A Parábola do Filho Pródigo
A parábola de um pai com dois filhos pecadores. Um é pecador libertino, depravado e imoral. O outro é o hipócrita em casa — na igreja, religioso e cheio de autojustiça. E o pai desprezado suplica a ambos e lhes oferece tudo o que tem. Um se arrepende e o outro repudia o pai e sua misericórdia.
Introdução
Seguindo pelo Evangelho de Lucas, vamos olhar agora para a conhecida parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32). Você pode estar se perguntando: “há algo nesta parábola que eu não saiba?”. E realmente há.
Antes de tudo, quero citar algo sobre Jonathan Edwards (1703-1758), um homem consumido pela gloria de Deus. Ele havia decidido, entre tantas outras coisas: Tudo que fizesse teria que ser para a glória de Deus; não negar nada que glorifique a Deus; e nunca omitir nada de livre vontade, a menos que essa omissão traga glória a Deus.
A alegria de Deus está conectada à sua glória. Deus se alegra quando é glorificado. Ele valoriza infinitamente sua própria glória e encontra alegria infinita nessa glória. Assim como algumas estrelas diferem de outras em glória, a glória de Deus brilha mais intensamente em algumas de suas obras do que em outras. E entre todas elas, a obra da redenção é onde a glória de Deus é a mais resplandecente, e, portanto, é onde Deus mais se alegra.
Jonathan Edwards disse que Cristo fez coisas maiores do que criar o mundo. Que coisa maior? Obter Sua noiva e a alegria de seu casamento com ela. O único propósito de Deus na redenção é sua própria alegria.
E eu poderia acrescentar: quanto mais o pecador mergulhou no pecado, mais alegre Deus se sente em sua salvação. Para viver sua vida para a glória e alegria de Deus, você deve estar envolvido na obra da redenção. É disso que a parábola do filho pródigo trata.
Contexto da parábola do filho pródigo
No final de Lucas 15, Jesus disse: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (v.35). Este é um chamado da parte de nosso Senhor para aqueles que estão dispostos a ouvir sua mensagem de salvação.
E quem estava ouvindo essa parábola? Lucas 15.1 responde: “aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir” (v.1). Eles eram os rejeitados, a escória, a ralé, mas alguns deles ouviam com fé e arrependimento para salvação.
Os publicanos eram cobradores de impostos. Eram judeus traidores e gananciosos que formavam uma espécie de máfia para extorquir dinheiro das pessoas. Eles eram odiados e tratados como terríveis escorias da nação. Lucas 15.2 diz: “E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este homem [Jesus] recebe pecadores e come com eles”.
Os fariseus e escribas eram os líderes religiosos de Israel, a elite da nação. Eles praticavam uma religião legalista e o povo os escutava. Eles estavam em cada cidade, vila e bairro, passando pelas sinagogas. Eles eram hipócritas e criam que a religião de obras externas tinha poder de os tornar dignos do reino de Deus. Jesus os tratou como filhos do diabo e proferiu juízo contra eles (Jo 8.44; Mt 23.23-33).
Após Jesus libertar um pecador de possessão maligna, eles o desprezaram e concluíram: “Este [Jesus] não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios” (Mt 12.24). Eles viram a obra de salvação de Cristo como uma obra do diabo, demonstrando o quão distantes de Deus eles estavam.
Jesus então passou a falar três parábolas que demonstram o quanto a salvação alegra o coração de Deus. A primeira foi a parábola da ovelha perdida (Lc 15.3-7), que termina com júbilo pelo fato de a ovelha ter sido resgatada. E Jesus disse: “digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15.7).
A segunda foi a parábola da moeda perdida (Lc 15.8-10). No final a moeda é achada e há grande alegria. E Jesus disse: “eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.10). Deus não espera uma multidão arrependida para se alegrar, há celebração no céu por causa de um pecador que se arrepende. Este é o ponto central de todo o capítulo 15 de Lucas: a alegria de Deus.
A terceira, a qual vamos ver agora, é a parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32). É preciso você entender que aquela era uma cultura diferente, uma vida camponesa de uma aldeia do Oriente Médio há dois mil anos atrás. Precisamos começar a pensar como eles pensavam.
Você precisa entender que eles eram dominados por um paradigma de vergonha e honra. Tudo se relacionava com o que era honroso e o que era vergonhoso. Isso era importantíssimo para eles.
E você precisa entender que a parábola que Jesus criou tinha um relato que lhes parecia bizarro, impensável e ridículo. Tudo o que Jesus falou nessa parábola era contrário ao pensamento intuitivo deles e a essência da sociedade deles. Eles não funcionavam e nem pensavam dessa maneira. Tudo lhes parecia muito vergonhoso e chocante, do começo ao fim da parábola.
A rebelião do filho mais novo
Lucas 15
11 Continuou: Certo homem tinha dois filhos;
12 o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres.
Não é um relato sobre um filho, é sobre um certo homem que tinha dois filhos. São três personagens, um pai e dois filhos. O mais novo pediu sua parte dos bens que herdaria de seu pai. Isso era impensável, significava que esse filho estava farto de esperar pela morte de seu pai. Ele não queria seu pai próximo, desejava independência para fazer o que desejava. Isso era uma violação do mandamento de honrar os pais.
Ele não estava preocupado com o futuro de seu pai e nem da família, ele pensava somente em si mesmo. Não há precedentes para isso na sociedade judaica. Isso era um ultraje absoluto, um pedido vergonhoso. O fariseus devem ter pensado: “o pai levantaria a mão direita e daria um tapa na cara desse filho. E então o puniria com a maior severidade possível, uma surra pública, porque o pai deveria proteger sua honra a todo custo”.
No entanto, o pedido vergonhoso ganhou uma resposta vergonhosa: O pai atendeu e lhe antecipou sua parte que teria na herança. O pai não protegeu sua honra e fez exatamente o que seu filho teimoso, desrespeitoso, rebelde e odioso pediu. Isso era um absurdo intolerável, um verdadeiro ultraje.
O filho mais velho tinha a função na família de proteger a honra do pai e proteger os irmãos mais novos de fazerem coisas tolas. Mas o filho mais velho não apareceu. Até mesmo o irmão mais velho tem postura vergonhosa na história.
A devassidão do filho mais novo
Lucas 15
¹³ Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
¹⁴ Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.
No Antigo Testamento, a primogenitura era um direito estabelecido. O filho primogênito herdava uma porção maior da herança. Essa porção era dobrada em comparação com as outras (Dt 21.16-17), o que, em algumas situações, equivalia a dois terços do total da herança, dependendo do número de filhos.
Então a herança foi dividida, isso significa que o filho mais velho ficou com dois terços dos bens do pai. O filho mais novo, com o terço que lhe cabia, deu início a uma rebelião vergonhosa. Movido pela luxúria, paixão e desejo maligno, ele ajuntou tudo o que era seu e partiu, o sentido original grego é que ele transformou tudo em dinheiro.
Ele foi para uma terra distante e lá vivia dissolutamente. A palavra grega traduzida como “dissolutamente” traz a ideia de um estilo de vida de total devassidão. Ele queria viver longe de qualquer restrição. Tal era essa rebelião vergonhosa, que seu pai o considerava como uma pessoa morta (Lc 15.24).
A loucura de sua vida depravada e irresponsável o levou a esgotar toda a riqueza que recebeu de seu pai. É daí que vem a palavra “pródigo”, um termo que significa “esbanjador”. E grande parte dos seus gastos foi com prostitutas (Lc 15.30).
A trágica e vergonhosa situação do filho mais novo
Lucas 15
14 Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.
15 Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos.
16 Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada.
Houve então uma grande fome e ele conheceu a miséria, tornando-se um mendigo insistente. O sentido original grego é que ele, no desespero, “grudou” a um gentio daquela terra, que não conseguia se livrar dele. Mas o cidadão teve uma ideia para se livrar do mendigo: ele o mandou para seus campos guardar os porcos.
Aqui há mais uma situação vergonhosa que chocou os escribas e fariseus: Guardar porcos, o pior dos animais imundos para os judeus, era um tipo de degradação inimaginável para o público judaico de Jesus.
Você consegue entender quão vergonhosa é essa parábola? O pai perdeu um terço de seus bens em favor de um filho, e este viveu uma vida depravada, terminando como um mendigo e guardador de porcos. Certamente os judeus estavam revirando os olhos e pensando: “Nenhum pai faria isso e nenhum bom rapaz judeu fazia isso. Você está brincando? Isso não faz sentido algum”.
