As Lições da Negação de Pedro

A autoestima, a autoconfiança e o orgulho pessoal são pecados. São provas da corrupção da humanidade. O orgulho é a própria flecha do pecado, é nele que o pecado começa. Se orgulho é rotulado como virtude, seu poder destruidor é ainda pior. Há uma geração de pessoas iludidas que pensam muito alto sobre si mesmas.

Marcos 14:66-72 traz um profecia cumprida: A negação de Cristo vinda dos lábios do apóstolo Pedro.

Mesmo redimidos, ainda habitamos em um corpo pecaminoso

A depravação radical da humanidade estende-se a todos os aspectos da natureza humana e se manifesta em todas os aspectos do seu comportamento. É uma depravação radical.

Compreendemos que fomos salvos e redimidos; que nos foi dada uma nova natureza e que somos novas criaturas em Cristo; que experimentamos o novo nascimento; que nascemos para andar em novidade de vida e que fomos ordenados para boas obras. Tudo isso faz parte do que entendemos ser verdade sobre a salvação.

Mas, como cristãos, estamos em contato com nossa queda, entendemos que ainda estamos encarcerados na carne caída, que não foi redimida. Ainda não estamos totalmente redimidos. Experimentamos a redenção da alma, mas não a redenção do corpo. Ainda somos humanos e estamos presos à carne humana caída. Paulo escreveu:

Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória… (Fp 3:20-21)

Temos um sentimento muito forte de nossa corrupção, pecaminosidade e do mal que está em nós. Repetimos com o apóstolo Paulo: “Miserável homem que sou!” (Rm 7:24). Temos a lei do pecado presente em nossos membros (Rm7:23).

A Bíblia declara que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64:6). Esse é o retrato da humanidade caída.

Quando nascemos de novo somos regenerados, há uma nova natureza em nós. Mas temos que lutar contra a decadência encarceradora da nossa própria carne. Como cristãos compreendemos bem isso e sabemos que vivemos em um lugar muito perigoso.

Além da hostilidade do mundo e de Satanás, temos que lidar com a nossa própria carne. Não podemos confiar em nós mesmos e em nossa própria carne. Temos que ter uma desconfiança saudável daquilo que somos e do que somos capazes.

O engano fatal da autoestima, da autoconfiança e do orgulho

Não entender isso é estar em um perigo ainda maior. Deixar de desconfiar de si mesmo é se colocar em uma situação muito perigosa. E essa foi exatamente a experiência de Pedro. Ele aprendeu a lição sobre as consequências mortais da autoconfiança, e nós também precisamos aprender a mesma coisa.

No mundo circula uma antiga e popular mentira: que o homem é basicamente bom. E essa mentira tem sido ampliada. Muitos acreditam que são maravilhosos e que o segredo do poder está na autoestima, ou seja, a capacidade de alcançar grandes coisas está em si mesmo, na autoconfiança. E assim, as pessoas que falham seriam aquelas que não têm o poder da autoestima e da autoconfiança.

As pessoas são programadas desde a educação infantil para acreditar no seu poder pessoal, no seu valor pessoal, nos seus direitos pessoais, na sua beleza pessoal e no seu talento pessoal. Elas são levadas a rejeitar a realidade de que são corruptas, caídas, más, pecadoras, egoístas e propensas ao desastre.

Temos um geração de pessoas iludidas que um dia acordarão para a dura realidade de que não poderão fazer do seu mundo aquilo que lhes disseram que poderiam fazer. Mas não se sentirão culpadas, se vitimizarão e empurrarão nos outros a culpa de seus fracassos, jamais admitirão que a culpa é delas mesmas. Seus fracassos devem ser explicados por algo externo a elas.

Assim, as pessoas vivem, apesar destas noções ridículas, com um sentido perpetuado de importância e de poder pessoal, e culpam que está à sua volta pelos fracassos na sua realização.

A autoestima, autoconfiança e o orgulho pessoal são pecados. São provas da corrupção da humanidade. O orgulho é a própria flecha do pecado, é nele que o pecado começa. Se orgulho é rotulado como virtude, seu poder destruidor é ainda mais terrível e avassalador.

Uma história exemplar da cilada da autoconfiança

Agora vamos olhar de perto para um incidente que ocorreu na vida de um crente verdadeiro: Pedro. Um dos melhores crentes e um dos mais privilegiados, que passou três anos caminhando com o Senhor e foi o líder do apóstolos. Veremos uma lição muito profunda sobre o perigo da autoconfiança.

Marcos 14
66 Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote
67 e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.
68 Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.]
69 E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles.
70 Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu.
71 Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!
72 E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar.

Isso é chocante. Foi o mesmo Pedro que havia declarado: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6:68-69); “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16); “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei” (Mc 14:31).

Este é Pedro, um verdadeiro crente, o grande líder dos apóstolos e o grande pregador. Como isso pôde acontecer? O texto é breve, mas as negações duraram mais de duas horas. A primeira negação pode ser considerada como fruto de um choque, de uma surpresa, mas as duas última negações foram respostas premeditadas, não apenas instintivas.

As negações aconteceram nas mesmas duas horas que Jesus está sendo julgado diante de Anás e diante de Caifás. Como vimos no último sermão, diante de Caifás Jesus proclamou triunfalmente ser o Cristo, o Filho de Deus (Mc 14:61-62), sabendo que isso lhe custaria a vida. Mas Pedro negou essa verdade tentando preservar sua própria vida.

Pedro, embora fosse um crente verdadeiro, sabia que professar ser um discípulo de Jesus naquele momento poderia custar sua vida. Muitos crentes, embora amem a Cristo, temem professar sua fé quando isso pode lhes custar retaliações. Todos nós já provamos isso, por isso entendemos a situação de Pedro.

Na história da igreja temos vários exemplo de crentes que professaram sua fé mesmo sabendo isso lhes custaria a vida, mas há também aqueles que o negaram publicamente para salvar suas vidas, embora não tenham negado em seus corações.

Houve situações nos países dominados pelo comunismo em que crentes negaram a fé para que suas vidas fossem poupadas, enquanto outros perderam suas vidas por não negarem a fé. Quando o comunismo ruiu, muitos que negaram sua fé retornaram para suas igrejas, e isso causou sérios problemas.

Houve igrejas que os aceitavam sob a condição de confissão pública de covardia e outras que não exigiam tal confissão. Muitos deles nunca mais voltaram.

Como isso pode acontecer? Embora sejamos novos por dentro, estamos encarcerados em nossa carne caída, e ela ainda é corrupta, pecaminosa e autoprotetora. E foi isso que aconteceu com Pedro. Assim, podemos aprender lições cruciais desta experiência com Pedro, e é isso que veremos agora.

A tolice da autoconfiança

Essa negação ocorreu entre 1h e 3h da manhã da sexta-feira, ao mesmo tempo em que Jesus está enfrentando o julgamento ilegal diante de Anás e Caifás.

Na noite de quinta-feira, desde o pôr do sol até a meia-noite, Jesus e seus discípulos estavam celebrando a Páscoa no cenáculo. Naquela ocasião o Senhor olhou para Pedro e disse: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lc 22:31-32).

Satanás havia pedido permissão para fazer com os discípulos o mesmo que ele fez com Jó. E o Senhor permitiu o intento de Satanás para provar que a fé salvadora nunca pode ser destruída.

A fé verdadeira não pode falhar porque o Senhor intercede por nós (Jo 17:9-12,15-20 etc,).A fé de Jó não falhou; a fé de Pedro não falhou; a fé de Paulo, quando um mensageiro de Satanás foi autorizado a segui-lo (2Co 12:7-10), não falhou.

A fé verdadeira jamais sucumbirá, ela persevera (1Pe 1:3-9; Jd 24; Jo 10:27-29 etc.). Contudo, embora o crente verdadeiro jamais deixará de crer, ele poderá cair na tentação de ser covarde e não confessar a sua fé.

Mais tarde naquela noite, Judas foi embora. Depois de saírem do cenáculo, Jesus e os onze discípulos foram para o Monte das Oliveiras (Mc 14:26). E Jesus disse a todos eles: “Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas” (Mc 14:27). Ou seja, todos os onze o abandonariam.

Foi então que Pedro discordou de Jesus e afirmou que isso jamais aconteceria (Mc 14:29). Jesus respondeu-lhe: “antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes” (Mc 14:30). Mas Pedro insistiu veementemente: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei” (Mc 14:31). E todos os demais disseram o mesmo.

Pedro e os demais discípulos, em outras palavras, disseram: “Senhor, Tu estás errado quanto a isto! Jamais te abandonaremos!” Que ousadia! Que autoconfiança tola!

Como vimos em sermao anterior, lá no Jardim do Getsêmani, no Monte das Oliveiras, Jesus chamou Pedro, Tiago e João para uma vigília de oração, ele sabia que sua prisão e martírio eram iminentes. Jesus lhes disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai” (Mc 14:34).

Mas eles dormiram. Jesus disse a Pedro: “Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14:37-38). O alerta foi dado!

Mas Pedro e os demais continuaram dormindo e não vigiaram com Jesus em oração. Quando questionados por Jesus pela segunda vez, eles não sabiam o que responder (Mc 14:40).

Na terceira vez Jesus disse: “Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima” (Mc 14:41-42). Havia chegado a hora em que o Senhor iria voluntariamente entregar sua vida para cumprir a vontade do Pai.

Foi um cenário desastroso. Estava muito próximo algo que humanamente eles não poderiam suportar, mas Pedro e os demais discípulos não vigiaram em oração, e ficaram expostos totalmente ao ataque feroz das trevas.

No momento da prisão do Senhor, Pedro reagiu ferindo o servo do sumo sacerdote com uma espada (Mc 14:47). Ele estava tentando provar sua profissão e sua coragem. Em sua mente, ele era invencível e absolutamente fiel. Ele estava perigosamente confiante demais.

Mas a altivez precede a queda (Pv 16:18). 1 Coríntios 10:12 diz: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”. Pedro amava muito a Cristo, havia nele um amor pela verdade, um desejo de ser obediente e de dar honra ao Senhor, não há dúvidas sobre isso. Mas ele não conseguia compreender o poder de sua carne remanescente. A sua autoconfiança tola o levou ao fracasso.

Marcos 14
66 Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote

João 18
16 Pedro, porém, ficou de fora, junto à porta. Saindo, pois, o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, falou com a encarregada da porta e levou a Pedro para dentro.

Jesus foi preso e os discípulos fugiram (Mc 14:50), cumprindo-se Zacarias 13:7. Jesus foi levado amarrado à casa de Anás por volta de 1 hora da manhã. Anás havia sido sumo sacerdote, seguido por quatro filhos dele, e, naquele momento, seu genro Caifás era o sumo sacerdote. Mas Anás era o cérebro maligno e poderoso por trás de tudo.

Ele morava no mesmo lugar que Caifás morava, porque era isso que as famílias faziam. Era uma família sacerdotal grande e muito rica, e eles construíram suas casas como grandes retângulos em torno de um enorme pátio interno. Portanto, todas as famílias que faziam parte da comitiva de Anás viviam neste enclave com um enorme pátio no meio.

Mateus e Marcos dizem que Jesus foi levado a Caifás, mas João acrescenta que Jesus foi primeiro levado a Anás (João 18:39). É nesse ambiente, dentro do prédio pertencente às famílias sumos sacerdotais, que acontecem as negações de Pedro. É também nesta casa, primeiro na casa de Anás e depois na casa de Caifás, que Jesus percorre os dois aspectos do julgamento judaico.

Há um terceiro tipo de julgamento simulado, onde eles repetem suas acusações e conclusões à luz do dia diante da multidão, o que dá a sensação de parecer legal, porque os julgamentos não podiam ser realizados à noite.

Todas as três negações ocorreram no mesmo local, mas durante um período de duas horas. De acordo com João 18, a primeira negação parece ter ocorrido quando Jesus estava diante de Anás, e as duas últimas quando Jesus foi transferido para Caifás.

Marcos 14:66-72 tem todos as três negações no pátio do prédio desses sumos sacerdotes. Provavelmente havia um grande muro e um portão para dar acesso ao pátio, que seria uma área não coberta no meio. Ali deveria haver pelo menos dois andares de casas e apartamentos.

Para entrar no pátio, Pedro teria que ser admitido pelo porteiro. Com a chegada de João, que era conhecido da família do sumo sacerdote, Pedro conseguiu entrar e ficar embaixo, no pátio (Lc 22:54).

Mateus 26:58 diz que “Pedro o seguia de longe até ao pátio do sumo sacerdote e, tendo entrado, assentou-se entre os serventuários, para ver o fim”. Ele estava entre o medo e fé, entre o amor e o terror, entre a coragem e a covardia. Ele estava ali para ver o que iria acontecer.

As negações de Pedro

Marcos 14
66 Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote
67 e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.
68 Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.]
69 E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles.
70 Mas ele outra vez o negou…

Pedro foi reconhecido por uma criada. Lucas 22:56 diz que “uma criada, vendo-o assentado perto do fogo, fitando-o, disse: Este também estava com ele”. Provavelmente ela o viu no templo naquela semana, pois Jesus havia estado muito tempo lá com seus discípulos, inclusive expulsando os mercadores de Anás (Mc 11:15-19).

Por isso a criada fitou os olhos em Pedro, possivelmente lembrando de tê-lo visto com Jesus. Pedro foi confrontado três vezes por pessoas diferentes e negou o Senhor em todas. Ele estava em uma posição vulnerável por sua autoconfiança.

As pessoas que confrontaram Pedro não possuíam qualquer poder de autoridade. Mas ele respondeu para a Criada no pátio: “Não o conheço, nem compreendo o que dizes” (Mc 14:68). Ele foi para o alpendre e, quando indagado pela segunda vez, ele respondeu: “Não conheço tal homem” (Mt 26:71-72).

Após a primeira negação, ele foi para o alpendre (um corredor que conduzia de volta para a rua) numa tentativa de fugir. Esse corredor não estava bem iluminado e as pessoas não ficavam ali.

A segunda negação foi mais grave que a primeira, ele teve algum tempo para pensar, mas premeditou negar novamente. Não foi um simples tropeço. Mateus 26:72 diz que ele fez juramento de que não sabia quem era Jesus.

Marcos 14
70 Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu.
71 Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!

Você pensaria que depois de negar duas vezes ele sairia de lá, mas ele não saiu. Lucas 22:59 diz que havia passado uma hora entre a segunda negação e a terceira negação. Ele estava por ali querendo ver o resultado.

Mas outra pessoa o reconheceu como um discípulo de Jesus, dizendo: “Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu” (Mc 14:70). Mateus 26:33 registrou: “és também um deles, porque o teu modo de falar o denuncia”.

E, como agravante, João acrescenta uma informação: “Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha decepado a orelha, perguntou: Não te vi eu no jardim com ele?” (Jo 18:26).

Ou seja, quem identificou Pedro por último era um parente de Malco, um dos servos do sumo sacerdote, a quem Pedro havia ferido na prisão de Jesus no Jardim do Getsêmani (Jo 18:10).

A situação ficou ainda mais perigosa. Pedro teve que ser mais intenso em sua negação. Marcos 14:71 diz que ele “começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!”.

Ele passou a praguejar e jurar, ou seja, fazer juramentos de estar falando a verdade, sob pena de maldições. E, de forma sinistra, ele invocou Deus como testemunha. Ele não aumentou o que já havia dito antes, apenas manteve sua mentira e ainda usou o nome de Deus em vão.

Ele sabia que estava mentindo e pronunciou maldições sobre si mesmo para que sua mentira ganhasse credibilidade. Ele jurou por tudo que poderia jurar. Ele realmente atingiu o fundo do poço. Ele esbraveja: “Não conheço esse homem de quem falais” (Mc 14:71).

Marcos 14
72 E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar.

Tudo o que o Senhor havia lhe dito a caminho do Jardim do Getsêmani aconteceu (Mt 26:30-35; Mc 14: 26-31; Lc 22:31-34). O Senhor sabia que aquilo iria acontecer. Pedro não estava preparado para enfrentar o ataque feroz das trevas, sua autoconfiança e seu ímpeto o fizeram naufragar na covardia.

As lições que aprendemos com as negações de Pedro

Lucas 22
61 Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo.
62 Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente.

Talvez o julgamento teatral havia encerrado, e Jesus, ferido por tantas agressões, estava sendo levado para a prisão, onde seria mantido por algumas horas até o amanhecer.

Jesus olhou diretamente nos olhos de Pedro, foi um olhar que Pedro jamais esqueceria. Foi o mesmo olhar de Jesus nos vê quando estamos em nosso pecado. Foi um momento de colapso para Pedro.

Pedro era muito confiante em sua carne, ele recusou ouvir os alertas do Senhor sobre a provação que viria e dormiu quando o Senhor o chamou para orar. O Senhor havia lhe dito: “Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14:37-38).

Ele agiu rápido demais. Ele reagiu sozinho sem considerar a vontade do Senhor, pegou uma espada e começou a brandi-la. Ele estava fora de sincronia com o plano de Deus e o propósito de Deus. Ele foi movido por seus próprios impulsos carnais.

Ele ignorou o perigo em quatro dimensões: autoconfiança, rejeição da advertência do Senhor, agir por conta própria e não atender o chamado do Senhor para orar. Por confiar muito em si mesmo, ele não buscou o recurso ao poder divino, e ficou sujeito à fraqueza de sua carne.

Ele teria ficado muito melhor se tivesse atravessado todo o pátio e ficado ao lado de seu Senhor. Esse sempre foi o lugar mais seguro para se estar. Ele o seguiu de longe e ficou exposto à sua própria carne. Ele não foi páreo para as forças do inferno.

As implicações práticas disso são muito importantes. Ele chegou ao topo: foi chamado por Cristo; foi comissionado por Cristo; foi separado por Cristo; foi amado por Cristo; foi ensinado por Cristo; recebeu as chaves do reino; foi-lhe concedido e delegado poder milagroso para curar os enfermos e expulsar demônios; foi líder dos doze; foi um pregador privilegiado. Mas caiu no poço da profanação, negando ao próprio Senhor que ele tanto amava.

Mas Pedro não foi como Judas, que saiu para se enforcar. Judas desde o início era um demônio. Padro era um crente verdadeiro, sua fé jamais falharia. Sua confissão falhou, sua coragem falhou, mas sua fé não falhou. Pedro se lembrou do alerta que Jesus lhe fez e começou a chorar amargamente.

Judas sentiu remorso e se matou. Pedro foi tomado por tristeza e arrependimento, mas sua fé não falhou. Mateus 26:59 diz que “Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente”.

Ele acreditou muito em si mesmo. Foi uma lição profunda. Mas esse não foi o fim da história. Após a ressurreição há um diálogo singular de Jesus com Pedro, registrado em João 21, quando Jesus lhe perguntou por três vezes se ele o amava.

Pedro havia negado o Senhor três vezes na madrugada da sexta-feira da cruz. E agora o Senhor lhe deu a oportunidade de declarar seu amor por três vezes. Em cada afirmação de amor, Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”.

Em Lucas 22:32 Jesus havia dito a Pedro: “roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”. Esse foi o segredo da fé de Pedro não ter falhado. Esse sempre será o segredo da fé perseverante de um verdadeiro discípulo de Jesus.

Em João 17:9 e 20 Jesus disse: “não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus […] Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim”.

Pedro foi restaurado e se tornou o grande pregador em grande parte do livro de Atos, um grande apóstolo que o Senhor usou para iniciar e fundamentar a igreja.

Ele entendeu que nossa fé é sustentada pelo Senhor e não por nós mesmos: “… sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação” (1Pe 1:5).

Ele entendeu que nossa fé é provada pelo fogo: “embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1:6-7).

É uma grande lição para aprendermos. Não podemos ser excessivamente confiantes, temos que compreender a fraqueza da nossa carne e nos fortalecer no poder de Deus.

Porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal. Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos… (1Pe 4:17-18).

Vamos orar

Pai, agradecemos por este tempo que pudemos estudar Tua Palavra. Vimos uma lição que temos que aprender: embora os anseios do homem interior, o homem regenerado, sejam fortes, santos, puros e justos, ainda temos o corpo da morte ligado a nós, e nossa carne é fraca e fortemente atraída pela corrupção.

Que possamos aprender a nos preparar contra esse tipo de experiência, ouvindo atentamente a sua Palavra, absorvendo-a, crendo nela e abraçando-a, e orando por força divina para enfrentar as tentações.

Que possamos aprender esta lição com Pedro. Que possamos enfrentar as provações difíceis e saímos do outro lado com a fé intacta. É uma evidência de que esta é a fé que Deus dá aos Seus, que não pode morrer, que não pode ser destruída, o tipo de fé que nos levará finalmente à Tua presença.

Que possamos ser fiéis em confessá-lo com ousadia diante dos homens. Oramos em nome do teu Filho, ó Deus. Amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “Peter’s Denial: A Warning About Self-Confidence ”, de John MacArthur, em 8/5/2011.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-78/peters-denial-a-warning-about-selfconfidence

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.


 

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