As Bênçãos em Perdoar (1)
Segunda Coríntios, capítulo 2, é o nosso texto, versículos 5 a 11. Esta epístola é muito prática, aplicável, instrutiva e encorajadora ao meu coração. Tenho certeza que ao seu também. Ao chegarmos a essa parte do capítulo 2, chegamos ao tema do perdão.
Certamente, um tema que nosso mundo precisa ouvir e aprender e, mais do que isso, ver demonstrado na vida dos cristãos. O capítulo 19 de Provérbios, versículo 11, nos diz que “a prudência do homem faz reter a sua ira, e é glória sua o passar por cima da transgressão.” Que grande é essa verdade! É glória para um homem ignorar uma transgressão alheia.
Uma pessoa nunca é mais nobre e nunca mais parecida com Deus do que quando perdoa a alguém. Perdoar é o ato mais divino que podemos praticar. Não há nada mais glorioso que uma pessoa possa fazer por outra do que perdoar. Uma pessoa verdadeiramente piedosa será conhecida por ter um coração misericordioso. Deus é um Deus que perdoa, Cristo é um Senhor que perdoa, e aquele que é como Deus e como Cristo será uma pessoa perdoadora.
- Jesus certamente nos deu o exemplo perfeito quando pendurado na cruz. Odiado, zombado e injustamente atormentado até a morte, Ele pediu a Deus que perdoasse Seus algozes.
- Estêvão, sendo injusta e cruelmente apedrejado até a morte, pediu a Deus que não considerasse seus assassinos culpados por seu crime.
O perdão é a virtude espiritual em seu ponto mais alto, mais nobre. É a glória de um homem ignorar uma transgressão. Nós, como cristãos, devemos ser conhecidos por nosso perdão. O apóstolo Paulo certamente o foi, e veremos isso eminentemente no texto que está diante de nós.
Este breve texto é uma boa visão sobre a atitude de perdão, assim como você encontrará em várias outras partes das Escrituras. Superficialmente, o texto que iremos examinar parece um pouco vago, havendo certos elementos dele que são imprecisos e desconhecidos para nós.
Mas, quando você olha para ele um pouco mais profundamente, o texto nos dá uma visão bastante abrangente e completa do perdão. Eu intitulei a mensagem, “As Bênçãos em Perdoar”, pois aqui você verá sete bênçãos no perdão, sete benefícios, portanto, sete motivos para o perdão, sete razões para perdoar.
II Coríntios 2
5 Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.
6 Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos.
7 De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza.
8 Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor.
9 E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo.
10 E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque se eu também perdoei alguma coisa, a quem a perdoei por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos sobrepujados por Satanás;
11 Porque não ignoramos os seus ardis.
Aqui está o ardente perdão do apóstolo Paulo ilustrado. O pano de fundo geralmente não é claro para nós em termos de detalhes. Não sabemos quem era o indivíduo, quem era tal homem que precisava ser totalmente perdoado. Nós realmente não sabemos o que ele fez. Porém, podemos reconstruir o suficiente da cena para que o ensino geral aqui se torne claro e vivo para nós.
O apóstolo Paulo passou 18 meses de sua vida fundando a igreja em Corinto. Deus o havia usado ali de uma forma poderosa. Tendo então saído daquela igreja, depois de dedicar tanto de sua vida nela, ele foi informado de que havia muitos problemas no meio dos crentes em Corintos. Em resposta a esses problemas, ele escreveu 1 Coríntios, que tem dezesseis capítulos, tentando confrontar os problemas daquela igreja.
Seu desejo era corrigi-los, instruí-los, colocá-los em um caminho de doutrina e comportamento adequados para que pudessem conhecer a alegria e a bênção de Deus em suas próprias vidas, e ser uma testemunha eficaz Dele em sua cidade. E assim, Paulo os escreveu 1 Coríntios.
Algum tempo depois, outro problema surgiu em Corinto. Antes que o primeiro lote de problemas pudesse ser resolvido suficientemente, outro surgiu. Só que desta vez foi uma espécie de motim, uma rebelião contra Paulo.
Alguns falsos apóstolos, falsos mestres, entraram na igreja querendo obter audiência para suas mentiras e heresias, eles procuraram desacreditar Paulo.
E, assim, eles fizeram um ataque total ao caráter de Paulo, à sua vida e ensino, a quase tudo sobre esse homem. Eles fizeram tudo o que puderam para atacá-lo, para desacreditá-lo, para abalar sua integridade, torná-lo uma pessoa sem credibilidade e, então, eles poderiam tomar seu lugar como mestres e ensinar suas mentiras.
Agora, o triste fato é que mesmo com o maravilhoso vínculo de amor que se desenvolveu entre Paulo e a igreja de Corinto, e mesmo que todos eles realmente tivessem sido trazidos ao pé da cruz e redimidos pela instrumentalidade de Paulo, e ele foi aquele que os ensinou, estabeleceu e lhes deu sua direção e liderança, apesar de tudo que pertencia à estrutura desse relacionamento de amor, muitos dos membros daquela igreja acreditaram nas mentiras dos falsos apóstolos, de modo que um motim havia se desenvolvido.
Para lidar com aquele motim, Paulo lhes escreveu uma segunda carta, que foi perdida e não está inclusa nas Escrituras, que chamamos de “carta severa”. Perdemos essa carta, mas há referências do seu conteúdo. Isso era para confrontá-los sobre esse motim, sobre esse esforço de desacreditá-lo, pois alguns deles estavam comprando as mentiras dos falsos mestres.
Além disso, Paulo teria feito a eles uma breve visita, apenas para tentar avaliar o que estava acontecendo naquele motim, uma visita rápida, e aparentemente mal sucedida, que foi encerrada rapidamente. E, sem dúvida, o apóstolo partiu dali com o coração partido, triste, abatido com o que viu e experimentou.
Provavelmente, nessa visita, ele foi agredido verbalmente, publicamente e na cara por alguém que era membro da igreja, alguém que talvez fosse conhecido do apóstolo Paulo, e que certamente era conhecido da congregação. Alguém que caiu no engano e comprou nas mentiras dos falsos apóstolos, que envergonharam e insultaram publicamente o apóstolo Paulo.
Assim, quando Paulo partiu de Corinto, aparentemente, ele disse aos demais irmãos que eles tinham que lidar com aquele homem. E, ao se despedir, deixou-lhes instruções de que aquele homem, aquele pecador, precisava ser tratado no padrão apropriado de disciplina da igreja.
Paulo escreveu que ninguém jamais deve repreender um presbítero, nem nada dizer sobre um apóstolo, a menos que tal possa ser comprovado pela boca de duas ou três testemunhas. E também podemos deduzir que eles estavam bem cientes do tipo de ensino que Jesus deu em Mateus, capítulo 18, sobre uma pessoa que peca ser confrontada.
Se eles se recusassem a se arrepender, deveriam ser tomadas duas ou três testemunhas. Se eles, ainda assim, se recusassem a se arrepender, o assunto deveria ser levado a toda a igreja. E, se eles ainda se recusassem a se arrepender depois que a igreja os reprovasse, deveriam ser colocados para fora da comunhão. Difamar publicamente, envergonhar, embaraçar e insultar o apóstolo Paulo constituía um pecado de certa severidade que precisava ser tratado.
Em vista desse motim contra Paulo, que havia se levantado na igreja de Corinto, realmente essa havia se tornado uma questão importante para se lidar, para que aquele homem não se safasse e encontrasse outros apoiadores, de modo que viesse a ocorrer uma ruptura total na confiança acerca da integridade de Paulo. Portanto, ao partir, após aquela breve e comovente visita, Paulo deve ter instruído os irmãos a lidarem com aquele homem. Então, ele enviou Tito a Corinto.
E ele enviou Tito para saber como eles estavam, como eles reagiram à carta de 1 Coríntios, como eles reagiram à outra carta, conhecida como “carta severa” (essa carta foi perdida, nós não temos acesso a ela), e como eles estavam lidando com aquele homem tumultuador.
Tito, assim, foi enviado como um emissário para trazer de volta uma palavra a Paulo. Isso é realmente o que está por trás dessa carta de 2 Coríntios. Quando Paulo escreveu 2 Coríntios, Tito já havia retornado de Corinto e lhe passado um relatório do que testemunhou por lá.
No capítulo 7 de II Coríntios temos o relatório de Tito. Paulo estava esperando o retorno de Tito, e ele não escreveu esta carta (2 Coríntios) até que soube como a igreja reagiu à primeira carta e à carta severa, e como eles reagiram à sua instrução direta para lidar com aquele homem.
Tito chega e as notícias são boas. Versículo 6, do capítulo 7, diz: “Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito.”. Tito era um consolador, mas porque Deus estava trabalhando por meio dele.
E aqui é dito como Tito trouxe esse consolo a Paulo, versículo 7: “E não somente com a sua vinda, mas também pela consolação com que foi consolado por vós, contando-nos as vossas saudades, o vosso choro, o vosso zelo por mim, de maneira que muito me regozijei.”
Essa foi uma notícia muito profunda para Paulo, porque o que realmente estava partindo seu coração era o rompimento do relacionamento. Não era o pecado do homem contra ele que era o problema, era o relacionamento, o vínculo de amor contínuo e a lealdade da igreja de Corinto que o preocupava. E Tito voltou e informou a Paulo que eles tinham saudades dele, eles estavam até mesmo em prantos por ele. Eles tinham grande zelo por ele. Paulo, então, alegrou-se.
No versículo 8, ele diz: “Porquanto, ainda que vos contristei com a minha carta [referindo-se à “carta severa”, da qual não temos conhecimento do conteúdo], não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo.”
No início, quando o apóstolo a escreveu, sentiu remorso, porque temia que os coríntios reagissem negativamente e isso os afastasse ainda mais. No início, de maneira humana, natural, Paulo se sentiu mal por ter escrito uma carta tão severa e forte confrontando o motim naquela igreja, bem como o seu distanciamento dele, sua deslealdade e sua falta de amor.
Mas, ele diz: “não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo.” E o versículo 9 completa: “Agora me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma.”
Em outras palavras, ele estava dizendo: “sua tristeza foi segundo Deus, foi uma tristeza de arrependimento. Vocês se arrependeram pela maneira como fui tratado e pela forma de como vocês foram desleais. E o versículo 10 diz [na versão NVI]: “Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que desculpas, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que desejo de ver a justiça feita! Em tudo vocês se mostraram inocentes a esse respeito.”
Paulo está refletindo sobre essa tristeza sincera e zelosa, esse anseio por ele. Sua carta teve um efeito positivo e os trouxe de volta ao lugar de lealdade e compromisso.
Ele diz: “que desejo de ver a justiça feita!”. E aqui descobrimos que eles, sem dúvida, lidaram com o erro e lidaram com o ofensor. Verso 11 [NVI]: “Assim, se lhes escrevi, não foi por causa daquele que cometeu o erro nem daquele que foi prejudicado, mas para que diante de Deus vocês pudessem ver por si próprios como são dedicados a nós.”
Em outras palavras, Paulo está dizendo:
Eu queria que vocês tivessem que lidar com sua atitude em relação a mim. Isso é o que me preocupou. Não escrevi essa carta por causa do agressor. Eu não a escrevi porque fiquei ofendido. Isso não foi o principal. Eu a escrevi porque queria que vocês tivessem que lidar com sua atitude em relação a mim.
Essa foi a preocupação de Paulo. Ele queria que os coríntios tivessem certeza de que mantinham seu lugar sob a autoridade apostólica e que o amor e a lealdade que haviam demonstrado a Paulo fossem sustentados.
Mas, o que encontramos aqui, em resposta à carta severa e à avaliação que ele fez quando os visitou e lhes falou sobre como lidar com aquele homem, é que eles tiveram uma boa reação. Eles haviam feito o que era certo e agora estavam afirmando, através de Tito, seu amor e zelo, seu santo temor a Deus, sua indignação com o pecado, seu desejo de fazer justiça a respeito do que estava errado de uma maneira piedosa. Eles estavam lidando com aquele ofensor, e tudo isso demonstrava seu amor e lealdade a Paulo, que ficou muito satisfeito.
Isso nos fornece um pouco de contexto. Paulo reconheceu, por causa da mensagem de Tito, que eles fizeram o que era certo. Eles enquadraram aquele homem, eles o confrontaram sobre seu pecado, eles o conduziram através do processo de disciplina. E eu acredito que é seguro dizer, como devemos notar, que eles o trouxeram até o arrependimento. Eles o haviam levado ao arrependimento.
Eles se arrependeram de seus pecados contra Paulo, pecados de deslealdade e crença nas mentiras enganosas que foram trazidas a eles pelos falsos apóstolos. Mas, eles também trouxeram aquele homem ao arrependimento. E veremos mais sobre isso em alguns momentos.
Havia um grupo de pessoas na igreja de Corinto que talvez fosse um problema ali. Para conhecê-los, precisamos voltar a 1 Coríntios 1. E isso nos ajudará a formar a estrutura de toda essa questão aqui. Se você voltar ao capítulo 1 de 1 Coríntios, você se lembrará de que a primeira questão com a qual Paulo lidou com relação à igreja de Corinto foi a questão de divisões e brigas.
No capítulo 1, versículo 10, ele observa que havia divisões entre eles. No versículo 11, que havia brigas, intrigas entre eles. E essas divisões e brigas eram basicamente porque certas pessoas tinham certos heróis espirituais.
Versículo 12 diz: “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo.” Paulo passa muito tempo lidando com esse tipo de divisão, briga e fragmentação. Ele ainda está falando sobre isso no capítulo 3, versículos 4 a 6, e também no capítulo 3, versículos 21 a 23. Na verdade, três capítulos confrontam esse problema.
Vale lembrar que aqueles cristãos coríntios viviam em uma cultura onde isso era comumente feito. Todo mundo tinha seu filósofo de estimação, seu professor de estimação, e as pessoas se reuniam em torno de seu mestre particular, pessoal, e se identificavam com ele.
Eles carregaram a mesma mentalidade para a igreja e começaram a orbitar em torno de um ou outro dos nomes-chave do Cristianismo. E essa atitude se tornou uma questão de divisão. Podemos supor que as pessoas que realmente se identificavam mais fortemente com Paulo foram as mais ofendidas quando Paulo foi publicamente envergonhado e agredido por aquele ofensor.
Portanto, também é justo presumir que eles podem ter ficado menos satisfeitos quando esse homem se arrependeu. E quando o homem reconheceu seu pecado, o que obviamente fez, como veremos, pode muito bem ter acontecido que a maioria das pessoas na igreja estava disposta a reconhecê-lo e aceitá-lo de volta à comunhão restaurada.
Mas, o “partido dos de Paulo” estava tendo alguns problemas em aceitar esse arrependimento, de modo que eles queriam moer um pouco mais aquele irmão. Eles queriam adicionar um pouco mais de dor à sua experiência.
Talvez lhes parecesse um pecado tão assustadoramente ousado e impetuoso de se cometer – ficar cara a cara com o amado apóstolo Paulo e insultá-lo na frente dos outros – que eles queriam ter certeza de que ninguém jamais faria isso novamente. E eles estavam protegendo aquele que veneravam particularmente, no caso, Paulo.
Aparentemente, podemos supor que alguns não ficaram satisfeitos com a disciplina aplicada àquele homem, e não ficaram satisfeitos com seu arrependimento, pelo que queriam fazer uma pressão maior sobre ele. Eles achavam que talvez fosse necessário mais disciplina, como os bispos da Antiguidade que, quando um pecador arrependido lhes procurava, eles só reconheciam esse arrependimento se a penitência durasse três a sete anos ou, em alguns casos, pelo resto da vida. Eles queriam continuar a infligir dor sobre o pecador.
Paulo não concordava com isso. Ele não concordou e não estava do lado do “partido dos de Paulo”, caso eles realmente fossem os culpados por aquela situação. Ao invés disso, o apóstolo, nessa passagem, exige perdão total e completo para aquele homem. Obviamente, Paulo foi informado de que o homem havia se arrependido, e isso era o suficiente para Paulo.
Agora, no versículo 4, temos uma indicação de que Paulo havia escrito aos coríntios uma carta anteriormente a esta, a qual conhecemos como “carta severa, e que foi perdida: “Porque em muita tribulação e angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho.”
Em outras palavras, Paulo estava lhes dizendo: “olha, eu nunca quis fazer nada só pra entristecê-los ou desesperá-los, eu só queria que vocês soubessem o quanto eu amo vocês.” E é por amor pastoral por eles que ele afirma que lhes escreveu “não para que vos entristecêsseis”. Ele tinha um coração de pastor, um coração terno. No capítulo 1, versículo 24, ele disse que era um obreiro deles para a alegria deles, não alguém que desejava dominar sua fé.
Ele tinha um coração terno para com seu povo. Com base no relato de Tito sobre aquele homem, ele queria demonstrar essa ternura e esse amor. Porque ele não estava comprometido com a tristeza sem fim, mas com a alegria. Ele queria que eles soubessem que, se alguma vez ele causou tristeza, foi para produzir alegria.
Ele não queria se tornar excessivamente associado à tristeza. Portanto, ele insiste para que a correção parasse e que o homem fosse totalmente restaurado à comunhão da igreja.
Eu não tenho dúvidas de que Paulo os instruiu a lidar com aquele homem até que ele se arrependesse. Mas agora que ele se arrependeu, ele deveria ser totalmente restaurado. Ao ensinar essa verdade simples a eles sobre a restauração do homem, Paulo evidencia sete bênçãos do perdão descritas aqui. Elas são simplesmente maravilhosas.
1. PERDOAR NOS LIVRA DA AUTOPIEDADE (ORGULHO)
A primeira razão para perdoar que é ilustrada por Paulo é porque isso desvia a autopiedade ou, se quiser outra palavra, o orgulho. Uma das principais causas de um coração implacável, é claro, é o orgulho.
Seu ego está ferido e você não vai simplesmente aceitar isso. Alguém fez algo a você. Você não gosta disso, não aprecia isso e não está prestes a desistir. Essa reação orgulhosa a uma ofensa pode atingir um espectro que vai desde a autopiedade até à retaliação violenta e tudo o mais. Paulo não queria nada disso, absolutamente nada disso. Glória própria, autoproteção, ego, orgulho, autopiedade, vingança e retaliação não tinham lugar em seu coração.
Paulo não queria que o “partido dos de Paulo” tivesse pena dele. Ele não estava gostando daquilo, como nós muitas vezes gostamos, você sabe, quando estamos ofendidos e alguém diz: “Isso foi terrível, aquilo foi terrível.” E estamos dizendo por dentro: “Fale mais, fale mais, eu amo ouvir ‘coitadinho, como você suportou, como você sofreu, você é tão nobre, mas passou por esta dor excruciante…'”. E você simplesmente segue amando cada palavra dessa. Paulo não tinha nada a ver com isso.
Veja o versículo 5. “Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.” Apesar de a frase começar com “se alguém causou”, não se trata de uma dúvida, mas de uma condição considerada como verdadeira, ou seja, alguém causou tristeza. E no idioma original, o verbo está no tempo perfeito, dando a ideia de uma tristeza contínua.
Essa era a realidade. Aquela pessoa causou tristeza. E o que Paulo está dizendo, em outras palavras, é: “reconheço a realidade da ofensa e reconheço seu efeito contínuo, mas quero que saibam que ele causou tristeza, mas não a mim”.
Agora, isso imediatamente desarma todas as pessoas que querem explorar a fundo a situação por causa do que aquele homem havia feito com Paulo, certo? Paulo, simplesmente, tira a espada de suas mãos, ao dizer que não levou o ocorrido para o lado pessoal.
Imediatamente, Paulo minimiza sua tristeza pessoal, sua angústia pessoal, mesmo sendo o alvo de tudo aquilo. Ele não levou para o lado pessoal. Ele não foi se afundar na autopiedade. Ele não queria que algumas pessoas solidárias se juntassem ao seu desânimo. Ele não tinha nenhum ressentimento amargo. Ele não foi buscar uma vingança em um nível pessoal contra aquele homem.
Paulo não queria lavar a sua honra, não importa o que o homem tenha feito para envergonhá-lo, insultá-lo publicamente, desacreditá-lo, cair nas mãos dos falsos apóstolos e até mesmo liderar a igreja nessa direção. Ele não levou nada disso para o lado pessoal, não era um problema pessoal com ele. A dor, o constrangimento que foram causados não foram, e nunca seriam, importantes.
Consequentemente, Paulo suaviza a acusação contra o ofensor arrependido. E ele deixa a igreja lidar com o homem com pura objetividade. Eles não precisariam cumprir uma agenda pessoal da parte de Paulo. Eles não precisariam fazer nada por ele. Paulo não levou para o lado pessoal. “Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.”
Paulo já havia aprendido muito antes a ser humilhado e ter abundância. Na verdade, ele logo escreverá nesta mesma carta, capítulo 12 no versículo 10: “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.”
Talvez a própria palavra “injúrias” remeta diretamente a esse incidente. Insultos não lhe incomodavam. Ele nos faz lembrar daquele versinho que aprendemos quando crianças: “Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras nunca vão me machucar”. Paulo está dizendo: “eu não levo isso para o lado pessoal, assim como Jesus não levou para o lado pessoal quando na cruz e não quis uma vingança contra Seus crucificadores, ou Estevão sob as pedras ensanguentadas”.
Para Paulo, não houve ofensa pessoal. Aqui está a virtude em seu aspecto mais nobre. Aqui está a virtude de se elevar acima da ofensa e do ofensor e sair da condição de vítima.
As pessoas em nossa cultura vagando por aí, atolando-se em seu vitimismo, estão realmente se exercitando para que o mundo inteiro veja evidências de sua queda em seu orgulho inacreditável. A autopiedade é um ato de orgulho. O ego ferido, a pessoa ferida que não consegue superar a ofensa, apenas demonstra sua pecaminosidade absoluta.
Paulo era um homem piedoso. Ele era um nobre cristão. Ele era muito humilde para se atolar em seu orgulho amassado por conta do embaraço que passou em público. Em 1 Coríntios, capítulo 4, verso 3, ele diz: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.”
O pensamento de Paulo em relação às ofensas sofridas pelos coríntios foi: “eu vou fazer disso um problema? Eu vou ser vítima disso? Não é um problema para mim. Tristeza, sim, mas não para mim. Isso não é da minha conta. Você não me deve nada.”. Ele disse:
Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. (2 Coríntios 2: 5,8)
Ele está dizendo que sua preocupação não era com ele mesmo, mas com a igreja. “senão em parte” significa “até certo ponto”. E “para não sobrecarregar a vós todos” significa “não exagerar no tratamento daquele problema”.
Aquele homem havia causado tristeza, mas de forma limitada, e os irmãos não deveriam exagerar no tratamento da questão. Quer dizer, não deveriam transformar aquele pequeno monte em uma montanha. Paulo os estava exortando a não fazerem daquilo uma cruzada na igreja, a não destruírem o todo por causa daquilo.
Claro – isso causou alguma tristeza para eles. Por quê? Porque eles teriam que lidar com o homem. Ele estava em sua comunhão. Eles teriam que confrontá-lo e discipliná-lo. Teriam que trazê-lo perante à igreja, se ele continuasse impenitente, e isso não é uma coisa feliz de se fazer. A tristeza estava presente, pois aqui estava seu amado irmão pecando e destruindo o tecido da unidade da igreja. Mas, Paulo os exorta a não exagerar na dose.
Eu amo a maneira como Paulo quis minimizar a situação. É como se ele estivesse dizendo:
Vocês não precisam explodir essa coisa tão fora de proporção que se torne a questão controladora na mente de todos. Continuem com a vida. Ele se arrependeu. Eu não quero que vocês façam nada em meu nome contra esse irmão. Eu reconheço a tristeza de vocês, porque tiveram que lidar com o problema. Mas, não façam mais do que deveriam.
Foi uma ótima maneira de abordar o problema. Paulo não permitiu que seu ego se envolvesse. Ele desviou a autopiedade. O perdão faz isso. Desvia o orgulho que deseja retaliação. O grande apóstolo se recusou a receber a ofensa. Ele era um homem muito difícil de se ofender.
Essa é uma virtude maravilhosa. É algo divino ser muito difícil de se ofender. Paulo não permitiu que seu ego se expressasse. Essa é uma indicação clara, aliás, de que Paulo não tinha nada em seu coração a não ser amor e perdão pelo ofensor. Ele já o havia perdoado de coração. Mas ele queria que a disciplina fosse aplicada, até que houvesse arrependimento, antes de o irmão ser restaurado.
Os crucificadores não pediram o perdão que Jesus lhes deu. Os assassinos não pediram o perdão de Estêvão. E Paulo perdoou o homem de coração. Ele não estava disposto a deixar aquele homem roubar sua alegria, roubar sua utilidade. Ele não estava disposto a permitir que aquele homem se tornasse a questão reinante na igreja, para que a igreja perpetuasse sua tristeza. Certamente, ele se lembrou das palavras de Jesus, quando Pedro lhe disse: “Quantas vezes devo perdoar, sete?” E Jesus disse: “Setenta vezes sete”.
O EXEMPLO DE JOSÉ
Acho que uma das mais belas ilustrações desse tipo de perdão, que não tem ego ferido envolvido, é o caso de José. Ele tinha, na verdade, alguns irmãos traiçoeiros. Eles o odiavam, porque ele era o favorito do pai. Eles o queriam morto. Eles acabaram vendendo-o para uma caravana que vagava pelo deserto, pensando que ele iria para a escravidão egípcia e nunca mais teriam que lidar com ele na vida. Venderam seu próprio irmão.
Então, em Gênesis 45, eles encontraram José novamente. Simplesmente incrível! Eles desceram ao Egito para comprar comida, e José disse a seus irmãos, Gênesis 45:4: “Peço-vos, chegai-vos a mim…”. Agora, quem era José? Primeiro Ministro do Egito. Eles se aproximaram, e ele disse: “Eu sou José vosso irmão, a quem vendestes para o Egito.”
E vocês imaginam que a primeira reação deles foi: “Ai, ai, vamos sair daqui. Esse cara deve ter reprimido sua vingança por anos!” Então, José diz, no verso 5: “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós.”
José os estava dizendo para não ficarem entristecidos, versos 5 e 6:
Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento.
Em outras palavras, José estava lhes dizendo:
Vejam, foi Deus o tempo todo em Sua providência que me trouxe aqui para que eu pudesse alimentá-los quando vocês ficassem com fome.
Onde está o ego nisso? Onde está o “pobre de mim”? Onde está a miséria? Onde está a vingança? Não há nada disso em José.
Eu digo a você que José foi um homem piedoso. Ele reconhecia que não foram seus irmãos que o enviaram ao Egito, mas Deus. E Deus o fez pai de Faraó, senhor de toda a sua casa e governante de toda a terra do Egito.
Gênesis 45
9 Apressai-vos, e subi a meu pai, e dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho José: Deus me tem posto por senhor em toda a terra do Egito; desce a mim, e não te demores;
10 E habitarás na terra de Gósen, e estarás perto de mim, tu e os teus filhos, e os filhos dos teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e tudo o que tens.
11 E ali te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças de pobreza, tu e tua casa, e tudo o que tens.
12 E eis que vossos olhos, e os olhos de meu irmão Benjamim, veem que é minha boca que vos fala.
13 E fazei saber a meu pai toda a minha glória no Egito, e tudo o que tendes visto, e apressai-vos a fazer descer meu pai para cá.
14 E lançou-se ao pescoço de Benjamim seu irmão, e chorou; e Benjamim chorou também ao seu pescoço.
15 E beijou a todos os seus irmãos, e chorou sobre eles; e depois seus irmãos falaram com ele.
Essa é uma cena absolutamente magnífica de perdão, não é? Desprezo total pela autocomiseração. O capítulo 50 de Gênesis encerra a história, após a morte de Jacó:
Gênesis 50
18 Depois vieram também seus irmãos, e prostraram-se diante dele, e disseram: Eis-nos aqui por teus servos.
19 E José lhes disse: Não temais; porventura estou eu em lugar de Deus?
20 Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida. 21 Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos filhos. Assim os consolou, e falou segundo o coração deles.
O perdão nos liberta das amargas correntes do orgulho, autopiedade, vingança que levam ao desespero e à alienação, relacionamentos rompidos e perda de alegria. O perdão nos liberta do orgulho.
2. O PERDÃO EXIBE MISERICÓRDIA
Em segundo lugar, o perdão exibe misericórdia. Este versículo de 2 Coríntios 2 fornece um pouco mais de detalhes para nós, versículo 6: “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos.” Você sabe o que isso significa? Que aquele homem teve disciplina suficiente. Paulo os estava exortando a demonstrar misericórdia, pois todos recebemos misericórdia.
Lembre-se da parábola que Jesus contou sobre o homem que foi perdoado da dívida impagável em Mateus 18, começando ali no versículo 23. Um homem tinha uma dívida incrível e o rei o perdoou. Então, ele saiu, encontrou com um sujeito que lhe devia muito pouco, usou de violência para com ele e o jogou na prisão. Algo impensável.
E o rei o confrontou e disse, versos 32 e 33: “Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu conservo, como eu também tive misericórdia de ti?”
Paulo estava dizendo aos coríntios que a disciplina aplicada àquele irmão já tinha sido suficiente. Isso é uma evidência para mim de que o homem confessou seu pecado e se arrependeu.
Agora, veja a palavra “repreensão” no verso 6. Ela é a palavra “epitimia”, em grego. É usada apenas aqui no Novo Testamento. É uma palavra, entretanto, usada fora das Escrituras nos escritos gregos. Refere-se a uma pena legal, uma pena que seria decretada por um tribunal de justiça. Refere-se também a sanções comerciais que seriam oficialmente aplicadas a uma cidade ou nação.
Portanto, não indica vingança pessoal, nem infligir dor a alguém que me ofendeu. A palavra “epitimia” não se refere a algum tipo de atitude vingativa, mas sim a uma penalidade oficial. Qual é o significado disso? É uma boa indicação de que os coríntios haviam passado pelo devido processo, que Paulo havia dito a eles que precisavam ir até o homem, confrontá-lo, ir com as duas ou três testemunhas, contar para a igreja, e assim por diante.
Esse é o devido processo para lidar com esse tipo de situação na igreja (Mateus 18). E se aquele homem não se arrependesse, seria expulso da comunhão. Eu acredito, então, que o uso da palavra “epitimia” é uma indicação de que havia um caráter oficial e formal no que eles fizeram.
Além disso, a expressão “feita por muitos”, no verso 6, indica que a igreja se envolveu na situação e eles impuseram ao homem uma pena justa que seria a excomunhão. Ele, então, teria que se ausentar da comunhão dos santos e da mesa do Senhor.
Eles haviam seguido o devido processo, formal e oficialmente, colocando aquele homem sob pena. Isso não é vingança. Essa não é uma atitude vingativa, é uma resposta oficial e adequada feita formalmente pela igreja com relação ao pecado de alguém.
Paulo falou, em 2 Tessalonicenses 3, versículo 6: “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu.” A “tradição” aí se refere à revelação de Deus.
O verso 14 continua: “Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.” Os coríntios estavam seguindo esse tipo de padrão. Eles estavam fazendo o que os rabinos chamavam de “amarração”. Os rabinos diziam à pessoa que havia pecado: “seus pecados estão ligados a você.”
Jesus disse naquela passagem em Mateus 18: “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu”. Quando um homem não se arrepende, e você diz que ele está amarrado aos seus pecados, o céu está afirmando isso. E Paulo está afirmando que essa é a coisa certa a se fazer. Os coríntios deveriam lidar com aquele homem. Ele teria que ser confrontado sobre seu pecado. E isso foi exatamente o que eles fizeram.
Paulo tinha até dado a eles, na primeira carta, algumas instruções sobre como fazer isso com relação a outro caso. Veja 1 Coríntios, capítulo 5. Alguns diriam que este é o mesmo homem. Eu penso que não. Creio que se trata de um problema completamente diferente aqui.
Em 1 Coríntios, creio que Paulo está tratando acerca de um homem que havia cometido pecado sexual. Ele estava envolvido em uma relação sexual com a esposa de seu pai, o que talvez seja a maneira de indicar que fosse sua madrasta. Era uma relação incestuosa. Mas a igreja não estava lidando com esse pecado. A igreja era arrogante, não estava de luto por isso.
E então, Paulo disse que eles tinham que lidar com isso, eles tinham que levar o caso perante a igreja. Assim, Paulo os admoesta, em 1 Coríntios 5:4-5: “Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.”
Em outras palavras, Paulo os estava exortando a que publicamente, no devido processo, na vida da igreja, quando eles se reunissem, deveriam lidar com aquele pecador. Isso significa que o tal homem já havia passado pelo primeiro passo, um confronto privado, pelo segundo passo, das duas ou três testemunhas.
E agora, precisava ser levado publicamente à igreja. Eles sabiam como fazer isso. Paulo continuou dizendo, no verso 7: “Purificai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.”
Portanto, volte ao versículo 6 de 2 Coríntios 2: “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos.” Ou seja, que foi decretada pela maioria. A congregação, então, agiu oficialmente, muitos se reuniram e afirmaram que aquele homem precisava ser expulso da igreja por seu pecado. Agora, lembre-se, eu disse a você que talvez houvesse o “partido dos de Paulo” que estava dizendo: “Queremos mais, queremos mais, queremos mais, isso não é suficiente!”
Mas, ouça com atenção: Paulo os instruiu que o processo de disciplina deveria ser aplicado, mas quando ele cumpriu seu propósito, Paulo estava ansioso para que a igreja liberasse aquele irmão da disciplina. Aquele homem se arrependeu, foi libertado de seu pecado, e tudo o que é desligado no céu deve ser desligado na Terra também. Se ele confessou e se arrependeu, ele foi desligado de seu pecado, e a igreja deveria desligá-lo de seu pecado também.
A igreja deve fazer o trabalho de ligar e o trabalho de soltar. Era a hora da misericórdia. Isso é o que Paulo está dizendo. Você, que vive pela misericórdia, dê misericórdia. Gálatas 6:1 nos dá esse princípio de uma maneira simples e direta:
Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
A lei de Cristo é a lei do amor. E a lei do amor diz que você vai para o irmão que está na transgressão e quando ele vier ao arrependimento, você o restaura em um espírito de gentileza, percebendo que você também pode estar na mesma situação.
Você não deve ser rude, desamoroso, você não o deve intimidar, não deve colocá-lo sob sete anos de penitência, ou uma vida inteira de penitência, você não o obrigará a fazer algo a si mesmo para se flagelar para de alguma forma expiar seu pecado. Você aceita seu arrependimento. Isso é o suficiente, é o fim do problema.
Em Efésios, capítulo 4, verso 32, temos uma ilustração muito clara: “Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros…”. E como fazemos isso? O verso continua: “como também Deus vos perdoou em Cristo.”
Deixe-me fazer uma pergunta: como você foi perdoado em Cristo? Você veio a Deus e disse: “Eu quero perdão”. E Deus disse a você: “tudo bem, faça sete anos de penitência e eu darei perdão a você… bem, Eu gostaria de te perdoar, mas você não sentiu dor o suficiente ainda… vou fazer você sofrer um pouco e depois vou te perdoar…”.
Foi assim que Deus te tratou? Não! Quando você veio com o coração contrito e quebrantado, arrependido do seu pecado, Deus te deu o perdão instantâneo, completo, total, na hora, certo? E é exatamente assim que devemos perdoar uns aos outros. Não há responsabilidades residuais.
Colossenses, capítulo 3, no versículo 13, novamente enfatiza o mesmo: “Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” Da mesma maneira que Deus perdoa, de forma completa.
Hebreus, capítulo 12:11 diz:
E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.
Isto é verdade. Quando a disciplina traz justiça, os próximos versículos dizem o resultado:
Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado. (Hebreus 11: 12-13)
O que Paulo estava instruindo aos coríntios era que voltassem para o caminho certo, trouxessem aquele homem de volta à comunhão, dessem-lhe força, aceitação, que pegassem o membro que estava fora de articulação, colocassem-o de volta na articulação, curassem-o, buscassem a paz e nunca deixassem uma raiz de amargura se desenvolver.
Quão semelhantes a Deus, quão semelhantes a Cristo somos quando perdoamos! Quando o homem entrou na presença do rei, implorou e disse: “Eu vou pagar tudo que eu devo a você”, na parábola de Mateus 18, “e o rei por misericórdia disse-lhe: ‘Eu te perdoo, Eu te perdoo ‘”, temos aí uma imagem do perdão de Deus. O homem tinha uma dívida impagável com o rei. Ele não poderia paga-la em mil vidas.
Então, ele saiu e encontrou um homem que lhe devia um pouco de dinheiro e o estrangulou e jogou na prisão. O rei o confrontou e o entregou aos disciplinadores, até que ele aprendesse a perdoar.
Você recebeu misericórdia, aprenda a dá-la. A coisa maravilhosa sobre o perdão que vemos nesses dois primeiros versículos de 2 Coríntios é que ele desvia a autopiedade, o orgulho, e mostra misericórdia. Isso é muito divino. Isso deve ser característico de cada um de nós.
Continuaremos na próxima vez. Vamos orar.
Pai, reconhecemos que o Senhor nos perdoou todos os nossos pecados, todas as nossas ofensas, que o Senhor nos amou enquanto ainda éramos pecadores e inimigos. E decidiu nos perdoar antes mesmo que pedíssemos. Oh Senhor, obrigado por aquela graça que iniciou a reconciliação. Senhor, ajuda-nos a ser como Tu, a sermos, como disse o apóstolo Paulo, verdadeiros filhos do Pai; como disse João, se dissermos que permanecemos em Cristo, devemos andar como Ele andou. Tu és um Deus que perdoa. Cristo é um Senhor que perdoa. Encha nossos corações com perdão. Que sejamos impossíveis de sermos ofendidos pessoalmente. Que não tenhamos autopiedade, nem rancor, nem amargura.
Senhor, isso precisa acontecer em alguns casamentos hoje, algum perdão de coração precisa ser dado e algum arrependimento precisa acontecer. Precisa acontecer em algumas famílias, entre pais e filhos, onde existe amargura, porque o orgulho foi ferido e o orgulho está chafurdando em sua miséria. Isso precisa acontecer em algumas famílias extensas, onde os rancores são mantidos e perpetuados.
Isso precisa acontecer entre algumas irmãs e irmãos em Cristo, pois o ressentimento está ferindo a igreja, o Senhor está sendo entristecido, e é um mau testemunho. Senhor, livra-nos da escravidão de um coração que não perdoa. Livra-nos do orgulho ferido e de sermos rudes e sem misericórdia, pois tão desesperadamente precisamos de misericórdia e a recebemos tão livremente. Que sejamos conhecidos como uma igreja de pessoas que perdoam. Vamos ofender. O homem que não ofende é um homem perfeito, e nenhum de nós é perfeito. Mas uma ofensa perdoada é encoberta, arrependida e removida.
Pai, apenas peço que nos faça perdoar como o Senhor nos perdoou, para que possamos conhecer a alegria e não a tristeza, para que nossa alegria seja a bem-aventurança de nossa própria experiência e a prova de nossa transformação para aqueles que nos observam. Oramos em nome de Cristo. Amém.
Esta série contém 2 sermões:
Leia também:
Este texto é uma síntese do sermão “The Blessings of Forgiveness, Part 1”, de John MacArthur, em 27/02/1994.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/47-8
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno