A Fé que é Insuficiente
Seguindo nossa trilha no Evangelho de Marcos, vamos olhar agora para Marcos 9:14-29.
[Nota: Como os sermões sobre a Transfiguração de Jesus (Marcos 9:1 a 13) já constam na série de Lucas. Por economia de tempo, o site não traduziu na série de Marcos. Ler em A Transfiguração de Jesus – 1 e A Transfiguração de Jesus – 2].
Trataremos de uma porção bastante longa das Escrituras, ao contrário do que fazemos normalmente. Em vez de iniciarmos lendo o texto completo, vamos por partes.
É uma história fascinante. Basta dizer que há uma declaração na história para a qual eu gostaria de chamar sua atenção: “Tudo é possível ao que crê” (Marcos 9:23). Em resposta a essa afirmação de Jesus, o pai de um menino endemoninhado disse: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!” (Marcos 9:24). É uma lição sobre o poder da fé.
A fé é a característica dominante da vida de todo cristão, porque temos que colocar nossa confiança inteiramente no que não podemos ver. Por isso as Escrituras dizem:
- Andamos por fé e não pelo que vemos (2 Coríntios 5:7)
- Vivo pela fé no Filho de Deus (Gálatas 2:20)
- A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem (Hebreus 11:1)
- Sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11:6)
Quais os frutos da fé?
- Confiamos em um Deus que não vemos.
- Confiamos em um Cristo que não vemos.
- Confiamos em um Espírito Santo que não vemos.
- Abraçamos uma morte e ressurreição que não vimos.
- Confiamos em uma justificação que não vimos.
- Esperamos um cumprimento no céu eterno, que não podemos ver.
Mas a fé não é cega! Ela é baseada em evidências. E a evidência e âncora para nossa fé é a Escritura, a Palavra de Deus, porque ela nos diz tudo que precisamos saber, e é uma Palavra verdadeira, segura e inatacável. Mas mesmo assim, vivemos pela fé.
Por mais de dois anos, os discípulos viveram de vista. Eles andaram o dia todo e todos os dias com Jesus. Eles ouviram tudo o que Jesus ensinava diretamente de Sua própria boca. Eles viram todas as Suas reações com seus próprios olhos. Eles tinham visto todas as maneiras pelas quais Ele havia lidado com circunstâncias de todos os tipos.
Eles tinham visto cada milagre realizado. Toda vez que Ele expulsava demônios, eles estavam lá. Quando Ele ressuscitou mortos, eles estavam lá. Eles viviam de vista. Mas logo eles teriam que viver pela fé.
Eles sempre teriam a memória do que tinham visto. De fato, essa memória seria enriquecida e aprimorada pelo Espírito de Deus para testemunho público e para permitir que alguns deles escrevessem o que viram e ouviram. Mas eles viviam de vista. Logo eles viveriam pela fé.
O poder estava sempre no meio deles porque Jesus estava sempre lá, e assim nunca houve um momento em que eles não tivessem o poder, porque o próprio poder estava presente. Mas aqui neste incidente, há uma lição sobre o poder da fé que eles realmente precisavam aprender, pois neste incidente Jesus não estava lá.
Como eles iriam se comportar quando Ele não estivesse lá com eles? Como eles iriam acessar o poder de Deus quando Jesus não estivesse lá com eles? Eles precisavam aprender isso porque era assim que eles teriam que viver após a morte e ressurreição de Cristo.
Em poucos meses Jesus iria morrer, ressuscitar e ascender ao céu. Eles teriam que viver pela fé, como nós. Eles sabiam o que era verdade porque viam com os olhos; e nós sabemos o que é verdade porque temos a Palavra de Deus.
Vivemos pela fé, somos salvos pela fé, somos santificados pela fé e temos a esperança da glória eterna pela fé. Nossa fé não é perfeita, mas é suficiente. O que a torna suficiente não é nossa capacidade, pois a fé é um dom de Deus. A nossa salvação vem pela graça mediante a fé, que não vem de nós, é dom de Deus. Efésios 2: 8-9 diz:
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
A fé que temos para crer na Palavra de Deus, para crer no evangelho, é uma fé suficiente porque é uma fé que nos foi dada por Deus e Ele a designou para ser suficiente. Deus, em sua infinita misericórdia e graça, sabe que não pode esperar de nós uma fé perfeita.
Essa fé é Perfeita? Não. Ela é imperfeita? Sim. Ela é fraca? Sim. Ela é vacilante? Sim. Ela duvida por vezes? Sim. Mas ela é suficiente? Sim. Esta é a lição que está diante de nós neste texto.
Contexto de Marcos 9:14-29
Entramos agora em um período de tempo em que Jesus começa a se mover em direção a Jerusalém, onde Ele morrerá, ressuscitará e ascenderá. Neste último segmento de alguns meses, o foco de Marcos está nas lições ensinadas aos discípulos e, portanto, a nós.
É intercalado com algumas referências à cruz vindoura, mas a ênfase principal é a instrução sobre questões que foram críticas para o treinamento de Seus discípulos e apóstolos.
A primeira lição diante de nós é sobre a fé, o poder da fé. Depois ele dá outras lições sobre: humildade, ofensas, a seriedade do pecado, casamento e divórcio, o lugar das crianças no reino,riquezas terrenas, a verdadeira riqueza, liderança e serviço sacrificial. E então há uma lição final no capítulo 10, versículos 46 a 52, sobre fé novamente.
Assim, todas essas lições estão entre parênteses de uma lição de fé no início e uma lição de fé no final. As lições terminam no final do capítulo 10, e no capítulo 11, versículo 1, Ele entra em Jerusalém para a última semana de Sua vida.
Agora, a primeira lição sobre fé está resgistrada em Marcos 9: 14-29. Esta é uma lição tão importante que Mateus 17:15-21 e Lucas 9:38-43 também registram. No entanto, Mateus e Lucas dão poucos versículos para isso, embora com informações importantes. Marcos nos dá uma seção mais completa.
Recebemos muitos detalhes de Marcos. Isso porque além dos propósitos do Espírito de Deus, a fonte de Marcos foi o apóstolo de Pedro. Mártir (150 d.C.) referiu-se ao Evangelho de Marcos como “as memórias de Pedro”. Pedro foi uma testemunha ocular e, portanto, pôde preencher todos os detalhes.
Este incidente aconteceu após a transfiguração de Jesus diante de Pedro, Tiago e João no monte (Marcos 9:1-13), onde ele deu aos discípulos um vislumbre do seu reino glorioso.
Agora Jesus desce do monte e volta ao vale, retorna à realidade, da glória para um mundo em luta. Como Moisés descendo da montanha e da presença de Deus para um povo infiel, esperando por ele no sopé da montanha, Jesus desce da presença gloriosa de seu pai para um povo infiel esperando por ele também.
Os discípulos ainda estavam cheios de mal-entendidos e de fé superficial. Em Marcos 8:17-21 Jesus lhes disse:
Ainda não considerastes, nem compreendestes? Tendes o coração endurecido? Tendo olhos, não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais […] não compreendeis ainda?
Muito embora Pedro tenha declarado: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16 e Marcos 8:29), eles precisavam entender um monte de coisas.
Como a fé é a nossa vida e a fonte de poder, era fundamental que eles aprendessem a crescer em confiança e dependência do Senhor, porque logo eles não iriam mais tê-lo à vista.
E logo Pedro, Tiago e João tiveram um choque de realidade.
- No monte da transfiguração eles tiveram um vislumbre do reino glorioso de Deus, onde há apenas glória, mas agora, no vale, eles veem sofrimento e Satanás na cena.
- Na transfiguração, o Pai celestial está plenamente satisfeito, no incidente no vale, um pai terreno é torturado.
- Na transfiguração, há um Filho perfeito; agora, há um filho endemoninhado.
- Na transfiguração, você tem homens caídos em santo assombro; nesta história, você tem um filho caído e escravizado tenebrosamente por Satanás.
É uma cena dramática, uma das mais dramáticas de todo o Novo Testamento. Envolve possessão demoníaca, um menino endemoninhado. E isso sempre foi uma realidade. É uma realidade hoje.
Demônios estão no mundo fazendo o trabalho de Satanás. Eles não são tão prontamente manifestos para nós porque eles escolhem operar secretamente.
Os demônios preferem ficar invisíveis, se disfarçar de anjos de luz, aparentando ser muito religiosos e muito morais. Eles não querem vir à tona e serem conhecidos por fazerem o que estão fazendo. Mas eles estão agindo o tempo todo.
No entanto, nos dias de Jesus, eles fizeram uma blitz total contra Ele. Houve uma exposição inigualável e sem paralelo da atividade demoníaca durante os anos do ministério de nosso Senhor.
A dramática história
Neste caso específico de possessão maligna, registrado em Marcos 9:14-29, a maioria das pessoas simplesmente teria dito que o menino endemoninhado tinha algum tipo de transtorno mental, tanto que o menino era considerado um lunático (Mateus 17:15).
Marcos 9
14 Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles.
15 E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava.
16 Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?
O versículo 14 registra o retorno de Pedro, Tiago, João e Jesus para juntos dos demais nove apóstolos e talvez alguns outros seguidores e discípulos variados.
Mesmo quando Jesus ainda não estava presente, a multidão se formou por causa da presença de nove apóstolos. Então os escribas estavam lá discutindo com eles.
Este fato aconteceu na área ao redor de Cesareia de Filipe, cidade que o rei Herodes, o grande, construiu aos pés do monte Hermon e dedicou a César Augusto. Havia cidades e vilarejos judeus naquela área, na parte norte da Galileia. Os escribas estavam lá, sempre ao redor de Jesus, com o propósito de desacreditá-Lo.
Há pouca dúvida de que os escribas estavam zombando e ridicularizando os nove apóstolos. E então Jesus chegou com Pedro, Tiago e João. A multidão maravilhada, correu rapidamente ao encontro de Jesus.
Essa empolgação da multidão por Jesus, após descer do monte da transfiguração, não foi porque o rosto de Jesus estava resplandecente, como aconteceu com Moisés ao descer do Sinai. Isso seria contraditório, afinal de contas, Jesus havia dito a Pedro, Tiago e João que “não divulgassem as coisas que tinham visto, até o dia em que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos”. (Marcos 9:9)
A empolgação da multidão era apenas por causas dos sinais que Jesus operava. Isso era o que atraia as multidões. E havia outro motivo: a multidão estava decepcionada com os apóstolos pelo que havia acontecido ali. Por isso Jesus chegou e foi logo perguntando aos escribas: “O que vocês estão discutindo com meus discípulos?”.
Jesus entrou aqui de uma maneira maravilhosa. Ele era o protetor e salvador deles. Os discípulos haviam se envolvido em uma situação que não souberam lidar muito bem. Quando Jesus perguntou sobre o que era a discussão, não há respostas nem dos escribas e nem dos discípulos.
Bem, os escribas ficaram constrangidos e sem argumentos, e como ninguém falou nada, alguém na multidão respondeu:
Marcos 9
17 E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo;
18 e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam.
Mateus 17: 14-16 assim registra:
E, quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água. Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo.
Mateus acrescenta que o homem caiu de joelhos diante de Jesus e o chamou de Senhor. Ele tinha alguma fé em Cristo, em Sua pessoa, bem como em Seu poder. Ele veio de uma forma muito reverente e humilde.
Ele estava muito aflito com a situação de seu filho, que estava endemoninhado. Marcos 9:25 acrescenta que o espírito maligno deixou o menino mudo e surdo. Aquele pai informou a Jesus que levou seu filho aos 9 discípulos que não subiram ao monte da transfiguração, mas eles não conseguiram expulsar o demônio.
O menino não tinha qualquer doença física, mas não podia ouvir e nem falar, ele estava sob controle demoníaco. O demônio tinha tanto poder sobre ele que o jogava constantemente no chão, o fazia espumar e ranger os dentes, algo como uma convulsão. As pessoas o consideravam um lunático (Mateus 17:15).
Os demônios, quando possui uma pessoa, têm grande poder sobre seu corpo. Hebreus 2:14 diz que o diabo possui o poder da morte. Tudo isso está dentro da permissão de Deus. Satanás e os demônios são grandes poderes no mundo, mas só podem operar dentro dos limites que Deus permite.
Por que os discípulos não conseguiram expulsar o demônio daquele menino?
O problema é que os discípulos não conseguiram expulsar os demônios. Lucas 9:40 registra que o homem disse a Jesus: “Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam”.
Você pode estar pensando sobre o que teria acontecido, sobre qual o motivo da incapacidade deles de expulsar o demônio.Você pode estar lembrando de algo como:
Chamou Jesus os doze e passou a enviá-los de dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos imundos […] Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse; expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos… (Marcos 6:7,12-13)
Então, o que aconteceu? Por que eles falharam agora? O que há de errado? Bem, vamos ver isso agora.
Marcos 9
19 Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-mo.
Esse foi o problema. Eles não creram. O termo “geração” foi uma forma de referir a Israel, tal como vemos em Marcos 8:38. Aqui, Ele está falando com Seus discípulos, Seus apóstolos, e Ele diz: “Vocês são incrédulos”.
Isso era uma verdade para a multidão que não cria em Jesus, mas o foco de Jesus está sendo em relação a seus discípulos. A incredulidade é algo que entristece a Deus. Foi algo difícil para Jesus, lidar com a falta de fé de seus discípulos.
Jesus recebia todo tipo de ataques cruéis de seus inimigos, e ainda tinha que lidar com seus próprios seguidores, que relutavam em confiar nele. Em Lucas 9:41 Jesus diz: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei” (Lucas 9:41).
E isso já havia sido dito a Israel no Velho Testamento. Veja, por exemplo:
Procederam corruptamente contra ele, já não são seus filhos, e sim suas manchas; é geração perversa e deformada […] esconderei deles o rosto, verei qual será o seu fim; porque são raça de perversidade, filhos em quem não há lealdade (Deuteronômio 32:5,20)
Os discípulos haviam confiado antes, mas não agora. Qual foi a diferença? Jesus estava no monte com Pedro, Tiago e João. Os demais estavam longe de Jesus e lutavam para crer. Eles precisavam aprender a crer. Jesus exclamou em santa frustração: “até quando devo aturar vocês?!”
Jesus conversa com o pai do menino endemoninhado
E então Jesus diz: “Traga o menino até mim”. Nesse ponto, o pai daquele menino conseguiu o que queria e o demônio conseguiu o que não queria. Ambos ficariam face a face diante do Senhor soberano, para o bem do homem e para o mal do demônio.
Marcos 9
20 E trouxeram-lhe; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando.
Então trouxeram o menino até Jesus. Ao vê-lo, o demônio entrou em ação. Lucas 9:42 diz que “quando se ia aproximando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou”. Marcos registra que o demônio agitou o menino com violência, o jogou no chão e então o menino rolava pelo chão e espumava.
Marcos 9
21 Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu;
22 e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar…
Enquanto essa cena sinistra acontecia, Jesus perguntou ao pai há quanto tempo aquilo acontecia. O homem respondeu que era desde a infância, e que muitas vezes o demônio tentou matar o menino jogando-o no fogo e na água. O menino não havido morrido porque Deus não permitiu.
Você pode estar se perguntando: Por que Jesus perguntou isso ao pai do menino? Ele não sabia todas as coisas? Ele não era o Deus eterno e onisciente encarnado?
Ele queria ouvir a dor do pai. Por quê? O pai não estava chegando simplemente a um poder, mas a uma pessoa. E se há algo demonstrado no ministério de milagres de Jesus Cristo, é a compaixão de Deus, que Ele se importa e Cristo se importa, e Ele se importa com sua dor.
Ele se preocupa com o seu sofrimento. Ele se preocupa com as coisas que partem seu coração e Ele quer ouvir. Jesus não é simplesmente um poder, Ele é uma pessoa suprema, o único que ama em verdade. Ele é um sumo sacerdote que tem empatia e misericórdia. Ele quis que o pai tivesse a oportunidade de falar sobre seus sofrimentos. Hebreus 2:14,15;17-18 diz:
Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida […] Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.
Você pode questionar: “Por que Deus permitiu que aquela família sofresse tanto até o menino ser liberto por Jesus?”
Bem, Mateus, Marcos e Lucas não registraram nada sobre isso. Ficamos então com algo semelhante registrado por João:
Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus (João 9:1-3)
Eu não sei em todos os casos porque Deus permite que Satanás faça o que ele faz com certas pessoas, mas neste caso, foi para a glória de Deus.
E embora o demônio quisesse devastar aquela família matando o menino, isso nunca iria acontecer porque esse menino seria para a glória de Deus como foi o cego. Portanto, não há nenhuma razão dada para esse menino, a não ser o resultado que torna a razão óbvia.
O desafio da fé! Qual o tamanho da fé que é suficiente?
Marcos 9
22 E muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.
A ação do Diabo está sob os limites que Deus estabelece. O diabo tentou matar esse garoto durante toda a vida, mas não conseguiu consumar seu intento. Foi muito sofrimento para aquele pai, mas agora seu coração está cheio de esperança, ao ver Jesus demonstrar empatia e compaixão. E ele clama a Jesus por ajuda.
Mas ele diz a Jesus: “se tu podes alguma coisa…”. Essa é uma declaração de fé muito fraca, não é? Ele não está dizendo: “Você quer?”, ele estava convencido da vontade de Jesus por causa da conversa, da empatia dele. O que ele não tinha certeza era se Jesus tinha poder para libertar o menino, pois seus discípulos não tinham conseguido.
Marcos 9
23 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê.
24 E imediatamente o pai do menino exclamou [com lágrimas]: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!
Jesus exclama: “Se podes!”. Outra maneira de dizer isso seria: “Se eu posso? Você está brincando? Como você pode estar fazendo esta pergunta? Há mais de um ano ando curando e libertando pessoas nesta área!”.
E então Jesus dá a lição: “Tudo é possível ao que crê.” Esse é o cerne da lição, o desafio da fé. Você tem fé para crer que o Senhor pode fazer isso?
Jesus falou de fé outras vezes, mas esta é a primeira vez que Ele mostrou a importância da fé e fez dela um mandato no evangelho de Marcos. O que temos aqui é uma questão de fé. Não é uma questão de poder, é uma questão de acessar esse poder que vem pela fé.
Jesus curou muitas pessoas sem fé. A fé nem sempre foi um problema. Mas aqui, a lição é sobre o poder da fé, porque Ele iria embora e os discípulos não o teriam fisicamente com ele. O poder estaria disponível para eles, é o que Ele diz no cenáculo:
E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” João 14:13-14
Eles precisavam aprender a acessar o poder ausente e torná-lo presente pela fé. Então o princípio é para eles e para nós. Cristo não está aqui, agora vivemos pela fé. Eles logo viveriam pela fé e não pela vista. O poder está disponível. Seu poder está disponível para aqueles que creem.
Bem, o pai bradou: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!”. E lembre-se, enquanto isso seu filho estava rolando pelo chão e espumando pela boca.
O homem foi honesto: “Eu creio! Ajude-me na minha incredulidade.” Ele admitiu que tinha dúvidas. Isso é suficiente? Quanta fé precisamos ter? Até que ponto você precisa crer?
O sentido no original é algo como: “Eu creio, nas vem correndo em meu auxílio, me ajuda a continuar crendo e tira minhas dúvidas”.
O Senhor nunca espera de nós uma fé perfeita. Isso seria perda de tempo, embora ele seja digno disso. Ele só espera uma fé imperfeita porque é tudo o que Ele vai tirar de nós e todos nós vamos crer com um pouco de dúvida misturada.
Enquanto Jesus está tendo essa conversa, Marcos 9:25 diz que a multidão começa a inchar. A notícia estava se espalhando. Mas ele já havia dado um ponto final no seu ministério público, essa parte de Seu ministério já estava no passado (veja Marcos 9:30). Ele não espera pela multidão. Ele não estava tentando provar nada para a multidão. A ênfase agora está na instrução para Seus discípulos.
Marcos 9
25 Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele.
26 E ele, clamando e agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse morto, a ponto de muitos dizerem: Morreu.
27 Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou.
Jesus agiu rapidamente, repreendendo o espírito imundo, que saiu imediatamente do menino, após fazer um breve protesto. E ainda deu uma segunda ordem específica: “Nunca mais tornes a ele”. Por que Jesus deu essa segunda ordem específica? A resposta está em Mateus 12:43-45, que diz:
Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa.
Mas, após o demônio ter ido embora, o menino ficou parecido com um cadáver. A maioria ali disse: “Morreu!”. Jesus o pegou pela mão e o menino se levantou. Lucas 9:42 registra uma linda imagem: “Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai”. Que ternura! Que cena magnífica!
Essa foi a história fascinante. Mas agora vamos para a lição dessa história.
Marcos 9
28 Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
29 Respondeu-lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de oração [e jejum].
30 E, tendo partido dali, passavam pela Galileia, e não queria que ninguém o soubesse;
Eles entraram em alguma casa em Cesareia de Filipe. Foi um momento privado de Jesus com os discípulos. Eles começaram a questioná-Lo em particular. Esta é a melhor maneira de ensinar, perguntas e respostas.
E a pergunta foi óbvia: “Por que não conseguimos expulsar o demônio?”
Isso significa que eles haviam tentado expulsá-lo. Talvez tenham lembrado a Jesus sobre a concessão de autoridade sobre os espíritos imundos, que Jesus havia concedido a eles, conforme registrado em Marcos 6:7.
E Ele Jesus lhes respondeu: “Esta casta não pode sair senão por meio da oração”. Conforme o original grego, a melhor tradução seria: “Esta espécie [de espírito imundo] não pode sair senão por meio de oração”. Talvez Jesus quis se referir a todos os anjos caídos.
Ele ensinou que não seria capaz de expulsá-lo por conta própria, teria que depender dele. E a oração é o caminho que a fé leva para o poder de Deus.
[Nota: A menção ao jejum, que consta nas traduções de Marcos 9:29 e Mateus 17:21 não consta nos manuscritos mais antigos, por isso a tradução Revista e Atualizada coloca entre colchetes].
Eles obviamente tentaram expulsar por conta própria, com sua própria força e poder, talvez porque tiveram sucesso no passado. Tudo que fazemos deve ser feito com extrema dependência do Senhor. Mesmo no evangelismo, não podemos depender de nossa capacidade, mas do poder de Deus, que é acessível através da oração.
Você pode estar pensando em sua mente: “Mas, quanta fé é necessária, quanta fé em minha oração é preciso para acessar o poder de Deus?
Esta não foi uma lição sobre como fazer milagres e expulsar demônios, mas sobre como acessar o poder de Deus em favor das coisas que Deus deseja fazer. A salvação e a obra de santificação são exemplos disso.
Nunca podemos abordar qualquer coisa do reino do ponto de vista humano, da força do homem. Quanta fé precisamos? Em Mateus 17:20 Jesus diz: “Por causa da pequenez de vossa fé”. O problema é uma fé tão pequena. Jesus repete isso em Mateus 6:30, 8:26, 14:31, 16:8; Lucas 12:28.
Jesus não pediu a eles uma fé robusta e perfeita. Ele falou apenas que a fé deles era demasiadamente pequena. E diz:
Em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível (Mateus 17:20).
Ele não está falando literalmente em mudar as montanhas de lugar, mas simplesmente dizendo que a vida é cheia de coisas intransponíveis, e você nunca terá o poder de alterar essas coisas, mas se você tiver a fé do tamanho de um grão de mostarda, a menor semente usada na agricultura em Israel, tudo é possível.
[Nota: Muitos entendem erroneamente que, de posse de uma suposta fé, podem dar “ordens de serviço” a Deus, para que Ele execute suas próprias vontades. Essa heresia fere toda a Palavra de Deus. João deixou isso muito claro: “E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 João 5:14). Quem anda em comunhão com Deus, conhecerá Sua vontade e orará conforme essa vontade e receberá de bom grado tudo que a vontade divina fizer, sempre buscando a glória de Deus e não a sua própria.]
O Senhor não está esperando que você tenha uma fé gigante, basta a fé do tamanho de um grão de mostarda, uma semente minúscula. E veja, aquele menino foi liberto a pedido de seu pai, que demonstrou ter uma fé muito pequena e ainda pediu para Jesus lhe ajudar em sua incredulidade. Veja o que uma fé pequena pode fazer.
Foi uma lição difícil para os discípulos entenderem. Eles estavam andando com Jesus há mais de dois anos e demonstraram uma fé tão frágil.
Jesus poderia ter permitido que eles tivessem sucesso sem uma fé persistente. Ele poderia ter deixado que eles tivessem sucesso sem oração. Ele poderia deixá-los ter sucesso, pensando que eles poderiam fazer isso por conta própria. Isso seria uma má lição, não seria?
Ele poderia tê-los feito pensar que a oração não era realmente necessária. E então Ele se foi e no instante em que isso acontece – e Ele diz: “Você vai ter que aprender a depender de mim quando eu não estiver aqui, e a maneira como você demonstra essa dependência e confiança é através da oração”.
Portanto, não estamos aprendendo aqui como expulsar demônios. Não estamos aprendendo aqui como mudar as montanhas de lugar se crermos o suficiente.
Estamos aprendendo aqui como uma quantidade muito pequena de fé lutadora pode nos atrair a Deus de forma dependente e confiante, e fazer com que o poder de Deus seja liberado para fazer Sua vontade, mesmo através de nossas vidas. Foi uma lição incrível para eles e para todos que vivem pela fé. Vamos orar.
Pai, nós te agradecemos novamente por sua verdade. Obrigado pela forma como a Palavra de Deus se abre para nós.
Sentimos como se tivéssemos passado este tempo com nosso Senhor, neste mesmo cenário.Quão vivo ele é e cheio de rica textura e significado. Obrigado pela forma como a Palavra fala. Obrigado pelo fato da Tua Palavra ser viva, poderosa, penetrante, transformadora, instrutiva e santificadora. Use-a para nos moldar à semelhança de Cristo.
Pai, agora vamos desta experiência para aquela muito mais desafiadora. É como se estivéssemos na montanha contigo e agora voltássemos ao vale das realidades em que todos vivemos. Que possamos tirar as lições que aprendemos.
Ensine-nos a viver pela fé, a traduzir essa fé em oração persistente e então ver seu poder liberado em nossas vidas de maneira que lhe traga glória. Oramos em nome de Cristo. Amém.
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos
Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série
Este texto é uma síntese do sermão “All Things Possible”, de John MacArthur em 24/10/2010
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/41-45/all-things-possible
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno