A Fé que Moveu Enoque
Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam (Hebreus 11:5-6).
Temos olhado para o décimo primeiro capítulo de Hebreus e os grandes heróis da fé. Hoje vamos olhar para um homem chamado Enoque. É um nome familiar, mas talvez você saiba pouco sobre ele. Vamos estudar a vida deste homem e vermos suas aplicações práticas para nossas vidas.
O capítulo 11 da carta aos Hebreus fala sobre os heróis da fé, demonstrando que a grandeza desses homens não foi simplesmente suas obras, mas a fé. O escritor da epístola aos Hebreus quis transmitir aos judeus que a fé sempre foi a única maneira de se aproximar de Deus e que as obras são apenas consequências da verdadeira fé.
Durante gerações, aqueles judeus foram expostos a uma forma corrompida do judaísmo, que deixou a fé dos patriarcas e se lançou em um sistema de boas obras, esforços humanos, cerimônias e moralidade como o caminho para se aproximar de Deus. Um sistema de meritocracia, ou seja, o homem buscando seus méritos diante de Deus para impressionar a Deus.
E o escritor de Hebreus está lembrando àquelas pessoas, a maioria das quais cria em Jesus, para descansarem completamente em sua fé para a salvação. A carta também é um chamado à fé para aqueles que, mesmo associados a esses cristãos, não haviam dado o passo em direção à fé verdadeira.
No final do capítulo 10, versículo 38, uma passagem tirada do Velho Testamento (Habacuque 2: 4), diz: “O justo viverá da fé”. Toda a obra de Deus no homem é através da fé. Os “heróis” espirituais são marcados pela fé, para demonstrar que a salvação pela fé não é algo apenas do Novo Testamento. Isso nos leva para o início de tudo, quando Abel, pela fé, reconheceu seu pecado e ofereceu um sacrifício agradável a Deus. Ele fez tudo exatamente segundo a vontade de Deus e recebeu a aprovação divina.
Assim, o primeiro exemplo de fé é Abel, filho de Adão e Eva, que demonstrou que viria a Deus pela fé, não pelas obras, confessando seu próprio pecado, percebendo que era indigno e que precisava de um sacrifício antes que pudesse se aproximar de Deus. O segundo exemplo é Enoque. Se Abel nos diz como entrar na vida da fé, Enoque nos diz como viver a vida de fé, ou como caminhar pela fé.
Vejamos a história de Enoque, no capítulo 5 de Gênesis. É uma história notável. Este capítulo é muito interessante. Há nele os descendentes de Adão e a informação do tempo que cada um deles viveu. Em todos os casos, o texto conclui dizendo: “E ele morreu”. Adão viveu 930 anos e morreu (v.5). Sete viveu 912 anos e morreu (v.8) e etc. etc. Mas, de repente, nos versículos 21 a 24, algo quebra esse padrão:
E viveu Enoque sessenta e cinco anos, e gerou a Matusalém. E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.
Isso é diferente. Enoque não morreu, como também sabemos por Hebreus 11: 5-6. Enoque havia gerado Matusalém, que ainda viveu por cerca de 600 anos após Deus tomar para si a seu pai Enoque. Matusalém significa, no hebraico “Quando Este morrer, isto virá” (após a morte de Matusalém houve o dilúvio). Foi um nome dado por Deus para uma profecia. O que Deus estava dizendo no nome dado a Matusalém era que ele não morreria até que o julgamento fosse enviado. É o que esse nome indicava. Matusalém viveria até que chegasse o juízo.
Matusalém viveu 969 anos. Mais tempo do que qualquer outra pessoa. Desde seu nascimento, seu próprio nome era uma profecia de juízo. Os ímpios foram avisados de um julgamento vindouro. Eles também foram avisados por Enoque de um julgamento vindouro (Judas 1:14). É interessante para mim que no nome de Matusalém havia uma profecia de que o julgamento estava chegando.
Mas, você vê a graça de Deus no fato de que Matusalém viveu mais tempo do que qualquer outra pessoa e, assim, seu aviso se estendeu por todos os 969 anos! E qual foi o julgamento? Bem, no ano em que Matusalém morreu, o Dilúvio veio. Deus o deixou viver mais do que qualquer outra pessoa para que a mensagem de advertência contra o julgamento viesse. Algo gracioso da parte de Deus.
Agora, seu pai, Enoque, viveu apenas 365 anos e ele é identificado como tendo andado com Deus. Isto é dito nos versículos 22 e 24. É-nos dito que Enoque andou com Deus por 300 anos, ou seja, foi um homem piedoso por trezentos anos. Eu acho que você poderia traduzir isso em uma pergunta pessoal. Qual seria o seu testemunho se você fosse deixado na terra por trezentos anos? Você poderia sobreviver à corrupção desta sociedade e viver uma vida divina e poderia ser dito no final de seus trezentos anos que você andou fielmente com Deus, a ponto de que Ele, literalmente, levou você para o céu sem você passar pela morte?
Bem, você pode até imaginar que Enoque não viveu em um mundo tão corrupto como nós vivemos hoje. Mas, Enoque viveu em um mundo muito corrupto, era tão corrupto que Deus destruiu toda a civilização nas águas do dilúvio. Você sabe qual a visão que Deus tinha do mundo de Enoque?
E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente (Gênesis 6:5).
Havia passado cerca de mil anos de história e Deus afogou todo o globo. Portanto, se um homem viveu trezentos anos e andou com Deus, isso é algo notável. Alguns de nós achamos difícil sermos fiéis por um breve tempo. Imaginem por três séculos…
Temos na história de Enoque uma espécie de lição de espiritualidade primitiva pré-diluviana. Não era um legalismo severo, como algumas pessoas pensam que o Velho Testamento propunha. Deus não era alguém exigente e distante que os homens o apaziguavam com sacrifícios, cerimônias e moralidade. A espiritualidade nos primeiros anos era uma questão de andar com Deus. Deus era um companheiro. Deus não era uma divindade distante. Enoque estava em comunhão diária e íntima com Deus.
Nós nos lembramos de outros que experimentaram isso, ou seja, Adão e Eva. Antes da queda, andavam e conversavam com Deus no frio do dia, em íntima comunhão. Mas, eles perderam essa comunhão por causa do pecado. E então, temos agora Enoque, que foi reconciliado com Deus e andava em comunhão com Ele. Uma comunhão restaurada.
A tradução grega de Gênesis, a Septuaginta, feita por 70 estudiosos, traduz este texto não como ele “andou com Deus”, mas que ele “agradou a Deus”. E talvez eles tenham feito isso porque é exatamente isso que diz Hebreus 11:5. Dizer que ele andou com Deus é o mesmo que dizer que agradou a Deus, que Deus estava bem satisfeito com ele. Ele nos é apresentado, então, como um homem que agradou a Deus.
Enoque deve ter sido um homem que reconheceu seu pecado, como Abel. Ele deve ter sido um homem que reconheceu a necessidade de sacrifício, como Abel. Ele deve ter sido um homem que ofereceu um sacrifício apropriado. Ele deve ter sido um homem que confiou em Deus no sentido mais verdadeiro e puro para sua salvação, seu perdão e sua vida. Ele andou com Deus.
Gênesis 6:8 diz: “Noé achou graça aos olhos do Senhor” e no verso 8 diz que “Noé andava com Deus”. Tremendo isto. Estamos aqui na era mais antiga da história humana e a questão é intimidade com Deus, não um sistema legalista. Por isso, quando Deus chamou a Abraão, Ele disse: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito” (Gênesis 17:1).
Em Gênesis 24:40, Abraão diz: “O Senhor, em cuja presença tenho andado, enviará o seu anjo contigo, e prosperará o teu caminho…”. Em Gênesis 48:15, Jacó declara: “O Deus, em cuja presença andaram os meus pais Abraão e Isaque…”. Está se falando de comunhão diária daquele que foi reconciliado com Deus. É isso que a salvação significa.
Porque Noé andou com Deus, ele escapou do julgamento. Porque Abraão caminhou com Deus, ele recebeu a bênção. Porque Enoque andou com Deus, ele escapou da morte.
Deus havia deixado claro, desde os tempos dos patriarcas, do qual fez parte Jó, de um andar eterno em Sua presença após findar-se esta vida. Foi nesta esperança inabalável que Jó declarou: “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13:15). Por que esta esperança? A certeza de um encontro eterno e glorioso com Deus. Eles sabiam da ressurreição, da vida após a morte e de uma eternidade gloriosa.
Deus escolheu Enoque para ser a ilustração disso. Ele é a ilustração da grande promessa da salvação. E qual é a grande promessa da salvação? A próxima vida, deixando este véu de lágrimas, este mundo de pecado e entrando na presença do Senhor. O verso 24 diz: “E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou”.
Isto ocorreu cinquenta e sete anos depois da morte de Adão, sessenta e nove anos antes do nascimento de Noé, cerca de mil anos na história do mundo. Ele foi levado para o céu. No hebraico, a palavra descreve um desaparecimento súbito, inexplicável. E a explicação para o seu desaparecimento é dada aqui: “Deus o tomou”. Ele é um modelo de fé que anda com Deus, sendo recompensado com vida eterna, porque Ele andou com Deus.
Era um novo conceito, este andar com Deus. Adão e Eva fizeram isso, mas foram expulsos. Mas em Enoque, o verdadeiro destino do homem é restaurado, e este destino é uma comunhão pessoal, íntima, com Deus. É o que Deus sempre desejou e sempre providenciou.
Quando se chega a Deus, na maneira que Abel veio, reconhecendo o pecado e percebendo a necessidade de um sacrifício que antecipa a própria morte de Cristo, quando se vem percebendo que merece a morte, e o substituto é morto em seu lugar, a pessoa entra em um relacionamento pessoal e glorioso com Deus. O destino do caminho de Caim, com seus próprios conceitos, é oposto ao de Abel. Abel entrou através do sacrifício, um meio de sacrifício apontando para Cristo, e ele é uma ilustração clássica atemporal da caminhada da fé que um dia terminará em entrada na glória.
Agora, vamos olhar para o nosso texto em Hebreus 11, e extrairmos alguns pontos do que significa andar com Deus. Nosso texto diz:
Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam (Hebreus 11:5-6).
A única maneira de caminhar com Deus e de agradar a Deus é pela fé. Tudo começa com a fé. Você não pode agradar a Deus, não pode ser reconciliado com Deus, não pode andar com Deus e não entrará na glória da vida eterna sem a fé. Nada pode substituir a fé. Essa é uma afirmação que deve ser sublinhada na mente de todos: “Sem fé é impossível agradar a Deus”. Nenhuma manifestação religiosa do homem pode substituir a verdadeira fé. Somente a fé agrada a Deus.
Voltando a Efésios 2:8, que diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”, temos que a única maneira de se chegar a Deus é pela fé. E sabemos que Abel fez isso, assim como Enoque. Abel creu no que Deus havia dito, obedeceu oferecendo um sacrifício apropriado, demonstrou sua fé e por ela entrou na vida. Enoque teve sua caminhada de fé, continuamente pondo toda sua confiança em Deus e Deus o tomou para si.
O que significa colocar sua fé em Deus? Bem, em primeiro lugar, “Aquele que vem a Deus deve crer que Ele existe”, ou seja, que Ele é aquilo que Sua Palavra diz a respeito de Sua pessoa. Não é uma fé diferente daquilo que Deus é. Não se trata de ter apenas uma noção sobre Ele e Suas obras, mas se trata de crer que Ele é o Deus que Ele é, o Deus descrito na Bíblia.
E como você conhece o Deus que é Deus? Em virtude de Sua revelação. Ele sempre se revelou. As pessoas sabiam quem Ele dizia ser e Enoque creu nisso. Não basta que alguém acredite no conceito de Deus, na ideia de Deus, na noção de Deus, na realidade de Deus. Você deve crer no Deus que é Deus. Você deve crer no Deus de Abraão, Isaque e Jacó e naquele que é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Você deve crer no Deus verdadeiro e vivo que se revelou encarnado em Cristo.
É por isso que não podemos ser salvos fora de Jesus Cristo, porque essa seria uma visão incompleta de Deus. É muito popular dizer hoje: “Bem, se você apenas acreditar no Deus do Antigo Testamento, se essa é toda a informação que você tem, basta.” Não, porque isso não é tudo o que Deus revelou ser. Ele é um Deus trinitário na plenitude de Sua revelação, que se manifesta em Jesus Cristo.
O verso 5 diz que Enoque “antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus”. Ele foi reconciliado com Deus, ele cria no Deus verdadeiro como Ele se revelara. Um Deus de santidade e justiça, que odiava o pecado, que exigia um sacrifício, a morte pelo pecado, um Deus que tinha deixado claro que os homens não podem tentar agradá-lo por seus próprios caminhos e esforços. Ele cria que Deus era o que Deus é.
É muito perturbadora uma pretensa fé em Deus desconectada de Jesus Cristo. É uma falsa fé. A verdadeira fé crê em Deus como Deus é. Jesus Cristo é um com Deus, não há fé em Deus, se não cremos no Filho.
Paulo deixa isso claro em Atos 17. Em um dos templos de Atenas havia uma estátua ao “Deus desconhecido”. Penso ter sido um esforço nobre só para ser gentil com alguma divindade que poderia ter sido negligenciada ou esquecida. E Paulo apresenta aos atenienses quem era esse Deus desconhecido por eles:
O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação (Atos 17:24-26).
Eles foram informados daquilo que Enoque conheceu: Deus é o único criador e sustentador de todas as coisas. Ele é perfeitamente santo e justo. Ele chamou Seu Filho com uma profecia de juízo. Enoque sabia todas essas coisas e isso é parte de conhecer o Deus verdadeiro. Mas, a imagem completa vem quando Paulo lhes diz:
Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos (Atos 17:30-31).
O que quer dizer isto? Você não pode vir a Deus se não crer no Senhor Jesus Cristo como o Deus encarnado, cuja divindade foi manifestada e validada pela ressurreição dos mortos. Assim, a primeira característica que marca Enoque é que ele cria no verdadeiro Deus como Ele se revelara. A revelação de Deus é progressiva. E a plena revelação vem em Cristo no Novo Testamento. Hebreus 1:1 diz:
Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.
Então Enoque creu no que Deus havia revelado ser verdadeiro sobre Si mesmo. Ele cria no Deus que é quem Ele é.Em segundo lugar, Ele cria que Deus é um galardoador daqueles que O buscam. Isto quer dizer que Ele é o Redentor, que Ele é o Salvador. Enoque cria que Deus recompensa àqueles que o buscam.
Enoque não cria em alguma causa cósmica distante. Ele cria em um Deus pessoal e amoroso, que quis estar reconciliado com o homem de uma maneira pessoal. Enoque não cria no deus de Einstein, que não passava de uma força cósmica, impessoal e incompreensível. Enoque cria no Deus que é Deus como Ele Se revelou, um Salvador de pecadores que abraçaria um arrependido que veio a Ele pela fé. Temos tremendas promessas na Palavra, tais como:
E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração (Jeremias 29:13).
Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão (Provérbios 8:17).
As religiões apresentam um deus indiferente, distante, raivoso e que deve ser apaziguado. Esses são seus distintivos essenciais. Mas o Deus verdadeiro e vivo é galardoador daqueles que O buscam, ainda que sejam pecadores e que por si mesmos não possam agradá-Lo. Ainda assim, há uma recompensa para os justos (Salmo 58:11) e esta é uma recompensa segura (Provérbios 11:18). Pedro e Paulo declararam:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo (I Pedro 1:3-5).
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Efésios 1:3).
Ele é um galardoador generoso daqueles que vêm em Sua condição. Ele concede o perdão e um novo coração. Ele nos dá o Espírito Santo, a vida eterna, a bênção, a misericórdia, a graça, a paz, a alegria, o amor, o céu, o poder sobre o mal.
Jesus declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Pedro declarou: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
Assim, a caminhada da fé começa com a crença de que Deus é quem Ele é e que Ele é um Salvador pessoal que recompensará aqueles que O buscam. E tudo, necessariamente, está vinculado à Pessoa de Jesus Cristo. Deus estava satisfeito com Enoque, não por causa de suas obras, mas por causa de sua fé sobre quem Deus é.
Em Gênesis, temos, por duas vezes, a afirmação de que Enoque andou com Deus. Em Hebreus, temos que ele agradou a Deus. Esta foi a marca de toda a sua vida. Que marca tremenda! Um homem que viveu 300 anos em um mundo mergulhado em profundas trevas, mas andar com Deus e agradar a Deus foram suas marcas conhecidas.
E, como falei há pouco, você pode até imaginar que a época de Enoque não era tão ruim quanto nossos dias. Será isto uma verdade? Não. Ali estava um mundo totalmente corrompido e que Deus julgou com o dilúvio mais adiante. Nosso tempo equivale a este quadro terrível. Jesus disse:
E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem (Mateus 24:37-39).
Como você acha que Enoque se sentia naquele mundo mergulhado na iniquidade?
Podemos ver em Enoque alguns componentes do que significa andar com Deus.
Em primeiro lugar, a reconciliação. Ele andou com Deus, em concordância com Ele. Amós 3: 3, diz que dois não andarão juntos se não estiverem em acordo. Ele andava com Deus e isso implica que Deus não era mais seu inimigo. Enoque não estava mais em rebelião, mas reconciliado com Deus. Ele amou os caminhos do Senhor.
Em segundo lugar, o que vem à mente quando você fala sobre andar com Deus, não é apenas reconciliação, mas sua natureza transformada, que deseja esta comunhão.
Não posso andar com Deus, a não ser que eu possua interesses comuns com Deus, compartilhando Seus pensamentos, Sua vontade. A luz não tem comunhão com as trevas. Nenhum ímpio pode andar com Deus, eles não têm vida comum. Há uma diferença na natureza.
Em terceiro lugar, caminhar com Deus não só pressupõe reconciliação e uma natureza correspondente, mas também pressupõe aptidão moral. Deus é absolutamente justo e os pecadores são absolutamente injustos. Uma pessoa injusta não pode andar com Deus, a menos que haja algo, que, mudou dramaticamente o caráter moral. Deus nunca se desvia do caminho da santidade, então Ele não anda com alguém que está no caminho da impiedade. Deus é luz e Nele não há trevas alguma. Habacuque 1:13 diz: “És tão puro de olhos, que não podes ver o mal”. Se vamos andar com Deus, temos que andar no caminho da santidade.
No Antigo Testamento, antes que Deus andasse no meio de Israel, tudo o que estava contaminado tinha que ser removido. Antes que Cristo comece Seu reino milenar no futuro, todas as iniquidades serão eliminadas da terra. O Deus santo não guarda nenhuma companhia com o imundo. Então, antes que possamos caminhar com Deus, temos que estar diante de Deus vistos como justos.
Você pode pensar na ideia de justiça imputada como um conceito do Novo Testamento, mas já era um conceito no Velho Testamento, porque Enoque ou qualquer outra pessoa que andasse com Deus, teria que ser coberto de justiça ou Deus não comungaria com eles. Deus exige que todos os que estão em Sua companhia se rendam a essa justiça.
Em quarto lugar, isso implica um desejo de comunhão com Deus. Enoque andou em comunhão com Deus por 300 anos. Havia um profundo desejo em seu coração em agradar a Deus. Você não agrada a Deus se isto não partiu de uma ação intencional, ou seja, de sua vontade consciente. É intencional. É algo que você persegue. É um modo de vida.
I João 2:5 diz: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou”. Como Jesus andou? Em perfeita comunhão com o Pai. Isto implica desejo ardente, santidade, andar na verdade, amar e cumprir a vontade de Deus. Esse foi o andar de Cristo. Esta é a nossa caminhada da fé e Enoque foi um modelo.
E em quinto lugar, quando você está vivendo em uma sociedade corrupta, que está em declínio, que está se dirigindo para um julgamento devastador em que o mundo inteiro será destruído, com exceção de oito pessoas, e você é uma pessoa piedosa, você vai se preocupar com o que está acontecendo ao redor de você. Sem dúvida. Uma pessoa verdadeiramente divina não apenas está vendo e se preocupando, mas está proclamando a justiça e o juízo. Assim foi Enoque, Judas 14-15 diz:
E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.
Enoque era um pregador da justiça. Judas escreveu contra os falsos profetas, os que seguiam os caminhos de Balaão, Caim e Coré (v.11-13) e Enoque foi relacionado como um pregador que se levantou contra a falsa fé.
Esta citação de Judas não aparece no Antigo Testamento. É algo que Enoque profetizou claramente, e o Espírito Santo levou Judas a escrever uma profecia legítima que veio de Enoque. Se não está no Antigo Testamento, como eles sabiam disso? Bem, havia muita tradição oral transmitida e passada, e Enoque era um herói para os judeus. Ele era um homem que andou com Deus. Ele era um homem que caminhou para o céu. Os judeus estavam familiarizados com a história de Enoque.
E qual foi sua mensagem para a sua geração? O que ele disse durante 300 anos? Profetizou a vinda do Senhor com seus santos para condenar os ímpios por todos seus atos de impiedade, por tudo que eles falaram contra Deus. Ele era um pregador do juízo. Se Enoque estivesse vivo hoje, ele seria um problema para o mundo. O julgamento estava chegando, e este julgamento estava ligado ao nome de seu próprio filho, Matusalém. Isso aconteceu no Dilúvio.
Mas, a verdade da questão é que isso não é uma profecia do Dilúvio, é uma profecia do julgamento final quando o Senhor virá com muitos milhares de Seus anjos. Essa é uma profecia acerca do retorno de Cristo. Essa é uma profecia do fim da história humana. Ele estava olhando muito, muito para frente. Ele pregava que o juízo estava chegando. Ele não viu esse juízo. Ele não viu o Dilúvio. Mas ele sabia que estava chegando e ele pregou sobre o juízo eterno.
Uma coisa interessante para se pensar é que Enoque é um pouco como um crente do Novo Testamento. O julgamento está chegando, mas os crentes do Novo Testamento serão arrebatados antes dele. Enoque é uma espécie de ilustração de um arrebatamento pré-tribulação, e isso vai ser a experiência de uma geração de crentes no mundo imediatamente antes do holocausto final do julgamento, quando o Senhor voltar, Ele vai apanhar os crentes de todo o mundo.
Em certo momento, haverá milhões de “Enoques” desaparecendo da face da terra, e então, o julgamento virá. Em um sentido muito real, então, ele é um modelo da promessa do céu e até mesmo da promessa de libertação especial do julgamento. Como é importante para nós ver em Enoque o modelo do que significa andar com Deus! Junte-se a mim em oração.
Parece que nunca chegamos perto, Senhor, de exaurir as maravilhas da Tua Palavra. Nós novamente não ficamos surpresos, mas ainda atordoados por sua coesão, sua consistência, sua clareza. Agradecemos que, não importa quão profundamente a examinemos, não importa quão agressivamente desafiemos suas palavras e suas verdades, não importa como nos relacionamos, correlacionemos e analisemos, somos inescapavelmente levados à questão de que este Livro foi escrito por um autor cuja consistência é divina.
Nós Te agradecemos por nos dar o registro acerca de um homem que andou Contigo. Podemos viver bem menos tempo do que Enoque viveu e, mesmo assim, alguns de nós não chegamos nem mesmo a Te conhecer, agradar, andar Contigo. Mas, seja lá quanto temos tenhamos de vida aqui, que possa ser dito de nós que andamos com Deus. Que isso seja tão óbvio, como no caso de Enoque, que possa ser testemunhado por outras pessoas.
Que possamos ser conhecidos por caminhar Contigo, como aqueles primeiros discípulos de quem se dizia que se podia dizer que tinham estado com Jesus. Nós Te agradecemos que Tu providencias esta comunhão, esta comunhão para nós. Ajuda-nos a desfrutar da realidade de Tua presença. Em nome de Cristo. Amém.
Esta é uma série de sermões sobre Hebreus 11. Abaixo os links dos que já foram publicados
- O que é a fé?
- A fé que moveu Enoque
- A fé que moveu Abraão
- A fé que moveu Moisés
- A fé que moveu Noé
- A fé que moveu Abel
- A fé que moveu Isaque, Jacó e José
Este texto é uma síntese do sermão “Enoch: The Walk of Faith”, de John MacArthur em 01/11/2009.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/90-383/enoch-the-walk-of-faith
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno