Parábola do mordomo infiel
A parábola do mordomo infiel, uma grande lição de um mau exemplo.
Há cerca de 40 parábolas proferidas por nosso Senhor. Ninguém mais no Novo Testamento proferiu quaisquer parábolas, de modo que todas as parábolas nos foram dadas pelo Senhor Jesus. Como sabemos, elas foram projetadas para esconder dos incrédulos a verdade, mas, por outro lado, para a revelar aos crentes, aqueles que têm ouvidos para ouvir.
As parábolas foram, em um certo sentido, um julgamento para os incrédulos, uma confirmação de rejeição. Ao mesmo tempo, foram luz para os que tinham ouvidos para ouvir. Penso que esta parábola, em particular, foi projetada para ajudar os crentes, como todas as demais o foram, porque só os crentes realmente podem entendê-las. As parábolas destinam-se a falar com os filhos da luz, que são todos aqueles que fazem parte do reino de Deus.
A ‘Parábola do Mordomo Infiel’ tem a ver com o dinheiro, e isso não é estranho, porque cerca de uma em cada três parábolas têm algo a ver com o dinheiro. Essa é apenas a forma como a vida é. Alguém disse que se você vive 80 anos, você vai gastar 50 desses 80 anos pensando em dinheiro, de uma forma ou de outra.
Nosso Senhor sabe disto. Ele entende que a vida no mundo é dependente de uma forma de intercâmbio e que nós vivemos, respiramos e nos movemos fazendo essas trocas (comprar, vender, alugar, pagar, receber, etc). Então, essa é uma história sobre dinheiro.
É uma história realmente chocante, porque seus personagens são relativamente ruins. Um deles é muito ruim. O resto são seus cúmplices no mal. Mesmo o personagem que é supostamente o herói desta história é realmente falho, porque ele louva este homem mau e as pessoas que foram cúmplices na maldade.
Tudo isto transforma-se, estranhamente, numa ilustração de como devemos viver, nós, como crentes, o povo de Deus. Então, vamos ler essa história descrita em Lucas 16:1-13: “E dizia também aos seus discípulos…” (v. 1). Agora, eu quero que você saiba que se trata de um ensino para os crentes, os filhos do reino. Esta é uma parábola para nós, como foi para os discípulos naquela época.
Isso não quer dizer que não havia outros ouvindo. Para baixo, no versículo 14, lemos que “Os fariseus, que eram gananciosos, ouviam todas estas coisas”, e, claro, eles zombavam do Senhor (v.14). A palavra traduzida como ‘zombar’ ou ‘escarnecer’, no verso 14, é uma palavra muito forte no original grego. No meio desta palavra, no original grego, encontra-se a palavra que seria traduzida como “nariz”. Significando que ‘torciam seus narizes’.
A mesma palavra aparece no capítulo 23:35 e descreve o que os fariseus faziam quando Jesus estava pendurado na cruz. Portanto, era desprezo. Isto é o que seria de se esperar de pessoas que não entendem esta parábola, e que, em muitos aspectos, foram enquadrados por esta parábola, porque eles eram amantes do dinheiro.
Então, eles estão na escuta, na multidão, mas a direção desta parábola, como sempre, é esconder a verdade deles, por causa da sua incredulidade resoluta, e trazer ensino para os discípulos verdadeiros, como nós.
E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta. Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta. E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (Lucas 16:1-13).
Essa é a história. A coisa realmente estranha, em certo sentido, é contar uma história onde todos os personagens são corruptos, porém isso é exatamente o ponto que nosso Senhor está enfatizando. Jesus ensinava a partir de aspectos da rotina normal da vida. De vez em quando, Ele virou tudo de cabeça para baixo e disse coisas que poderiam parecer estranhas. Esta parábola é um exemplo disto.
Em outra parábola, Ele também falou sobre um juiz injusto, bem como um mordomo sem escrúpulos. Então, houve momentos em que Ele usou o mal das pessoas para trazer Seu ensino. Tenha em mente que não há nada nesta parábola que seja secreto, oculto, alegórico ou místico. É uma estória simples, mas o que incomoda algumas pessoas é que Jesus elogia o cara mau.
Ouça o Seu encerramento: “E louvou aquele senhor o injusto mordomo…”. Em seguida, no versículo 9, Jesus diz: “E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça…” Uau!!! A propósito, esta parábola é colocada no texto de Lucas logo após a estória do filho pródigo, porque este é um gerente ou mordomo pródigo.
Pródigo significa “desperdiçador”. O filho pródigo perdeu tudo e não pensou em seu futuro. Já o mordomo dessa parábola é um homem que perdeu os bens que ele tinha sob seu controle, porém tramou um plano para fazer provisão para o seu futuro. O final dessa parábola é chocante, surpreendente e é onde está o ponto central da estória.
Jesus iniciou essa parábola identificando o primeiro personagem: “Havia um certo homem rico…”. Deixe-me apenas dizer que esse homem deveria ser muito rico, porque ele está distante de toda esta operação. Ele está distante. Sabemos que ele é um homem importante, porque as pessoas lhe devem grandes quantidades de dinheiro. Eles estão em dívida para com ele em uma escala muito grande, e há muitos devedores.
Apesar de só aparecerem na parábola dois dos devedores, o verbo no versículo 5 (no original) significa que houve um processo em curso. Essencialmente, esses dois devedores ilustram uma lista muito mais extensa de devedores. Portanto, este é um homem muito rico.
Esse homem rico contratou um gerente, um mordomo e o colocou no comando de todos os seus bens. Porque o mordomo teve que ser chamado, concluímos que havia a obrigação de apresentar um relatório periódico ao dono, para que o mesmo estivesse consciente de toda a atividade do gerente.
E isto era bastante comum nos tempos antigos. As pessoas que eram muito ricas tinham várias operações em curso, uma série de operações agrícolas em curso, negócios acontecendo, de modo que elas contratavam gerentes (mordomos).
O termo ‘mordomo’, que é “oikonomos” no grego, significa ‘lei e casa’. O mordomo, então, tinha o direito sobre a casa do dono. Ele era a única autoridade delegada para agir em nome do proprietário. Ele administrava as terras, as colheitas, os ativos, as dívidas. Ele providenciava internamente o desembolso dos recursos para fornecer comida e tudo o que era necessário para os servos e todas as pessoas que compunham o núcleo, que operavam nesta empresa particular.
Ele também tinha a responsabilidade de representar o dono do negócio perante todas as pessoas com quem este tinha negócio. Isso o fazia ser alguém muito importante. Ele tem procuração para agir em nome deste proprietário muito rico, possuindo um certo status social, porque ele interagia com pessoas muito importantes, talvez até mesmo outros proprietários de terras, em nome de seu mestre.
Bem, este gerente foi dilapidando o patrimônio de seu patrão, acarretando a diminuição de seus bens, sua riqueza. No final do versículo 1 é dito que o mordomo “foi acusado de estar desperdiçando os seus bens.” O verbo ‘desperdiçar’ é o mesmo usado em relação ao filho pródigo (Lc 15:13). Ele era perdulário, um desperdiçador, assim como o filho pródigo.
A sua conduta não era necessariamente fraudulenta. Ele não estava fazendo algum tipo de esquema astuto para desviar dinheiro do patrão. Ele era apenas uma pessoa irresponsável, incompetente, neste momento na história.
O homem rico age imediatamente. No versículo 2, ele o chamou e disse: “O que é isso que eu ouvi sobre você?” Bem, o que ele realmente ouviu? Ele tinha ouvido algumas coisas muito graves, porque o verbo “acusou”, no versículo 1, é a “diaballo”, no original grego, verbo do qual temos a palavra “diabólica”. Assim, a acusação foi grave.
Portanto, o patrão recebe um relatório muito extremo da natureza diabólica da função deste homem na posição de gerente. Então, ele o chama e diz: “Que é isto que ouço dizer de ti?” O patrão faz algo que parece meio tolo. Ele exige que o mordomo volte ao posto de trabalho, forneça uma prestação de contas do seu trabalho como gerente de negócios e, então, estaria despedido.
Qualquer empresário inteligente despediria o mordomo imediatamente. Mas, Jesus criou também esse detalhe dessa parábola do modo como lhe convinha. Vamos colocar dessa maneira o que o patrão propõe ao mordomo: ‘Você vai voltar. Você não está indo salvar seu emprego. Isso não é possível. Quero que me dê um relatório preciso de sua irresponsabilidade.’
Essa é uma política ruim. Se você tiver que demitir alguém que está sendo desonesto com você, é bom se livrar dele logo, porque se você colocá-lo de volta na função que exercia, esse mau funcionário terá um sentimento de vingança, e terá uma meta, um objetivo de ganho pessoal. Isso é exatamente o que o mordomo da parábola fez.
Ele está perdendo o emprego. Ele está perdendo sua casa, porque naqueles tempos antigos os mordomos viviam na propriedade onde trabalhavam. Ele está perdendo sua renda e ele está perdendo sua reputação, porque agora todo mundo vai saber que era incompetente. Ele é um mau administrador, irresponsável, incompetente, um gerente desperdiçador, pródigo.
Então, no versículo 3, ele diz para si mesmo: “O que devo fazer?” O mordomo está em apuros diante de sua realidade: ‘Estou acabado. As pessoas não vão me receber em suas casas. Eu tenho que encontrar uma maneira de ir para outro lugar. Tenho que ter um lugar para viver. Preciso ter uma renda. Eu tenho que ter um futuro. O que eu vou fazer para garantir meu futuro quando meu mestre tirar de vez minha mordomia, a minha gerência?’
Então, ele diz: “Eu não sou forte o suficiente para cavar, e eu tenho vergonha de mendigar.” Este é um típico bandido de colarinho branco orgulhoso. Ele não está interessado em pegar uma pá. Ele não quer executar qualquer trabalho manual. O trabalho duro não é sua cogitação. Ele não quer mesmo é descer ao baixo status de um trabalhador braçal, e muito menos ao baixo status de um mendigo. Não vai fazer isso.
Em seguida, ele tem um momento de ‘Já sei!’ e pensa num plano: ‘eu sei o que hei de fazer para que as pessoas me recebam em suas casas quando eu perder meu trabalho, minha mordomia…’. Pois isso é exatamente o que ele quer ter: um futuro benéfico, confortável, que forneça tudo o que ele precisa.
“Eu sei o que vou fazer.” Este é o seu momento ‘eureka!’. Esta é a sua ideia brilhante: ‘Eu preciso ser bem recebido por algumas pessoas em suas casas. Quem serão essas pessoas que vão me receber quando toda a comunidade souber que eu fui despedido por causa da minha má gestão? Ah, eu sei quem serão… As pessoas com as quais eu tenho trabalhado e que devem muito ao meu patrão… Vou entrar em contato com todas elas e vou oferecer-lhes descontos para saldarem suas dívidas!’
Muito astuto. Agora, ele ofereceu esses abatimentos para todos os devedores do seu patrão. E é claro que todos iriam aceitar, pois saldar as dívidas era algo muito importante naquela sociedade. Fazia parte do código de honra. Nos versículos 5 a 7 lemos que aquele mordomo infiel concedeu descontos elevados, chegando a cinquenta por cento. Era um negócio irrecusável para os devedores.
Olha, as dívidas eram negociadas no mundo antigo, como são hoje, se houvesse uma fome, uma recessão econômica. Isso faz parte da vida, mas não é o caso aqui nessa parábola. Não há circunstâncias externas. Isto não tem nada a ver com a economia deprimida. Isto não tem nada a ver com escassez de alimentos ou com alguma forma de desastre ocorrido na vida do devedor, tornando-o incapaz de pagar.
Isto foi puramente uma forma astuta que o mordomo utilizou a fim de defraudar seu mestre, de tal forma que gerasse uma obrigação moral de todas essas pessoas para com ele, a fim de que ele pudesse lhes lembrar convenientemente: ‘Você se lembra o que eu fiz para você? Você precisa me dar um quarto…. Você precisa me dar um emprego e um lugar…. E, se você não fizer isso, vou contar ao resto dos devedores com quem eu fiz o mesmo negócio, que você é um homem desonroso.’
E, vale lembrar, não só o mordomo estava fraudando seu mestre, mas aqueles devedores também estavam. Todo mundo envolvido neste negócio era corrupto. E esta é a forma como as pessoas no mundo são. É assim que funciona. Isto é exatamente como o mundo funciona.Através desse tipo de manobra maquiavélica, o mordomo enganou seu patrão e assegurou seu futuro.
Então, no versículo 8, Jesus introduz um elemento chocante na parábola, assim como Ele o fez em outras. Aqui está o choque: “Seu mestre elogiou o mordomo de injusto.” Uau! O que ele está elogiando mesmo? Ele não está elogiando a sua incompetência, sua prodigalidade. Ele não está elogiando o seu desperdício, nem a maneira fraudulenta e enganosa pela qual agiu. Ele o elogia por ter agido com astúcia. E sabemos que o mundo está cheio de pessoas que agem assim o tempo todo.
Bem, o comentário de Jesus sobre isso é bastante surpreendente. Veja o versículo 8: “os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.” O quê? Jesus está recomendando o mordomo? Isto é o que tem incomodado algumas pessoas com relação a esta parábola, de modo que não conseguem compreendê-la.
É simples entender o proprietário elogiando o gerente. Ele está aplaudindo sua astúcia. Mas, porque é que Jesus está recomendando isso? Vamos procurar entender o que significa tudo isso.
‘Phronimos’ é a palavra grega usada no texto, traduzida como ‘prudentes’. Significa previdentemente, consideravelmente. Ou seja, era um esquema bem concebido. Ele aproveitou com cuidado a oportunidade que teve para ‘limpar sua barra’.
Ele trabalhou a situação para garantir o seu futuro, beneficiar o seu futuro com conforto. Ao reduzir as dívidas daqueles devedores, ele os fez ficarem endividados consigo. Ele lhes tinha feito um imenso bem, de modo que eles agora seriam constrangidos por sua grande generosidade.
A questão aqui é: pecadores agem para assegurar o seu próprio futuro de formas muito inteligentes e engenhosas. Eles usam os recursos que têm com perspicácia, sejam honestos ou desonestos, para garantirem o melhor futuro possível. Assim é como os filhos desta geração agem. Isso é o que Jesus está dizendo aqui nessa parábola. Aquele mordomo usou muito bem a sua oportunidade, criando um plano impressionante, muito bem concebido.
Quem são os filhos deste mundo mencionados no verso 8? Quem são eles? Pecadores. Eles não estão no reino de Deus. Estes são incrédulos. É assim que o mundo funciona, não é mesmo? Existe cada esquema inteligente que se possa imaginar para ganhar dinheiro, para garantir o futuro, seja honesto ou desonesto. Investimentos e estratégias de todos os tipos são realizados a fim de garantir o futuro.
É assim que o mundo funciona. E Jesus diz: “os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.” O que isso pode querer dizer? Filhos da luz: os salvos. Somos chamados de ‘filhos da luz’ em João 12:36, Efésios 5: 8, 1 Tessalonicenses 5: 5. Nós somos filhos da luz. Nós não estamos na escuridão. Estamos na luz. Esta geração, os filhos desta geração, os filhos deste mundo, tudo isso se refere aos não convertidos, aos perdidos.
Na verdade, em Lucas 9:41, os perdidos também são chamados de “esta geração perversa.” Portanto, esta pervertida e má geração, esse mundo incrédulo opera com esses tipos de maquinações. Honesto ou desonesto, o que for preciso para garantir o futuro. Eles são mais astutos do que nós, os filhos da luz. O que poderia Jesus querer dizer com isso?
Versículo 9: “Eu vos digo…”, e aqui o Senhor interpreta isso para os discípulos e para nós. Uma interpretação, a propósito, que deixou os fariseus completamente perdidos, é claro. “Façam amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.”
A propósito, esta é uma abordagem rabínica antiga, raciocinando a partir do menor para o maior. Ou seja: se os pervertidos, filhos perversos desta geração usam cada abordagem imaginável para garantirem o seu futuro temporal, você não deveria ter cuidado de como você age em relação ao seu futuro eterno? Essa é a questão!
As riquezas da injustiça é uma antiga colocação que se refere às riquezas temporais, materiais, passageiras, terrenas. A ideia aqui é: use o seu dinheiro, seus bens, sua riqueza, que são parte desse mundo passageiro, recursos estes que vão falhar, que vão faltar um dia (v. 9), pois você não sairá desta terra os levando com você, e adquira amigos com elas, amigos estes que te receberão nas moradas eternas.
Adquira amigos para o céu, que vão estar em pé no portão para te receber, quando chegar lá.
No início do evangelho de Lucas há uma história muito dramática, que a maioria das pessoas se lembra de já ter ouvido. É no capítulo 12. É outra parábola. Versículos 16-21:
A terra de um homem rico tinha produzido com abundância; E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
Ele deve ter sido, provavelmente, um pregador do evangelho da prosperidade. Mas Deus lhe disse: ‘Você é um tolo! Você tem todo esse dinheiro, e você vai morrer e deixar cada centavo dele e cada posse que você tem. Seu tolo!’ Mas isso é o que os filhos deste mundo fazem com a ‘riqueza da injustiça’, a riqueza material. Eles tentam garantir o seu futuro temporal e o dinheiro pode proporcionar-lhes isso. Ele pode garantir um futuro temporal, até que eles morram, e deixem tudo para trás.
Você não pode levar o dinheiro, os bens com você. Eles pertencem a este mundo temporal. São chamados na Bíblia de ‘a riqueza da injustiça’. Vai ficar tudo aqui. E, no entanto, da maneira mais surpreendente e misericordiosa, o Senhor diz, mais ou menos assim: “Você pode tomar essa riqueza que não vai com você para a eternidade, que só tem serventia enquanto você está aqui, pode usá-la para fazer amigos que vão te receber no céu.”
Como fazer isso? É muito simples. Você deve investir em trazer a salvação aos pecadores. Você deve usar o seu dinheiro para comprar amigos para a eternidade. Isto é exatamente o que o Senhor estava falando em Mateus, capítulo 6, no Sermão da Montanha:
“Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões arrombam e furtam.Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração também.”
Ou você pode ler ao contrário: onde está seu coração, aí é onde você vai colocar o seu tesouro.
Mas, a questão é: como posso colocar o meu tesouro no céu? Como posso usar a riqueza da injustiça e colocá-la no céu e comprar amigos que irão me receber quando eu chegar lá? Resposta: invista na proclamação do Evangelho e traga as pessoas à salvação. Investa no Reino.
Isso é o que você deve fazer com seu dinheiro, com sua riqueza, de modo que você possa ter uma recepção quando chegar no céu. Isso é incrível, não é? Como Deus é bom! Olhe, a vida é muito curta. A eternidade é a eternidade! A vida passa num piscar neste mundo. Quanto mais eu vivo, menos vejo sentido em acumular qualquer coisa aqui. E faz mais sentido que tenho que investir tudo para angariar amigos para a eternidade.
Então, no final, quando minha vida acabar aqui, e eu estiver separado de tudo o que tenho, vou descobrir quem está de pé no céu para me receber como um amigo. Isso é uma dádiva que o Senhor nos deu. Você investe naqueles que pregam o Evangelho, que ensinam as pessoas a pregar o Evangelho. Você investe em missões e naqueles que enviam missionários. Você investe na preparação e envio de pregadores, evangelistas, na propagação da Palavra em todo o mundo, e você estará comprando amigos para a eternidade.
Infindável acumulação pessoal de bens não tem sentido. A vida é curta e você não sabe quão curta a sua será. Você não quer desperdiçá-la. Não há nada que você possa enviar lá para cima. Não é possível enviar a sua casa, e você vai ter uma melhor. Você não pode enviar o seu carro, mas você vai voar por toda parte. Você não tem nada que possa enviar para a eternidade. Quaisquer que sejam seus pequenos tesouros, eles ficarão aqui e alguém vai descobrir o que fazer com eles.
Mas, há algo que você pode enviar para a eternidade. Não é incrível? Isso ocorrerá se sua riqueza for investida na proclamação do Evangelho e na preparação e formação dos que anunciam o Evangelho. Que coisa incrível ser parte de algo assim!
Então, você poderia dizer: ‘Bem, eu não dou muito, mas eu não tenho muito. Se eu tivesse mais, eu daria mais…’ Não, você não faria isso. Não, você não faria. Se você tivesse mais, você não daria mais. Você pode dizer: ‘Como você sabe disso? Você não me conhece!’ Bem, Jesus te conhece. Veja o que Ele diz sobre isso no Versículo 10: “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.”
Eu disse a você. Não é sobre o quanto você tem. É sobre quem você é. É sobre quais são as suas prioridades. É sobre onde está seu coração, certo? É disto que se trata. Isto é o que chamamos de um ‘axioma ou uma declaração axiomática’, um truísmo. É auto-evidente. É tão evidente que não precisa de uma explicação.
É óbvio que as pessoas fiéis serão fiéis se têm pouco ou muito; e as pessoas infiéis serão infiéis se têm pouco ou muito. Nunca é uma questão de quanto você tem. Se você está preocupado com o avanço do Reino e está empenhado em fazer amigos para a eternidade, você vai dar o que você tem com generosidade e alegria.
Alguns podem pensar: ‘Bem, eu tenho esperança de ganhar na loteria.’ E, vale ressaltar, você, como cristão, não deve apostar na loteria. Mas, supondo que você ganhasse na loteria, isso não iria mudar seu coração infiel. Só Deus pode mudar seu coração. Se o seu coração não está no céu, não é ganhando muito dinheiro que isso irá mudar. Você é exatamente quem você é.
Se você não é fiel no pouco, você não será fiel no muito. Trata-se de fidelidade. Trata-se de onde está seu coração. A quantidade que você possui não é a questão. Seu caráter é a questão. Seu compromisso é a questão. Seu amor pelo céu é a questão. Ou você é altruísta, humilde, generoso, não-materialista, comprometido com o Reino de todo o coração, ou você não é. Não é uma questão de quantidade. Não, não tem nada a ver com quantidade.
Mas, Jesus ainda disse mais. Suponhamos que você não tenha sido fiel. Que você é um daqueles que tem sido autoindulgente, acumulando para si, e gastando todo o seu dinheiro naquilo que é apenas dessa vida aqui. Assim, “se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?” (verso 11). Literalmente: quem vai confiar a verdade a você?
Se você não foi fiel nas ‘riquezas injustas’, terrenas, passageiras, Deus vai te confiar as riquezas que são espirituais e eternas? Então, o que acontece é que se você demonstrar infidelidade no uso de sua ‘riqueza injusta’, você perderá as bênçãos espirituais e eternas, agora e para sempre.
Você pode comprar para si mesmo uma infinidade de coisas materiais, conforto, toda riqueza superficial, todas as coisas corruptoras, todas as coisas temporárias, todo o material que vai ser queimado, mas você não receberá as riquezas reais, aquelas que vão durar para sempre.
Você se lembra de Lucas 6:38: “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.” Se você semear com moderação – Paulo diz aos Coríntios – você colherá pouco. Mas, se semear generosamente, ceifará muito.
E, então, vem outra grave advertência no versículo 12: “E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” Ou seja, se você não foi fiel para com aquilo que não é seu. O que significa? Bem, Jesus está falando sobre a ‘riqueza da injustiça’. O uso da ‘riqueza da injustiça’ no verso 11 corresponde ao ‘uso do que é do outro, do que é alheio’, no verso 12.
Adivinha? A riqueza que você tem não é sua! Assim como o mordomo desta parábola, certo? Ele era perdulário com recursos de outra pessoa. Você pode dizer: ‘espere um minuto, o que eu tenho é meu. Ganhei. Eu trabalhei duro por isso.’ Bem, isso pode ser verdade. Você trabalhou duro por isso, mas não é seu.
Os filhos deste mundo vivem através da exploração, egoísmo, acumulação, consumo desenfreado, desperdício, etc, e pensam que tudo o que acumulam é deles. Nós conhecemos a verdade. O profeta Ageu diz: “Minha é a prata, Meu é o ouro”, falando em nome de Deus. O Salmo 104: 24, diz: “Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das Tuas riquezas.”
Você se lembra bênção de Davi em 1 Crônicas 29:11-12: “Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos. E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo.”
O salmista diz: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.” É tudo do Senhor. Você não tem nada que seja realmente seu. Nada. Na vida de um crente, é tudo um teste de sua devoção. Tudo pertence ao Senhor. Tudo o que temos é uma mordomia.
Lembre-se da parábola em Mateus 25, onde o mestre distribui os talentos e eles lhe pertencem. Tudo o que o servo pode fazer é gerenciar ou deixar de gerenciar aquilo que lhe fora confiado. Então, se você está desperdiçando o que é de Deus – e eu não estou dizendo que só o dízimo, ou seja, um décimo, é que pertence a Deus – então, Ele não confiará as verdadeiras riquezas para você.
Bem, o que poderia ser isso? Aquilo que tem significado eterno. Se você falhar no teste de administração, você perde importância no reino, você perde a bênção eterna, a eterna recompensa. Você desperdiça o dinheiro de Deus em coisas que vão perecer, acumula riquezas para si mesmo. E, assim, está restringindo sua recompensa eterna. Mais uma vez, a eternidade é um tempo muito longo, é para sempre. Qual é a recompensa eterna? É capacidade para adorar.
E, então vem a bombástica declaração do versículo 13. “Nenhum escravo pode servir a dois senhores.” Você poderia trabalhar para dois patrões. Você poderia ter dois empregos. Alguns de vocês têm dez chefes. Na verdade, todo mundo ao redor é seu chefe. Você tem que entender essa colocação no contexto da época em um mundo repleto de escravos. E, você só poderia ser propriedade de uma pessoa.
Você tem que decidir. Há dois possíveis proprietários que você pode ter. Você pode servir a Deus ou às riquezas. Se você fizer isso, se você tentar ter dois senhores, sendo um escravo, então você vai odiar um e amar o outro, ou você vai ser dedicado a um e desprezar o outro.
Essa era uma ilustração muito clara para qualquer um nos tempos antigos. Deus quer foco único, lealdade, fidelidade. Não se trata de alguma forma de punição que sofreremos imediatamente aqui se não formos fiéis na administração dos recursos materiais. Mas, é uma perda de bênção e uma perda de recompensa.
Se você está com o coração dividido entre o dinheiro e Deus, você é uma pessoa em conflito. Você está experimentando antagonismo. Alguns de vocês estão sentindo sentimentos conflitantes agora, enquanto estou falando. Isso é o que acontece em sua vida. É um conflito contínuo.
Não estou dizendo que você não pode gozar das coisas que o Senhor tem fornecido a você. Mas, eu estou dizendo que você não pode ser escravo de Deus e um escravo do dinheiro. Ser um escravo do dinheiro é realmente uma condição muito séria.
