Sobrevivendo na Apostasia (2)


Este é o segundo de uma série de 3 sermões de John MacArthur sobre Estratégias de sobrevivência em tempos de apostasia. Veja os links no final desta página.


Voltamos a Carta de Judas, vamos ver os versos 17 a 23.

17 Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo,
18 os quais vos diziam: No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões.
19 São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.
20 Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo,
21 guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.
22 E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida
23 salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.

Judas está instruindo sobre como sobreviver em tempos de apostasia. Sua carta é sobre apostasia e apóstatas que se infiltraram na igreja. Ele trata de sua natureza, caráter e de como eles operam. E, finalmente, começando no versículo 17, ele se preocupa em nos dizer como sobreviver e triunfar em um tempo como esse. E, obviamente, para nos engajarmos nessa batalha, precisamos ser capazes de discernir.

Há uma frase que quero traçar como introdução, no versículo 20, e voltaremos e falaremos mais sobre isso mais tarde. Ela diz: “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima”. No centro dessa questão de sobrevivência e triunfo diante da apostasia está a santíssima fé. Não se trata de uma fé subjetiva, uma crença pessoal, mas ele está falando da fé objetiva, o conteúdo do evangelho. Para sobreviver na apostasia, acima de tudo, é absolutamente essencial que você esteja firmado na mais genuína verdade cristã.

Essa questão é abordada em muitos lugares nas Escrituras. Nenhum livro da Bíblia existe isoladamente. Como eles têm um autor, o Espírito Santo que inspirou homens a escrevê-los, existe o que chamamos de analogia das Escrituras. O melhor explicador da Bíblia é a própria Bíblia. E assim, inevitavelmente, a fim de entendermos uma determinada passagem, temos que buscar outras passagens na própria Bíblia.

Em II Coríntios 11:1-4, o apóstolo Paulo diz:

Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois. Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.

A preocupação de Paulo é que, tendo sido ensinados com a verdade, aquela igreja começou a se afastar da verdade, desviada em suas mentes pelo inimigo. Aquelas pessoas estavam tolerantes com o erro, a ponto de o apóstolo recear que elas tivessem as mentes totalmente corrompidas e se apegassem ao engano, às mentiras plantadas por Satanás. E por isso Paulo insistia, com todo zelo, em exortar e ensinar a verdade.

É por isso que fazemos o mesmo aqui. É para nos proteger do engano. Assim como ensinamos exaustivamente nossos filhos, tentando protegê-los do engano, assim deve ser o ofício de um pastor, compartilhando as mesmas preocupações do apóstolo. Esse é o coração de um pastor.

Em I Tessalonicenses 5:20, é dito “não desprezeis as profecias”, referindo ao pregar e ensinar a verdade. E os versos 21 e 22 dizem: “julgai todas as coisas, retende o que é bom abstende-vos de toda forma de mal”. Somos avisados aqui para discernir. Quando Judas diz que devemos estar firmados na “fé santíssima”, essencialmente, ele está dizendo o mesmo que Paulo disse: temos que nos proteger contra o engano. E para isso, devemos examinar tudo cuidadosamente. Não podemos aceitar tudo que vem a nós.

Em 1994, escrevi um livro chamado “Reckless Faith” (“Fé Temerária” ou “Fé Imprudente”). Esse livro foi resultado de um ano ou mais do meu coração se envolvendo com esse tipo de assunto. Eu já estava convencido de que a igreja havia perdido a vontade de discernir. Estava convencido de que os evangélicos não se preocupavam mais em separar a verdade do erro, distinguir a verdade de mentiras e enganos. A tolerância havia entrado rapidamente. Cada qual se julgava com direito de ter suas próprias convicções.

David Martyn Lloyd-Jones, décadas antes, disse que “poderíamos estar vendo o fim do cristianismo evangélico”. Ele já podia ver o que Paulo temia que acontecesse; e foi assim que as pessoas se afastaram da simplicidade e da pureza da devoção a Cristo, porque seriam desviadas pela astúcia de Satanás, assim como Eva, para crerem em outro cristo, em outro espírito e em outra mensagem. Ele viu isso décadas antes.

O livro teve seu momento de sucesso, mas caiu no esquecimento. E se você tentar encontrar um hoje, descobrirá que ele está esgotado. A igreja abandonou seu interesse em discernimento e, portanto, abandonou seu interesse em qualquer livro que a chame para não abandonar seu interesse e discernimento.

No livro, eu escrevi: “O problema mais sério na igreja cristã é a falta de discernimento, o que fez com que o cristianismo evangélico esteja lutando por sua própria vida.” A busca frenética por unidade fez florescer tudo, exceto a verdade. E então, comecei a falar sobre como o evangelicalismo estava ocupado em se embaraçar em uma perspectiva amorfa, não-descritiva, eclética e sincretista, e desinteressou-se principalmente em ser exigente. Quer ser popular? Certo. Quer ser academicamente aceitável? Certo. Mas o cristianismo moderno quer discernir, ser definitivo doutrinalmente, fazer distinções? Não.

E sempre me lembro de Atos 20:29-31, em que Paulo diz aos presbíteros da igreja de Éfeso:

Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um.

Alguém me perguntou hoje há quanto tempo estamos estudando a carta de Judas. Eu não consigo lembrar exatamente. Mas fui lembrado que hoje é a vigésima vez que nos reunimos aqui para falar sobre ela. Essa passagem diz que Paulo os lembrou dia e noite, por um período de três anos, com lágrimas, sobre a invasão do erro. Existe uma grave falta de discernimento, e a causa do aumento da falta de discernimento é o desinteresse pelo próprio discernimento. A igreja perdeu interesse pelo discernimento.

Em Mateus 16, nosso Senhor indiciou os líderes de Israel pela absoluta ausência de sua capacidade de discernir. Os fariseus, os saduceus vieram e o estavam testando como sempre, pedindo a Ele que lhes mostrasse um sinal do céu. Mas Jesus lhes disse:

Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? (Mateus 16:2-3).

Por mais primitivo que fosse o método deles de prever o tempo, suas capacidades de discernir questões espirituais era ainda pior. Eles estavam diante do Messias prometido, mas eram incapazes de reconhecê-lo.

Eu penso que a igreja é melhor em discernir o mundo físico do que o espiritual. A igreja hoje está se tornando melhor em discernir o que está acontecendo na cultura do que a verdade de Deus. Há uma carência evidente de discernimento. A igreja parece clamar para que nos livremos da pregação da Palavra. Há escritores populares atacando a pregação da Palavra de Deus. A pregação está sendo substituída pelo entretenimento, música e psicologia.

Há poucos como os bereanos. Enquanto Paulo pregava, eles estavam “examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17:11). Em I Tessalonicenses 5:21, Paulo diz para julgar todas as coisas e reter o que é bom. A palavra grega traduzida como “julgar” ou “examinar” tem o sentido de “testar tudo para determinar sua genuinidade”. Foi isto que os nobres bereanos fizeram, pesquisando nas Escrituras para determinarem a veracidade do que Paulo pregava.

O texto grego traduzido como “julgai todas as coisas, retende o que é bom” tem o sentido original de: “teste tudo, abrace o que é verdadeiro e genuíno, e nunca se afaste dele”. No verso 22, Paulo diz “abstende-vos de toda forma de mal”. A pior forma de mal é o erro, a perversão das verdades espirituais. Isso é eternamente mortal.

É fundamental que haja discernimento. Por que esse discernimento desapareceu? Por quê? Por que existe tanta falta de discernimento? Vou dar seis razões para isso, e depois voltaremos para Judas.

1. Porque há um enfraquecimento da clareza e convicção doutrinária.

Um evangelho barato, fácil crença, tolerância, unidade, abertura. Existe uma atitude negativa em relação a ser restrito, em relação a ser doutrinário. Existe até uma atitude negativa em relação a dizer: “Esta é uma interpretação verdadeira e essa não é”. Parece que todo mundo tem direito à sua própria opinião sobre tudo.

A igreja foi invadida pelo liberalismo, psicologia, movimento carismático e política. A única maneira pela qual esses erros podem ser aceitos na igreja é se as pessoas não mais seguirem um padrão doutrinário. E é isso que acontece. Essas forças que estão fora da Bíblia exigem aceitação, exigem um lugar na igreja e, assim, afastam a fidelidade doutrinária. A ênfase na igreja deixou de ser a pregação da doutrina para a mente, com o propósito de as pessoas darem maior glória a Deus através de Sua Palavra. Agora reina a indução de emoções e sentimentos agradáveis, diversão, conforto pessoal etc.

A música deixou de expressar verdades fundamentais sobre Deus e sua Palavra para ser dominada pela indução de um ambiente confuso e sensual. Então, você tem um enfraquecimento da clareza e da convicção doutrinárias. As pessoas não sabem em que doutrinas acreditam, não são claras sobre elas e não têm convicções sobre elas.

2.  O relativismo prevalece em nosso mundo, e até mesmo na igreja.

Existe esse tipo de atitude subjetiva em relação a tudo, uma visão relativista. Queremos aceitar tudo no anseio de não ofendermos a ninguém com a confrontação da falsidade pela verdade.

A Bíblia é absoluta. É objetiva. Ela esclarece a verdade e os erros. Ele confronta, separa; distingue a verdade do erro. Mas esse tipo de abordagem é ofensivo para as pessoas. Manter a verdade é considerado hoje como fanatismo delirante.

Mas a Bíblia é claramente assim. No Éden, havia duas árvores: uma daria vida a outra a morte. Há dois destinos eternos: a vida eterna e a morte eterna. As pessoas são salvas ou perdidas. Elas pertencem ao povo de Deus ou ao mundo. Elas entram na salvação por Cristo ou não. Existe o caminho estreito e o largo. Há duas ressurreições: a primeira, para receber um novo corpo glorioso, e a segunda, para a segunda morte. Não há meio termo na Bíblia. A verdade é absoluta e ela exclui o erro. A igreja atual perdeu essa perspectiva sobre a verdade e a realidade.

3. Preocupação com a imagem como chave do evangelismo.

Trata-se da preocupação de se gerar uma imagem que torne a igreja popular e agradável ao mundo. É uma tentativa de fazer amizade com o mundo. Tiago 4:4 diz: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.

Se você quiser ser um amigo do mundo, você será inimigo de Deus. Você não pode adaptar a igreja à cultura secular. E essa preocupação com a imagem da igreja tem se tornado a chave do evangelismo. De alguma forma, as pessoas querem fazer o mundo amigo da igreja.

4. Falha em interpretar corretamente as Escrituras.

II Timóteo 2:15 diz: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. A expressão grega traduzida como “maneja bem” fala sobre “fazer um corte reto”, uma referência à precisão exigida em alguns ofícios, como a carpintaria. A precisão e a exatidão são necessárias à interpretação bíblica, mais do que em qualquer outra ocupação.

Em Atos 17:11, os nobres bereanos pesquisaram nas Escrituras para ver se as coisas eram exatamente como Paulo ensinava. A maioria comete erros por preguiça, por descuido, por indiferença, por falta de convicção em relação às Escrituras. Se você quer saber o que as Escrituras significam, você deve interpretá-las corretamente. E nós temos uma igreja muito indiferente hoje em relação à interpretação bíblica em muitos casos.

5. Fracasso na disciplina na igreja.

A igreja acumula hereges e pecadores que não têm uma visão real das Escrituras. E quando a igreja acumula os não regenerados e aqueles que ensinam e creem erroneamente, entorpece irremediavelmente à margem do discernimento. Fazemos com que os que cometem erros e pecados se sintam confortáveis. E, se estamos comprometidos a fazer isso, não podemos dizer nada que os ofenda.

6. Imaturidade espiritual.

Um entendimento superficial das Escrituras, uma compreensão fraca da sã doutrina, uma visão deficiente de Deus são manifestações da imaturidade espiritual. O discernimento pertence ao maduro. É o princípio que está em Hebreus 5:12-14, que diz:

Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal.

Somente pessoas maduras têm discernimento. Por isso os pais conduzem seus filhos, pois eles não têm discernimento, não tomam boas decisões. É por isso que Deus constituiu os pais.

Agora vamos voltar para Judas. O texto, então, diz que a capacidade de sobreviver em um tempo de apostasia vai depender de estar edificado na mais santa fé. Isso é crítico, como observamos no versículo 20.

Relembrando que vimos na última vez, existem quatro elementos necessários para sobrevivermos à apostasia.

1. Lembrar. Versículos 17-19:

Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões. São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.

O ponto é o seguinte: quando você vê apostasia ao seu redor, não se surpreenda como se algo tivesse atrapalhado o plano de Deus, como se Deus tivesse sido destronado, como se as coisas não estivessem funcionando da maneira que Deus pretendia. A apostasia foi prevista. Você entende que é muito, muito importante que as Escrituras prevejam isso, porque isso é muito difícil de entender.

Quase parece que todos os esforços de Deus e Cristo, todos os esforços do Espírito Santo na fundação da igreja deram errado desde o início, quando a igreja começou a se desintegrar no primeiro século, de modo que até o final do século você tem essas sete cartas para as igrejas no livro do Apocalipse. Nos capítulos 2 e 3, cinco das igrejas já desertaram da verdade, em um grau ou outro, e tudo desceu ladeira abaixo a partir daí.

E alguém diria: “Bem, isso é uma coisa horrível. Tudo o que o Senhor pretendia realizar Ele não pôde realizar, exceto pelo fato de que você se lembrará de que o profeta disse que isso aconteceria”. E é inevitável, porque o que quer que Deus planeje fazer com Sua verdade, Satanás vai planejar atacar com suas mentiras e enganos, e ele terá a medida de sucesso que Deus permite que ele tenha. E, portanto, não estamos surpresos que essas pessoas, esses falsos líderes, venham e zombem da verdade, seguindo seus desejos ímpios. Eles se separam e se elevam como se fossem superiores a todos os outros. São vazios, sensuais, desprovidos do Espírito Santo. Eles são exatamente como os fariseus que viviam de aparências.

2. Permanecer. Recordar as palavras dos apóstolos e permanecer nas disciplinas da santificação. E assim, o versículo 20 diz:

Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo.

A primeira ordem é edificar-se na santa fé. É assim que você se protege e resiste. É assim que você protege a verdade. É assim que você preserva a verdade. É assim que você luta: você se torna doutrinariamente forte, edificando-se na mais santa fé.

Esse verbo “edificando” refere-se a um edifício metafórico, obviamente, ao “desenvolvimento espiritual”. Chama a igreja de volta à prioridade da sã doutrina, da verdade. A maior parte da fé santa é objetiva. Não pode ser subjetiva. Não pode ser sua fé pessoal, porque sua fé pessoal não é santíssima. Sua fé pessoal é uma mistura. Mas a verdade é a mais santa fé. Isto é, a verdade que vem de Deus. É a Sua santa verdade. E assim, somos chamados então a nos edificar sobre o fundamento de nossa santíssima fé.

Isso se resume basicamente em estudar a Palavra de Deus, e estudá-la com vistas à obediência. Você poderia dizer: aprendendo e aplicando a Palavra de Deus. Atos 20 é uma espécie de resumo de todos os ensinamentos de Paulo à igreja em suas epístolas, e no versículo 32, ele diz:

Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificado.

É a palavra que nos edifica. E assim, se você quiser se fortalecer, deve fazê-lo por meio da Palavra. Ele trata da edificação através do estudo da Palavra de Deus e sua aplicação fiel. Existem pessoas que estudam a Palavra e não a aplicam em suas vidas. E, então, ela se torna um agente endurecedor. Efésios 4:11-12 diz:

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,

O que os apóstolos, profetas, evangelistas e pastores/mestres devem fazer? Ensinar e pregar a Palavra de Deus, que edifica. Não há outro meio para fazer isso. Essa é a ferramenta que Deus nos deu para o nosso próprio desenvolvimento espiritual. I João 2:12-14 diz:

12 Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome.
13Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno.
14 Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno.

O texto mostra três estágios de desenvolvimento espiritual:

  • Filhinhos: Caracteriza um bebê em Cristo. Estágio do reconhecimento de Deus como Pai, Cristo como Senhor. Há uma alegria porque seus pecados estão perdoados. É onde tudo começa. Bebês espirituais estão associados mais ao relacionamento do que com a doutrina. Mas, por trás disto há uma vulnerabilidade, falta de sabedoria e discernimento. Eles vivem em perigo de ser levados a sérios extravios. Os falsos mestres gostam das crianças espirituais como suas presas, suas vítimas.
  • Jovens: a característica principal de um jovem espiritual é o conhecimento da Palavra de Deus. Ele conhece a Palavra de Deus e essa Palavra permanece nele. Ele é equipado com conhecimento espiritual. Um bebê espiritual é absorvido com novos sentimentos, necessidades, problemas, tudo é pessoal. Um jovem já superou isso e olha para o mundo exterior, olha para a verdade. O jovem espiritual, fortalecido pela Palavra de Deus, pode discernir o que procede de Deus e o que não procede de Deus. Ele vence o engano do maligno.
  • Pais: a terceira etapa do desenvolvimento espiritual. É quando você não apenas conhece a doutrina, mas conhece o Deus que revelou a doutrina. Você começou a sondar as profundezas do caráter de Deus. Isto é, quando sua vida se torna uma experiência de adoração. Não é só a batalha sobre a doutrina. Mas não há nada como chegar a ser um pai espiritual, onde não basta conhecer a doutrina, você conhece o Deus que está por trás dela. Não é apenas que você entenda a carta que Deus lhe deu, é você entender o coração do Deus que escreveu a carta. Há uma profundidade nisso que não pode ser explicada, só pode ser experimentada.

Os pastores não foram constituídos para dar às pessoas suas ideias, contando histórias e pontuando-as com versículos da Bíblia. Isso é um terrível falha em expor as Escrituras. Pastores precisam mergulhar nas Escrituras para perceber as coisas profundas de Deus. E assim, o Novo Testamento nos chama repetidamente para essa disciplina do estudo da Palavra de Deus, e para entendermos e compreendermos suas verdades profundas, para que possam ser aplicadas em nossas vidas.

3. Está também no verso 20: “orando no Espírito Santo”. O que significa “orar no Espírito Santo”? Há pessoas que forçam a interpretação disso e dizem que significa falar em línguas. Mas não tem nada a ver com isso. Significa simplesmente orar consistente com a vontade do Espírito, orar rendido ao Espírito Santo. Romanos 8:26-27 nos explica o significado disso:

Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos.

O que isso significa? Bem, primeiro lugar, eu não sei exatamente o que Deus quer de mim em todas as questões da vida. Eu sei que Ele quer de mim a santidade e que eu glorifique Seu nome. Mas sempre nos deparamos com decisões a tomar, entender o propósito de Deus em cada situação etc. Não sabemos, porque não sabemos o futuro. Nós não sabemos o que está por vir. Não podemos interpretar as questões da vida. Não sabemos orar como deveríamos.

Mas o Espírito Santo intercede por nós. Essa é uma realidade incrível. O Espírito Santo geme dentro de nós. O Espírito Santo, por assim dizer, expressa uma certa dor, uma certa agonia, uma certa preocupação, uma certa compaixão, uma certa simpatia por Deus em nosso favor. E isso não é em palavras. O Espírito de Deus intercede por nós diante de Deus Pai com gemidos que o Pai entende, e não há palavras necessárias.

Aqui está o ponto: o Espírito está orando por você o tempo todo. Você sabe, temos um advogado no céu, Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, que intercede por nós no céu. Temos também um advogado e um intercessor vivendo em nós; nosso corpo é o templo do Espírito Santo. Durante toda a sua vida como cristão, o Espírito de Deus intercede diante de Deus em seu favor, e o Espírito o faz com compaixão, simpatia, empatia e preocupação por você. E Ele vai ao trono de Deus na comunicação inter-trinitária, em que não há palavras.

Mas o Pai entende perfeitamente a mente do Espírito, porque eles são um; e o Pai sabe que o Espírito intercede de acordo com Sua vontade. Então, o Espírito Santo está diante de Deus o tempo todo em perfeita harmonia com a vontade de Deus. E é por isso que o versículo 28 é verdadeiro: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

Então, o que significa que o Espírito Santo está orando por nós assim? O que significa orar no Espírito? Significa simplesmente o seguinte: se você está orando no Espírito, está orando consistentemente com a vontade de Deus. É o mesmo que dizer: “Ore em nome de Jesus”.

O que significa “orar em nome de Jesus”? Orar em nome de Jesus significa orar de acordo com Sua vontade. Em João 14:6, Jesus disse: “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”. Ou seja, pedir algo consistente com quem Ele é e com sua vontade. I João 5:14-15 diz:

E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.

Orar no Espírito é simplesmente alinhar-se com a vontade de Deus, de modo que, por um lado, estou absorvendo a Palavra de Deus, e, por outro lado, toda a minha vida é colocada diante de Deus com essa oração abrangente, que é a força motriz da minha vida, e é simplesmente esta: “Senhor, faça o que quiser. Faça o que lhe agrada”.

Quero que minhas orações sejam consistentes com as orações do Espírito Santo. Orando no Espírito, orando rendendo-se ao Espírito Santo, orando para que a vontade do Pai, a vontade do Espírito e a vontade do Filho sejam feitas, orando consistentemente com a vontade de Deus. E há então uma submissão ao Espírito de Deus. É como se descansássemos na Sua vontade e Seu poder. Então, por um lado, somos chamados a essa disciplina de estudo; por outro lado, somos chamados a essa disciplina de submissão.

4. Manter-se no amor de Deus. Verso 21 de Judas diz: “guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna”. É uma ordem. Esperar a futura e gloriosa misericórdia do Senhor Jesus Cristo, Tudo está na ideia principal de se manter no amor de Deus.

Você diz: “Bem, espere um minuto, nada pode me separar do amor de Deus em Cristo, nada” – Romanos 8 diz – “nada pode”. Ele não está falando em manter-se salvo, como se houvesse algum perigo para um verdadeiro crente perder a salvação. No verso 24, Judas diz que Ele “é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória”. O verso 1 diz que somos “guardados em Jesus Cristo”. Judas começa a carta com a nossa segurança eterna, e termina com a nossa segurança. Ele não está aqui questionando a segurança de nossa salvação. Romanos 8:28 diz que nada nos separará do Seu amor.

Ele simplesmente quer dizer para nos mantermos no lugar onde experimentamos as bênçãos que o amor de Deus traz. É não se colocar em uma posição em que você sentirá a ira de Deus. Quem é pai sabe o que é isto em relação aos filhos. É algo sobre o que Jesus tratou em João 15:9-10, que diz:

Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço.

O que significa manter-se no amor de Deus? Significa manter-se obediente. E quando você permanecer obediente, desfrutará de toda a plenitude do amor de Deus. Assim que sou desobediente, saio desse lugar de bênção para o lugar da disciplina (Hebreus 12:6).

Você quer sobreviver à apostasia e crescer na sua compreensão da Palavra? Submeta-se à vontade de Deus; isto é, orando no Espírito Santo, por assim dizer, submetendo-se ao que quer que o Espírito de Deus queira fazer. Fique no lugar da obediência. Permaneça na esfera onde o amor é derramado, mesmo no meio da apostasia.

5. Esperar ansiosamente pela misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna (Judas 21). Significa viver na luz do retorno de Cristo, da eternidade, do futuro. Viver com expectativa antecipada da volta do Senhor, esperar ansiosamente que Cristo venha. Coloque seu amor e esperança nisso. Tito 2:12-13 diz:

Educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus.

Quando vivemos olhando para o que é eterno, Deus nos instrui a negar a impiedade, os desejos do mundo; viver de maneira sensata, justa e piedosa na era atual. Viva na luz do retorno de Cristo e de suas recompensas.

A palavra traduzida como “esperar”, no verso 21 de Judas, tem o sentido original de “esperar com grande expectativa”, literalmente,“vivendo toda a sua vida ansiosa pela volta do Senhor”. Ou seja: você deve viver cada momento pronto para que Ele venha a qualquer momento, e nunca se envergonhar se Ele aparecer a qualquer momento da sua vida.

Então, somos chamados a esta disciplina, uma disciplina de edificar-nos na santíssima fé; orar no Espírito Santo, para que sempre e sempre nossas orações se levantem submetidas à vontade do Espírito; mantendo-nos no amor de Deus, que fica no lugar de obediência aos Seus mandamentos; e esperando ansiosamente pela misericórdia final. A misericórdia final de todas as misericórdias, a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo que nos traz vida eterna.

Essa é uma expressão única para descrever Sua vinda. Recebemos misericórdia na salvação, Efésios 2: 4. Sua grande misericórdia nos salvou. E agora, Suas misericórdias são novas todas as manhãs, Lamentações 3. E em Judas 2, aprendemos que Suas misericórdias são multiplicadas para nós: “Que misericórdia, paz e amor sejam multiplicados para vocês”.

Judas não está pensando em uma misericórdia passada ou presente, está pensando na maior misericórdia de todas, a misericórdia mais imerecida: que é a vida eterna em toda a sua plenitude. Essa é a misericórdia de todas as misericórdias. Ninguém merece ir para o céu. Essa é a misericórdia final. Em 1 Timóteo 1:15-17, Paulo resume essa imensurável misericórdia:

Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna. Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!

O Salmo 138:8 diz que a misericórdia do Senhor dura para sempre. Nossa glorificação é a misericórdia final. E assim, vivemos toda a nossa vida sob esta esperança. Temos que viver como uma ilha em um mar de apostasia. Fortalecidos e seguros, edificados na fé, orando no Espírito, obedientes a Deus, mantendo-nos sob Sua bênção e vivendo à luz de Seu retorno e na vida eterna, a misericórdia final. Estas são as principais disciplinas da vida cristã: estudo da Bíblia, oração, obediência e esperança. Para isso somos chamados neste mundo.

Permaneça firme e tenha piedade daqueles que estão enlaçados pela apostasia, tente ajudá-los a se libertarem da ignorância. No meio dessa apostasia, somos, em certo sentido, uma ilha em um mar de decepções; mas não podemos ficar isolados. Continuaremos esse assunto na próxima vez. Vamos orar.

Pai, agradecemos-Te pelo nosso tempo esta noite. É exatamente um prazer, semana após semana, cavar a Tua Palavra. E isso nunca desaponta, nunca. De fato, sempre, sempre sentimos que mal arranhamos a superfície de sua riqueza.

Agradecemos que o Senhor tenha nos dado um caminho a seguir. Tu nos deste um sistema de sobrevivência: Tua Palavra, oração, obediência e esperança. E todas essas coisas se tornam os elementos de nossa purificação. A Palavra poda, limpa e nos purifica. A oração nos santifica. Enquanto vivemos a vida inteira, conscientes da Tua presença, vivemos assim, por assim dizer, no Santo dos Santos e conscientes da menor iniquidade. Ao buscarmos obediência, somos protegidos. E, oh, quão importante é amarmos a Tua vinda. Devemos amar o fato de Tua vida eterna, aguardando ansiosamente o que está por vir e sabendo, como João disse, “quem tem essa esperança, a si mesmo se purifica”.

Então, Senhor, é isso que Tu exiges de nós, que não estamos aqui apenas para sobreviver, mas para triunfar sobre tudo o que está errado ao nosso redor. Ajude-nos a sermos fiéis a permanecer, a permanecer nas disciplinas que o Senhor estabeleceu para nós. E agradecemos pelo que o Senhor fará em nós e através de nós, para a Tua glória, em nome de Cristo, Amém.


Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre a Carta de Judas. Abaixo links dos sermões já publicados.


Este texto é uma síntese do sermão “Survival Strategy for Apostate Times, Part 2″, de John MacArthur em 01/08/2004.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/65-13/survival-strategy-for-apostate-times-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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1 Response

  1. Natanael disse:

    amém ! Estamos vivendo esse momento nos dias de hoje ‍♂️

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