A Tragédia da Incredulidade
Seguindo nessa trilha no Evangelho de Marcos, chegamos ao capítulo 6. Veremos agora os versículos de 1 a 6.
Marcos 6
1 Tendo Jesus partido dali, foi para a sua terra, e os seus discípulos o acompanharam.
2 Chegando o sábado, passou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se maravilhavam, dizendo: Donde vêm a este estas coisas? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos?
3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
4 Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa.
5 Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
6 Admirou-se da incredulidade deles. Contudo, percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar.
A Bíblia não diz que Jesus ficou surpreso ou pasmo, exceto por duas vezes: aqui, e em uma ocasião com a fé de um centurião romano que intercedia por seu servo (Mateus 5:8:13). Aqui Jesus ficou pasmo com a incredulidade da cidade em que passou a maior parte de sua vida, e quanto ao centurião romano, Ele ficou maravilhado com sua fé.
Pensamos na fé como algo poderoso, mas a incredulidade também é poderosa. O poder da descrença é tão grande que se estende por toda a eternidade. É uma força destruidora.
- Eva descreu da Palavra de Deus e levou toda a raça humana a uma maldição e julgamento eterno.
- Noé foi um pregador da justiça, alertando a um mundo que o descreu e foi destruído pelo Dilúvio, de onde somente Noé e sua família escaparam.
- Foi a descrença da parte de Israel no deserto que os fez morrer ali antes mesmo de entrar na Terra Prometida.
- E a história da descrença que continuou em Israel, mesmo depois que eles entraram na terra de Canaã, é clara no Antigo Testamento. Eles foram julgados por Deus por sua apostasia e descrença.
- A incredulidade de Arão levou ao massacre de três mil pessoas (Êxodo 32)
- A descrença de Moisés o manteve fora da Terra Prometida (Deuteronômio 32:48-52)
- A incredulidade de Acã, resultando em sua desobediência, ocasionou a execução de si mesmo e de toda a sua família (Josué 7:19-24).
- A descrença de Senaqueribe, o rei gentio, levou ao seu assassinato por seus próprios filhos, depois que um anjo do Senhor massacrou 185.000 soldados de suas tropas. (Isaias 37:36-38),
No Novo Testamento, temos a incredulidade de Judas, que o levou ao suicídio e ao castigo eterno. Os fariseus e os escribas foram incrédulos até o fim, com poucas exceções. E como todos os outros incrédulos, sua incredulidade resultou em sua morte em seus pecados, e um eternidade de trevas.
O Novo Testamento tem muito a dizer sobre a fé e a credulidade, mas tem muito a dizer igualmente sobre a descrença e a incredulidade. Em João 3:17-18, Jesus diz:
Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Foi a descrença que trouxe maldição sobre toda a humanidade, que rompeu as fontes do abismo, trouxe a destruição do Dilúvio e que escraviza as pessoas e as manda para o inferno. Em João 8:21,23-24, Jesus diz aos religiosos incrédulos:
Vou retirar-me, e vós me procurareis, mas perecereis no vosso pecado; para onde eu vou vós não podeis ir. Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou. Por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que Eu Sou, morrereis nos vossos pecados.
O capítulo 2 de II Tessalonicenses adverte sobre a devastadora e eterna consequência da descrença. Romanos 11:20 fala sobre a horrível tragédia da descrença de Israel. Apocalipse 21:8 diz que nenhum incrédulo jamais entrará no céu. Esse assunto está espalhado em todo Novo Testamento. E o texto de Marcos 6:1-6, que vimos agora, acho que talvez mais do que em qualquer outro lugar nos Evangelhos, mostra o poder da incredulidade.
O Evangelho de Marcos começa com uma introdução do propósito do livro: falar sobre o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo. E então, vimos imediatamente que Sua vinda era o cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento. Quando o Evangelho de Marcos começa a se desdobrar, vimos Jesus pregando o evangelho no primeiro capítulo e chamando Seus discípulos. E então, no segundo e no terceiro capítulos, ensinando e curando as pessoas.
E assim continua, até a conclusão dos Doze que serão identificados como os futuros pregadores do evangelho. Nos capítulos 4 e 5 vemos mais pregação, ensino, milagres e libertação de demônios. No capítulo 5, vimos Jesus ressuscitando a filha morta de Jairo e curando uma mulher que tinha um problema de sangramento por 12 anos.
Marcos 5:42 diz que todos ficaram perplexos diante de todos os sinais operados por Jesus. É uma espécie de resumo geral de como Jesus foi recebido na Galileia: curiosidade e espanto. Isso não é fé, arrependimento e salvação. Havia interesses, curiosidades, caçadores de emoção e buscadores de curas. E eles também ficaram, literalmente, surpresos com o ensino de Jesus.
A atitude geral foi de aceitação superficial. Muitos nas multidões da Galileia se encaixavam na parábola dos solos, no caso do solo rochoso e do solo com ervas daninhas. A palavra entra, há uma resposta emocional imediata e aparenta vida, mas não há nenhuma raiz e nenhum fruto.
A hostilidade aberta já estava em movimento com os líderes religiosos de Israel. Eles já estavam tramando a morte de Jesus desde o início de Seu ministério na Galileia. Mas, na maioria das vezes, as multidões estavam aceitando Jesus, porque queriam os benefícios de Seu poder. Porém agora, quando Ele volta para Sua cidade, Nazaré, nenhuma grande multidão apareceu lá. Ele, desta vez, está surpreso. Normalmente era a multidão que ficava pasma, aqui é o Senhor que fica pasmo.
Jesus não teve nenhuma aceitação na cidade em que viveu a maior parte de sua vida, nem mesmo de Sua família. A atitude de Sua família é transmitida a nós em Marcos 3:21 que diz: “quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si”.
Jesus havia crescido ali. Morou lá por trinta anos como um carpinteiro silencioso. Ele não tinha feito milagres espantosos em Nazaré, mas a palavra sobre Seus milagres estava correndo solta por toda parte. Havia um ceticismo total ali. João 7:5 diz que “nem mesmo os seus irmãos criam nele”.
Lucas 4 relata uma visita anterior de Jesus a Nazaré, quando Ele estava começando Seu ministério na Galileia. Ele estava ensinando nas sinagogas e é admirado por todos. Mas, quando Ele entrou na sinagoga no sábado e levantou-Se para ler, abriu o livro do profeta Isaías e leu profecias messiânicas.
Ele então fechou o livro, devolveu-o e sentou-se. Todos estavam olhando para Ele. Então, Jesus lhes disse: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lucas 4:21). Ou seja, Ele disse, em outras palavras: “Eu sou o Messias, e estou aqui para pregar o evangelho”. E aí todos ficaram maravilhados por Suas palavras e perguntavam, confusos: “Não é este o filho de José?” (Lucas 4:22). E ali Jesus se depara com uma rejeição visível, e diz:
Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. (Lucas 4:25-27)
A reação deles foi de total fúria contra Jesus. E então, ocorreu a primeira tentativa de assassiná-Lo, em Sua própria cidade:
Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo. (Lucas 4:28,29)
Essa foi a atitude de Nazaré para com Jesus. Marcos 6:1-6 registra Sua segunda e última visita. Nada mudou na atitude de Nazaré, exceto que neste momento eles não tentaram matá-Lo. Trata-se, porém, da rejeição final de Nazaré contra Jesus. É uma espécie de amostra de rejeição final em Jerusalém por toda a nação.
A descrença é realmente poderosa. É incrível o que a descrença faz, mesmo em meio a todas as evidências da divindade de Cristo. É tão surpreendente, que chegou a deixar Jesus pasmo.
E aí, chegamos ao versículo 6: “Admirou-se da incredulidade deles”. O verbo traduzido como “admirou-se” aparece 30 vezes no Novo Testamento. Por exemplo, é usado para descrever como Pilatos ficou surpreendido e maravilhado pelas respostas de Jesus a suas perguntas (Marcos 15:5).
O que impressiona Jesus, entretanto, neste caso, é a incredulidade do povo em face de uma revelação tão poderosa. Isso fala sobre a tragédia da responsabilidade humana. Fala do fato de que o pecador tem o dever de responder ao evangelho, e é culpado por sua própria descrença. Em função dessa responsabilidade humana, Jesus disse:
Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. (João 5:39,40)
O pecador é incrédulo e não deseja vir a Jesus, e assume a responsabilidade por essa falta de vontade e por essa incredulidade. Jesus disse: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (João 6:29). A fé é dada por Deus a seus escolhidos, mas todos os ímpios são responsáveis por sua incredulidade.
Bem, vamos voltar ao início da história. Jesus saiu dali, ou seja, de Cafarnaum, onde Ele havia baseado Seu ministério na Galileia. Neste ponto, Ele sai e nunca mais volta para se restabelecer lá. Não é mais Sua casa, não é mais o centro de Seu ministério na Galileia. Apenas ocasionalmente, Ele visitou o local, e apenas de passagem. Cafarnaum já tinha ouvido e visto o suficiente para ser responsável por crer.
Eles não precisavam de mais informações e revelação. E, além disso, a crescente hostilidade dos fariseus e escribas tornava perigoso para Jesus ir até lá. Havia também a proximidade da residência de Herodes em Tiberíades, não muito longe. Além disso, Cafarnaum estava condenada. Em Mateus 11:23-24, Jesus profere duro juízo contra Cafarnaum:
Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo.
Jesus saiu de Cafarnaum e veio para Nazaré, a cidade onde Ele cresceu, por isso Ele foi chamado de nazareno (Lucas 18:37; João 18:7; Marcos 14:67, Mateus 2:23 etc.) Nazaré ficava a 41 km de Cafarnaum.
Nazaré era uma pequena cidade que tinha em torno de 500 habitantes. Era tão obscura, que não é mencionada no Antigo Testamento e nem em qualquer literatura judaica. Ali todos se conheciam, e mesmo assim, na primeira visita de Jesus a Nazaré, eles tentaram matá-Lo.
Seus discípulos O seguiram, eles aprenderiam mais uma lição sobre rejeições. A propósito, na sequência de Marcos 6, Jesus os envia para o primeiro teste, e eles vão experimentar a rejeição (versos 7 a 13). Então, aqui está uma oportunidade para eles verem a lição em primeira mão.
Jesus estava ali por causa de Seu ministério público. Nenhuma grande multidão apareceu em Nazaré. Não havia interesse por Jesus. É possível que Sua família tenha convencido a cidade de que Ele era um louco.
No entanto, há pelo menos curiosidade sobre Ele. Jesus era reconhecido como um rabino, e na sinagoga Ele recebeu o direito costumeiro de falar como um rabino visitante. Eles não puderam resistir a dar-Lhe esta oportunidade, pois sabiam do impacto de Suas palavras.
E não sabemos sobre o assunto que Jesus falou, mas sabemos o resultado: “muitos, ouvindo-o, se maravilhavam, dizendo: De onde lhe vem tudo isso? Que sabedoria é esta que lhe foi dada” (Marcos 6:2). O sentido do texto grego é que eles ficaram atônitos, surpreendidos.
- Quando os guardas do templo tentaram prender Jesus, voltaram também atônitos dizendo: “Nenhum homem jamais falou como este Homem” (João 7:46).
- No fim do sermão do monte, Mateus registra a reação das pessoas: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas”. (Mateus 7:28,29)
Quando Jesus foi a Jerusalém na festa dos tabernáculos, Ele ensinou ao povo, e João registra algo tremendo:
Então, os judeus se maravilhavam e diziam: Como foi que este homem adquiriu tanta instrução, sem ter estudado? Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. (João 7:15,16)
Jesus nunca teve um rabino para o orientar, nunca fez parte da estrutura religiosa dos mestres da lei, nunca estudou alguma coisa com eles. Ele era apenas um nada para a estrutura religiosa. O povo de Nazaré ficou mais uma vez surpreso com as palavras de Jesus, mas demonstraram total descrença.
Vamos ver quatro aspectos da incredulidade.
1. A incredulidade obscurece o óbvio
Você confronta as pessoas com o evangelho de Cristo, mostrando o relato do Novo Testamento, e inevitavelmente, os incrédulos de coração duro encontram uma maneira de obscurecer tudo isso.
Marcos 6
2 Chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos, ouvindo-o, se maravilhavam, dizendo: — De onde lhe vem tudo isso? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos?
Há aqui uma postura crítica e cética das pessoas. Eles estavam preocupados em saber de onde vinha aquilo tudo, pois eles sabiam toda a estrutura do ensino rabínico. A pergunta era: “Qual a origem disso tudo”?
Só havia uma resposta sensata: tudo procedia de Deus, pois ali estava o Messias, o Filho de Deus, o cumprimento das profecias. Não havia necessidade de questionamentos. Porém, eles não creram e, mais à frente, a conclusão da nação era que tudo procedia de Satanás (Marcos 3:22; Lucas 11:15 etc.). O Evangelho de João registra alguns diálogos de Jesus com os escribas e fariseus:
[Disse-lhe Jesus] Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus. Responderam, pois, os judeus e lhe disseram: Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio? (João 8:47-48).
Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço testemunham a meu respeito de que o Pai me enviou. (João 5:36)
Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis; mas, se faço, e não me credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai (João 10:37,38)
Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. (João 14:10,11)
Jesus não somente realizava obras que anunciavam ser Ele o Filho de Deus, como também sempre declarou qual a origem de Suas palavras, sabedoria e sinais. Ninguém nunca negou Suas obras. Os próprios líderes religiosos, quando tramavam Sua morte, declararam:
Então, os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio; e disseram: Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação. (João 11:47,48)
Era óbvio que Ele tinha poder divino e ensinava a verdade divina. Mas a incredulidade obscurece o óbvio. As perguntas tolas sobre qual era a origem da sabedoria e obras de Jesus evidenciam seu ceticismo. Em outras palavras, eles diziam: “Onde este sujeito conseguiu essas coisas?”. O sentido grego no texto é de desdém.
2. A incredulidade não apenas obscurece o óbvio, mas eleva o irrelevante
Marcos 6
3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
O que isso tem a ver com qualquer coisa? Eles já haviam decidido rejeitá-Lo, e indiscriminadamente O atacaram, desdenhando de Sua família, que eram pessoas muito comuns. Eles certamente pensaram: “Como algo de bom pode sair de uma família insignificante? Ele vem de uma cidade obscura e de uma família obscura. Ele não pode ser quem diz que é”.
Eles falaram com desdém sobre Jesus: “Não é ele o carpinteiro?”. No contexto da época e, de acordo com a palavra grega usada, era uma forma de dizer que Ele não fazia parte da elite, do clero.
Foram ainda mais fundo, dizendo: “filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs?”. Em Lucas 4:22, na primeira vez que Jesus voltou a Nazaré, eles dizem: “Não é este o Filho de José?”, e referir-se a alguém como filho do pai era uma forma respeitável. Mas, aqui Ele é chamado de Filho de Maria.
Alguns especularam que talvez José já estivesse morrido. Mesmo assim, seria respeitável O tratar genealogicamente como o filho de José. É muito possível que eles o estivessem chamando de Filho de Maria, insinuando que ela fornicou para concebê-Lo. Em Joao 8:41, os líderes religiosos fizeram essa acusação de forma aberta, tratando Jesus como um filho ilegítimo e de pai desconhecido.
Eles citaram Seus irmãos Tiago (futuro líder da igreja em Jerusalém e autor da carta de Tiago) e José, Judas e Simão (dos quais não temos informações). Citaram também que Ele tinha irmãs. Na verdade, todos eles eram meio irmãos de Jesus, pois Ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre de Maria, os demais eram filhos de José e Maria.
3. A incredulidade: ela atinge diretamente o mensageiro
“Eles se escandalizaram com Ele”. Era uma blasfêmia absoluta em suas mentes que Ele afirmasse ser Deus, o Filho de Deus. Isso era escandaloso. Por isso, Romanos 9:33 diz: “Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido”.
Repetidamente, a Escritura fala sobre como eles tropeçaram na realidade de Jesus e do evangelho. Essa é a atitude de um incrédulo quando pressionado pela verdade, quando a verdade é óbvia e relevante: ele tenta obscurecer o óbvio, ressaltar coisas irrelevante e atacar diretamente o mensageiro.
Jesus prepara Seus discípulos na próxima seção de Marcos. Mateus detalha algo muito importante que Jesus disse a eles:
Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios. (Mateus 10:16-18)
Assim age o mundo para com o mensageiro do evangelho: ridiculariza, mostra desdém, hostilidade, ferocidade, perseguição e até martírio como sua resposta à verdade. Em João 15:18-19 Jesus diz:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. (João 15:18,19)
Marcos 6
4 Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa.
Isso é muito duro por vezes. Alguém movido por amor, quer pregar o evangelho a um familiar, amigo, colega ou qualquer outra pessoa, e recebe o ódio ou o desprezo em troca.
Se é fato que José já teria morrido nessa época, Jesus tinha apenas uma pessoa naquela casa que cria Nele, que era Maria. Não Seus irmãos e irmãs, que passaram a crer apenas após a ressurreição, de acordo com Atos 1:14.
Jesus chama a Si mesmo de profeta, uma palavra muitas vezes usada na Escritura para se referir ao Messias. Em Deuteronômio 18:15, Moisés faz referência ao profeta definitivo que viria: “O Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás”. (Deuteronômio 18:15)
Depois que Jesus ressuscitou o filho morto da viúva de Naim, Lucas escreve: “Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós; e Deus visitou o seu povo” (Lucas 7:16).
Na conversa de dois discípulos na estrada de Emaús, após a morte e ressurreição de Jesus, um deles, sem saber que estava diante do Cristo ressurreto, disse: “O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo…” (Lucas 24:19).
As pessoas pensavam que Jesus era um profeta, alguém que falava por Deus. Mas em Sua própria cidade, Ele não teve nenhuma honra como profeta. Eles pensaram que Ele era um homem que havia perdido o juízo. Até mesmo sua própria família não cria Nele naquele momento.
A descrença obscurece o óbvio, eleva o irrelevante e ofende o mensageiro. E esse ressentimento vem do ódio à mensagem. Ele ataca o mensageiro. E, claro, Cristo viveu isso. Eles O mataram porque Ele foi o portador da mensagem mais maravilhosa já pregada.
4. A incredulidade rejeita o sobrenatural
Marcos 6
5 Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
Do que se trata? Foi um problema de poder? Não, foi um problema de propósito. Qual é o propósito dos milagres? Atestar a verdade. Se eles rejeitaram a verdade, não havia necessidade de milagres.
Jesus operou gigantescos sinais, ressuscitou mortos, curou todo tipo de enfermidades, libertou pessoas escravizadas por demônios, mostrou compaixão e viveu em plena sabedoria, em tudo provou ser o Messias, mas a nação decidiu sobre Ele:
- “Crucifica-o!” (Mc 15:13);
- “Fora com este! Solta-nos Barrabás!” (Lc 23:18);
- “Seja crucificado!… Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mt. 27:23,25);
- “Fora! Fora! Crucifica-o! Não temos rei, senão César!” (João 19:15).
E este é o desastre final da incredulidade: a marcha da humanidade para longe de Deus. O homem, então, fica por sua própria conta, torna-se servo de Satanás e do reino das trevas, e está a caminho do inferno eterno. Quão tola é a incredulidade! A descrença escolhe Satanás, o pecado e a morte eterna.
Por outro lado, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo tem abençoado Seu povo com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, em quem temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo (Ef. 1:3,7,12).
Bem, a incredulidade rejeita o sobrenatural, rejeita Deus. Nazaré pode ser adicionado a Corazim, Betsaida e Cafarnaum. Acabou. Com algumas exceções de crentes ali. E talvez Ele tenha feito alguns milagres apenas para deixar Seus discípulos saberem que não era um problema de poder, mas de propósito.
Isso foi o suficiente para que nosso Senhor dissesse: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem” (Mateus 7:6).
O incrédulo endurecido odeia a verdade, isola-se de todas as bênçãos sobrenaturais. Jesus simplesmente vira as costas e vai embora, para nunca mais voltar a Nazaré. O poder da incredulidade é um poder destruidor trágico.
É melhor viver sob o ataque do mundo, se esse é o preço para termos a bênção total de Deus na vida eterna. A incredulidade rejeita as bênçãos de Deus. E não é de admirar que Jesus tenha ficado tão chocado com a incredulidade de Nazaré. Vamos orar.
Obrigado por um tempo maravilhoso nesta manhã em adoração, Senhor. Obrigado por nos lembrar da magnificência do céu por vir e da reunião de todos os santos que estarão lá em Tua presença, em alegria para todo o sempre. Nós Te agradecemos, Senhor, pelo chamado do evangelho, por sua clareza, sua veracidade, por não seguirmos fábulas engenhosamente inventadas, mas sermos testemunhas oculares de Tua majestade; pois lemos os relatos de testemunhas oculares. Agradecemos o poder das Escrituras para nos transmitir a verdade a respeito de Cristo.
Eu oro, Senhor, para que qualquer pessoa aqui que ainda está na descrença pense profundamente sobre o poder que isso exerce sobre sua vida neste tempo e na eternidade. Que eles se voltem para Cristo, para que as janelas do céu possam ser abertas e venha o dilúvio de bênçãos derramado sobre essa vida agora e para sempre. Amém.
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos
Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série
Este texto é uma síntese do sermão “Amazing Unbelief”, de John MacArthur em 21/2/2010
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/41-26/amazing-unbelief
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno