Os Frutos do Arrependimento (Parte 1)
Esse assunto está dividido em 2 sermões. Veja link no final do texto.
Mateus 3
7 E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?
8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;
9 E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.
10 E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.
No nosso último estudo encontramos o maior homem que havia vivido até Jesus (Mateus 11:11): João Batista. O maior porque foi o arauto, proclamador e precursor do Messias. O mesmo versículo (Mateus 11:11) afirma ter sido João foi o maior homem que já viveu, diz que aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele.
Em outras palavras, o Senhor deu a nós, que estamos deste lado da cruz, algumas grandezas que não estavam disponíveis àqueles que viveram anteriormente à cruz. Nós temos os recursos que eles não tiveram.
Em João havia pelo menos seis características: obediência ao seu chamado, ser cheio do Espírito Santo, ter domínio próprio, humilde, proclamador da Palavra de Deus e ter ganhado muitas pessoas ao Senhor.
Essas foram as características de um homem que foi o maior homem que já havia vivido. Ele tinha um ministério de preparação. Ele estava chamando Israel ao arrependimento e à conversão. Sua mensagem foi: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mateus 3:2). O Rei estava chegando, e eles precisavam de uma mudança radical de mente, de coração e de vida, para se tornarem aptos para o Rei e seu reino.
Esta foi uma mensagem chocante para os judeus, uma severa repreensão à sua religião superficial, hipócrita e inútil. Eles não estavam preparados para o Messias e Seu reino. Eles não estavam prontos para ser uma parte desse reino. Na verdade, naquele momento, eles estavam do lado de fora. Israel estava perdido no pecado, era indigno do Rei e, portanto, incapaz de herdar o reino.
A chegada do Rei era há muito tempo esperada, deveria ter sido uma boa notícia. Mas eles ouviram que não eram dignos e isso foi um choque terrível para Israel. Eles se viam como filhos de Abraão, filhos do pacto, filhos da promessa, circuncidados, povo de Deus, súditos do Rei, aguardando por séculos Aquele que estava por vir. E agora, quando Ele vem, eles são informados de que não têm absolutamente nenhum direito de entrar no Seu reino. Eles precisavam de arrependimento.
O batismo de João era uma analogia do batismo ao qual os gentios que se convertiam ao judaísmo se submetiam, ou seja, os gentios que reconheciam que estavam perdidos e abraçavam a fé judaica, davam uma profissão pública de fé através do batismo.
Mas, os judeus não viam a necessidade de receberem esse batismo, pois acreditavam não ter do que arrepender-se, já que eram o povo escolhido, herdeiros das alianças e das promessas feitas por Deus a seus antepassados.
E com o batismo de judeus, João estava, na verdade, dizendo a eles:
Vocês não são melhores do que um gentio; vocês estão separados de Deus e vocês não são dignos de seu reino e nem podem receber o Rei.
[Leia os sermões Por que Jesus foi batizado? e Como Entrar no Reino de Deus?].
E assim eles precisavam fazer o que qualquer gentio precisava fazer. Eles precisavam arrepender-se, converter-se e batizar-se. E assim João estava chamando a nação de Israel para uma mudança fundamental. Eles eram pecadores sujos e precisavam de limpeza para receber o Messias.
Bem, o seu ministério de preparação foi bem recebido.
Então ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judeia, e toda a província adjacente ao Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados. Mateus 3:5-6).
Foi um batismo que simbolizava uma confissão e purificação do pecado. Paulo disse:
Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo (Atos 19:4).
Mas ainda não era a conversão que estava por vir mais tarde, quando Cristo veio. Foi uma preparação para a vinda de Cristo. E quando Cristo veio, era necessário que eles cressem em Cristo para experimentarem a salvação.
O batismo de João introduzia alguém na condição de salvo, nos moldes do Velho Testamento, pois antes de Cristo morrer e ressuscitar, a salvação exigia convicção de culpa do pecador e confiança de que só Deus poderia perdoá-lo. Mas, o batismo de Cristo introduz a pessoa arrependida na condição de salvo nos moldes do Novo Testamento, em que a culpa é expiada através da obra redentora de Jesus].
Paulo perguntou aos que experimentaram o batismo de João: “Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?” (Atos 19:2). Eles creram e foram batizados no Espírito Santo. [Leia o sermão sobre o Batismo com o Espírito Santo]
OS FARISEUS E SADUCEUS FORAM A JOÃO BATISTA
E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?
Havia gente de todo tipo na multidão que procurava João, mas aqui é destacado um grupo de fariseus e saduceus que vinham ao seu batismo. Quem eram eles? Por que eles vieram? Eles eram sinceros? O que estava realmente em suas mentes? O judaísmo, em sua maior parte, naquele momento em particular, tinha três seitas especiais: Os fariseus (maior número), os saduceus e os essênios (que viviam como eremitas).
OS FARISEUS
Houve um período entre o Antigo e o Novo Testamento, certo? Você se lembra daquele período de 400 anos, o silêncio profético? É o chamado período inter testamentário, após o ministério de Malaquias.
Durante esse período nós temos algumas histórias fascinantes e um monte de informações vindo de alguns livros que são chamados Apócrifos. Eles não são inspirados, mas nos dão um pouco de informação sobre a história.
- Durante esses 400 anos os gregos governaram Israel. Houve muita revolta, entre os judeus, com a forma dos gregos governarem.
- Houve um perverso governante grego em Israel chamado Antíoco Epifânio. Ele mandava matar porcos e colocava a carne deles, à força, na garganta dos sacerdotes.
- Ele fazia uma paródia com o fato do Antigo Testamento proibir o consumo de carne de porco. Ele incitava o ódio no povo judeu.
Durante este período de domínio grego, surgiu no judaísmo um grupo chamado Hasidim. Estes eram piedosos e espirituais. E eles literalmente desprezaram a cultura grega e os costumes gregos. Eles queriam se firmar nos princípios do judaísmo e também eram muito patrióticos. Eles ajudaram e incitaram a Revolução dos Macabeus, onde Judas Macabeu e seus filhos iniciaram uma revolta juntos.
- Eles faziam parte de um luta heroica, porque no começo, a Revolução dos Macabeus foi basicamente por convicção religiosa, contra os sacrilégios gregos.
- Em um momento posterior, a Revolução dos Macabeus teve um novo líder: João Hircano. Este novo líder conduziu o movimento para um interesse meramente político.
- O Hasidim perdeu todo o interesse no movimento. E, de fato, eles se opuseram violentamente aos descendentes daqueles que haviam apoiado a revolução.
Os estudiosos acreditam que os fariseus são os descendentes do Hasidim. Seriam o Hasidim reformado com um novo nome. Fariseu é uma palavra que significa “separatista”. E eles foram realmente separatistas.
- Eles se viam como mais espirituais. Eles se separaram das nações, publicanos, os cobradores de impostos, dos pecadores, dos judeus indiferentes a sua causa.
- Olhavam com desdém as pessoas que não conheciam a lei (João 7:49).
- Eles foram isolacionistas. Eles não queriam se contaminar com qualquer um ou qualquer coisa que era de alguma forma impura.
- Mas a religiosidade deles era uma perversão da fé do Hasidim. Era algo apenas exterior, sem a realidade interior. Não havia piedade real. Eles eram fanáticos pela autojustiça.
Quando uma mulher, arrependida, se prostrou aos pés de Jesus, o fariseu logo disse: “Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora” (Lucas 7:39). Os historiadores nos dizem que quando eles voltavam do mercado, eles imediatamente realizavam uma série de lavagens, para se purificarem de um eventual contato com pessoas impuras.
Eles tinham perdido o patriotismo do Hasidim. Eles haviam perdido a sua verdadeira piedade. Eles foram nada mais que hipócritas vergonhosos. Jesus realmente atacou a hipocrisia dos fariseus de forma contundente. Em Mateus 23 temos uma síntese do que Jesus pensava sobre eles.
OS SADUCEUS
Eles eram opostos dos fariseus, porque eram os conciliadores. Eles particularmente não se preocupavam com a intrusão da cultura grega e de costumes gregos.
- Os sumos sacerdotes no tempo de Jesus eram saduceus.
- Eles não acreditavam em ressurreição, ou seja, para eles não há eternidade, seja no céu ou no inferno.
- Eles faziam um jogo político com Roma para obterem vantagens e poder.
- Eles eram poucos em número, mas extremamente ricos.
- Sumo sacerdote, no Novo Testamento, é quase um sinônimo de saduceu. Eles usavam esta posição para ganhar dinheiro, eles faziam do templo uma grande franquia de negócios.
- Eles reprovavam os animais que seriam oferecidos em sacrifício, obrigando as pessoas a comprarem aqueles que eles vendiam a preços exorbitantes.
- Na Páscoa, quando centenas de milhares vinham a Jerusalém, eles transformavam o templo em casa de câmbio e de vendas de animais para sacrifícios.
E é por isso que Jesus entrou com um chicote e os expulsou de lá. Pessoas como Anás e Caifás o odiaram em todo o tempo, e o perseguiu, até que finalmente o levou à cruz. Eles eram ricos, políticos, influentes, estavam no Sinédrio e foram muito simpáticos a Roma. Os fariseus eram muito mais populares com as pessoas, porque os fariseus eram, pelo menos, minimamente patrióticos.
As principais diferenças entre os fariseus e os saduceus:
1. Eles diferiram sobre a eternidade, o futuro.
E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Homens irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado. E, havendo dito isto, houve dissensão entre os fariseus e saduceus; e a multidão se dividiu. Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa” (Atos 23:6-8).
2. Eles tinham uma visão diferente das Escrituras.
- Os fariseus reconheciam duas fontes da verdade divina: O Antigo Testamento e a tradição oral. Nesse sentido, eles eram muito parecidos com a Igreja Católica Romana, onde você tem as Escrituras mais tradição. Jesus disse sobre eles: “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:9).
- Os saduceus, por outro lado, criam principalmente no Pentateuco e rejeitavam a tradição oral. Eles acreditavam que os cinco livros de Moisés eram superiores.
3. Havia uma diferença na visão de soberania de Deus e livre arbítrio.
- Podemos explicar da seguinte forma: os essênios. Criam que tudo é voltado para a Soberania de Deus, não havendo liberdade de escolha pelo homem, Deus estabeleceu tudo.
- No outro extremo, havia os saduceus. criam na liberdade total da vontade do homem, sendo que Deus estabelecia seus decretos, mas assume uma posição de expectador, prevalecendo a vontade do homem.
- Entre esses dois grupos estavam os fariseus. Eles acreditavam em decreto divino e liberdade do homem.
Enfim, estes três grupos da religião judaica também não concordavam acerca das doutrinas da soberania de Deus e do livre arbítrio do homem.
Você percebe que ao longo da história dos fariseus e dos saduceus, eles nunca tiveram nada em comum, exceto seu ódio mútuo por Jesus Cristo. Surpreendente, não? Nisto eles estavam em acordo. Mesmo em relação a João Batista, eles se uniram para combatê-lo, porque o viram como alguém com uma mensagem que representava um risco à posição deles.
- Os saduceus deixaram de existir no ano 70 d.C., quando houve a destruição do templo.
- Os fariseus voltaram a existência mais tarde, e eles são basicamente responsáveis por reinventar o que é hoje conhecido como o ‘judaísmo reconstituído’.
Agora, deixe-me resumir:
- O fariseu era um ritualista; o saduceu um racionalista.
- O fariseu era um formalista; o saduceu era um pensador livre.
- O fariseu era um separatista; o saduceu um cético.
- O fariseu era um plebeu; e o saduceu um aristocrata.
- Para o saduceu, o homem é tudo aqui e agora, devendo obter tudo de qualquer maneira que puder obter.
- Para o fariseu, é tudo na vida após a morte, mas a maneira de chegar lá é trabalhar como um louco aqui com esforço próprio.
E de repente lá vem João Batista dizendo: “Você sabe o que realmente importa? – O seu coração”. Sua ênfase foi o interior do homem. A ênfase de Jesus foi o homem interior. Jesus disse:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniquidade. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. (Mateus 23:25-27).
E Jesus fez a mesma coisa com os saduceus, usando um chicote, os expulsou do templo, dizendo:
Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões (Mateus 21:13).
Jesus se afastou de ambos os grupos. Eles odiavam e desprezavam Jesus. E, assim, eles mostraram uma unidade real, quando o mataram na cruz. Existem apenas duas religiões no mundo: a religião de realização divina e da religião de realização humana. Isso é tudo.
- A religião de realização divina, que diz que Deus fez tudo, e você tem que crer e segui-lo e a religião de realização humana, que diz que você tem que completar o que ele fez ou fazer tudo.
- A religião tem sido gerada por Satanás desde a queda. É o mesmo material velho. E eles finalmente concordaram porque eles eram peões do diabo.
Eles tinham de obter a religião de realização humana em conjunto para combater a religião de realização divina representada por Jesus Cristo.
Jesus condenou a ambos os grupos: “Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus” (Mateus 16:6).
Hoje temos fariseus e saduceus: Os ritualistas e racionalistas.
- Os ritualistas são os legalistas; os racionalistas são os liberais.
- Os ritualistas ou legalistas são as pessoas que nos dizem que se formos através de miçangas religiosas seremos salvos. Eles nos ensinam sobre rituais e tradições.
- Os racionalistas ou liberais são aqueles que relativizam a Palavra de Deus e nos dizem que temos que ter apenas uma espécie de sentir Deus em nossa própria maneira pessoal. Jesus é apenas um homem bom a seguir.
O legalista diz que você tem que fazer as coisas que as regras dizem. O liberal diz: “Ei, cara, tudo o que está acontecendo em sua cabeça, está tudo bem”. E embora eles sejam muito diferentes, ambos são a religião de realização humana. Ou por fazê-lo ou pensa-lo, é o esforço do homem, o mesmo material velho.
O EMBATE DE JOÃO BATISTA COM OS FARISEUS E SADUCEUS
“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo…” (Mateus 3:7).
No grego, esta frase expressa que João os viu como um grupo só. Como um grupo de falsos religiosos. Por que eles estão vindo para ser batizado? A Bíblia não nos diz a razão. Mas eu penso em algumas razões.
- Eles podem ter sido movidos pela curiosidade. Vendo tantos procurar João, eles foram verificar se aquilo não seria uma ameaça a eles. Possivelmente eles se uniram para ver de perto.
- O povo via João Batista como um profeta, e havia 400 anos de silencio de Deus para com Israel. Talvez eles tenham desconfiado de que as pessoas pudessem estar certas.
- Eles temiam perder a influência. Se aquilo fosse real, eles queriam ficar na proeminência.
É o que temos no Cristianismo hoje. Temos todos os tipos de pessoas correndo igrejas e funcionando organizações no cristianismo que não são cristãos. Satanás se move nessas pessoas.
Se João Batista estava iniciando um movimento que ia captar as pessoas, então eles estavam dispostos a inclinar-se para conquistar. Não havia arrependimento, nenhuma confissão verdadeira de pecado, nenhuma espiritualidade honesta, nenhuma busca real por Deus, nenhum desejo de obter um coração quebrantado para se preparar para a vinda do rei e Seu reino.
Eles eram presunçosos e hipócritas. Eles acreditavam que seriam os grandes exaltados no reino quando viesse. Não houve qualquer conversão, nenhuma transformação. Eles eram hipócritas fraudulentos. E eles agora vieram cuidando de seus próprios negócios e se depararam com João. Não sabemos o que eles pensavam encontrar, mas certamente não foi o que imaginaram.
Dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? (Mateus 3:7)
Essa foi uma abordagem muito direta. Jesus também chamou os fariseus de “raça de víboras” (Mateus 12:34; 23:33). No original grego, neste texto, “víbora” refere-se a uma pequena e venenosa serpente do deserto, muito familiar para João Batista. Era uma cobra enganadora. Parecia um galho morto, ficava parada esperando a vítima.
Eles estavam envenenando toda uma nação com seu engano fatal. Eles estavam se fazendo passar como se fossem inofensivos e eram venenosos. Foi apropriado o fato de João os chamar de víboras, porque a sua própria origem e seu próprio líder não era nada além, de si mesmo, uma víbora: Satanás (Apocalipse 12:9;20:2).
Quando João disse: “quem vos ensinou a fugir da ira futura?”, ele sabia o que estava dizendo. Isso se referia às víboras. João conhecia bem o deserto. Havia arbustos pequenos, atrofiados, espinhosos e muito frágeis por falta de água. E às vezes um incêndio no deserto destruía tudo. Cobras, pequenas víboras, escorpiões e outras criaturas do deserto corriam para salvar suas vidas.
Ele vê aqueles hipócritas correndo na frente das chamas. É como se dissesse: “Cobras, quem trouxe vocês para fora de seus buracos?”. Eles não foram movidos pelo fogo do juízo de Deus; eles foram expulsos de seus buracos por Satanás. O diabo tinha os empurrado lá fora para levar a cabo a hipocrisia deles.
Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento (Mateus 3:8).
João conhecia a falsidade deles e o que os movia. Os frutos deles eram oriundos da hipocrisia e não de uma experiência de arrependimento. Escute, se você está realmente correndo da ira vindoura, então me deixe ver o fruto do seu arrependimento. Mostre-me que ele é genuíno. E quais são os frutos do arrependimento? Uma vida transformada. Esse é o fruto do arrependimento. Paulo disse ao rei Agripa:
Antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judeia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento (Atos 26:20).
Você nunca vai revelar o verdadeiro arrependimento, a menos que os frutos do arrependimento sejam visíveis em sua vida. O verdadeiro arrependimento se manifestará em uma vida transformada.
Eles sabiam muito bem o que implicava um verdadeiro arrependimento. Este assunto era um ponto importante na doutrina deles. Os rabinos ensinavam que o arrependimento era a porta de entrada para Deus.
ARREPENDIMENTO
O arrependimento acontece quando o pecador abandona seus pecados e pensamentos, muda de atitude e submete-se à vontade de Deus.
O Antigo Testamento foi literalmente carregado com palavras chamando os judeus ao arrependimento, para uma transformação de vida, eliminando o pecado e em seu lugar, estabelecendo a justiça.
Converte-te, ó Israel, ao Senhor teu Deus; porque pelos teus pecados tens caído. Tomai convosco palavras, e convertei-vos ao Senhor; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade, e aceita o que é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dos nossos lábios” (Oseias 14:1-2).
Você sabe como Deus avalia o verdadeiro arrependimento? Pelas suas obras, seus frutos.
- Ao ouvir a proclamação de Jonas acerca do arrependimento, o rei de Nínive decretou: “Clamem fortemente a Deus, e convertam-se, cada um do seu mau caminho…” (Jonas 3:8).
- E como Deus verificou se houve ali um verdadeiro arrependimento? “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho” (Jonas 3:10).
Esta foi a mensagem que Deus trouxe a Israel através de Isaías:
Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã (Isaías 1:16-18).
Você vê como tudo começa?
- Primeiro você deve lavar-se, tornar-se limpo e afastar o mal de diante dos olhos do Senhor. É uma experiência interior, uma mudança de atitude tremenda.
- E então vêm os frutos exteriores, através das obras que manifestam esta nova realidade espiritual. O arrependimento começa dentro e, em seguida, ele trabalha fora.
Foi isto que Tiago disse: “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26). As obras não geram a genuína fé, mas a fé genuína gera obras santas.
Os judeus sabiam que o arrependimento não era como uma tristeza sentimental, um remorso, mas como uma transformação real de vida. Eles sabiam disso. Então João Batista disse aos fariseus e saduceus: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. Foi um convite, mas ao mesmo tempo foi uma acusação contra eles.
E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão (Mateus 3:9).
João sabia o que eles estavam pensando. Eles se consideravam espirituais por serem descendentes de Abraão. Mas João diz-lhes: “Destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão”. Em outras palavras: “Ser descendente de Abraão não significa nada para vocês”.
Isto foi um violento choque para eles. Os judeus ortodoxos acreditavam que eles eram salvos por seu judaísmo. Os rabinos diziam: “Todos os israelitas têm uma porção no mundo vindouro”.
Eles criam nos méritos de Abraão como uma garantia eterna pala eles. Havia até um ensino que Abraão estava sentado na porta do inferno para impedir a entrada de qualquer israelita lá. Eles criam nos méritos de Abraão pelas chuvas, por Moisés ter atravessado o mar com os hebreus e ter recebido a lei, pelas respostas de Deus a Davi.
E é exatamente essa falsa espiritualidade que João está combatendo. Uma pessoa degenerada não pode reivindicar a salvação com base em um passado heroico de seus pais. Um filho mal não pode invocar o mérito de um pai santo. Eles se agarravam na sua nacionalidade, eram como mortos tentando sustentar uma falsa vida.
Mais tarde, quando confrontados por Jesus, a situação ficou ainda pior para eles:
Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós. Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai. Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão” (João 8:37-39).
Eles eram, de fato, descendentes de Abraão, mas não tinham nada a ver com a fé de Abraão. Jesus, de forma direta e clara, disse:
Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus” (João 8:44,47).
Lembra-se da parábola do rico e de Lázaro (Lucas 16:19-31)?
- O rico perverso e avarento, clama do inferno: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama” (Lucas 16:24).
- Veja a resposta de Abraão: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado” (Lucas 16:25).
- Ele chama Abraão de Pai, e Abraão o chama de filho. Houve ali um reconhecimento de descendência racial. Mas isto em nada mudou o trágico destino eterno daquele homem.
Os fariseus e os saduceus que confrontaram João estavam indo para o inferno, mas eles estavam firmados em uma falsa esperança, por serem descendentes de Abraão. Tudo não passava de presunção. João minimiza a realidade da descendência racial deles e diz que Deus poderia suscitar filhos a Abraão a partir de pedras. Creio que essas pedras referem-se aos gentios que iriam crer no evangelho. Jesus disse:
“Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mateus 8:12).
Deus rejeitou os filhos que se tornaram duras pedras, mas acolheu duras pedras das quais ele pôde transformá-las em filhos.
E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo (Mateus 3:10).
Eis aqui uma dura colocação de João, com sérias implicações. A mesma pessoa que mandará a árvore infrutífera para o fogo eterno, já tem posto o machado junto a sua raiz. Veremos isto no próximo domingo. Deixe-me perguntar-lhe isto: Em que você está confiado para sua eternidade? É uma pergunta extremamente séria.
Continuaremos esse assunto no próximo sermão. Vamos orar.
Pai, obrigado novamente por esta palavra clara sobre o arrependimento. Pode haver algumas pessoas aqui, e eu tenho certeza que há, a quem esta mensagem de João seria muito importante. O que elas estão fazendo aqui? O que trouxeram elas aqui? Qual a situação espiritual delas? Há provavelmente algumas pessoas aqui, que se dizem crentes em Jesus, que parecem ser uma parte do seu povo, mas estão mortas. Não há frutos de arrependimento. Não há vida divina em seu interior.
Pai, eu oro para que Tu faças um trabalho em seus corações, para que essas pessoas possam experimentar uma verdadeira conversão. A tua Palavra nos diz que devemos olhar para nós mesmos para termos certeza de que realmente somos salvos. Traz um quebrantamento nesses corações para que haja uma verdadeira manifestação de arrependimento. Nós oramos tudo isso em nome de Cristo. Amém.
Este sermão é uma série de 2.
Os Frutos do Arrependimento (Parte 1)
Os Frutos do Arrependimento (Parte 2)
Este texto é uma síntese do sermão “The Fruits of True Repentance, Part 1”, de John MacArthur em 02/04/1978.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
http://www.gty.org/resources/sermons/2188/the-fruits-of-true-repentance-part-1
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno
Muito boa informação gloria Deus