A Palavra da Cruz (1)
Este é o primeiro sermão de uma série de 3 sermões de John MacArthur sobre I Coríntios 1:18 a 2:8, conforme links no final deste texto.
Abra sua Bíblia em I Coríntios 1:18-21, que diz:
17 Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo.
18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.
19 Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.
20 Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?
21 Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.
A primeira carta aos Coríntios é dividida basicamente na discussão de Paulo sobre os vários problemas que existiam na igreja de Corinto. O primeiro problema que confrontou o apóstolo, como ele escreveu, foi o problema da divisão. A igreja estava dividida em facções e partidos. Eles estavam lutando uns contra os outros, brigando. Eles se separaram, e esse era um problema muito grave. E assim, o apóstolo escreve o capítulo 1, versículo 10, até o final do capítulo 3 para lidar com o problema da divisão na igreja.
Do capítulo 1, verso 18, até o verso 8 do capítulo 2, o assunto é a “loucura” de Deus. Mais especificamente um contraste entre a loucura dos homens, que eles pensavam ser a sabedoria, e a sabedoria de Deus, a qual eles consideravam loucura. É um contraste entre a sabedoria humana e a sabedoria divina.
Agora, você diz: “Mas John, como isso se relaciona com o assunto da divisão na igreja?”. Bem, os gregos eram apaixonados pela filosofia, palavra que quer dizer: “amor à sabedoria”. Havia possivelmente mais de 50 filosofias com relação ao significado e o destino do homem. E essas filosofias geravam grupos distintos, conforme o que cada um deles defendia. Quando a igreja de Corinto nasceu, muitos misturaram a palavra de cruz com variadas filosofias, trazendo também para dentro da igreja a formação de grupos divergentes, formando divisões da igreja.
Assim, a igreja de Corinto estava dividida em pequenas facções filosóficas, e isto é algo muito comum em nossos dias. Há vários grupos cristãos em meio a conflitos de ideias econômicas, políticas, filosóficas etc. É uma realidade presente em nossos dias.
Vou te dizer uma coisa: Filosofia é absolutamente desnecessária. Por quê? Quando ela estiver certa, vai concordar com as Escrituras. Quando ela diverge da Escritura, ela está errada. Então, você não precisa da filosofia. Você entendeu isso? É exatamente isso que Paulo quis comunicar à igreja em Corinto, afirmando que a Palavra da Cruz se sobrepõe a qualquer raciocínio humano, tornando-o inútil.
Paulo estava tratando das divisões na igreja nos versículos 10-17. No verso 12, ele diz: “Cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo”. Ele continua a falar sobre divisão a partir do verso 18, mas desta vez, no entanto, tem a ver com filosofia. A filosofia e retórica grega fascinavam muitos na igreja em Corinto.
E isto não é muito diferente de nossos dias. Você sabe o que significa filosofia? Opinião humana, sabedoria humana. E não há fim para isso. Debates intermináveis sobre assuntos complexos como o significado da vida, o destino da vida, o que é a vida, como devemos viver, o que somos, o que vamos fazer etc se alongam interminavelmente pelos séculos.
Paulo ataca esse problema em Corinto, inicialmente no versículo 17: “Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo”. A revelação de Deus tem seu ápice no ato redentor de Cristo na cruz. Paulo introduz o contraste básico que dominará seu pensamento até o final do capítulo 3. Ele coloca a sabedoria humana contra a cruz. Ele diz: “Eu vim para pregar o evangelho, não a sabedoria humana.”
As doutrinas da sabedoria humana são opostas à verdade de Deus, são opostas ao Evangelho. O Evangelho, a revelação de Deus, é tudo o que é necessário. Toda a verdade que Deus pretende que você tenha está no Evangelho. Você não precisa de um filósofo humano. A Palavra de Deus é mais que suficiente e completa, ela não precisa de acréscimos de sabedoria mundana. Então Paulo contrasta a sabedoria humana com o evangelho.
Esse é o assunto que está ele tratando. E até o final do capítulo 1, ele se refere à sabedoria por dezesseis vezes. É disso que ele está falando. A Filosofia sempre foi uma ameaça à revelação de Deus, ela nunca contribuiu em favor dela. Não precisamos adicionar a opinião humana à Palavra divina. Você entende isso? A Palavra de Deus é suficiente. Sempre que a Filosofia for misturada com a revelação divina, perderemos a revelação divina. Esta foi uma constatação na história da igreja. E esta mistura da revelação divina com a Filosofia é chamada por alguns de modernismo, mas isto eu chamo de tolice.
Deixe-me dar algumas ilustrações de como a filosofia atrapalha a revelação. A Bíblia ensina coisas simples. A Bíblia ensina que os primeiros cinco livros, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio foram escritos por um homem. Quem era esse homem? Moisés. Eles são, de fato, chamados pelos judeus, de “A lei de Moisés”.
Há cerca de cem anos atrás, ou mais, um grupo de homens, dizendo-se racionalistas, disseram que somente o que for racional para o intelecto humano é verdadeiro. Se algo não é entendido pela mente humana, não é verdade. E então, eles olharam para o Antigo Testamento e colocaram em dúvida a autoria de Moisés nos livros do Pentateuco, alegando que Moisés não tinha como ter tido acesso a muitas daquelas informações contidas no Pentateuco naquela fase da História. Mas, logo depois, foi descoberto o Código de Hamurabi, um sistema legal muito sofisticado que existiu antes de Moisés. E então, eles perderam seus argumentos, mas semearam dúvidas por toda a parte.
A Bíblia ensina que Deus criou tudo, você ver isto em Gênesis 1:1, que diz: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. A filosofia humana diz que, na verdade, a única explicação para a existência das coisas é a evolução. A Bíblia diz alguma coisa sobre evolução? A palavra evolução aparece na Bíblia? Não, definitivamente não.
A Bíblia não fala nada sobre evolução, mas a filosofia humana crê na evolução. E o que diz a evolução? Tudo começou em uma poça primitiva. E na poça primitiva havia um ser composto por apenas uma célula, e ele estava muito angustiado por ser uma célula apenas. Queria companhia, dividiu-se e se tornou dois. E então, claro, tudo foi à loucura, e depois de milhões e milhões de anos estamos nós aqui. É mais ou menos isso que é a evolução.
Tudo bem, então você tem a Bíblia, que diz que Deus criou todo o Universo e a vida em seis dias. Você tem a evolução que diz que tudo surgiu de uma poça de lama primitiva e levou milhões de anos até chegar ao resultado que vemos hoje. E alguém vem e diz: “Bem, é claro que a Bíblia veio, de algum modo, de Deus, eu acredito nisso. Mas também acredito na evolução”. E assim, temos a evolução teísta, que mistura evolução e Bíblia, resultando em algo assim: Deus fez a poça, então a coisa evoluiu e quando o homem apareceu, como resultado da evolução, Deus deu ao homem uma alma e o processo evolutivo continuou. Isso é o que defende o criacionismo progressivo ou a evolução teísta.
Temos hoje a psicologia. A Bíblia ensina muito sobre como viver, não é? A Bíblia fala muito sobre como se livrar da culpa, confessar seu pecado. Não há nada melhor. Eu nunca conheci nenhuma terapia que pudesse fazer tanto quanto a confissão poderia fazer. Eu nunca conheci nenhum psiquiatra que pudesse libertar alguém do pecado, mas sei que Cristo pode.
Mas o que acontece é que algumas pessoas pegam a Bíblia e depois vão para a universidade e recebem anos e anos de educação freudiana e tentam conciliar Freud com a Bíblia. E o que acontece? A revelação é deixada de lado. As Escrituras não precisam de Freud para completá-las. Deus não precisa de Freud, mas Freud precisava de Deus.
Aparece alguém também para adicionar uma heresia chamada “evangelho social” ao evangelho de Cristo. Você sabe o que acontece? O verdadeiro evangelho é esfacelado. A filosofia nunca trabalhou em favor da revelação divina, nunca. Um filósofo alemão certa vez disse que a sua missão era destruir os “mitos” da Bíblia. E, para ele, “mito” era tudo aquilo que ele não acreditava. Sua luta filosófica declarada era atacar a revelação bíblica.
Ouça isto com atenção: a revelação divina não precisa da filosofia. Você não precisa da sabedoria humana. Você não precisa da filosofia humana. Você precisa da Palavra de Deus. Se você conhece a palavra de Deus e entende a Palavra de Deus, sabe o motivo de tudo. Você entende o que precisa saber e tem soluções para seus problemas. Há apenas duas visões opostas: uma que faz do homem o centro de tudo e outra que coloca Deus no centro. A filosofia atua em favor da primeira opção.
A filosofia humana, na verdade, apenas cumpre Romanos 1:25, que diz: “mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador”. É isso que a filosofia humana faz. Você vê que Paulo diz, em Romanos 1, o conhecimento de Deus foi revelado. Mas, a filosofia humana e transformou a verdade de Deus em mentira. Ouça: tudo que Deus quer é que aceitemos Sua revelação. Não que nos separemos em facções filosóficas. Se você adiciona a sabedoria humana à verdade divina você torna a cruz nula e sem efeito.
E assim, Paulo, no verso 17 de I Coríntios 1, diz: “a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”. Mas note isto: a Palavra da Cruz é loucura para os ímpios, para aqueles que passarão a eternidade no inferno. Para os salvos, é o poder de Deus. E a razão pela qual é tolice para eles é porque eles elevaram sua própria filosofia e a cruz parece muito estúpida para eles. Eles têm filosofias tão complexas que tornam a mensagem simples da cruz algo ridículo.
Para o homem entorpecido por sua própria sabedoria é muita estupidez e tolice pensar que Deus em carne humana morreu na cruz, pagou a penalidade pelos pecados de muitos e que, pela fé naquele ato e Sua ressurreição, muitos são salvos tendo um destino eterno assegurado no céu para sempre. A morte de um único homem, em um momento da História, num pedaço de madeira em uma colina, sendo o fator determinante do destino eterno de todos os homens, uns para a vida eterna e outros para a escuridão eterna, é algo não compreensível pela mente humana secularizada. A filosofia vê isto como uma insensatez sem fim. É por isso que a filosofia continua especulando sobre o significado da vida, de onde vimos e qual nosso destino. A cruz é algo estúpido para ela.
Algumas traduções trazem “A pregação da Cruz é loucura”. Mas, o idioma original no qual este versículo foi escrito não faz referência à “pregação”, mas a “palavra”, ou seja “a palavra da cruz é loucura…”. E “loucura” tem o sentido de “idiotice”. E aqui Paulo faz o contraste. Enquanto a Palavra da cruz é idiotice ou tolice para o mundo e sua filosofia, ao mesmo tempo ela é o poder de Deus, a sabedoria de Deus. A Palavra da Cruz aqui significa tudo o que está envolvido na cruz, sua revelação total.
Você diz: “Bem, e qual é a Palavra da cruz?”. Veja a Escritura Sagrada, tudo nela é Palavra da cruz. Tudo antes da cruz apontou para ela e tudo depois da cruz explica a cruz. Esta é a palavra da cruz, a revelação de Deus. E esta Palavra está em total oposição à sabedoria humana. São opostos inconciliáveis. As pessoas que se apegam à sabedoria mundana pensam que a palavra cruz é pura tolice ou idiotice, enquanto aqueles que nasceram de novo sabem que ela é poder de Deus. É por isso que Paulo disse: “Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). O verdadeiro cristão é um idiota para o mundo perdido.
O homem escravizado pelo racionalismo e suas filosofias não pode se inclinar para algo tão simples como a cruz. Por isso Jesus disse: “Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3). É simples. Não é algo complexo. O homem não pode enxergar com seus olhos racionais o que é espiritual. Por quê? “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (I Coríntios 3:19). Foi por isso que Paulo declarou em I Coríntios 2:
1 E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
2 Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.
Você sabe por que Paulo disse isso? Porque a igreja estava cheia de filosofias. E Paulo queria falar justamente o oposto de tudo que eles estavam falando. E no tempo que ele esteve lá, o assunto de Paulo foi a Palavra da Cruz, nada mais. O Evangelho diz que tudo vem pela fé, não há mérito humano, não há sabedoria humana e não há nada que o homem possa fazer fora da fé. Isso é uma afronta ao egocentrismo humano, é uma tolice para o homem perdido.
O homem natural não gosta da cruz. A cruz impõe que você reconheça sua miséria, seu pecado e sua insignificância. E esse é o problema. A cruz ainda é um problema para o homem natural. A revelação de Deus tem seu auge na cruz, é nela que a sabedoria de Deus é mais visível. Mas, é na cruz que o homem natural vê o auge da tolice. É inconciliável.
Inicialmente Pedro não havia entendido a cruz. Tal como a filósofo faz, Pedro tinha sua própria visão, sua própria opinião. Ele achava que o Messias viria, estabeleceria Seu reino e todos os problemas seriam resolvidos. Este era um pensamento comum em Israel, inclusive presente em todos os apóstolos inicialmente.
Quando Jesus disse: “Vou morrer”, Pedro, usando sua filosofia própria, respondeu prontamente: “Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso” (Mateus 16:22). Não restou alternativa a Cristo, a não ser dizer: “Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mateus 16:23). O Senhor não precisava da opinião de Pedro, da filosofia humana. A perspectiva humana sempre está em desacordo com a celestial. Não há conciliação entre a sabedoria humana e a celestial. Mas, depois Pedro entendeu tudo. E morreu numa cruz por pregar e defender a palavra da cruz.
Em Atos 2:23, Pedro já sabia que Jesus foi à cruz “pelo determinado conselho e presciência de Deus”, e no verso 3:18, ele diz: “Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer”. E Pedro sabia qual era o significado da cruz: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (I Pedro 2:24).
Pedro aprendeu o significado da cruz, mas no princípio sua filosofia estava em desacordo com a cruz. Ele não podia ver. Ele não conseguia entender. Você vê que ele era como qualquer outro judeu. E com ele estava acontecendo o que havia sido escrito: “mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura (tolice) para os gentios”. A cruz não se encaixa na razão humana. O intelecto humano jamais pode entendê-la.
RAZÕES PELAS QUAIS A SABEDORIA DE DEUS É SUPERIOR À HUMANA
Agora, com isso como introdução de I Coríntios 1:19 a 2:19, Paulo dá cinco razões pelas quais ele considera a sabedoria de Deus superior à do homem.
Primeira Razão da superioridade da Sabedoria de Deus em relação à sabedoria humana: A sabedoria de Deus é permanente e a sabedoria humana será destruída. Ele diz, nos verso 19 e 20:
19 Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.
20 Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?
E Paulo cita Isaías 29:14, que diz: “Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei o entendimento do prudente”. Chegará um dia em que todas as filosofias dos homens serão varridas, Cristo reinará como Rei dos reis, quando toda a sabedoria do homem virá a cinzas. O período da tribulação, conforme estudamos no livro de Apocalipse, é a desintegração de toda a sabedoria do homem. Mas, este texto de Isaías tem mais do que apenas um cumprimento futuro. Havia também um cumprimento imediato.
Isto era exatamente o que estava acontecendo quando Isaías proferiu essas palavras. Houve um rei, seu nome era Senaqueribe, ele era muito poderoso e era o rei de uma nação chamada Assíria. Ele queria conquistar Judá, a terra de Israel (veja II Crônicas 32; II Reis 18-19; Isaías 36-37). E então, ele decidiu atacar Judá. Deus, através do profeta Isaías, diz a Judá que Senaqueribe falharia em sua conquista. Mas Deus disse que não seria por causa dos sábios de Judá e nem por causa da estratégia dos conselheiros políticos do rei Ezequias. Deus queria mostrar a impotência e a fragilidade da sabedoria humana. Isaías 36:33-37 diz:
33 Portanto, assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma; tampouco virá perante ela com escudo, ou levantará trincheira contra ela.
34 Pelo caminho por onde vier, por esse voltará; porém nesta cidade não entrará, diz o Senhor.
35 Porque eu ampararei esta cidade, para livrá-la, por amor de mim e por amor do meu servo Davi.
36 Então saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, quando se levantaram pela manhã cedo, eis que todos estes eram corpos mortos.
37 Assim Senaqueribe, rei da Assíria, se retirou, e se foi, e voltou, e habitou em Nínive.
Agora ouça, você sabe o que isso nos diz sobre os anjos? Não mexa com eles! O que todos os conselheiros políticos de Israel não puderam fazer, o que toda a sabedoria, conhecimento e perspicácia do melhor do povo não conseguiu, Deus fez com um anjo. E Ele diz: “Eu vou aniquilar sua sabedoria!. Eu não preciso dela”. Deus sempre disse a Israel que lutaria em sua defesa.
Nós temos a ideia errada. Queremos resolver tudo pela nossa própria ingenuidade, ao invés de deixar Deus agir. Então, Paulo usa essa passagem e é uma coisa fantástica. E não é só isso, o verso 38 de Isaías 37 diz que Senaqueribe foi morto por seus próprios filhos. Você vê que Deus não precisou da sabedoria de Israel. E esse é o ponto. Por isso Paulo cita o que Deus disse por meio de Isaías: “Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos”.
Eu penso que a recusa de muitos em estudar a Bíblia ou os fundamentos do cristianismo é o receio que eles têm de ver ruir as filosofias instáveis que eles carregam em suas mentes. Assim, preferem mascarar a si mesmos, fecham os olhos e os ouvidos, cruzam os dedos e esperam o tempo passar.
Ouça Jeremias 8:9, que diz: “Os sábios são envergonhados, espantados e presos; eis que rejeitaram a palavra do SENHOR; que sabedoria, pois, têm eles?”. Se você rejeita a revelação, que sabedoria lhe resta? Não há nenhuma. Deus está em oposição à filosofia do mundo, inclusive à filosofia de Israel e Judá. Ele as destrói. Penso que Tiago 3:15 define melhor o que é a sabedoria do homem: “não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, sensual e diabólica”. Terrena, porque não procede de Deus; sensual, porque se baseia no desejo humano; e demoníaca, porque sua fonte é Satanás.
Por isso Paulo diz: “Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?”. O homem enveredou em suas próprias filosofias e gerou o caos. E tenta sair do caos usando suas filosofias. Onde estão os sábios segundo o mundo para resolver os problemas? Não é este o clamor da sociedade?
Falamos na educação e seu potencial de resolver os problemas. Mas, a educação não resolveu as questões essenciais do homem. E não resolverá. A sabedoria humana nunca resolveu nada. Toda a nossa educação nunca resolveu nada. O homem saiu do mato para morar em cidades sofisticadas, mas ele continua tão podre quanto ele estava lá no mato. Seus aparatos tecnológicos não mudaram sua essência degenerada. O homem, por meio de sua sabedoria, jamais resolveu alguma questão fundamental. Isso só nos deixa mais confortáveis com nossos problemas, apenas isso.
E assim, Deus diz: “Onde estão as pessoas sábias?”. Em Isaías 19, Deus estava falando com o Egito. Ele diz que o Egito foi atrás de falsos deuses e os adorou, negou a verdade e seria julgado. O Egito buscou adivinhos, magos e médiuns, mas deles não obteve nada. E quando tudo foi feito, então Isaías diz: “Onde estão agora os teus sábios? Quem vai oferecer a solução para a destruição de Deus?” (v.12). A resposta é que não há mais nada.
Em I Coríntios 1:20, Paulo diz: “Onde está o escriba?”. Este é o escritor. Isto está em Isaías 33:18, e tem a ver com os assírios, que enviavam escribas junto com seu exército. Os escribas assírios deveriam tomar nota de todas as coisas que pegariam quando subjugassem Israel. Eles registravam tudo, todos os espólios e tributos exigidos.
E assim diz Isaías: “Onde estão os escribas? Onde está o que pesou o tributo? Onde está o que conta as torres?”. Não há nenhum. No verso 22, Isaías diz: “Porque o Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso legislador; o Senhor é o nosso rei, ele nos salvará”. Então, Paulo está dizendo, em outras palavras: “onde está o sábio desta era? Onde estão seus argumentos filosóficos agora? Veja onde estão as pessoas versadas em filosofia e retórica? Onde eles estão quando você precisa deles?”.
E é assim até hoje. Qual dos filósofos conhece alguma resposta? É muito clara a futilidade da sabedoria humana. Paulo diz sarcasticamente “onde está o sábio, onde está o escriba, onde está o sujeito desta era?”. Você me diz: “Em que a filosofia humana já contribuiu para o homem? O que já fez para torná-lo mais nobre? Para torná-lo melhor em seu coração? O que já fez para fazê-lo crescer em estatura interior?”. Nada, nada. A sabedoria do mundo é estupidez quando tenta redimir os homens, quando tenta transformar pecadores. Ela não pode fazer isso, é totalmente incapaz. Ela pode até refinar exteriormente o homem, mas o mantém essencialmente no mesmo lugar.
E assim, “não fez Deus tola a sabedoria deste mundo”. Deus fez parecer tola a filosofia do mundo. Nenhuma filosofia humana, não importa quão boa ela pareça ser superficialmente, jamais chegou à questão real, que é a alma eterna do homem. Assim, Deus, em Sua sabedoria, permitiu que os homens instruídos do mundo buscassem por sua sabedoria mundana a solução para a miséria do homem, que buscassem por sua sabedoria mundana a solução para o sofrimento do homem. E eles mergulharam em filosofias e mais filosofias e mais filosofias. E sabe qual foi o resultado? Nada.
Eles nunca conseguiram nada com toda a sua sabedoria humana. Eles ficaram sem a única coisa de que mais precisavam e que era o conhecimento de Deus. Eles nunca conheceram a Deus, porque é somente em Deus que essas coisas podem ser encontradas. A filosofia humana nunca encontrou Deus. Eles pensavam que a cruz era estúpida, mas era a filosofia deles que não passava de pura estupidez.
Segunda razão da superioridade da Sabedoria de Deus em relação à sabedoria humana: Por causa de seu poder. É capaz de fazer o que a sabedoria do homem nunca fez. Veja o versículo 21.
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação”.
Agora, observe isto, Paulo diz que o mundo, com toda a sua sabedoria, nunca conheceu a Deus. E que isto só é possível através da cruz. O que os filósofos e sábios puderam oferecer ao homem no decorrer dos séculos? Temos hoje um homem melhor depois do encanto racionalista? Não. O homem continua mergulhado em problemas e mais problemas. Nunca houve tanto consumo de drogas e álcool como agora. Nunca houve tanta gente em colapso mental como agora. O homem está atolado em problemas e mais problemas. Em I Coríntios 3, Paulo diz:
18 Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.
19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.
20 E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.
O que ele está dizendo? A sabedoria deste mundo é loucura, os pensamentos dos sábios são nada. Toda a sabedoria está em algo que é loucura (tolice) para o mundo. É melhor você descer ao nível da cruz. É melhor você realmente descer do pedestal para que você possa realmente ser sábio.
Agora, você notará essa frase interessante no começo do versículo 21. O que ela diz? “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria…”, em outras palavras, no Seu plano sábio, Deus permitiu que o mundo continuasse em sua própria sabedoria. Na sabedoria de Deus, Ele permitiu que o mundo seguisse seu próprio caminho. O mundo vive cercado pela sabedoria de Deus, mas não conhece Deus por estar cegado por sua própria sabedoria. Romanos 1 diz:
19 Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lhe manifestou.
20 Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
21 Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22 Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
Aqui está o homem cercado pela sabedoria de Deus. Toda vez que ele olha para a criação, ele vê a sabedoria de Deus. Quando observa as estrelas, nas complexidades da natureza, ele vê a sabedoria de Deus. Mas, ele rejeita a sabedoria de Deus e não pode conhecer a Deus.
Pense nisso. O astrônomo olha através de seu telescópio e vê estrelas e galaxias, mas não vê Deus. O cientista natural estuda sua biologia e botânica, vê a complexidade e o milagre da vida, mas ele prefere pensar que tudo surgiu do acaso e da evolução. A religião cria um deus que não é o Deus verdadeiro e depois se curva a esse falso deus.
A filosofia grega estava centrada em uma grande cidade chamada Atenas. O ponto central dela era o Areópago, a grande Colina de Marte. Todos os filósofos gregos se reuniam e lá havia um grande altar. E em um daqueles santuários Paulo encontrou um altar que dizia: “Ao Deus desconhecido” (Atos 17:23). E Paulo lhes diz que esse era o Deus verdadeiro que ele anunciava.
Isso não é interessante? Com tudo que eles conheciam, a única coisa que eles não conheciam era a única mais óbvia: Deus. “O mundo não o conheceu por sua própria sabedoria”. Eles se aplicaram a coisa errada, não aceitaram a revelação divina, pegaram sua própria sabedoria e não conheceram a Deus. Deus continuava sendo um desconhecido para eles. Por isso Paulo escreveu que o mundo não conheceu a Deus por sua própria sabedoria, e que aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação (I Coríntios 1:21).
Que terrível golpe contra toda a complexidade da sabedoria humana! Deus fez algo tão extremamente simples que deixou os filósofos e sábios do mundo confusos e incapazes de entender. O mais sábio dos sábios é um estúpido se comparado à mais simples sabedoria de Deus.
Agora, observe a palavra “pregação” (1Co 1:21). Essa é uma tradução ruim. A palavra “pregação”, no idioma grego, é “ulongoisoto”. Mas, a palavra no grego que significa proclamar é “karusoto”. E a palavra usada no verso 21 é “karigmatos”. Não tem nada a ver com o ato de pregar. Mas se refere ao conteúdo da mensagem. O “karigma”, a mensagem. O que o texto está dizendo é que agradou a Deus salvar os crentes pela estupidez do evangelho. O texto não está dizendo que a pregação é tola. O ponto aqui é a loucura do próprio evangelho. Algo tão bobo, algo tão baixo, tão simples, tão desagradável para os judeus, uma pedra de tropeço, pura tolice.
Mas, foi essa coisa tola, simples, Jesus morrendo na cruz, que foi escolhido por Deus para a salvação. Você não precisa ser esperto. Você só tem que fazer o que? O que diz o final do versículo 21? Para salvá os que são intelectuais? É isso que diz? Para salvar os que têm um PhD? Salvar os que são sábios? Não. Para salvar os que creem.
Não seria horrível se apenas pessoas inteligentes fossem salvas? Rapaz, eu não sei quem estaria aqui no domingo de manhã… Eu não sei onde eu estaria. E Deus não nos salvou porque éramos muito inteligentes. Ele fez isso de modo simples, não importa o quão inteligente nós somos. Nós só precisamos crer. A fé se apropria do que Deus fez. É por isso que em uma reunião de oração aqui na Grace Church você vai encontrar um cara que é professor universitário, outro que tem doutorado em medicina, outro que trabalha com as mãos, até mesmo alguém que talvez seja um pouco retardado mentalmente, mas todos eles estão se reunindo e compartilhando juntos na mesma vida comum e orando juntos para o mesmo Deus e experimentando a mesma comunhão e a mesma salvação, porque não tem nada a ver com o intelecto.
Na verdade, se você saber a verdade, a razão pela qual eu disse que não seriam muitos de nós sábios e intelectuais aqui, você só precisa olhar para o versículo 26. “Olhe ao seu redor, irmãos…”, ou seja, verifique as pessoas sentadas por você, “que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo...”. Somos nós. Não há muitos sábios, não há muitos poderosos e não há muitos nobres. A maioria de nós é apenas gente comum.
E sabe de uma coisa? Deus fez isso propositalmente, como a maior repreensão de todos os tempos contra a sabedoria humana. Deus nunca precisou da sabedoria humana no passado. Ele não precisa dela agora. Tudo o que Ele precisa é da cruz e aqueles que crêem na cruz são salvos, é tudo o que é necessário. Essa é a mensagem da salvação. Continuaremos na próxima vez. Vamos orar.
Obrigado Pai por nossa comunhão esta manhã, pela mensagem tão clara para nós. Agradecemos a Ti que nossa confiança não está na filosofia humana, mas em Ti. Nós Te louvamos por isso. E Senhor, se há alguns aqui nesta manhã que ainda não Te conhecem, que ainda se apegam à filosofia humana, oh Deus, eu oro para que o Espírito Santo quebre a escravidão dessa filosofia e libere seus corações para buscarem a Cristo. Aqueles de nós que somos cristãos ajuda-nos a nunca confundir a revelação de Deus misturando com ela as palavras dos homens e a sabedoria dos homens. Mantenha-nos puros. Em nome de Cristo. Amém.
Leia também: A Sabedoria Celestial e a Terrena
Esta é o primeiro de uma série de 3 sermões sobre I Coríntios 1:18 a 2:8, conforme links abaixo:
Este texto é uma síntese do sermão “The Foolishness of God, Part 1”, de John MacArthur em 11/05/1975.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/1813/the-foolishness-of-god-part-1
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno