A Bênção do Sofrimento

Não há nada que possa trazer mais esperança, alegria, confiança, felicidade e liberdade para um cristão do que saber que, não importa qual seja a dor, o problema, a provação, a tribulação e as aflições, tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. Você crê nisso? Isso está muito além da nossa capacidade de compreensão. Não há limites para essa promessa, ela simplesmente diz: “Todas as coisas”. Não importa a dificuldade, a dor e o problema. Seja o que for, Deus fará com que tudo coopere para o bem de seus filhos.

Romanos 8
28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

Essa é uma declaração monumental. Eu poderia pregar apenas esse versículo por três meses. É um versículo glorioso que prepara nossos corações para a magnífica bênção que está em Romanos 8.31-39, que contém um exuberante hino de louvor. 

Paulo está tratando da grande verdade da salvação, que ele começou desde o capítulo 3, versículo 21. No capítulo 8, sua ênfase principal é na segurança da salvação, a justificação eterna, o fato de estarmos seguros em Cristo para sempre. Ele nos dá todos os fatos sobre essa segurança.

Ele começa Romanos 8 afirmando que “agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (v.1). É uma promessa de nenhuma condenação, nossa salvação é eterna, ela está sustentada em Deus e não em nós.

Por isso, nos versículo 33 a 34 de Romanos 8, ele diz: “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós”.

É o Espírito Santo que se torna o agente da nossa segurança, pois é ele é quem nos selou (Ef 1.13). Estamos seguros em Cristo. Nossa justificação é para sempre por causa da maravilhosa obra do Espírito Santo. Porque, antes de tudo, “por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida nos libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.2).

O Espírito Santo nos capacita a cumprir a lei (Rm 8.4); muda nossa natureza (Rm 8.5-11); nos capacita para a vitória (Rm 8. 13-14); confirma nossa filiação (Rm 8.14-16) e garante nossa glória (Rm 8.17-27). E como o Espírito Santo faz isso?

Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus (Rm 8.26-27).

E então estamos seguros por causa de tudo o que o Espírito de Deus faz por nós. E por causa disso é que “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).

Este texto é uma promessa gloriosa e inimaginável, ela é carregada com o ouro da verdade divina. Podemos contemplar a extensão, os destinatários, a fonte e a certeza dessa promessa.

A extensão de nossa segurança em Cristo

“Todas as coisas cooperam para o bem…” Essa é a extensão. Nunca poderia haver uma declaração mais reconfortante do que essa para um crente. Não há nada que possa trazer mais esperança, alegria, confiança, felicidade e liberdade para um cristão do que saber que, não importa qual seja a dor, o problema, a provação, a tribulação e as aflições, tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. Você crê nisso?

Isso está muito além da nossa capacidade de compreensão. Não há limites para essa promessa, ela simplesmente diz: “Todas as coisas”. Não importa a dificuldade, a dor e o problema. Seja o que for, Deus fará com que tudo coopere para o bem de seus filhos. Tudo na vida é reunido em uma sinergia maravilhosamente divina para se unir e atingir um fim supremo.

O Salmo 25.10 diz: “Todas os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade para os que guardam a sua aliança e os seus testemunhos”. Não importa em qual caminho você tome, todos os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade para com seus filhos.

Isso não quer dizer que todas as coisas são boas em si mesmas, mas que todas as coisas cooperam para o bem, mesmo que sejam coisas ruins, ou seja, não importa o que aconteça. Em sua providência, Deus orquestra cada acontecimento da vida, para trazer benefícios passageiros e eternos. Se cada coisa que um redimido faz na sua vida, em última análise, funciona para o seu bem, então nada pode colocar em dúvida sua salvação.

Essa promessa começa pelo decreto divino, mas é ativada pela constante intercessão do Espírito Santo (Rm 8.26) e do Senhor Jesus (Rm 8.34; Hb 7.25) pelos redimidos. Se tudo coopera para o bem, então nada pode cooperar para o nosso mal. Nada pode, em última análise, nos prejudicar. Que tremenda promessa.

Todas as coisas boas estão trabalhando para o nosso bem. Quais são essas coisas boas? Bem, antes de tudo, Deus. Ele trabalha para o nosso bem. Seu poder, amor, bondade, promessas, graça, misericórdia, sabedoria, Palavra etc. cooperam para o nosso bem. Também os anjos santos, a oração e a comunhão santa na igreja fazem o mesmo.

Isso não quer dizer que coisas ruins são boas, porque coisas ruins são ruins. É por isso que são chamadas de ruins. Pecado é pecado, e mal é mal, e isso não vai mudar. Então coisas ruins não são boas, mas são usadas por Deus para trabalhar para o nosso bem.

E isso é maravilhoso, porque quer dizer que Deus é absolutamente soberano e está no controle sobre todas as coisas. E assim, mesmo a mais vil e maligna das coisas Deus pode fazer com que coopere para nosso bem.

Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus (1Pe 4. 12-14).

O sofrimento é uma coisa ruim, resultado da maldição lançada sobre o homem na queda. O sofrimento é resultado da queda do homem. Embora, em si, o sofrimento possa não ser mal, o sofrimento é resultado de um mundo perverso e caído.

Deus quer o nosso sofrimento?

Sim. Ele sabe o bom fruto que o sofrimento produz em nós. Pedro escreveu:

Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas (1Pedro 2.18-21).

O sofrimento é parte do que Deus quer fazer em nossas vidas. O sofrimento é o meio que ele usa para nos aperfeiçoar. Não estou falando simplesmente do sofrimento por causa de nossos pecados, pois isso é disciplina. Deus quer que enfrentemos esse mundo hostil de uma forma tão piedosa que atrairá o desprezo do mundo, até mesmo dos familiares e amigos.

Deus usará o sofrimento para moldar nosso caráter e nos aperfeiçoar: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” (1Pe 5.10).

E não nos resta alternativas, pois “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12). O sofrimento do justo produz nele frutos preciosos de santidade. Ele é fortalecido na vontade de Deus.

Paulo declarou: “Sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte” (1Co 12.10). E, repetindo, não se trata do sofrimento por causa do pecado, mas do sofrimento por praticarmos o que é justo.

Nem todo sofrimento é resultado da disciplina de Deus por nossos pecados, às vezes sofremos porque Deus quer nos aperfeiçoar. Pedro escreveu:

Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado (1Pe 1:6-7).

O sofrimento tem muitos propósitos, mas através de tudo isso, Deus opera um bom resultado. Essa é uma verdade presente nas Escrituras, onde encontramos muitos exemplos.

José talvez seja uma ilustração clássica. Seus irmãos o jogaram em um poço, o venderam como escravo e no Egito ele foi jogado na prisão de forma injusta. Mas Deus estava trabalhando por trás de tudo para preservação dos hebreus. Ele mesmo disse a seus irmãos:

[…] Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida […] Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito (Gn 45;4-5,7-8).

O rei Manassés caiu na idolatria, foi preso pelos assírios com ganchos, depois foi amarrado com cadeias e levado para a Babilônia. E então, o que aconteceu?

Manassés, angustiado, suplicou deveras ao Senhor, seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais; fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendeu-lhe a súplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino; então, reconheceu Manassés que o Senhor era Deus […] Tirou da Casa do Senhor os deuses estranhos e o ídolo, como também todos os altares que edificara no monte da Casa do Senhor e em Jerusalém, e os lançou fora da cidade. Restaurou o altar do Senhor, sacrificou sobre ele ofertas pacíficas e de ações de graças e ordenou a Judá que servisse ao Senhor, Deus de Israel (2Cr 33.12-13,15-16)

Jó estava sofrendo a perda de tudo por causa de uma disputa entre Deus e Satanás. Jó nunca soube disso. Nem os seus amigos sabiam. Por isso todos se esforçaram em encontrar explicações para seu sofrimento a partir da perspectiva de suas ignorâncias. A vontade permissiva de Deus operou para propósitos que Jó não pôde tomar conhecimento. Deus estava oculto dele junto com as razões para o seu sofrimento.

Jó e seus amigos nunca souberam a razão daqueles terríveis sofrimentos. Deus não lhes disse. Mas quando Jó foi confrontado por Deus, restou-lhe o silêncio. Ficou apenas a fé nos propósitos de Deus. Ninguém jamais sabe o verdadeiro motivo do seu sofrimento, porém a confiança na soberania de Deus é a verdadeira resposta ao sofrimento. E Jó disse a Deus:

Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza. (Jó 42:2-5).

O apóstolo Paulo estava sobrecarregado por seu espinho na carne, ele derramou seu coração para que Deus o libertasse daquele espinho. Mas Deus lhe disse: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9). O sofrimento pode ser usado por Deus para o nosso bem. Por isso Paulo creu no que Deus lhe disse e declarou:

De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte (2Co 12.9-10).

Algumas razões pelas quais o sofrimento trabalha para o nosso bem

1) O sofrimento nos ensina a odiar o pecado. Quando sofremos aprendemos a odiar o pecado que causou o sofrimento, e essa é uma grande lição a aprender.

2) O sofrimento nos ensina a ver o mal em nós. Descobrimos o quanto somos impacientes e incrédulos, como nossa fé em Deus é fraca e como estamos apegados ao que é perecível. Ou seja, nossos corações são desnudados e a nossa realidade fica muito clara a nós mesmos.

3) O sofrimento nos leva a um quebrantamnte diante de Deus. Quando tudo nos favorece tendemos a nos apegar a esta vida, confiar em nós mesmos, não depender de Deus e não colocar o reino de Deus como prioridade de nossas vidas. No meio desse cenário terrível, o sofrimento pode nos conduzir a um quebrantamento diante de Deus.

4) O sofrimento nos conforma a Cristo. De uma pequena forma, entramos na comunhão do seu sofrimento. Pedro declarou: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21). E Paulo escreveu:

Eu trago no corpo as marcas de Jesus (Gl 6.17). Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja (Cl 1.24).

Os apóstolos sofreram muito pela fidelidade deles a Cristo, mas eles sabiam o quanto ele havia padecido para nos resgatar das trevas e nos salvar. Pedro escreveu:

Alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. (1Pe 4.13-14),

5) O sofrimento expulsa o pecado.

É um fogo que queima a escória e revela o ouro puro. Pedro escreveu:

…sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo (1Pe 1.5-7).

Quanto ao futuro de Israel, na grande tribulação, o profeta Zacarias escreveu:

Em toda a terra, diz o Senhor, dois terços dela serão eliminados e perecerão; mas a terceira parte restará nela. Farei passar a terceira parte pelo fogo, e a purificarei como se purifica a prata, e a provarei como se prova o ouro; ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: é meu povo, e ela dirá: O Senhor é meu Deus (Zc 13.8-9)

6) O sofrimento nos revela que somos filhos de Deus.

O escritor de Hebreus escreveu:

Estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos (Hb 12.5-8).

Em outras palavras, ele quis dizer: “quando vocês passarem por sofrimentos, e sabem que o Senhor está refinando vocês, deveriam ficar felizes, porque Deus está tratando vocês como filhos”.

Enfim, diante desses seis pontos que vimos sobre o sofrimento, podemos dizer como Jó: “Feliz o homem a quem Deus disciplina” (Jó 5.17). O sofrimento refina, ele nos ensina a odiar o pecado, nos ensina a ver o mal em nós, leva nossas almas a Deus, nos conforma a Cristo, expulsa o pecado e confirma nossa filiação.

O problema de Moabe: ausência de sofrimento

No capítulo 48 de Jeremias, o profeta pronuncia maldição e juízo contra Moabe. E sabe que foi o motivo de tudo? Moabe sempre esteve despreocupado. Qual era o problema de Moabe? Nunca teve problemas. Esse era seu problema. Nunca enfrentou guerras e sofrimentos, e assim nunca foi refinado. Jeremias escreveu:

Despreocupado esteve Moabe desde a sua mocidade e tem repousado nas fezes do seu vinho; não foi mudado de vasilha para vasilha, nem foi para o cativeiro; por isso, conservou o seu sabor, e o seu aroma não se alterou, Portanto, certamente vêm os dias”, declara o Senhor, quando enviarei decantadores que o decantarão; esvaziarão as suas jarras e as despedaçarão. (Jr 48.11-12).

Essa imagem da fabricação de vinho doce é muito vívida. Na produção de vinho doce, o suco era deixado num odre até que todo o resíduo ficasse depositado no fundo. Então, ele era despejado em outro odre para que mais resíduo fosse separado. Esse processo continuava até que toda a impureza fosse retirada e se obtivesse, enfim, um vinho puro e doce.

Moabe não havia passado de uma aflição para outra, de modo que a sua impureza seria retirada por meio do processo da dor purificadora. Assim, a nação havia sido mergulhada na turvação e amargura dos seus próprios pecados. O castigo de Deus estava vindo para esmagá-los. O salmista escreveu:

Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra […] Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos […] Bem sei, ó Senhor, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste (Sl 119.67,71,75).

A tentação contribui para o nossos bem?

Sim. Não só o sofrimento está cooperando para o bem, mas também as lutas, a tentação, a batalha contra o pecado. Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.

Como a tentação pode cooperar para o nosso bem?

1) A luta contra a tentação nos faz ajoelhar para orar. Diante dos ataques de Satanás o Senhor é nosso único refúgio seguro. Paulo escreveu: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo […] orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança” (Ef 6.11,18).

2) A luta contra a tentação devasta nosso orgulho espiritual. Quando estamos lutando contra o pecado e a tentação, estamos enfrentando o fato de quem realmente nós somos, e não há espaço para o orgulho. Isso mostra o quão realmente fraco somos. Por isso Jesus disse aos discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14:38).

3) A luta contra a tentação nos ensina lições para ajudar os outros. Quando o Senhor Jesus foi tentado do deserto (Mt 4; Lc 4), ele nos ensinou como enfrentar a tentação. Todas as três respostas de Jesus ao diabo foram extraídas de Deuteronômio (6.13-14, 16; 8.6). Ele nos ensinou que “o capacete da salvação e a espada do Espírito é a Palavra de Deus” (Ef 6.17). Somos ensinados a confiar em Deus e na sua Palavra, e assim podemos ajudar outras pessoas.

4) A luta contra a tentação nos faz desejar o Céu. Você já sentiu vontade de sair daqui de uma vez? Claro que sim. Diante da realidade da força do pecado no corpo mortal, Paulo exclamou: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Por isso ele disse: “para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21).

Os pecados de outras pessoas podem cooperar para nosso bem?

Sim, isso mesmo. Paulo diz todas as coisas cooperam. Todas. Você diz: “Como pode isso?”. Bem, não pelo caráter do pecado, porque o pecado é miserável, imundo, vil e sempre será.

Você diz: “Como o pecado dos outros podem cooperar para o bem de quem ama a Deus?”. Eles geram ira santa, uma indignação santa contra o pecado. Você não sente isso? Isso é bom.

Eles também fortalecem nossa oposição contra o pecado. Quando vejo o que o pecado faz com outras pessoas, eu passo a me opor ainda mais fortemente contra o pecado.

E ao ver a força destruidora do pecado, eu me torno mais grato ao Senhor por ter me livrado do poder do pecado. Aumenta em mim a profunda gratidão pela salvação, pela libertação que o Senhor me deu do cativeiro do pecado através da obra de Cristo.

Por isso Paulo escreveu: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1-2).

Os nossos próprios pecados trabalham para o nosso próprio bem?

Você deve estar pensando: “Não, isso é impossível!”. Mas se você pensou isso, você está errado. Deus é tão poderoso, tão absolutamente soberano que até mesmo os pecados que cometemos, que são maus em si mesmos, têm sua consequência final eliminada.

A diferença entre um cristão e um ímpio não é que o cristão não peca. A diferença é que, no caso do cristão, ele sofre as consequências imediatas do pecado, mas não a consequência eterna da condenação.

Mas quando vemos pecado em nossas vidas, olhamos para o Senhor, clamamos por libertação, confessamos, nos arrependemos, nos humilhamos perante o Senhor, desejamos estar em comunhão com ele e acatamos plenamente a disciplina do Senhor. Essa é a atitude de quem nasceu de novo. O escritor aos Hebreus escreveu:

[…] Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. (Hb 12.10-11).

Os pecados em nossas próprias vidas acabam sendo grandes lições para nos ensinar a humildade, para tirar qualquer falso orgulho ou autojustiça. Então eles nos fazem olhar para o céu. Eles nos levam a Deus. Eles tiram nossa falsa piedade e nos humilham. Eles nos enchem de louvor pelo perdão.

O pecado em nossas vidas também nos faz odiar ainda mais o pecado. Quanto mais contemplamos ao Senhor e a sua Palavra, mas nojo teremos do pecado. E quando lembramos de como vivíamos escravos do pecado antes da obra redentora de Cristo em nossas vidas, aumenta ainda mais a nossa repulsa em relação ao pecado. Paulo escreveu:

Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna (Rm 7.20-22).

Coisas boas trabalham juntas para o nosso bem, e coisas ruins também. Coisas ruins como sofrimento, luta e pecado trabalham para o nosso bem. Por quê? Porque elas nos ensinam a odiar o pecado; a ver nossa queda; a desejar a Deus; a nos conformar a Cristo; a orar; a sermos humildes; a ajudar os outros; a sermos gratos; a amar a graça de Deus; e a ansiar pelo céu.

Veja, Deus elimina a condenação final dos nossos pecados, porque Cristo já tomou isso e usa nossos pecados como meio para nos ensinar, para nos tornar melhores nesta vida. E, finalmente, na glória, seremos como Jesus Cristo, pois não pagaremos nenhuma consequência do pecado lá. Ele pagou tudo.

Cristo “foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).

Conclusão

Estamos olhando para um bem que não é apenas temporal, mas eterno, para que todas as coisas nesta vida estejam trabalhando juntas para o nosso bem, por causa do que Deus nos ensina por meio dessas coisas.

Em Romanos 8.28 Paulo não está focado em dizer que lutar, sofrer e pecar poderá resultar em uma bondade temporal. Não é isso. Ele está dizendo que todo o inferno nos atacando e que todas as coisas boas ou ruins que acontecem em nossas vidas jamais poderão alterar a glória final que é nossa em Cristo.

O versículo seguinte diz: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).

Em outras palavras, quem quer que Deus tenha escolhido antes da fundação do mundo, ele escolheu para ser, em última análise, como Cristo, depois que este mundo tiver passado. Esse é o ponto. E qual é o nosso bem supremo? Seremos um dia como Cristo, que “transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória” (Fp 3.21).

Em sua providência, Deus orquestra cada acontecimento da vida, mesmo o sofrimento, a tentação e o pecado, para trazer tanto benefícios passageiros como eternos. Aqueles que Deus escolhe, ele destina para o seu propósito final — que é a semelhança com o seu filho.

O objetivo do propósito da predestinação de Deus dos seus é que eles seriam feitos como Jesus Cristo. Esse é o “prêmio da soberana vocação” (Fp 3.14; cf. Ef 4.13; Cl 1.28; Fp 3.20-21; 1Jo 3.2). Você vê alguma desistência? Não há, pois “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

É isso que a Escritura diz: Todas as coisas cooperam para o bem de seus escolhidos, porque Deus predeterminou que seria assim. Todos os eleitos nele antes da fundação do mundo terminarão como Jesus Cristo. Esse é o bem supremo. É isso que Romanos 7.28 está dizendo.

É um versículo não apenas para nos prometer que o bem temporal surgirá de situações difíceis, mas que todos os pecados deste mundo, as lutas, os sofrimentos e nem qualquer outra coisa jamais poderão mudar a bondade suprema de sermos à imagem de Cristo algum dia na presença de Deus. Grande verdade.

Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.37-39).

Vamos orar.

Senhor, estamos tão impressionados com isso. Sei que o Teu Espírito penetrou nossos corações com essa verdade. É tão reconfortante, tão seguro, tanta graça. Grato, oh, Deus, porque todas as coisas, coisas boas, coisas ruins, sofrimento, luta, até mesmo o pecado, trabalham juntos para o nosso bem aqui e agora, à medida que somos mais conformados à imagem de Cristo; e para o nosso bem final, à medida que somos à Sua imagem, porque esse é o plano.

Grato, Pai, por esse plano, que aqueles que Tu conheceste de antemão, Tu predestinaste; e aqueles que Tu predestinaste, Tu chamaste; e aqueles que Tu chamaste, Tu justificaste; e aqueles que Tu justificaste, Tu glorificaste. Obrigado por isso. Obrigado pelo bendito Espírito Santo que opera esse plano por Sua intercessão contínua em nosso favor. E obrigado pelo Filho de Deus, nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que também intercede e é sempre nosso sumo sacerdote vivo e fiel.

Que nós que recebemos tal salvação eterna demonstremos gratidão com uma vida de obediência que mostre, sem sombra de dúvida, que nossa salvação é, de fato, real. E que Tu sejas glorificado, oh, Pai. Receba nosso humilde louvor e agradecimento.

Pai, pedimos que o Senhor traga aqueles que desejam de conhecer; e, Senhor, em todos os nossos corações, encha-nos de gratidão e grande encorajamento e liberdade, e alegria, por causa desta grande promessa. Agradecemos a Ti em nome de Cristo. Amém.


Índice dos Sermões traduzidos das Cartas de Paulo


Este texto é uma síntese do sermão “The Promise of Security, Part 1 ”, de John MacArthur, em 18/9/1983.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/45-64/the-promise-of-security-part-1

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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