Ouça as palavras do apóstolo Paulo em 1 Timóteo 6:10: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” Não é o dinheiro que é a raiz do mal. É o amor a ele. Você pode ter um monte dele e não amá-lo, e você pode ter muito pouco ou nada dele e amá-lo como um louco.
Algumas pessoas que amaram seu dinheiro e se tornaram escravos de sua riqueza se desviaram da fé e se atormentaram com muitas dores. Você não pode amar a Deus com todo o coração e amar a riqueza de todo o coração. A linguagem é muito forte e muito clara. Calvino disse: “Onde as riquezas dominam o coração, Deus perdeu a Sua autoridade. A cobiça nos faz escravos do diabo.”
Um dos escritores que me influenciaram muito quando eu era jovem no ministério foi Arthur Rosa. Rosa escreve isso, e eu acho que vale a pena ler:
Estas ordens são diametralmente opostas. Uma ordena que você ande pela fé; a outra, que ande pela vista. Uma ordena a ser humilde; a outra, a se orgulhar. Uma ordena que você coloque suas afeições nas coisas do alto; a outra, nas coisas que estão sobre a terra. Uma ordena a olhar para as coisas invisíveis e eternas; a outra, para as coisas visíveis e temporais. Uma ordena sua conversa para falar do céu; a outra, para o pó da Terra. Uma ordena a não estar ansioso por nada; a outra, para ser cheio de ansiedade. Uma, que se contente com as coisas que você tem; a outra, que amplie seus desejos. Uma ordena a estar pronto para repartir; a outra, para reter. Uma leva a olhar para o bem dos outros; a outra, a olhar apenas para si. Uma ordena a procurar a felicidade no Criador; a outra, a buscar a felicidade na criatura. Não é simples? Não há quem possa servir a esses dois senhores.
Assim, a posse da riqueza é um meio que Deus tem empregado para que você possa garantir a recompensa eterna e amigos celestes. Você vai estar lá para sempre. Sua capacidade para adorar, louvar e desfrutar de Deus na glória eterna está ligada ao que você faz com a riqueza da injustiça.
E os povos do mundo? Ora, eles estão agindo com astúcia conivente para garantir o seu futuro temporal e eles não têm nada além disso. O que você está fazendo para garantir o seu futuro eterno? Palavras por M. E. Burn: “Não atentei para as riquezas, nem para o louvor vazio dos homens. Tu és minha herança agora e sempre. Tu, e Tu apenas, és o primeiro no meu coração. Alto Rei do céu, meu tesouro Tu és.”
Vamos orar.
A sabedoria, a graça, a misericórdia que estão contidas nesta parábola que fluem da mente infinita de nosso bendito Salvador, nos agarrou.
O que é especialmente admirável é que esta é uma parábola da vasta infinita promessa, eterna.
Amigos para a eternidade. Recompensa eterna, eterna bem-aventurança, alegria eterna, a capacidade ampliada para adorar e louvar e servir sempre.
Ajuda-nos a confirmar em nossos corações que Tu, ó Deus, és o nosso Mestre.
Nós Te servimos com todo o coração. Leva-nos a usar o que nos é dado neste mundo como mordomos para comprar amigos para a eternidade e termos recompensa eterna. Dá-nos um olhar para o céu.
Que venhamos definir nossas afeições nas coisas do alto, não nas que são da terra. Pai, nós te agradecemos por Tua salvação concedida a nós em Cristo. Isso já seria suficiente, apenas nos salvar do inferno.
Mas o Senhor disse: ‘Eu estou te dando o céu e todas as suas posses, e eu vou dar a você em uma medida relacionada com o manejo das coisas que você possui.’ Uma oferta incrível! Senhor, que possamos ser fiéis mordomos que entram no pleno gozo que o céu promete.
Oramos em nome de Cristo, amém.
Este texto é uma síntese do sermão “A Good Lesson from a Bad Example”, de John MacArthur em 02/11/2014.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/resources/sermons/90-467/A-Good-Lesson-from-a-Bad-Example?Term=Good%20lessom%20from%20bad
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno