As Marcas do Discipulado (1)

A devoção a Deus nos faz vencer o medo. Se adoramos a Deus conforme ele é digno, sua vontade nos mobilizará e temeremos a ele e não aos homens. É melhor cair nas mãos de homens bravos com nosso testemunho do que fazer pouco caso do Senhor da Gloria.

O Evangelho de Mateus tem o propósito de afirmar que Cristo é o Rei. Ele sabia que os homens levantam reis que não se submetem à realeza e soberania de Cristo. Há sempre essa batalha. Está implícito em todas as afirmações de Mateus um chamado para que as pessoas se submetam à realeza e soberania de Cristo.

Quando chegamos ao capítulo 10 isso se torna mais claro. Ele começa o capítulo falando dos doze homens do mestre, eles se comprometeram a seguir a Cristo, a custo de suas vidas, casas, trabalhos etc. E o custo era alto: “Sereis odiados de todos por causa do meu nome…” (Mt 10:22).

Mateus relata que o Senhor os treinou, os instruiu e os enviou a pregar. E Jesus lhes disse: “O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt 10:24-25). Eles seriam súditos do Rei.

Quando você veio a Cristo, numa verdadeira experiência de conversão, você declarou que ele é seu Senhor, Mestre e Rei. Você hoje participa dos benefícios do reino, bem como de seus compromissos. Eu penso que Mateus 10:24-42 contém o maior ensinamento sobre o discipulado. É para essa porção que começamos a olhar agora.

Jesus apresentou aqui a essência da dedicação e da consagração cristã. Os doze foram chamados, eles responderam, o seguiram, foram treinados e enviados para alcançar o mundo. E a partir desse envio especial, Jesus começou a ensinar princípios gerais que se aplicam a todos os crentes no decorrer dos séculos.

Mateus 10
24 O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor.
25 Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?

É evidente que um discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. um discípulo verdadeiro aprende com seu mestre, assim como um verdadeiro servo obedece ao seu senhor. Ser como Jesus é o ponto principal em todo discipulado.

Devemos ser como nosso Mestre, Senhor e Rei. Esse é o nosso compromisso. Somos chamados a ser como Ele. É isso que significa ter seus valores, seus compromissos, suas prioridades e ser entregues totalmente à sua vontade, propósitos e reino.

Se formos semelhantes a Cristo, seremos tratados como ele foi. Essa é a essência do discipulado. A palavra grega traduzida como discípulo é “μαθητῇ”, que significa aprendiz. Aprendemos com ele, o seguimos e nos tornamos seus súditos.

E quanto mais somos como Ele, mais seremos tratados como ele foi tratado. E o mundo o tratou chamando-o de Belzebu, uma divindade cananeia pagã, utilizada pelos judeus como um epíteto de Satanás.

O discipulado é um processo pelo qual nos tornamos como Cristo. Quanto mais nos  tornamos como ele, mais o mundo nos tratará como tratou Cristo. E se não pouparam esforços contra o próprio Cristo de Deus, o que pode nos fazer pensar que vão nos tratar melhor?

Agora você diz: “Bem, essa não é uma perspectiva muito convidativa para chamar pessoas ao discipulado”. Mas esse é o fato. O objetivo é ser como Cristo, e há um preço a se pagar por isso. Diante deste fato, Jesus nos deu cinco marcas do verdadeiro discipulado no capítulo dez do Evangelho de Mateus.

A primeira marca de um verdadeiro discípulo é não temer o mundo.

Jesus repetiu isso várias vezes em Mateus 10:26-31. Os doze tinham acabado de ouvir Mateus 10:16-23, quando Jesus lhes disse: “Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos”; “acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas”; “sereis odiados de todos por causa do meu nome”; “quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra”.

Ele quis ensinar: “mesmo com tudo isso, não tenha medo”. Provérbios 29:25 diz: “Quem teme ao homem cai em armadilhas, mas quem confia no Senhor está seguro”. O medo do homem estrangula testemunhas eficazes e o evangelismo.

Podemos temer a realidade de sermos pressionados, de sermos considerados um problema, de sermos desprezados, de sofremos perseguições e ameaças. E, por certo, não queremos ser mortos por nossa fé. E, nessa ênfase exagerada da autopreservação, tendemos a buscar uma zona de conforto e fugirmos de pregar a pura verdade do Evangelho.

Se você tem medo e foge da missão de testemunhar o nome de Cristo, você não quer pagar o preço de seguir a Jesus. Não importa o que você diga, provavelmente você não é um cristão. Se você ama o mundo, você é do mundo e não de Deus. João escreveu: “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2:15).

Mas aqueles estão dispostos a seguir em frente de forma corajosa, dão evidências de serem verdadeiramente discípulos de Cristo. Eles querem se parecer com Cristo, e estão dispostos a serem tratados como Cristo foi tratado.

Haverá sempre a tentação de sermos tomados por receios e medo para nos calar diante do mundo. Jesus nos exortou a não sermos covardes e medrosos, algo que pode estrangular completamente o testemunho. O medo de dizer a verdade é alimentado pelo medo de ser confrontado e rejeitado.

E todos nós já tivemos ilustrações disso, momentos em que simplesmente não conseguíamos falar por medo de sofrermos rejeições e sermos considerados tolos, rudes, incultos, estúpidos ou o que quer que seja. Durante todo seu ministério e mesmo depois da ressurreição, o Senhor exortou seus discípulos a não terem medo.

A realidade é que temos medo. Essa é a verdade. É por isso que precisamos constantemente ser meio que intimados a sair e pregar o evangelho. Essa é a missão da igreja neste mundo.

É por isso que eu acho que os cristãos adoram estudos bíblicos. Um pequeno grupo sentado dentro de uma sala fechada, todos em concordância e fazendo afirmações uns aos outros, isso é muito confortável. Mas envie-os a pregar ao mundo, eles ficarão paralisados de medo.

Alguém disse: “A boca da maioria dos cristãos é como o Rio Ártico, congelado na boca”. Há uma frieza e uma espécie de morte, um medo que nos faz simplesmente calar e se fechar. Mas não precisamos ter medo, e é isso que Jesus está dizendo.

O Senhor nunca disse nada no vácuo. Ele não se levanta e diz: “Não tenham medo” e ponto final. Ele disse isso, mas deu três razões para não termos medo.

Primeira razão para não ter medo: Deus vindicará seus filhos

Mateus 10
26 Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido.

Ele havia dito “se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” Não iremos receber tratamento melhor que o mestre recebeu. Portanto não devemos temer, pois ele suportou. Temos que olhar para frente, pois tudo que está encoberto ou oculto será revelado ou conhecido.

Você diz: “O que Jesus quis dizer com isso?”. Um dia Deus vai tirar a tampa de tudo e todas as coisas serão consertadas. Enquanto o ímpio prospera, o verdadeiro cristão é rejeitado e perseguido, quanto mais um cristão defende o que é certo, mais o sistema do mundo o odeia.

Mas um dia tudo vai mudar, e a verdade será revelada. É isso que essa declaração significa. Deus vai mostrar quem são os verdadeiros heróis. Deus  recompensará e vindicará os seus. E quando esse dia chegar, os ímpios vão descobrir que tudo o que lhes resta é o juízo de Deus.

Seus inimigos não poderão impedir que Deus faça isso. Se somos reféns da preocupação com o que o mundo vai dizer sobre nós, estamos olhando para a coisa errada. Temos que olhar para o que Deus vai dizer no final. A Bíblia repetidamente fala sobre recompensas:

E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras (Ap 22:12).

Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus. (1Co 4:5).

Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. (2Tm 4:7-8)

Por que o Senhor nos promete essas coisas? Para nos dar o motivo eterno para que não desejarmos ser populares ou reconhecidos nesta vida, buscando aprovação dos sábios, nobres e heróis da sociedade mundana. Jesus disse aos judeus: “Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?” (Jo 5:44).

Mas, em vez disso, estejamos dispostos a confrontar uma sociedade maligna e deixar que Deus nos recompense na eternidade. É difícil ter essa perspectiva, não é? Mas é isso.

Temos que viver olhando para o futuro, para o dia em que Deus desvendará a realidade e mostrará quem foram os verdadeiros heróis e os recompensará para sempre. E muitos preferem um pouco de popularidade momentânea à custa da recompensa eterna..

Em Lucas 12 Jesus estava cercado por uma grande multidão e ensinava a seus discípulos dizendo: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido” (Lc 12:1-2).

Qual era a influência maligna nos fariseus? A hipocrisia. Eles eram falsos. O que isso significa? A verdade estava encoberta. Mas os hipócritas serão desmascarados e os verdadeiramente justos serão recompensados.

Na parábola da candeia, Jesus disse:

Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz. Nada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, se lhe dará; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado (Lc 8:16-18).

É o mesmo ensino. Deus vai trazer tudo à luz no futuro, e então será dito qual foi o real valor de sua vida. Você pode salvar sua reputação aqui e perder sua recompensa eterna. Essa é sua escolha. Mas um dia os valores serão revertidos. Jesus disse:

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6:19-21).

E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro. Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas (Ap 22:12-14).

Salomão escreveu: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec 12:13-14). Deus vai revelar tudo. Tudo o que está encoberto será descoberto.

A perspectiva do discípulo deve ser a perspectiva de Deus. Em sua avaliação eterna, Deus já vê o resultado final de cada vida. Aqueles que, aos olhos do mundo, desfilam como vencedores, vão passar a ser perdedores, e aqueles que parecem ser os perdedores, serão os vencedores.

Segunda razão para não ter medo: A devoção a Deus

Mateus 10
27 O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados.
28 E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.

Quando Jesus disse “não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma…”, ele se referiu literalmente ao medo ou terror. Mas quando ele disse “temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”, ele se referiu a admiração e veneração ou devoção a Deus.

Deus cumprirá todas as Suas promessas e trará todas as suas recompensas. Ele disse para não temermos os homens, mas a Deus. E se tememos, honramos, reverenciamos e veneramos a Deus, então não nos preocuparemos com os homens.

Em Mateus 10:27 ele disse: “o que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados”. Em outras palavras, ele disse: “o que vocês tem escutado de mim, proclamem a todas as pessoas”.

Havia um costume naquela época em que os rabinos treinavam seus alunos para falar e ensinar ficando ao lado deles, eles falavam em seus ouvidos, e então o jovem aprendiz falava o que o rabino lhe dizia. O Senhor fez um paralelo com esse fato.

Quando Jesus disse: “o que vos digo em trevas dizei-o em luz”, ele quis dizer: o que vocês aprendem de forma particular comigo (figurado como em “trevas”), devem falar abertamente a todos (figurado como “em luz”).

Quando Jesus disse: “e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados”, ele se referia a um costume daquela época, onde uma pessoa gritando nos telhados podia ser ouvida por um grande número de pessoas. Os anúncios importantes eram frequentemente divulgados assim.

Ou seja, Jesus disse: “Eu tenho treinado vocês para pregar e ensinar. E eu tenho dito a vocês falando a seus ouvidos em particular, agora vocês devem proclamar abertamente a todos”.

Hoje muitos estão indo ao mundo com uma mensagem falsificada, totalmente diferente da mensagem do evangelho pregado por Jesus e os apóstolos.

Eles estão dizendo: “Venha para Cristo, assim você será feliz, prospero, terá todos seus problemas resolvidos e ainda ganhará como bônus o céu eterno”. Bem, as pessoas vão dizer imediatamente: “Que negócio bom! Eu quero isso agora, onde assino?”.

Mas Jesus disse: “Vão ao mundo e falem aquilo que vocês ouviram de mim”. Não podemos alterar a mensagem do evangelho para torná-lo palatável ao mundo. Há um preço a pagar para seguir a Jesus, e isso não foi omitido por ele.

Na mesma ocasião Jesus disse: “Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” (Mt 10:39). Lucas descreve outra pregação de Jesus:

Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo (Lc 14:26-27,33).

Nossa mensagem deve ser totalmente fiel ao evangelho de Jesus, não podemos falsificar o evangelho, acrescentando, subtraindo ou ocultando o que o Senhor nos enviou a pregar em todo o mundo.

E você diz: “Bem, assim vamos sofrer dura oposição e rejeição”. Sim, claro. Por isso Jesus disse: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10:28).

Ou seja: “não temam os homens, o pior que eles podem fazer é matar o corpo e isso não é grande coisa”. Paulo escreveu: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1:21). Então, isso não é um problema.

A quem devemos temer? “temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”. Devemos temer aquele que determina o destino das almas, não aqueles que podem apenas determinar os destinos dos nossos corpos manchados pelo pecado. É uma comparação entre homens e Deus. Não tema os homens, tema a Deus.

Se realmente tememos a Deus, no sentido de reverência à sua infinita santidade e majestade, se realmente o adoramos como ele é digno de ser adorado, proclamaremos seu evangelho diante qualquer ameaça que esteja em nosso caminho.

Mas sempre que optarmos pelo silêncio ou pela falsificação da mensagem do Evangelho, demonstraremos que tememos mais aos homens do que a Deus.

Devemos temer aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. E isso é muito sério. Perecer no inferno não é ser destruído e ponto final. É uma destruição interminável e eterna.

O inferno é “Geena”, que era o nome do antigo lixão de Jerusalém, que vivia constantemente em chamas, “onde seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:44). Essa é imagem do que é o inferno.

E observe também “alma e corpo”. Os não salvos também serão ressuscitados, receberão corpos eternos que habitarão naquele fogo, essa é a segunda morte (Ap 20:14). Eles terão corpos reais. As pessoas sempre perguntam: “É um fogo real?” Bem, é algum tipo de fogo, porque é um corpo real. Não sei o tipo de fogo, mas todos estarão lá com corpo e alma.

Jesus não quis dizer aos discípulos: “Se você errar, irá para o inferno”. Não é isso! Ele quis dizer: “Vença seu medo. Tema aquele que é realmente poderoso. Tema aquele que determina o destino das almas. Não tema aqueles que só podem atingir o corpo”.

A devoção a Deus nos faz vencer o medo. Se adoramos a Deus conforme ele é digno, sua vontade nos mobilizará e temeremos a ele e não aos homens. É melhor cair nas mãos de homens bravos com nosso testemunho do que fazer pouco caso do Senhor da Gloria.

Durante os anos dos mártires no Império Romano, os cristãos fugiram para cavernas subterrâneas fora de Roma. Dez gerações de cristãos foram enterradas nelas ao longo de um período de quase 300 anos. E os arqueólogos estimam que até quatro milhões de cristãos foram enterrados naquelas catacumbas na época em que eles estavam sendo perseguidos.

Nunca me esqueço do dia que estive em uma igreja no fundo de uma dessas catacumbas. Uma das inscrições mais frequentes é o sinal do peixe. Você ainda pode ver os muitos lugares onde eles colocavam os corpos.

Mas há uma inscrição lá em vários lugares: “a palavra de Deus não está presa”. Ou seja: “tememos a Deus demais para temer os homens, por isso falamos”. Milhões de cristãos morreram por sua fé ao longo da história. Como eles puderam ser tão destemidos? Eles adoravam a Deus, olhavam para a recompensa eterna e sabiam que um dia Deus os vindicaria.

Sabemos como cristãos foram duramente perseguidos em ditaduras comunistas nos século XX. Os pastores fiéis, que recusaram ser manipulados pelo governo, sofreram todo tipo de violência estatal, muitos foram presos ou executados. Esses homens simplesmente preferiram temer a Deus e não aos homens.

Eles entenderam o que Jesus disse: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10:28).

Aqueles ditadores atingiram aqueles irmãos duramente, mas não podiam tocar no que é eterno. Um dia o Senhor vai trazer a luz todas as coisas, e então conheceremos os verdadeiros vencedores.

No meio dos discípulos havia um Judas. Sempre haverá, na Igreja e no grupo de discípulos, os impostores. Deus é aquele que destrói para sempre a alma e o corpo no inferno. Todos os Judas de todos os tempos precisam ouvir isso.

Terceira razão para não ter medo: A avaliação e valorização por Deus

Mateus 10
29 Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai.
30 E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.
31 Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais.

Com intimidade e intensidade divina, o Senhor ama e valoriza aqueles que lhe pertencem. Ele não permitirá que nenhum dano permanente aconteça com aqueles que lhes pertence.

“Asse” era um centésimo (centavos) da moeda em circulação nos dias de Jesus e valia um dezesseis avos de um denário (salário médio diário de um trabalhador). Um asse comprava dois pardais, que eram muito comuns e relativamente sem valor nos tempos do Novo Testamento. Eles assavam os pardais e o serviam como uma espécie de aperitivo.

Lucas registrou que cinco pardais poderiam ser comprados por dois asses (centavos). Ou seja, se você comprasse quatro pardais, receberia um de graça (Lc 12:6). Eram passarinhos muito baratos e quase sem valor.

Mas, mesmo assim, Jesus disse que nenhum deles está em esquecimento diante de Deus (Mt 10:29). O menor animal não perece sem que Deus se importe. Ele criou aqueles passarinhos. Jesus disse que “nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai”. Ele enfatiza que Deus sabe todas as coisas.

E tal como a morte de um pardal, até mesmo a quantidade de nossos fios de cabelo estão contados. Ou seja, até mesmo os menores detalhes e os assuntos mais triviais estão sob a soberania e conhecimento de Deus.

Deus providencialmente controla o tempo e as circunstâncias dos acontecimentos, mesmo aquele insignificantes, tais como a morte de um pardal ou a queda de um fio de cabelo. São declarações poderosas da soberania e onisciência de Deus.

Se Deus está preocupado com passarinhos e em numerar e conhecer os cabelos da sua cabeça, “não tenham medo, vocês são muito mais valiosos do que os passarinhos e fios cabelos”.

Deus se importa com seus filhos. Ele tem terno cuidado pelos seus. Temos receio de perder nossas reputações, ou nossos empregos ou de nos machucarmos, e então ficamos com medo. No sermão do monte Jesus disse:

Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? […] Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? […] buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal (Mt 6:25,30, 33-34).

Somos discípulos de Jesus, o coroamos como Rei, portanto, como seus súditos, nos submetemos a ele. Agora vamos enfrentar um mundo que é inimigo dele, e seremos tratados como ele foi. E como você vai reagir a isso? Ficará com medo?

Jesus disse que há uma recompensa para seus discípulos. Então, se olharmos de uma perspectiva eterna, vamos viver uma vida de adoração a Deus, superando o medo, ainda mais quando sabemos o quanto ele está comprometido com os seus.

Nero era imperador e queria alguns dos melhores homens da linhagem romana como lutadores do imperador. E ele queria que eles fossem selecionados entre os mais bravos, fortes e robustos de todos os atletas romanos.

Eles tinham uma declaração famosa: “nós, os lutadores, lutamos por ti, oh imperador, para ganhar para ti a vitória e de ti a coroa do vencedor”. Esse era o lema deles.

Em uma ocasião, o exército romano, incluindo esses grandes lutadores, foi enviado representando os romanos para a Gália, para reprimir uma rebelião. Nenhum soldado era mais corajoso ou mais capaz do que os lutadores do imperador. Eles eram liderados por um centurião sob o nome de Vespasiano.

Mas enquanto eles estavam na Gália, muitos daqueles lutadores se converteram a Jesus Cristo. A notícia chegou a Nero, ele enviou uma mensagem a Vespasiano dizendo: “Se houver alguém entre seus soldados que se apegue à fé dos cristãos, eles devem morrer”.

O decreto foi recebido no auge do inverno na Gália. Os soldados estavam acampados na margem de um lago congelado, e com o coração apertado, Vespasiano, o centurião, leu a mensagem.

Ele reuniu os soldados e fez a pergunta: “Algum de vocês é daqueles que abraçaram a fé cristã?” E quarenta deles responderam que sim. Ele disse: “Eu lhes dou até o pôr do sol de amanhã para vocês negarem isso ou vocês devem morrer”.

Ao pôr do sol do dia seguinte, ele fez a mesma pergunta. Nenhum dos quarenta homens negaram a fé. Ele disse: “Não posso permitir que vocês morram nas mãos de seus companheiros”.

E então, ele os despiu e os enviou à noite para o meio do lago congelado pelo frio do inverno. Pouco depois de terem chegado lá, ele ouviu vindo do gelo. “Quarenta lutadores, lutando por Ti, ó Cristo, para ganhar para Ti a vitória e de Ti a coroa do vencedor.” E ele ouviu isso durante a noite. As vozes ficaram mais e mais fracas conforme a manhã chegava.

Finalmente, perto da manhã, uma figura solitária se aproximou do fogo, era um daqueles quarenta lutadores que não conseguia suportar o frio com os outros. Ele concluiu que não se apegava à fé em Cristo tão firmemente para morrer. Ele veio se aquecer e admitiu perante Vespasiano que havia negado a Cristo.

E então o grito veio fracamente do lago: “Trinta e nove lutadores, lutando por Ti, ó Cristo, para ganhar para Ti a vitória e de Ti a coroa do vencedor”.

Vespasiano, a essa altura, estava completamente sobrecarregado. E Deus fez algo em seu coração naquele momento, e ele tirou seu capacete e toda sua armadura, saiu correndo pelo gelo, gritando a plenos pulmões: “Quarenta lutadores, lutando por Ti, ó Cristo, para ganhar para Ti a vitória e de Ti a coroa do vencedor.” Continuaremos na próxima vez.  Vamos orar.

Senhor, Tu nos chamaste para Te seguir a qualquer preço, ser Teus servos, Teus súditos e Teus alunos. Faze-nos fiéis, antes de tudo, para sermos marcados pela marca do discipulado. Somos como Cristo, e não tememos o mundo.

Eleva-nos acima disso, para que possamos dizer nada menos e nada mais do que Tu sussurraste em nosso ouvido através de Tua preciosa Palavra, por Teu Espírito. Faze-nos ousados ​​e usa-nos de uma forma poderosa.

Obrigado, Pai, pelo nosso tempo esta manhã. Que bom momento. Oramos, Senhor, para que Tu craves profundamente em nossos corações a Tua verdade. Faz-nos fiéis. E nós Te agradeceremos pelo que Tu realizaste neste dia, em nome de Jesus, amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Mateus

Clique aqui e veja também o índice com os links dos sermões traduzidos sobre o Evangelho de Mateus


Este texto é uma síntese do sermão “The Hallmarks of Discipleship, Part 1”, de John MacArthur, em 12/7/1981.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/2282/the-hallmarks-of-discipleship-part-1

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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