E se não bastasse, Jesus ainda acrescentou mais uma dose de vergonha. Como ninguém lhe dava nada para comer, a fome levou aquele filho esbanjador e devasso a desejar encher o estômago com as vagens de alfarroba que os porcos comiam. Eram frutos usados para alimentar porcos, mas indigestos para os seres humanos. A situação chegou a uma vergonha impensável para os judeus.
O filho mais novo cai em si e lembra da bondade de seu pai
Lucas 15
17 Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!
Ele chegou à conclusão óbvia que iria morrer de fome. Do que Jesus está falando aqui? Bem, esse é o desespero. Este é o pecador, pobre, destituído, faminto, sem esperança, depravado, dissipado e moribundo.
E a lição? Pecado é rebelião contra Deus, e Deus lhe dará a liberdade de escolher o seu pecado. Ele lhe dará a liberdade de levar o seu pecado tão longe, em qualquer direção que você escolher.
Eis a rebelião de alguém que não tinha nenhum relacionamento com aquele que lhe deu a vida, que possuía todas as riquezas de que ele poderia ter precisado durante toda a sua vida. Nenhum relacionamento com aquele que poderia lhe dar um futuro, bem como um presente.
O pecado tem a capacidade de produzir um desdém pela pessoa de Deus, pelo governo de Deus, pela autoridade de Deus, pela vontade de Deus, pela bondade de Deus e pelos recursos de Deus.
Pecado é o desejo de fugir de Deus, de evitar toda responsabilidade e de prestar contas a Deus. É negar a Deus qualquer lugar em sua vida. É desonrar a Deus, tomar todos os dons amorosos disponíveis e desperdiçá-los o mais longe possível de Deus. É desperdiçar a vida em dissipação autoindulgente, luxúria desenfreada e evitando toda a bondade de Deus.
É maldade imprudente. É indulgência egoísta que o leva à beira da morte. O pecado busca realização fora e longe de Deus e nunca a encontra. Deixa o pecador exausto, vazio, faminto, sem esperança.
O cenário é extremo, sem dúvida. Nem todos chegam a tudo isso. Mas a questão é: como o pai vai lidar com alguém tão ruim assim? Jesus realmente inventou o pecador supremo. Isso é o pior que se pode imaginar. Desrespeito aos pais, desrespeito à comunidade, dissipação do próprio corpo, imoralidade ao extremo, violação de todas as suas conformidades culturais, ir para um lugar desprezado e se apegar a pessoas desprezadas.
Isso é o fundo do poço. Isso não é a derrapagem, a derrapagem acabou. Isso é o fundo do poço. Esse é o pecador supremo, e nem todo pecador chega a tal ponto de degradação, mas é muito importante descobrir como esse pai vai lidar com alguém que chegou tão longe na sua depravação.
E a vergonha não acabou. O jovem chegou a um arrependimento vergonhoso. Ele “caiu em si”. Esse é sempre o início do arrependimento, quando o pecador começa a avaliar sua verdadeira condição. Ele pensou: “quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (Lc 15.17).
No original grego, a palavra traduzida como “trabalhadores” se referia a homens contratados para certa tarefa. Eram diaristas que ficavam por perto esperando que alguém os contratassem para alguma tarefa, como na parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16). Neste caso a lei mandava pagar a todos os diaristas no final do dia (Lv 19.1; Dt 24.14-15).
Esses diaristas eram pessoas de nível inferior, executado normalmente trabalhos braçais e não qualificados, embora alguns fossem artesãos. Mas há algo realmente interessante sobre o pai aqui. Ele pensa: “Quantos trabalhadores de meu pai têm fartura de pão e eu aqui passando fome “.
Os trabalhadores diaristas mal conseguiam sobreviver, viviam um pouco acima dos destituídos. Mas aqueles que eram contratados pelo pai daquele filho rebelde viviam em fartura. O que isso diz sobre o pai? Que seu pai é misericordioso, generoso e bom.
E é aí que ele começa a perceber a bondade do pai. “Ele é bom; ele dá mais do que o suficiente para seus trabalhadores, e eu estou morrendo de fome aqui.” E ele começa a confiar na bondade. misericórdia, compaixão e no amor de seu pai, que ele outrora desprezava.
O arrependimento do filho rebelde
Lucas 15
¹⁸ Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;
¹⁹ já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.
Isso é constrangedor. O pai que foi envergonhado ainda terá que ver seu filho desmoralizado recebendo o escárnio, zombaria e o desdém de toda a aldeia. Isso fazia parte da punição cultural para esse tipo de mau comportamento, para defender a honra do pai e da aldeia.
O filho sabia que pecou gravemente e no que se tornou. Ele não pensou em pedir privilégios a seu pai, ele sabia que havia perdido todos seus direitos. Ele não podia reivindicar nada, nem sequer imaginou pedir para ser um membro da família ou ser um servo na casa de seu pai. Ele pensou apenas em se tornar apenas um trabalhador diarista para seu pai. Ele não tinha opções, longe do pai o que lhe restava era a morte.
Ele estava disposto a aceitar o castigo, a humilhação e o trabalho duro. Que imagem! Aqui está um pecador em verdadeiro arrependimento, que chegou ao desespero e percebeu que entrou no caminho da morte. Ele queria reconciliação. Ele estava disposto a confessar que seus pecados eram tão altos quanto os céus. Ele sabia que não tinha direitos, nem privilégios e que não poderia reivindicar nada. Ele queria reconciliação a qualquer custo. Esse é o verdadeiro arrependimento.
Nesse ponto, os fariseus e os escribas estão dizendo a si mesmos: “Bem, é exatamente isso que aquele menino deve fazer”. Essa é a primeira coisa que fazia sentido para eles. É o que ele deveria fazer.
O perdão que o filho mais novo recebeu de seu pai
Lucas 15
20 E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.
21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
O filho se levantou e foi até seu pai. Ele voltou com suas roupas imundas, fedorentas e com cheiro de porcos, e caminhou penosamente de volta para a aldeia. Ele chegou confessando seus pecados contra Deus e contra seu pai, ele reconheceu sua total indignidade. Isso é arrependimento.
Agora, o que podemos esperar que o pai faça quando chegar lá? Bem, os escribas e fariseus sabiam exatamente o que o pai deveria fazer: aproveitar a oportunidade para defender sua própria honra. Eles pensavam:
O pai deveria permanecer em sua propriedade, e quando alguém disser: ‘seu filho chegou à cidade’, o pai diria: ‘eu o verei em quatro dias’. Que ele fique sentado em suas roupas fedorentas e receba o desprezo e a zombaria da aldeia como disciplina. E então, depois de quatro dias, eu o verei.
O pai deveria esperar que o filho entrasse, se curvasse, beijasse seus pés e recebesse o castigo, talvez até uma chicotada, e então se preparasse para trabalhar por décadas. E se ele conseguisse sustentar isso por décadas, então talvez haveria a reconciliação. Mas a reconciliação só viria por causa da restituição, como ensina os rabinos. Não há reconciliação sem restituição
Mas o pai teve um comportamento muito vergonhoso aos olhos dos escribas e fariseus: Quando ele viu seu filho de longe, se compadeceu dele, correu até ele e o abraçou e beijou. Nessa hora os fariseus e escribas pensaram: “Você deve estar brincando em imaginar um pai mais idiotia do que seu filho inteiramente idiota”.
Eles entendiam que aquele pai seria um homem fraco que não conseguia defender sua própria honra e dignidade. Aquela atitude do pai seria algo impensável e estúpido.
O texto bíblico diz que o pai foi correndo ao encontro do filho. O verbo grego traduzido como “correndo” (Lc 15.20), tem sentido de “correr em uma corrida”. Ou seja, aquele homem saiu de casa e correu velozmente pelo meio da cidade em direção a seu filho, e as pessoas em uma vila do Oriente Médio teriam ficado horrorizadas.
Os homens usavam túnicas que iam até o chão para que suas pernas não fossem vistas. Essas túnicas eram longas e significava “aquilo que me dá honra”. A essência daquela cultura era que, se você corresse, iria mostrar as pernas, algo que era vergonhoso. Os rabinos diziam que um homem não deveria nem pular, com medo de que alguém visse suas pernas.
Ele estava correndo pela cidade, mostrando suas pernas e trazendo vergonha para si mesmo. O pai queria chegar ao filho antes que ele chegasse à aldeia e sofresse desprezo e ridicularização. Isso era um comportamento completamente insano para um nobre judeu do Oriente Médio.
O pai abraçou e beijou o filho, mesmo ele estando com mau cheiro de porco. O sentido original grego é que o pai beijou o filho repetidamente, foi uma reconciliação completa. Mas, pela cultura daquela época aquele jovem deveria receber duros castigos e ficar exposto à vergonha pública.
O significado celestial da atitude do pai
O que significa a atitude do pai? Graça. Mas os líderes religiosos não entenderam. Ele não entendiam o que é graça. Aquele filho não precisava conquistar a reconciliação, ele recebeu graça. Ele simplesmente se arrependeu, entregou-se à misericórdia do pai, e isso é tudo o que um pecador precisa fazer.
O jovem reconheceu que não era digno de ser considerado como filho por seu pai, que não tinha direito a nada e que pecou contra seu pai e o céu. Ele apenas desejava ser tratado como um trabalhador diarista de seu pai.
Cada vez que a parábola avança, os fariseus ficavam ainda mais indignados. Eles não podiam suportar a ideia de pecadores sendo agraciados e reconciliados.
Na parábola o jovem recebeu reconciliação, restauração, perdão e filiação. E o que ele fez para receber tudo isso? Confiou em seu pai e arrependeu-se de seus pecados. Ele não tinha planos de restituição e nem obras para apresentar. Isso é graça. O presente de um pai amoroso, misericordioso e compassivo.
Então, o que aprendemos sobre o pai? O pai realmente é Deus em Cristo, descendo do céu para buscar e salvar o pecador perdido que vem a Ele. Deus inicia. Ele é o buscador. Ele vê o pecador antes que o pecador o veja. Ele encontra o pecador antes que o pecador o encontre.
Deus encontra sua alegria na salvação de um pecador perdido a quem ele corre para abraçar, beijar e restaurar. Isso era algo incompreensível aos escribas e fariseus.
O amor do pai espelha o amor de Deus ao pecador arrependido
Lucas 15
22 O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés;
Aos olhos do fariseus, aquela reconciliação vergonhosa foi seguida por uma alegria vergonhosa. O pai se apressou para celebrar a volta de seu filho destituído de tudo.
A salvação é algo instantâneo, não é um longo processo de restauração por obras e cerimônias, é algo instantâneo. O pai disse: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés” (Lc 15.23).
Sem uma única palavra de repreensão pelo passado, o pai derrama o seu amor pelo filho e expressa a sua alegria pelo fato de que ele estava perdido e foi achado. Cada um dos presentes do pai disse alguma coisa singular sobre a sua aceitação do filho:
• Melhor roupa: reservada para o convidado de honra;
• Anel: um símbolo de autoridade que o pai estava lhe dando para agir em seu nome;
• Sandálias: normalmente elas não eram usadas pelos escravos e empregados, portanto, significam a plena restauração a seu estado de filho.
A graça triunfa sobre o pecado! A graça nos dá a plena dignidade de Deus! Quando nós nos chegamos a Deus, somos revestidos de sua própria justiça; recebemos a plena autoridade de Deus para agir em Seu nome, consistente com sua revelação; e a responsabilidade de continuar sua obra em seu nome, no poder de Seu espírito.
Lucas 15
23 trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,
24 porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.
E o pai ainda festejou com um novilho cevado, referindo-se a um animal que foi alimentado e cuidado de forma especial para ganhar peso. Era reservado apenas para a mais especial das ocasiões — um sacrifício ou uma festa de grande celebração.
Tudo isso simboliza a abundância das bênçãos da salvação. Jesus disse que “há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.10). O pai disse: “este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. A celebração tinha um grande motivo
A celebração foi voltada para o pai e não para o filho. O filho recebeu a melhor roupa, o anel e as sandálias, mas a festa foi em homenagem a um pai tão gracioso. Ele disse: “Comamos e regozijemo-nos”. A celebração da redenção de cada pecador continuará para sempre. E o objeto da celebração será Deus, o Salvador.
Bem, este foi mais um ultraje para os fariseus e saduceus que o ouviam. A coisa toda está ficando mais do que bizarra. Está se tornando irritante. Para eles o pai agora estava agindo estupidamente dando tudo isso ao filho e então fazendo uma celebração como se alguma honra tivesse sido conquistada.
Nenhum personagem existiu assim em seu mundo, não havia filhos assim, não havia pais que fizessem isso. Eles não conheciam filhos assim e pais assim. E aí está o desmascaramento deles. Eles não conheciam Deus.
A indignação do filho mais velho contra seu pai e o irmão
Lucas 15
25 Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
26 Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo.
27 E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde.
28 Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo.
Bem, chegamos a uma conclusão surpreendente, uma reação vergonhosa. O filho mais velho não foi consultado e nem sequer avisado sobre aquela celebração. Por quê? Ele não tinha nenhum relacionamento com o pai, por isso não defendeu a honra do pai no começo e não tentou proteger o irmão de fazer algo tão estúpido quanto ele queria. Este homem não desempenhou nenhum papel em nada, porque, embora estivesse em casa, não tinha nenhum relacionamento com o pai.
O pai sabia que ele não se importava com o irmão e que não tinha interesse em sua própria alegria. E, portanto, ele não fazia parte disso. Ele estava no campo, não estava trabalhando, apenas garantindo que as pessoas trabalhassem. Seu pai o deixou lá até que ele chegasse em casa no horário normal, no final do dia. A essa altura, a festa já tinha começado.
A reconciliação do pai com o filho perdido indignou o filho mais velho. Ele simboliza o fariseu, a pessoa religiosa hipócrita, que permanecia próxima ao lugar do Pai (o templo), mas não tinha percepção do pecado, não possuia amor verdadeiro pelo Pai e não tinha nenhum interesse pelos pecadores arrependidos.
Ele ficou furioso e não quis entrar. Ele pensou:
Não vou participar de nada disso. É vergonhoso. Meu pai é vergonhoso. Meu irmão é vergonhoso. Os aldeões que estão comemorando são vergonhosos. Não é hora de homenagear meu pai. O pai é um tolo. Não se honra um homem que é tolo.
Ele estava em casa e vagava por ela. Não tinha nenhum relacionamento com o pai. Estava tão perdido quanto seu irmão. Os fariseus e os escribas estavam tão perdidos quanto os cobradores de impostos e os pecadores, apenas um tipo diferente de perdição. Alguns estavam perdidos em terras distantes, eles estavam perdidos dentro do templo, assim como há muitos perdidos no meio da igreja.
E se isso não bastasse, que tal isto: mais vergonha. Seu pai saiu da festa e foi implorar ao irmão mais velho por conciliação. Ele foi ao encontro de um hipócrita que o odiava e implorou para que ele viesse participar de sua celebração.
Lucas 15
29 Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos;
30 vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.
O desdém dele para com seu pai é tão grande que ele nem o chamou de “pai”, expôs diretamente sua queixa e desprezou seu irmão por causa de seus pecados, a quem chamou de “esse teu filho” e não de “meu irmão”.
O coração enganoso do hipócrita religioso
Ele alegou que jamais havia transgredido uma ordem de seu pai. Isso é tão improvável que seu pai nem o chamou para compartilhar sua grande alegria. Essa declaração revela o problema típico de todos os religiosos hipócritas. Eles não reconhecerão o próprio pecado e nem se arrependerão.
As palavras do filho mais velho teve o mesmo espírito das palavras do hipócrita na parábola do fariseu e do publicano:
Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho (Lc 18.11-12).
Enquanto o fariseu se vangloriava, o publicano lamentava dizendo: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18.13). Então Jesus disse o publicano foi justificado e o fariseu saiu dali em trevas.
Todos aqueles anos de serviço que o filho mais velho alegou ter feito para seu pai, na verdade foram motivados mais pela preocupação com o que ele poderia obter para si mesmo. O comportamento desse filho, repleto de hipocrisia, era mais aceitável socialmente do que a devassidão do filho mais novo, mas era igualmente desonroso ao pai — e exigia arrependimento.
Ele alegou os anos que supostamente servia ao pai, e é assim com os legalistas. Eles fazem isso, é um dever, uma labuta amarga. Ele disse: “jamais transgredir uma ordem tua”. Que engano! De forma semelhante, o religioso jovem rico disse a Jesus: “todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade” (Lc 18.21). Os religiosos hipócritas não admitem seus pecados.
Ele resmungou dizendo que o pai nunca lhe deu um cabrito para ele se alegrar com seus amigos, ou seja, o pai não fazia parte de sua alegria. Ele queria uma festa só sua, mas não com o pai e nem com seu irmão. Tinha seu próprio grupo, os hipócritas andam com hipócritas.
Conclusão
Lucas 15
31 E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas
32 Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
O pai disse ao filho mais velho: “tudo o que é meu é teu”. A herança já fora distribuída (Lc 15.12). Tudo o que o pai possuía ficaria literalmente sob a posse do filho mais velho. No entanto, este estava invejando até mesmo o amor que o pai mostrou ao filho mais novo.
Os escribas e fariseus tinham fácil acesso a todas as riquezas da verdade de Deus. Eles passaram a vida toda lidando com a Escritura e a adoração pública, mas nunca possuíram de fato qualquer um dos tesouros desfrutados pelo pecador arrependido.
O que você vê na história? Dois tipos de pecadores. O pecador libertino, depravado, declarado, imoral e irreligioso, e o hipócrita em casa — na igreja, religioso e superficialmente moral. E ambos são pecadores extremos. E um pai que suplica a ambos, que oferece a ambos tudo o que tem.
E a questão é esta: O pecador extremo está sob a alçada da graça de Deus. Nem todos chegam ao ponto onde estavam os dois filhos, mas isso é uma boa notícia para todos nós que estamos entre os extremos. E por que Deus faz isso? Ele se alegra quando um pecador se arrepende e todos os santos anjos e santos glorificados se alegram com Ele.
A parábola não tem um final, ela simplesmente para. E depois de ler o versículo 32, você tenta achar um inexistente versículo 33 e se pergunta: “O que aconteceu então? O que o filho mais velho disse após as palavras de seu pai? O que ele fez? Simplesmente a parábola para no versículo 32.
Bem, se alguém se arriscar a pensar em um possível final, uma opção seria que o filho mais velho se arrependeu, confessou seus pecados e hipocrisia, e pediu perdão ao pai. E o pai o perdoou e a reconciliação foi feita.
Mas, como essa parábola retrata algo que iria acontecer na realidade, podemos dizer que houve um terrível ataque de fúria do filho mais velho contra seu pai, o espancando e o matando.
Você pode estar pensando: “Não! Isso não está na parábola”. Mas, de fato foi exatamente assim; A figura do pai na parábola representa Cristo e o filho mais velho representa a elite religiosa de Israel.
A elite religiosa de Israel teve a mesma atitude do filho mais velho. Essa elite hipócrita estava mergulhada em um sistema religioso de autojustiça e soberba. Eles acreditavam que tinham o favor de Deus por causa de sua religião hipócrita. Quando Jesus chamou pecadores ao arrependimento, e muitos atenderam, eles ficaram enfurecidos.
A bondade de Jesus para com os pecadores humildes ofuscava a farsa da superioridade daquela elite religiosa. E eles ficaram tão irados contra Jesus, que conspiraram para matá-lo.
Não há registro de reação dos fariseus a essa parábola. Lucas, guiado pelo Espírito Santo, considerou importante o suficiente gravar para nós apenas o que está escrito. Talvez eles simplesmente tenham dado as costas e foram embora. Mas, provavelmente, Jesus afastou-se deles. Vamos orar.
Pai, agradecemos pelas riquezas deste ensinamento do nosso precioso Senhor. Ajuda-nos a sermos cativados em nossos corações por suas maravilhas. Que haja a compreensão por todos de que a graça aguarda. Nenhum pecado ou hipocrisia é tão ruim, a ponto de não poder ser abandonada e a graça recebida.
Agradecemos-te porque na tua morte na cruz se tornou tu compraste a nossa vida. Faze a tua obra em cada coração, rogamos. Faze-nos gratos por um Pai assim. Em nome de Cristo. Amém.
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Este texto é uma síntese do sermão “The Tale of Two Sons”, de John MacArthur, em 10/03/2006.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/GTY104/the-tale-of-two-sons
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno