agindo como ele agiu? Amando como Ele amou? Cuidando como Ele se importou?

As credenciais de um verdadeiro discípulo não são apenas o poder de Deus, mas a compaixão de Deus. A marca registrada de um cristão é ser como Cristo, então você deve manifestar a semelhança com Cristo em seus relacionamentos.

É preocupante ver muitos que se dizem cristãos, mas não demonstram a presença de Cristo em suas vidas. Não vemos atitudes, ações e palavras que irradiam Cristo. Mas eles estão no meio da igreja, são indiferentes, não são como Cristo.

Um verdadeiro cristão sabe muito bem que não é tudo que deveria ser, mas há uma progressão na sua vida pela graça de Deus. Ele falha, mas se quebranta diante do Senhor em arrependimento, desejando ser semelhante a ele.

Olhe para sua vida. Há um custo: a confissão aberta, e se você estiver disposto a fazê-la, então ele confessará você diante do Pai. Ele dirá: “Esse é meu; é real; é genuíno.” E se, por sua vida e seus lábios, você o negar, então ele te negará. Cabe a você entender sua situação diante de Deus.

Você diz: “Bem, eu olho para minha vida e falho tanto. Eu vejo lapsos.” Qual é a sua resposta a esses lapsos?

Você chora amargamente? Há um quebrantamento? Você pede perdão? Você diz: “Não é isso que eu quero ser”, e segue em frente? Essa é a atitude e o coração de um crente verdadeiro. Mas se você nem sabe que os lapsos estão acontecendo, então sua situação espiritual é trágica.

Bem, há mais marcas de um cristão em Mateus 10:24-42. Veremos isso na próxima vez. Vamos orar. 

Pai, somos sujeitos a falhar, mas ajude-nos a renovar o compromisso, a não ter vergonha, a ter uma perspectiva eterna que diz que um dia Tu recompensarás os justos, que diz que Teu poder é maior que tudo e que Tua proteção está em nosso favor. O que poderíamos temer?

Que estejamos dispostos a confessar com nossos lábios diante dos homens e com a maneira como vivemos, que somos como Jesus Cristo, pois estamos comprometidos com Ele como nosso Senhor, desejando ser como Ele, dispostos a ser tratados como Ele foi tratado, se necessário.

Deus, levanta desta congregação milhares de pessoas que sejam verdadeiras, para que possamos tocar esta cidade e este mundo em que vivemos, para a Tua glória e o avanço do Teu reino.

Pai, traga aqueles que Tu queres fazer a obra em seus corações. Ajude-nos a ser discípulos genuínos e reais. Obrigado por suprir cada necessidade que é trazida a Ti, por amor a Cristo, amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Mateus

Clique aqui e veja também o índice com os links dos sermões traduzidos sobre o Evangelho de Mateus


Este texto é uma síntese do sermão “The Hallmarks of Discipleship, Part 2”, de John MacArthur, em 23/8/1981.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/2283/the-hallmarks-of-discipleship-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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