A Vida escondida do grão de trigo
“Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”
Col. 3:3
“Onde eu estiver, ali estará também o meu servo”
João 12:26
“Onde eu estiver, eles… Comigo”
João 17:24
Deus hoje está ensinando a muitos dos Seus filhos os mistérios do reino, como figuras da semente enterrada fora da vista, contudo vivendo com Cristo em Deus, no poder de uma vida indissolúvel. Somente na medida em que eles “odeiam” suas “próprias vidas”, a fim de ter parte na vida do Senhor, experimentam o “poder da era vindoura” e têm o penhor da sua herança, um punhado da mesma vida que deve pertencer-lhes em toda a sua plenitude, quando “o que é mortal” for “tragado pela vida”. Unidos a Cristo, escondidos em Deus, habitam na fonte de tudo o que é precioso e em intercessão junto ao Trono exercitam, mesmo agora, a “autoridade sobre as nações”, e o poder “sobre todo o poder do inimigo”, pois “da boca das crianças … suscitaste força … para fazeres emudecer o inimigo e o vingador”. Eles produzem “muito fruto” por suportar viver em escondida união com o Excelso Senhor. Escondem-se nEle enquanto, de acordo com Sua promessa, Ele vive neles e glorifica Seu Pai através deles, produzindo fruto que permanecerá e subsistirá à prova de fogo no julgamento.
Em Mateus 6, as características da vida escondida no aspecto da oração são desvendadas por Ele, que é a própria personificação de tudo o que ensina.
É oração sem pensar no que os outros pensam. (Mateus 6:5).
É oração a porta fechada com Deus, seja em particular ou em público, pois os escondidos de Deus estão na câmara interna de Sua Presença no momento em que se aproximam Dele, onde quer que seja, eles não vêem e ouvem mais ninguém além de Deus. (Mat. 6:6).
É oração não tanto de linguagem quanto de coração. Não precisam usar “vãs repetições”, pois se eles sabem que Ele ouve, sabem que têm suas petições colocadas diante dEle (Mat. 6:7).
É oração com certeza de resposta, pois falam a um Pai Que conhece suas necessidades, e, “quanto mais vosso Pai … dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mat. 6:8).
É oração precisa e objetiva, pois o Filho de Deus conheceu o coração de Seu Pai, e ensinou a Seus filhos quão poucas eram as palavras necessárias para se obter uma resposta, “Portanto, vós orareis assim” (Mat. 6:9).
É a oração de uma criança para um Pai, e em união com as outras crianças, “Pai Nosso… no céu” (Mat. 6:9).
É oração que põe por primeiro a glória e o reino de Deus, antes de todo interesse pessoal. “Santificado seja o Teu Nome, venha o Teu Reino” (Mat. 6:9-10).
É oração com uma vontade rendida à vontade de Deus, a ser feita neles tão implícita e rapidamente como é feita no céu (Mat. 6:10).
É oração, não por luxúrias, mas por necessidades. “O pão nosso de cada dia”, que significa uma vida de simplicidade, e contentamento com “nos dá hoje” (Mat. 6:11).
É oração no espírito de gratidão que perdoa, “assim como nós perdoamos nossos devedores”, portanto podemos pedir a Ele que perdoe nossas dívidas (Mat. 6:12).
É oração em consciente dependência do mantimento de Deus e no conhecimento das terríveis forças do mal e do maligno, ordenadas contra os filhos do Pai celestial no mundo pelos “dominadores deste mundo tenebroso” (Mat. 6:13).
Em resumo, a vida escondida é somente a vida de uma criancinha que vive na presença do seu Pai, desejando a vontade do seu Pai, dependendo da proteção do seu Pai contra todos os seus inimigos, mostrando o espírito do seu Pai a todos os que estão em redor.
Além disso, à alma que habita com Cristo em Deus é dado o ‘maná escondido’ para o sustento da vida interior. “Ao que vencer darei do maná escondido” (Apoc. 2:17). “Quem de Mim se alimenta, por Mim viverá” (João 6:57).
‘Sabedoria escondida’ que é retida pelo sábio. “A sabedoria de Deus… a sabedoria escondida… revelada… pelo Seu Espírito” (I Cor. 2:7-10).
“…Escondeste… aos sábios e entendidos, e as revelaste… aos pequeninos” (Mat. 11:25).
‘Riquezas escondidas’ somente adquiridas em tempos de provação. “Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas” (Is. 45:3).
“Conheço a tua … tribulação … mas tu és rico” (Ap. 2:9).
Alimentado com o maná escondido provido somente na mesa do Pai; ensinado com a sabedoria escondida que os príncipes deste mundo não conhecem; presenteado com a sabedoria escondida que só pode ser adquirida em tempos de provação e trevas, certamente é verdade que para aqueles que amam a Deus, “todas as coisas cooperam para o bem” (Rom. 8:28), mesmo para aqueles que Ele tem predestinado para serem conforme à imagem de Seu Filho, o primeiro dentre muitos irmãos.
Somente através das provações podemos entrar na profunda e plena vida em Deus. Somente podemos conhecer nosso Deus e Sua abundante graça quando Ele nos conduz por circunstâncias que são ‘bem além do limite possível’, como alguém disse uma vez. Cada ponto ‘ impossível ‘ simplesmente nos lança sobre o Deus em Quem estamos ocultos. “Profundo, habite profundo”, disse o profeta Ezequiel. Como poderemos a menos que não tenhamos outra fonte que não seja Deus, nem outro refúgio além Dele?
É habitando no profundo do coração do seu Deus que as almas refugiadas estão assim ‘escondidas’ das línguas acusadoras (Sal. 31:20); ‘escondidas’ no dia da adversidade (Sal. 27:5); ‘escondidas’ da tempestade (Is. 4:6); ‘escondidas’ no secreto da presença de Deus (Sal. 31:20); ‘escondidas’ na sombra de Suas asas (Sal. 17:8); ‘escondidas’, sim, escondidas atrás do Senhor (Sal. 91:1).
Tais passagens falam de uma vida ambientalizada pelo próprio Deus, pois “Nele vivemos e nos movemos e somos”. Finalmente, considerando o serviço externo desses escondidos, eles não ‘correm’ mais sem que sejam ‘enviados’, pois seu serviço – assim como sua vida – está mudado. Seu lugar agora é na mão de Deus. “Na sombra da Sua mão me cobriu; pôs-me como uma flecha polida, e me escondeu na Sua aljava” (Is. 49:2).
Assim, as almas que estão escondidas com Cristo em Deus estão sob Seu pleno controle. Ele as mantém por perto até que chegue o momento certo de as enviar avante como “flechas polidas”, silenciosas e certeiras. Quando Deus empunha a arma Ele acerta o alvo, pois conhece o ponto para o qual mirar no centro da Alma Humana.
Quando não estão em atividade são mantidas escondidas no Seu tremor, sempre prontas em Sua mão. Flechas polidas, ó, elas precisam de muita limpeza para remover sua aspereza, mas o Obreiro Mestre sabe como preparar Seus instrumentos para Seu uso.
As “flechas polidas” são guardadas para uma obra oculta, aguardando no santuário, adentrando no conselho de Deus, prontas a fazer Sua vontade.
“Verdadeiramente tu és o Deus misterioso” (Is. 45:15). “Ali está o esconderijo de Sua força” (Hab. 3:4), nos fala que a mais profunda obra de Deus é uma obra escondida. Ele está preparando um reino escondido, enquanto permite ao reino deste mundo subsistir até que tudo esteja pronto.
“Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído… ele esmiuçará e consumirá todos estes reinos” (Dan. 2:44).
Ele também está edificando um templo escondido, para a habitação de Deus pelo Espírito, e preparando uma Noiva escondida para compartilhar o trono de Seu Filho. Sim, nesta dispensação Ele continua sendo um Deus que Se oculta, e há o Seu poder escondido enquanto Ele silenciosamente opera Seus propósitos, até o dia em que “Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então seremos manifestados com Ele em glória” (Col 3:4).
“Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rom. 11:33).
“… Escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, pois assim foi do Teu agrado” (Mat. 11:25-26).
J.P. Lewis